Scielo RSS <![CDATA[Cadernos de Psicologia Social do Trabalho]]> http://pepsic.bvsalud.org/rss.php?pid=1516-371720200002&lang=pt vol. 23 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://pepsic.bvsalud.org/img/en/fbpelogp.gif http://pepsic.bvsalud.org <![CDATA[<b>A demanda por empreender: uma proposta para o estudo do empreendedorismo de acordo com a psicologia social do trabalho</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este artigo busca estabelecer uma proposta para o estudo do empreendedorismo a partir da perspectiva da psicologia social do trabalho. Tal proposta surge da necessidade de repensar o anúncio constante de que "somos todos empreendedores", assim como da necessidade de pensar as várias formas de trabalho para além do emprego e do trabalho regulamentado - nomeadamente, a polimorfia do trabalho -, e como estas foram governamentalizadas a partir do final do século XX. Para este exercício, utilizamos a noção desenvolvida em pesquisa anterior, sobre o empreendedorismo pensado como uma demanda. Argumentamos que tal demanda funciona como um dispositivo de governo neoliberal e que estabelece uma continuidade colonial, impondo uma determinada modernidade a ser alcançada. Concluímos indicando que a demanda empreendedora torna a "viração" uma forma de governar o trabalho e os trabalhadores.<hr/>This paper presents a research agenda for entrepreneurship within Social Psychology of Work. This agenda emerges from the need to rethink the recurrent announcement that "we are all entrepreneurs". Likewise, it arises from the need to think about the various forms of work - namely, the polymorphism of work - and how these forms have been governmentalized since the end of the last century. We suggest a different approach to entrepreneurship, understanding it as a demand. We argue that this demand functions as a neoliberal device and establishes a colonial continuity, imposing a certain modernity that societies must achieve. We conclude by presenting how this entrepreneurial demand governmentalizes non-regulated forms of work. <![CDATA[<b>Laços de cooperação forçada entre agentes prisionais e apenados no intramuros prisional</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Neste artigo, discutimos a dinâmica dos laços de cooperação entre dois grupos em convívio obrigatório no contexto carcerário: agentes prisionais e apenados. A partir da perspectiva metodológica e analítica da psicodinâmica do trabalho, resgatamos conteúdos de um espaço grupal formado há cerca de 4 anos por agentes que se debatiam entre os descompassos entre o trabalho prescrito e o trabalho real no cotidiano da vigilância prisional. Como resultado, identificamos que os laços cooperativos internos aos grupos e entre os grupos assumem papel estratégico na gestão da complexidade do trabalho, em um cenário permeado por riscos e descompassos entre o planejado e o realizável nas atividades de um cotidiano marcado por precariedades, superlotação e servidores insuficientes. Enquanto fenômeno articulado, a cooperação forçada entre agentes e apenados impõe o desafio de colaborar com alguém em quem não se confia, o que produz desestabilizações e comprometimentos significativos à saúde mental dos servidores, além de elevar vulnerabilidades individuais e coletivas.<hr/>In this article, we discuss the dynamics of the cooperative ties between two groups of obligatory conviviality in the prison context, prisoners and inmates. From the methodological and analytical perspective of Psychodynamics of Work, we retrieve contents from a group space, about 4 years, with agents debating the mismatch between prescribed work and real work in prison surveillance daily life. As a result, we identified that the cooperative ties within groups and between groups play a strategic role in managing the complexity of work in a scenario permeated by risks and mismatches between planned and achievable activities of daily life marked by precariousness, overcrowding and servants insufficient. As an articulated phenomenon, forced cooperation between agents and prisoners imposes the challenge of collaborating with someone who is not trusted, which produces significant destabilizations and compromises to the mental health of the civil servants, in addition to raising individual and collective vulnerabilities. <![CDATA[<b>Notas sobre Chernobyl<a href="#nt01"><sup>1</sup></a>: análise de alguns aspectos relacionados às situações de trabalho da usina nuclear de Pripyat</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A partir da série televisiva Chernobyl e dos relatos do livro de Svetlana Aleksiévitch, Vozes de Tchernóbyl, que tratam do acidente nuclear em Pripyat, em 1986, este artigo discute os aspectos relacionados às condições e às relações de trabalho que as cenas evocam. A tragédia de Chernobyl pode ser vista como um acidente de trabalho, tendo ocasionado entre 4.000 e 93.000 mortes. Os aspectos que se pretende examinar dizem respeito às relações de poder, à relação entre o trabalho prescrito e o trabalho real e demais fatores. Na análise proposta, serão usadas as contribuições da psicodinâmica do trabalho, da saúde do trabalhador, da ergonomia francófona e de discussões teóricas acerca do mundo do trabalho. Ainda que as reflexões aqui levantadas sejam suscitadas a partir de adaptações constituídas de doses variáveis de ficção, elas podem ser úteis à discussão de aspectos que podem levar ao adoecimento no trabalho.<hr/>Based on the sitcom Chernobyl and the stories of Svetlana Aleksiévitch's book, Tchernobyl voices, about the Pripyat's nuclear accident in 1986, this article discusses aspects related to the work relations and conditions that are evoked by the scenes. The Chernobyl tragedy can be seen as a work accident that caused 4000 to 93000 deaths. The aspects to be discussed are related to power relations, the relation between prescribed work and real work, and others. In the proposed analysis, contributions of work psychodynamics, worker health, French ergonomy and theoretical discussions about the work world will be used. And even with the fact that these reflections are caused by some variable parts of fiction, they can be useful to the discussion of the aspects that may lead to disease in work. <![CDATA[<b>Quem manda também sofre: um estudo sobre o sofrimento de gestores no trabalho</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Baseado principalmente na Psicodinâmica do Trabalho, este artigo resume uma pesquisa que objetivou conhecer as causas de sofrimento no trabalho gerencial; identificar como gerentes percebem o sofrimento e o prazer em seu trabalho e quais as principais causas de prazer laboral. Foram feitas entrevistas semiestruturadas com gerentes de posições hierárquicas e setores distintos, no interior paulista. A interpretação das entrevistas deu-se pela Análise dos Núcleos de Sentido (ANS). Identificamos sete núcleos de sentido para entender as vivências de sofrimento e prazer no trabalho gerencial e identificar suas causas: a) Prescrição do trabalho; b) Culto às metas e desempenho; c) Relações interpessoais; d) Carga de responsabilidade; e) Autonomia; f) Reconhecimento e g) Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Confirmamos que há sofrimento laboral dos/das gerentes.<hr/>Based on the Psychodynamics of Work, this article summarizes a research that studied the causes of suffering in managerial work; to identify how managers perceive suffering and pleasure in their work, and what are the main causes of labour pleasure. Semi-structured interviews were conducted with managers of different hierarchical positions in companies from different sectors, in the countryside of the state of São Paulo. The interpretation of the interviews was made through Meaning Core Analysis. We identify seven meaning cores used to understand the experiences of suffering and pleasure in managerial work and identify their causes: a) Prescribed work; b) Worship of goals and performance; c) Interpersonal relationships; d) Responsibility burden; e) Autonomy; f) Acknowledgment, and g) Balance between work and personal life. We confirm that managers present labor suffering. <![CDATA[<b>Pessoas transgêneras e o mundo do trabalho: desafios e reflexões sobre o compromisso ético e político da Psicologia</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Na contemporaneidade, a não conformidade às normas de gênero produz discriminações nos diversos contextos sociais, incluindo o laboral. Compreendendo o trabalho como um elemento central na constituição do ser humano, no presente artigo, organizado como ensaio teórico, abordamos os desafios cotidianos enfrentados pelas pessoas transgêneras e seus impactos na inserção profissional, além de discutir o compromisso ético e político da Psicologia com essa população. Dessa forma, buscamos refletir sobre a importância de se abordar a temática "gênero" e "trabalho", de forma crítica, na formação e atuação profissional. Defendemos que é essencial que a Psicologia, enquanto ciência e profissão, reflita criticamente sobre as possibilidades e situações de trabalho encontradas pelas pessoas trans e atue de forma a contribuir com o rompimento da visão que naturaliza e/ou atribui exclusivamente ao sujeito a responsabilidade pela exclusão social.<hr/>In the contemporary world, non-compliance with gender norms produces discrimination in different social contexts, including at work. Understanding labor as a central element in the constitution of human beings, in this theoretical essay, we address the daily challenges faced by transgender people and their impact on professional insertion, in addition to discussing the ethical and political commitment of Psychology towards this population. In this way, we verify the importance of addressing the themes "gender" and "work" in a critical manner, in both professional training and performance. We argue that Psychology, as a science and profession, must reflect critically on the possibilities and work situations encountered by trans people and act so as to contribute to disrupting the view that naturalizes and/or attributes the responsibility for social exclusion exclusively to the subject. <![CDATA[<b>Terceirização, saúde e resistências: provocações ético-políticas à psicologia social do trabalho em contexto de precarização subjetiva</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A intenção deste ensaio é promover uma reflexão crítica acerca das articulações entre terceirização, saúde e algumas possíveis formas de resistência nos contextos laborais contemporâneos. Para tal, serão apresentados resultados de pesquisas realizadas com trabalhadoras e trabalhadores subcontratados de uma universidade pública brasileira. Foram feitos encontros coletivos, entrevistas semiestruturadas e elaboração de diários de campo pelos pesquisadores envolvidos. Os resultados apontam que os subcontratados vivenciam situações de exclusão, discriminação, sentimento de invisibilidade, falta de reconhecimento, sobrecarga e outras injustiças. Questões étnico-raciais e de gênero também foram observadas como aspectos produtores de sofrimento. Em contrapartida, foi possível observar algumas formas de resistência como produção de mecanismos de defesa contra o sofrimento e envolvimento de caráter político em movimentos coletivos de lutas. Defende-se o compromisso ético-político da psicologia social do trabalho brasileira - como produto de seu tempo - de assumir postura crítica diante desta temática e contribuir para a promoção de movimentos de resistência em prol da continuidade das lutas pela saúde, garantia de direitos e formas de trabalho pautadas na dignidade da vida.<hr/>This paper provides a critical reflection on the articulation between outsourcing, health and forms of resistance in contemporary work contexts. We present the results of a research carried out with female workers and subcontracted workers from a Brazilian public university. Collective meetings, semi-structured interviews and field journals were carried out. The results show that subcontractors are endowed with invisibility and experience situations of exclusion, discrimination, lack of recognition, overload and other injustices. Ethnic-racial and gender issues were also observed as aspects that produce suffering. On the other hand, it was possible to observe different forms of resistance: production of defense mechanisms against suffering; political involvement in collective struggles; and possible illness processes that, in the end, represent an extreme way to resist extremely precarious work. It defends the ethical-political commitment of the social psychology of Brazilian work - as a product of its time - to take a critical stance on this matter and contribute to the promotion of resistance movements in favor of the continuity of the struggle for health, guarantee of rights and forms of work based on the dignity of life. <![CDATA[<b>Vivências de prazer-sofrimento na organização do trabalho dos policiais militares da Região Norte</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este estudo analisou as vivências de prazer-sofrimento dos policiais militares de um batalhão da região Norte e como estas influem na execução de suas atividades. Os pressupostos teórico-metodológicos procederam da Psicodinâmica do Trabalho. Foram realizados seis encontros em grupo com a participação de 17 policiais, sendo 14 homens e três mulheres. As temáticas investigadas foram divididas em cinco eixos: condições precárias de trabalho; perfil do policial; reconhecimento dos pares, superiores e sociedade; prazer-sofrimento no trabalho; e defesas contra o sofrimento, interpretados a partir da análise temática. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade. Percebeu-se que a organização de trabalho desempenha papel importante nas vivências de prazer-sofrimento e que cooperação, reconhecimento, precarização, burocracia e os paradoxos da atividade policial interferem diretamente nesta dinâmica. O uso de estratégias defensivas, como a ironia e o humor, é responsável pela dicotomia entre ter que suportar o real no trabalho e não verbalizar o sofrimento, evidenciando alguns dos importantes paradigmas presentes na atividade militar estudada.<hr/>This study analyzed the experiences of pleasure-suffering of a Military Police Battalion from the Northern Region and how they influence the execution of their activities. The theoretical-methodological assumptions adopted were the Psychodynamics of Work. Six group meetings were held with the participation of seventeen policemen: fourteen men and three women. The investigated thematics were divided into five axes, namely: precarious working conditions; profiles of the police officers; acknowledgment among peers, superiors and society; pleasure-suffering at work; and defenses against suffering, according to thematic analysis. This project was approved by the university's Research Ethics Committee. The work organization played an important role in the pleasure-suffering experiences, and cooperation, recognition, precariousness, bureaucracy and paradoxes of the police activity directly interfere in this dynamic. The use of defensive mechanisms such as irony and humor is responsible for the dichotomy between having to endure reality at work and as a means to not verbalize suffering, showing some of the important paradigms present in the military activity studied. <![CDATA[<b>Vivências de sofrimento e adoecimento em ambiente de trabalho: uma análise do cotidiano profissional de enfermeiras e enfermeiros num contexto pandêmico em dois centros de referência no atendimento a pacientes de Covid-19</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172020000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este artigo promove um debate que orbita em torno de conceitos, tais como: risco e sofrimento; subjetividade e experiência; cotidiano e memória; vulnerabilidade e precarização. Buscamos compreender as vivências em ambiente de trabalho de enfermeiros e enfermeiras que atuam desde o início da pandemia de Covid-19 (Coronavirus Disease 2019) em dois hospitais públicos de Goiânia, referências no atendimento a indivíduos vitimados pela doença em questão. Destacamos que a realização das entrevistas teve como pano de fundo um contexto de aprofundamento da precarização e da flexibilização das condições e relações de trabalho desses profissionais, associadas ao vertiginoso aumento do número de casos e óbitos entre esses. Com base na história oral temática, constatamos que esses profissionais - embora essenciais no enfrentamento à pandemia - se encontram atualmente ainda mais vulnerabilizados, individual e coletivamente. Ainda que homens e mulheres nessa categoria de trabalhadores experimentem de forma muito diferente o sofrimento e o adoecimento em seus respectivos cotidianos laborais. Particularmente, em função das desigualdades de gênero no mercado de trabalho.<hr/>This article discusses concepts such as: risk and suffering, subjectivity and experience; everyday life and memory; vulnerability and precariousness. We analyze the work environment experiences of nurses working since the beginning of the Covid-19 pandemic in two public hospitals in Goiânia, reference hospitals in the care of individuals afflicted by the pathogen in question. The interviews were conducted against a background of deepening in the precariousness and flexibility of working conditions and relationships of these professionals, associated with the vertiginous increase in the number of cases and deaths among them. Based on thematic oral history, we found that these professionals - although essential in facing the pandemic - are currently even more vulnerable individually and collectively, and that men and women of this field experience suffering and illness differently in their respective daily work.