Scielo RSS <![CDATA[Natureza humana ]]> http://pepsic.bvsalud.org/rss.php?pid=1517-243020150002&lang=pt vol. 17 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://pepsic.bvsalud.org/img/en/fbpelogp.gif http://pepsic.bvsalud.org <![CDATA[<b>Merleau-Ponty e a aceitação da hipótese do inconsciente enquanto temporalidade</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este artigo tem como objetivo apresentar as críticas de Merleau-Ponty em relação à psicanálise e indicar uma mudança substantiva de seus posicionamentos referentes a ela ao longo da década de 1940. Procuraremos mostrar que, em primeiro lugar, a psicanálise permaneceu para ele como uma metafísica da existência humana - inspirada em larga medida pela influência dos trabalhos de Politzer -, e o inconsciente, em vez de fornecer o material para a descrição do comportamento em geral, poderia somente iluminar as formações da anomia psíquica. Em sua obra seguinte, Fenomenologia da percepção, ao reconhecer a ideia de temporalidade presente nas meditações husserlianas acerca da retenção intencional, Merleau-Ponty é capaz de caracterizar a psicanálise como uma condição de descrição do conjunto dos impasses da vida cotidiana, para além do aspecto patológico. O inconsciente passa a ser, portanto, a expressão de uma função mais primordial: a do tempo. Finalmente, destacamos brevemente algumas críticas direcionadas à interpretação merleau-pontyana do inconsciente, por consistir em uma abordagem que procura tratá-lo a partir de uma apropriação racional, dando à descoberta de Freud um lugar definido em uma teoria da totalidade das funções psíquicas.<hr/>This article aims to present Merleau-Ponty's criticism towards psychoanalysis and indicate a substantive change in his positions over the 1940s. We will try to show that psychoanalysis remained for him first as a metaphysics of human existence, inspired largely by the influence of Politzer's work, and the unconscious instead of providing the material for the description of behavior usually only could illuminate the formations of psychic anomie. In his next work, Phenomenology of Perception, Merleau-Ponty is capable to recognize the idea of temporality present in Husserl's meditations about the retention aspect of consciousness and elevate psychoanalysis as basis to describe, beyond the pathological aspect, the set of impasses of everyday human life. The unconscious becomes, therefore, the expression of more a fundamental function, namely the time. Finally, we highlight briefly some criticism directed at the interpretation of Merleau-Ponty's unconscious consisting of an approach which seeks to treat it from a rational appropriation, giving the discovery of Freud a definite place in a theory of all psychic functions. <![CDATA[<b>Narrativas maternas</b>: <b>um estudo transcultural com mulheres brasileiras e francesas</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este estudo teve por objetivo conhecer a experiência de mulheres brasileiras e francesas mães de meninas com idade entre três semanas e 11 meses. A perspectiva epistemológica foi a qualitativa e a estratégia metodológica foi a das narrativas psicanalíticas, interpretadas segundo o referencial winnicottiano. Foi utilizado como mediador da comunicação com as mães o Teste de Apercepção Temática Infantil. Os relatos das mulheres brasileiras giraram em torno do processo de simbiose e diferenciação entre a díade mãe-bebê, dos recursos empregados para seu manejo e da tarefa da maternidade centralizada na mulher, sendo o pai um colaborador. Os relatos das francesas compartilharam a mesma temática, mas com maior valorização do resgate da própria autonomia e da do bebê. Além disso, em comparação com as mães brasileiras, a tarefa da educação da filha foi mais compartilhada por ambos os genitores franceses.<hr/>This study aimed to know the experience of Brazilian and French mothers of female babies aging from three weeks old to eleven-month old. The epistemological perspective was the qualitative and the methodological strategy was the psychoanalytical narratives interpreted according to Winnicott's theory. The Children's Apperception Test was employed as a mediator of communication with mothers. Brazilian women's narratives emphasized the symbiosis and the differentiation process between the mother and the baby and the resources used to handle it as well as educational role being focused on the woman - the father being only someone who helps them. French mothers' narratives were about the same theme, but giving more importance to rescuing its own autonomy and the baby's. Compared to Brazilian mothers, the responsibility to educate their daughter were more often shared between both French parents. <![CDATA[<b>A "carne" (<i>chair</i>) como referência ontológica da "mãe suficientemente boa"</b>: <b>aproximando Merleau-Ponty e Winnicott</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O artigo pretende desenvolver o argumento de que a noção de carne (chair, em francês) - que constitui o conceito mor da ontologia selvagem de Maurice Merleau-Ponty - pode funcionar como uma referência ontológica para a noção winnicottiana de mãe suficientemente boa. Para tanto, numa primeira parte descreve-se a noção de carne; em seguida, a noção de mãe suficientemente boa para, por fim, articular os dois níveis de teorização: o ontológico e o ôntico, numa relação em que um nível referenda o outro, discriminando, nesse mesmo processo, o espelho materno winnicottiano do lacaniano (já que este último implica, necessariamente, uma alienação do bebê no desejo da mãe).<hr/>This article intends to develop the argument that the notion of flesh (chair, in French) - which constitutes the principal concept of Merleau-Ponty's savage ontology - can work as an ontological reference for Winnicott's notion of good enough mother. For this purpose, it describes the notion of flesh; then, the notion of good enough mother, to finally articulate both levels of theorization: the ontological and the ontic ones, in a relation of mutual reference. At the same time, it discriminates Winnicott's conception of maternal mirror from Lacan's one (since this one implies, necessarily, an alienation of the baby in the mother's desire). <![CDATA[<b>O autômato</b>: <b>entre o corpo máquina e o corpo próprio</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Esse trabalho discute, numa primeira parte, a ideia de corpo máquina em Descartes e homem máquina em La Mettrie. Num segundo momento, examina o alcance dessas ideias para as teorias contemporâneas do comportamento. Num terceiro momento, apresenta como MerleauPonty contrapõe a noção de corpo próprio ao conceito de corpo máquina para, enfim, discutir como Lacan propõe uma nova compreensão da noção de corpo máquina e de comportamento autômato.<hr/>This paper discusses initially the idea of machine body in Descartes and machine man in La Mettrie. Secondly, it examines the scope of those ideas for contemporary theories of behavior. In a third part, this work presents how Merleau-Ponty opposes the notion of one's own body to the machine body to finally discuss how Lacan proposes a new understanding of the notion of machine body and automaton behavior. <![CDATA[<b>Do ato de ver ao olhar que se mostra</b>: <b>observações psicanalíticas e filosóficas da obra de arte</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Neste estudo pretendemos explorar a esquize do olho e do olhar na pintura a partir da leitura lacaniana de O visível e o invisível, de Merleau-Ponty. Se, de um lado, o ato de ver apreende os objetos do mundo cultural e os ultrapassa, de outro, há o olhar como aquilo que se mostra ao observador, desorganizando seu campo perceptivo. Esse olhar de fora, que nos percebe e nos arrebata, é concebido por Lacan como o registro do Real e descrito por Merleau-Ponty como o "olhar estrangeiro". Qual outrem, esse "olhar estrangeiro" vem surpreender o pintor (e o espectador), brotando do fundo do horizonte invisível, inesgotável, e inscreve-se continuamente, produzindo desejos e incitando o artista a elaborar novas criações. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo investigar a leitura que Lacan fez de Merleau-Ponty no Seminário XI acerca do olhar como estranhamento a partir de O visível e o invisível, bem como suas implicações na "visibilidade anônima" que habita a obra de arte.<hr/>In this research we intend to analyze the eye squize and the looking in the painting from the Lacanian reading of the Visible and the invisible, by Merleau-Ponty. On one hand, the seeing act apprehends the objects from the cultural world and overtakes it; on the other hand, there's the view from what has been shown to the observer, disarranging his perceptual field. This uninvolved vision, this look that perceives and enchants us is conceived by Lacan as the Royal Registry and described by Merleau-Ponty as a "Foreigner eye". This "Foreigner eye" come to surprise the painter (and the spectator), sprouting from the invisible horizon background, being inexhaustible, inscribing itself continuously, and producing wishes and inciting the artist to pursuit new creations. In this regard, this paper is aimed to investigate Lacan's reading from Merleau-Ponty in XI Seminar, the looking as strangeness from the text Visible and the Invisible, and the implications in the "unnamed visibility" that inhabits the work of art. <![CDATA[<b>A maior parte do que fazemos ou sentimos é consciente?</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este artigo objetiva demonstrar que a maior parte do que fazemos ou sentimos não é consciente, e que respostas imediatas a estímulos internos e externos são oriundas de um conjunto de respostas automáticas herdadas a partir de matrizes biológicas e aperfeiçoadas durante a vida. Para tanto, queremos defender a tese segundo a qual o cérebro vem ao mundo não como uma tabula rasa, mas com certos "programas neurais especializados". Cumpre, por fim, ressaltar que nossa proposta não é sustentar que toda pessoa é uma máquina biológica programada para responder a estímulos de forma automática e imediata, mas defender intrinsecamente que o reconhecimento da existência e da efetividade de processos automáticos e não conscientes não elimina o papel de nosso aparato cognitivo e a possibilidade de agirmos de forma intencional e consciente.<hr/>This article aims to demonstrate that most of what we do or feel is not conscious, and that immediate responses to internal and external stimuli are coming from a set of automatic responses inherited from biological matrices and enhanced throughout life. Therefore, we want to defend the thesis that the brain comes into the world not as a "blank slate", but with certain "specialized neural programs". We must finally emphasize that our proposal does not hold that every person is a biological machine programmed to respond to the stimulus automatically and immediately, but to defend inherently that the recognition of the existence and effectiveness of automated and non-conscious processes does not eliminate the role of our cognitive apparatus and the ability to act intentionally and consciously. <![CDATA[<b>Liberdade e natureza (in)humana (Zizek <i>versus</i> Habermas)</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O presente trabalho tem como objetivo problematizar a relação entre o princípio de liberdade e a ideia de natureza humana. Defendemos a tese de que o verdadeiro conceito de liberdade só pode ser pensado além dos limites (naturalmente) estabelecidos pela espécie humana. Logo, liberdade tem a ver com o domínio do inumano, não com o do humano. Desse modo, convém contrapor duas perspectivas contemporâneas que divergem radicalmente sobre o conceito de modernidade: a pragmática formal de Jürgen Habermas e o materialismo dialético de Slavoj Zizek. Tomamos como fio condutor, portanto, a polêmica sobre o tema da biogenética, e, a partir daí, procuramos demonstrar como a concepção de modernidade para Zizek - apoiado principalmente em Hegel e Lacan - revela-se ainda mais radical do que o projeto de uma modernidade inacabada de Habermas.<hr/>This paper aims to discuss the relationship between the principle of freedom and the idea of human nature. We seek to argue that the very concept of freedom can only be thought beyond the limits of course set by the human species. I.e. freedom has to do with the domain of the inhumane, not of the human. Therefore, it is essential to oppose two contemporary perspectives that differ radically about the concept of modernity: the Habermas' formal pragmatics and Slavoj Zizek's dialectical materialism. We must take, therefore, as a guide the controversy on the subject of biogenetic, and, from there, to demonstrate how the concept of modernity to Zizek proves to be even more radical than the Habermas' project of modernity unfinished. <![CDATA[<b><i>Sounding/Silence: Martin Heidegger at the Limits of Poetics</i></b><b>, de David Nowell Smith</b><a name="***a"></a>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302015000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O presente trabalho tem como objetivo problematizar a relação entre o princípio de liberdade e a ideia de natureza humana. Defendemos a tese de que o verdadeiro conceito de liberdade só pode ser pensado além dos limites (naturalmente) estabelecidos pela espécie humana. Logo, liberdade tem a ver com o domínio do inumano, não com o do humano. Desse modo, convém contrapor duas perspectivas contemporâneas que divergem radicalmente sobre o conceito de modernidade: a pragmática formal de Jürgen Habermas e o materialismo dialético de Slavoj Zizek. Tomamos como fio condutor, portanto, a polêmica sobre o tema da biogenética, e, a partir daí, procuramos demonstrar como a concepção de modernidade para Zizek - apoiado principalmente em Hegel e Lacan - revela-se ainda mais radical do que o projeto de uma modernidade inacabada de Habermas.<hr/>This paper aims to discuss the relationship between the principle of freedom and the idea of human nature. We seek to argue that the very concept of freedom can only be thought beyond the limits of course set by the human species. I.e. freedom has to do with the domain of the inhumane, not of the human. Therefore, it is essential to oppose two contemporary perspectives that differ radically about the concept of modernity: the Habermas' formal pragmatics and Slavoj Zizek's dialectical materialism. We must take, therefore, as a guide the controversy on the subject of biogenetic, and, from there, to demonstrate how the concept of modernity to Zizek proves to be even more radical than the Habermas' project of modernity unfinished.