Scielo RSS <![CDATA[Revista de Etologia]]> http://pepsic.bvsalud.org/rss.php?pid=1517-280520040001&lang=t vol. 6 num. 1 lang. t <![CDATA[SciELO Logo]]> http://pepsic.bvsalud.org/img/en/fbpelogp.gif http://pepsic.bvsalud.org <![CDATA[<b>Animal welfare in the XXI century</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100001&lng=t&nrm=iso&tlng=t O tema do bem-estar tende atualmente a integrar o debate sobre os problemas éticos da agricultura industrial em relação à qualidade do ambiente e à segurança alimentar. Discutimos neste texto a definição de bem-estar animal de acordo com diversos autores, o modo como pode ser avaliado cientificamente; os principais motivos que levam as pessoas a se preocuparem com o bem-estar de animais de fazenda; os problemas que influenciam o bem-estar animal na criação zootécnica e, finalmente, sugerimos meios para melhorar o bem-estar dos animais zootécnicos. Existem, em nossa opinião, várias soluções para o problema da fome do mundo e do sofrimento de milhões de animais, que não envolvem excluir uma das questões em favor da outra. Sugerimos que parte do esforço de cientistas interessados no tema seja investido no desenvolvimento de tecnologias para sistemas de criação animal sustentáveis uma vez que estes consideram necessariamente os efeitos da agricultura no meio ambiente e no bem-estar das populações humanas e animais.<hr/>Animal welfare is now included in a larger debate over the ethical problems involving the current agriculture systems, such as its effects on the environment and food safety. In the present text we intend discuss the definition of animal welfare according to several leading authors, and how it can be assessed scientifically; to identify the main reasons why people worry about the welfare of farm animals; to describe the main welfare problems farm animals face; and lastly, to suggest ways of improving farm animal welfare. In our view, there are several solutions for the hunger problem in our planet and for the suffering of millions of farm animals that do give priority to one of these aspects in detrimento of the other. We propose that part of the effort of scientists interested in farm animal welfare be applied to the study of technologies for sustainable animal breeding, once such technologies necessarily consider the effects of agriculture on the environment and the well-being of human and animal populations. <![CDATA[<b>Offspring and cooperative nursing in collared peccaries (<i>Tayassu</i><i> tajacu</i>)</b>: <b>an exploratory analysis</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100002&lng=t&nrm=iso&tlng=t Sendo a amamentação uma atividade custosa, esperar-se-ia que as fêmeas de mamíferos apenas cedessem seu leite aos próprios filhotes. O comportamento de amamentar filhotes alheios foi, contudo, observado em muitas espécies de mamíferos. Neste estudo, investigou-se a amamentação em catetos com especial atenção aos padrões de amamentação cooperativa em contraste com os de amamentação da própria prole. Foram observados quatro fêmeas e seis filhotes de um grupo de 26 catetos mantidos em cativeiro, utilizando os métodos de animal focal e varredura instantânea. Todas as fêmeas amamentaram filhotes alheios, porém a freqüência de amamentação cooperativa foi menor do que a esperada para catetos. A amamentação cooperativa e a dos próprios filhotes foram caracterizadas em termos da aceitação da fêmea, do número de filhotes mamando, da posição dos filhotes, e do modo de finalização das mamadas. A maioria dessas características foi semelhante nos dois tipos de amamentação.<hr/>Being a high-cost activity, nursing should be restricted to own young. The behavior of nursing alien offspring has however been observed in many mammal species. In this study, nursing was observed in collared peccary, with special attention to the patterns of cooperative nursing in contrast to offspring nursing. Four females and six young of a group of 26 collared peccaries were observed in captivity, throughout focal animal and scan sampling methods. All of the females nursed alien young, but the frequency of cooperative nursing was lower than that expected for collared peccaries. Offspring and cooperative nursing events were assessed in terms of female acceptance, number of young sucking, young postures, and finalization patterns of nursing bouts. Most of such features were similar in offspring and cooperative nursing. <![CDATA[<b>Feeding behavior of <i>Boa constrictor, Epicrates cenchria</i> and <i>Corallus hortulanus</i> (Serpentes: Boidae) in captivity</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100003&lng=t&nrm=iso&tlng=t Descreve-se aqui o comportamento alimentar de Boa constrictor, Epicrates cenchria e Corallus hortulanus, comparando-o com registros discordantes existentes na literatura. O comportamento, descrito a partir dos métodos "todas as ocorrências" e "amostragem de seqüências", foi subdividido em quatro fases: (i) localização, aproximação e bote; (ii) constrição; (iii) inspeção; e (iv) ingestão. Na primeira fase, o dardejar de língua era evidente e os botes desferidos preferencialmente na cabeça dos camundongos. Durante a constrição, não se evidenciou, nas três espécies estudadas, existência de lado dominante do corpo em contato com a presa. Todas as serpentes apresentaram padrão ventral de constrição, sendo um o número de espiras utilizado por B. constrictor e E. cenchria e dois por C. hortulanus. Na fase de inspeção, a serpente tocava a presa com o focinho e dardejava a língua. A ingestão geralmente se iniciou pela cabeça da presa.<hr/>The feeding behavior of Boa constrictor, Epicrates cenchria, and Corallus hortulanus (Snakes, Boidae) is here described and compared with discrepant data from the literature. Records were obtained according to the "all occurrence" and "sequence sampling" methods. Behavior was divided into four phases: (i) orientation towards prey, approach and strike; (ii) constriction; (iii) inspection; and (iv) swallowing. In the first phase, tongue flicking was evident and the strikes were directed preferentially on the head of mice. During constriction, no side dominance was evident, only a few specimens displayed a preference for the side of the body in contact with the prey. All snakes presented a ventral pattern of constriction and the number of coils utilized was one for B. constrictor and E. cenchria and two for C. hortulanus. The prey was inspected by tongue flicking and snout touching and usually was swallowed headfirst. <![CDATA[<b>Female social dominance does not establish mating priority in </b><b>Nile</b><b> tilapia</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100004&lng=t&nrm=iso&tlng=t Female dominance and size are important features for mating choices in fishes. As dominants are also the largest females in some species, we tested whether dominance per se favours mating priority in Nile tilapia females. Three matched-size adult females (n = 13) were grouped in a 140 l-aquarium during 3 days for hierarchical settlement. On the 4th day a male larger than the females was introduced in the group and kept there for 12 consecutive days until reproduction. Spawning occurred in 8 out of 13 replicates, and the alpha female was the first to mate in only 50% of the cases. Males may thus choose females according to size and not according to rank, as occurs in other cichlid species. As confrontations and the establishment of hierarchical dominance involve high energetic expenditure in Nile tilapias, the reason why females invest in such behaviors is still a question to be elucidated.<hr/>A dominância e o tamanho da fêmea são características importantes para a escolha do parceiro sexual em peixes. Como as fêmeas dominantes também são as maiores em várias espécies, procuramos verificar se a dominância em si promove a prioridade de acasalamento em fêmeas de tilápia-do-Nilo. 13 grupos de 3 fêmeas adultas de tamanhos similares foram mantidas em aquários de 140 l para o estabelecimento da hierárquia entre cada 3 indivíduos. No quarto dia, um macho adulto foi introduzido no grupo e mantido lá por 12 dias para reprodução. Ocorreu desova em 8 réplicas, sendo que a fêmea alfa somente foi a primeira a acasalar em 4 destes casos. É possível que os machos de tilápia do Nilo escolham as fêmeas usando o tamanho como critério, como em outros ciclídeos, e não pela posição social. Uma vez que os confrontos envolvem um elevado gasto energético para a tilápia-do-Nilo, o motivo pelo qual as fêmeas investem nesse comportamento ainda é uma questão a ser resolvida. <![CDATA[<b>Space and behavior</b>: <b>a comparative perspective</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100005&lng=t&nrm=iso&tlng=t Female dominance and size are important features for mating choices in fishes. As dominants are also the largest females in some species, we tested whether dominance per se favours mating priority in Nile tilapia females. Three matched-size adult females (n = 13) were grouped in a 140 l-aquarium during 3 days for hierarchical settlement. On the 4th day a male larger than the females was introduced in the group and kept there for 12 consecutive days until reproduction. Spawning occurred in 8 out of 13 replicates, and the alpha female was the first to mate in only 50% of the cases. Males may thus choose females according to size and not according to rank, as occurs in other cichlid species. As confrontations and the establishment of hierarchical dominance involve high energetic expenditure in Nile tilapias, the reason why females invest in such behaviors is still a question to be elucidated.<hr/>A dominância e o tamanho da fêmea são características importantes para a escolha do parceiro sexual em peixes. Como as fêmeas dominantes também são as maiores em várias espécies, procuramos verificar se a dominância em si promove a prioridade de acasalamento em fêmeas de tilápia-do-Nilo. 13 grupos de 3 fêmeas adultas de tamanhos similares foram mantidas em aquários de 140 l para o estabelecimento da hierárquia entre cada 3 indivíduos. No quarto dia, um macho adulto foi introduzido no grupo e mantido lá por 12 dias para reprodução. Ocorreu desova em 8 réplicas, sendo que a fêmea alfa somente foi a primeira a acasalar em 4 destes casos. É possível que os machos de tilápia do Nilo escolham as fêmeas usando o tamanho como critério, como em outros ciclídeos, e não pela posição social. Uma vez que os confrontos envolvem um elevado gasto energético para a tilápia-do-Nilo, o motivo pelo qual as fêmeas investem nesse comportamento ainda é uma questão a ser resolvida. <![CDATA[<b>Ocupação do espaço por crianças em creches</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100006&lng=t&nrm=iso&tlng=t Results of studies we carried out in day care centers show the influence of spatial arrangement on the use of space and on children's activities. Following an ecological experimental methodology, data were recorded with photographic or video cameras throughout three phases. In the first one, in most studies, we kept the usual spatial arrangement (an empty central space, withouv circumscribed zones); in the second one, small shelves were put along the periphery of available space; the same shelves were used to structure the circumscribed zones in the last phase. An analysis performed on records, every 30 seconds or every minute, of the children's positions indicated the preferencial use of specific areas, according to the kind of spatial arrangement and to the manipulated variables. Our results contribute to the understanding of the interdependence between spatial arrangement and the structuring role of the adult in peer interactions.<hr/>Para evidenciar a influência do arranjo espacial sobre a ocupação do espaço e sobre a atividades infantis, apresentamos os principais resultados de nossas pesquisas com grupos de crianças em creches. Seguindo a metodologia da experimentação ecológica, registros foram tomados através de câmeras fotográficas ou de vídeo, em três fases. Na fase inicial, na maioria dos estudos, vigorava o arranjo espacial habitual (espaço central vazio, sem zonas cirunscritas). Numa segunda fase, foram introduzidas estantes baixas nas laterais do local; essas estantes foram usadas para a montagem das zonas circunscritas, na última fase. A análise a cada 30 segundos, ou de minuto em minuto, da posição espacial de cada criança evidenciou a preferência por áreas específicas, dependendo do tipo de arranjo espacial e das variáveis manipuladas. Nossos resultados contribuem para a compreensão da interdependência entre o arranjo espacial e o papel estruturador da educadora no contato entre crianças pequenas. <![CDATA[<b>Thigmotaxis</b><b> and exploration in adult and pup rats</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100007&lng=t&nrm=iso&tlng=t Rats tend to investigate novel environments and objects present in such environments. Exploratory behavior seems to be limited by thigmotaxis, a tendency to remain close to vertical surfaces the probable function of which is to protect rats from predation. Our studies show that the more circumscribed the place, the stronger the attraction it exerts. They also show that thigmotaxis is a very strong response either in individual or grouped rats. Motivation to explore a novel environment appears around the 21st day of life, three or four days after the rats' eyes open, but even at this early age, pups are responsive to thigmotaxis stimuli. Thigmotaxis may thus be an important defensive mechanism which appears precociously in rat development.<hr/>Ratos expostos a ambientes não familiares tendem a explorar o local e os objetos nele presentes. O comportamento exploratório parece ser limitado pelo tigmotatismo, a tendência a permanecer perto de superfícies verticais que provavelmente tem por função proteger os ratos de predadores. Nossos estudos mostram que quanto mais circunscrito um local, maior a atração que ele exerce sobre os animais. Mostram também que os ratos, quer estejam sozinhos, quer em grupo, sempre exibem tigmotatismo. O comportamento exploratório exibido em ambientes não familiares surge por volta do 21º dia de vida, três ou quatro dias depois da abertura dos olhos, mas mesmo nessa pouca idade os filhotes respondem com tigmotatismo. O tigmotatismo, que aparece cedo na vida dos ratos, pode constituir um importante mecanismo de defesa. <![CDATA[<b>Social play and spatial tolerance in tufted capuchin monkeys (<i>Cebus apella</i>)</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100008&lng=t&nrm=iso&tlng=t The aim of this work is to investigate the relations between social play, proximity and events of manipulative activities observed by conspecifics, in order to analise the dynamics involving tolerance and observation, important factors for an eventual social learning of tool use. The studied group lives in semifreedom at Tietê Ecological Park, SP, Brazil, and monkeys use stones to crack open encapsulated fruits. We did not find correlation between conspecific observation dyads and social play dyads because adults, who have limited participation at play, were the preferred conspecific observation targets in manipulative events, observed mainly by juveniles. There was a correlation between conspecific observation dyads and proximity dyads, indicating that social tolerance facilitates observation, but the correlation value was low, suggesting that monkeys, besides observing the individuals they stayed together with, also actively sought whom to observe.<hr/>Este trabalho tem como objetivo investigar relações entre a brincadeira social, a proximidade e os eventos em que um macaco observa outro desempenhando atividades manipulativas, para analisar a dinâmica envolvendo tolerância e observação, fatores necessários para uma eventual aprendizagem social do uso de ferramentas. O grupo estudado vive em semiliberdade no Parque Ecológico do Tietê, SP, Brasil, e seus indivíduos utilizam pedras para acessar o conteúdo de frutos encapsulados. Não encontramos correlação entre as díades de observação e as díades de brincadeira, porque os adultos, que têm participação restrita na brincadeira, foram os principais alvos de observação co-específica em eventos manipulativos, sendo observados principalmente pelos jovens. Encontramos uma correlação entre as díades de observação e as díades de proximidade, indicando que tolerância social propicia a observação, mas o valor desta correlação foi baixo, sugerindo que os macacos, além de observarem aqueles com quem andavam juntos, também procuraram ativamente a quem observar. <![CDATA[<b>Territoriality and social construction of space in children's play</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-28052004000100009&lng=t&nrm=iso&tlng=t In order to illustrate the social construction of space and the phenomenon of territoriality, free play episodes among 2-6 year-old children, selected from video-records taken at a day-care center, are presented. The selection was guided by the identification of interactional sequences in which either individual children or groups of children delimit, defend / fight over, or try to have access to particular spatial areas, in the course of several play modalities. The analysis highlights children's early capacities in terms of social use of space, construction and management of social relations. The use of "territoriality" and other terms to refer to temporary control over space is discussed and contrasted with the strictly biological and with the geopolitical uses of the concept. Functional distinctions between these several situations where the concept is used are suggested. It is proposed that, in the present case, territorial behaviors have communication functions, express interpersonal connections in the group and are part of the process of identity construction.<hr/>A construção social do espaço e o fenômeno da territorialidade são ilustrados aqui com episódios de brincadeira entre crianças de 2-6 anos em atividade livre, selecionados a partir de registros videogravados em um centro de recreação. O critério de seleção privilegiou seqüências interacionais em que uma criança ou subgrupos de crianças delimitavam, disputavam/ defendiam áreas espaciais ou tentavam ter acesso a elas, em várias modalidades de brincadeiras. A análise desvenda as capacidades precoces da criança em termos de uso social do espaço e de construção e administração de suas relações sociais. Discute-se o uso de territorialidade e outros termos para designar o controle temporário de espaços, em contraste com o sentido biológico estrito e com o sentido geopolítico de território; sugerem-se distinções funcionais entre esses vários casos em que o conceito de território é utilizado, e propõe-se que, no caso em pauta, o comportamento territorial tem função comunicativa, concretiza relações de pertencimento a subgrupos e é parte do processo de construção da identidade.