Scielo RSS <![CDATA[Natureza humana ]]> http://pepsic.bvsalud.org/rss.php?pid=1517-243020210002&lang=pt vol. 23 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://pepsic.bvsalud.org/img/en/fbpelogp.gif http://pepsic.bvsalud.org http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt <![CDATA[<b>Entre biopolítica e bioética</b>: <b>reflexões sobre a priorização do acesso aos cuidados durante a epidemia de Covid</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Dans l'article présent j'essaie de mettre en perspective quelques-uns des enjeux saillants de la crise sanitaire de Covid-19, notamment sa dimension biopolitique en face des défis bioéthiques. En partant, donc, d'une problématique singulière, celle de la priorisation des patients dans l'accès aux soins, notamment aux soins intensifs, qui permettent d'approfondir la réflexion concernant le traitement des vies humaines à l'articulation d'une préoccupation pour la vie biologique à l'échelle d'une population (sauver des vies) et d'une attention d'ordre éthique au vécu de la maladie, par les soignants, les patients ou par leurs proches, en particulier lorsque les ressources médicales manquent pour faire face aux demandes de soins.<hr/>In the present article I try to put in perspective some of the issues raised by the ensuing health crisis of the Covid-19 pandemic, mainly of its biopolitical dimension in contrast to the bioethical challenges. For this, I take as a base a singular problem, the prioritization of patients in access to care, especially intensive care, which allows a deeper reflection regarding the treatment of human lives in conjunction with a concern for biological life and the evarulation of biological life and the evarulation of care of an ethical nature to the experience of the disease by caregivers, patients and their neighbors, particularly when medical resources are lacking to cope with the demands of care.<hr/>No presente artigo busco pôr em perspectiva algumas das questões suscitadas pela crise sanitária decorrente da pandemia de Covid-19, principalmente de sua dimensão biopolítica em contraste com os desafios bioéticos. Para isto, tomo por base uma problemática singular, a da priorização dos pacientes nos acessos aos cuidados, principalmente os intensivos, que permite aprofundar a reflexão concernente o tratamento das vidas humanas em articulação a uma preocupação pela vida biológica da população (salvar vidas) e de uma atenção de ordem ética à vivência da doença pelos cuidadores, pelos pacientes e por seus próximos, em particular quando faltam os recursos médicos para fazer frente às demandas de cuidado. <![CDATA[<b>Da biopolítica que falta à que excede</b>: <b>a pandemia no Brasil</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Neste texto, pretendo tomar analiticamente o conceito foucaultiano de biopolítica no sentido de escancarar o movimento que ora inclui ora exclui certas formas de vida no contexto da pandemia de COVID-19. A questão é saber que formas de vida são levadas em consideração quando os desafios a que são confrontados gestores da ordem governamental conduzem medidas pautadas por uma lógica econômica neoliberal. Devo trabalhar metodologicamente sobre atos enunciativos dispersos proferidos em diferentes instâncias de saber. De partida, adoto o pressuposto de que vozes de saber - política, estatística, biomédica - nem sempre coincidem no modo de fazer dizer e significar o fenômeno da pandemia. O dispositivo analítico, portanto, deve alinhar os dizeres sobre a pandemia do novo coronavírus à maneira de compreendê-los. Quero mostrar a atualidade do conceito de biopolítica como operador da análise de um certo jogo de relações de poder historicamente situado no presente de uma pandemia em curso.<hr/>In this text I intend to analytically take the Foucaultian concept of biopolitics in order to open the movement that now includes now excludes certain forms of life in the context of the COVID-19 pandemic. The question is to know what forms of life are taken into consideration when the challenges faced by managers of the government order lead to measures guided by a neoliberal economic logic. I must work methodologically on dispersed enunciative acts delivered in different instances of knowledge. From the start, I adopt the assumption that voices of knowledge - politics. statistics, biomedical -, do not always coincide in the way of making the pandemic phenomenon say and signify. The analytical device, therefore, must align the words about the pandemic of the new coronavirus with the way of understanding them. I want to show the currentness of the concept of biopolitics as an operator of the analysis of a certain set of power relations historically situated in the present of an ongoing pandemic. <![CDATA[<b>A temporalidade à prova do confinamento</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Je cherche à explorer comment l'expérience de la temporalité est multiforme et fortement perturbée à l'époque de la pandémie Covid-19 et des politiques de confinement, générant une expérience d'hétérochronie, qui remet en question notre rapport à la vie<hr/>I seek to explore how the experience of temporality is multifaceted and markedly disturbed in times of the Covid-19 pandemic and the policies of confinement, generating an experience of heterochrony, which calls into question our relationship with life.<hr/>Busco explorar como a experiência da temporalidade é multifacetada e marcantemente perturbada em tempos da pandemia do Covid-19 e as políticas de confinamento, gerando uma experiência de heterocronia, o que põe em questão nossa relação com a vida. <![CDATA[<b>Soberania e violência biopolítica neoliberal</b>: <b>revisitando o paradigma da <i>guerra</i> no pensamento de Michel Foucault</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O presente artigo recupera as noções de guerra de raças e de biopoder nas lições ministradas por Michel Foucault no Collège de France intituladas Il faut défendre la Société (1976), para refletir sobre a relação entre neoliberalismo e violência política. Nesse sentido, interessa-me examinar como o pensamento de Foucault formulou o problema do biopoder vinculado ao da violência de raça para analisar nossa atual política (neo)liberal em termos de paradigmas raciais e coloniais.<hr/>This paper brings forth the notions of "war of races" and "biopower", originally discussed in Michel Foucault's lectures at the Collège de France entitled "Il faut défendre la Société" (1976), to meditate on the relationship between neoliberalism and political violence. In this regard, it is of my interest to present how the biopower matter is linked to the violence amongst races according to Foucault, in order to analyze our current (neo)liberal politic in terms of racial and colonial paradigms. <![CDATA[<b>Biopolítica neoliberal</b>: <b>além do <i>laissez faire</i></b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A principal característica do projeto neoliberal, não a encontramos, como sustenta com grande rotundidade boa parte da literatura especializada, numa particular política econômica baseada fundamentalmente na liberdade de mercado. Pelo contrário, se abordarmos a realidade desde a mirada foucaultiana, o verdadeiramente transcendental no neoliberalismo é, antes, a sua realização como razão normativa. É o que afirmava Foucault ao sugerir que, em síntese, o projeto neoliberal é resultado da crise do intervencionismo posterior à Segunda Guerra Mundial. Isto significa que o neoliberalismo se manifesta mais na produção de uma determinada forma de vida do que na sua eventual destruição. Desse modo, semeia nos sujeitos valores, práticas, cálculos e avaliações específicas da economia a cada uma das esferas vitais.<hr/>The main characteristic of the neoliberal project is not the particular economic policy based fundamentally on the freedom of the market, as strongly suggested by an important part of the specialized literature. On the contrary, if we approach reality from Foucault's point of view, the truly transcendental in neoliberalism is rather its realization as "normative reason". This affirmed Foucault when suggesting that, in summary, the neoliberal project is the result of interventionist crisis after the Second World War. This means that Neoliberalism manifests itself rather in the production of certain life forms than in its eventual destruction. Thereby it spreads specifically economic values, practices, calculations and evaluations to each aspect of life itself. <![CDATA[<b>Biopolítica, direitos e resistência no pensamento foucaultiano</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Neste artigo, proponho analisar quais são as ferramentas da matriz de pensamento foucaultiana sobre a biopolítica, que, por um lado, é altamente crítica da noção de direitos do homem/direitos humanos (droits de l'homme, na língua original) mas que, por outro lado, propõe a figura dos direitos dos governados (droits des gouvernés) como estratégia de resistência aos poderes. Com efeito, dentro dos elementos que compõem o quadro diagnóstico da biopolítica, Foucault formula uma forte crítica à noção de direitos do homem/direitos humanos, mas, ao mesmo tempo, levanta a possibilidade de exercer o que chama de direitos dos governados como expressão da resistência, da crítica e da liberdade perante os poderes que oprimem, subjugam e dominam a vida e suas formas instáveis e mutáveis. Portanto, neste artigo revisarei a distinção entre as duas noções mencionadas no pensamento foucaultiano, a fim de avaliar o alcance e as potencialidades que a noção de direitos dos governados pode ter, em particular, para interagir com as situações e os problemas que temos que enfrentar e, acima de tudo, em que medida ela se opõe, contradiz ou se concilia com a noção de direitos humanos.<hr/>In this article, I intend to analyze the tools provided by the Foucauldian thought on biopolitics which, on the one hand, is highly critical of the notion of the "rights of Man" /"human rights" ("droits de l'homme" in the original language) but which, on the other, proposes the figure of the "rights of the governed" ("droits des gouvernés") as a strategy of resistance to the powers. In fact, within the elements composing the diagnosis of biopolitics, Foucault formulates a strong criticism to the notion of the "rights of Man" / "human rights" but, at the same time, he poses the possibility of the exercise of what he calls the "rights of the governed" as an expression of resistance, critique and freedom before powers which oppress, subdue and dominate life and its unstable and changing forms. Therefore, in this article I will revise the distinction between both notions in the Foucauldian thought in order to evaluate the scope and the potentialities that the notion of "rights of the governed" can have, in particular, to interact with the situations and the problems we have to cope with and, especially, to what extent it opposes, contradicts or can be reconciled with that of "human rights". <![CDATA[<b>Ilegalismos, governamentalidade e desejo de muros</b>: <b>a produção do migrante pobre como ilegal</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O artigo estuda a preocupação político-filosófica acerca dos migrantes miseráveis na época contemporânea, como novo objeto de gestão administrativa dos Estados e de regulação da ordem política estabelecida. Objetiva-se apropriar-se das noções de gestão dos ilegalismos e de governamentalização do Estado, introduzidas por Foucault, para apontar como elas transformam a política migratória em polícia migratória. Mediante a prática dos ilegalismos, a gestão desses migrantes utiliza-se de mecanismos infralegais que evidenciam os limites da relação tradicional entre legalidade e ilegalidade. Através do modus operandi da governamentalização, o Estado regula o fluxo migratório como mecanismo compensatório para mascarar o declínio de sua soberania política. Com isso, aponta-se a insuficiência da designação jurídica do Estado no que diz respeito ao tratamento dos migrantes. Para além das pesquisas de Foucault, propõe-se articular a governamentalização do Estado moderno à ideia de soberania erodida, enfatizada por Wendy Brown (2009). Nesta perspectiva de leitura, o declínio da soberania política do Estado-Nação é associado à ascensão do Estado securitário. E o desejo de muros estimulado por deste último, evidencia a nostalgia de um modelo de Estado que já não existe. Assim, a produção do imigrante pobre como inimigo da nação resulta de um mecanismo de defesa social empreendido pelo Estado securitário, diante de uma suposta segurança permanentemente ameaçada. Apesar disso, esse desejo de segurança jamais é totalmente satisfeito.<hr/>The article studies the political-philosophical concern about the miserable migrants in the contemporary era, as a new object of administrative management of the States and of regulation of the established political order. The objective is to appropriate the notions of "management of illegalisms" and "governmentalization of the State", introduced by Foucault, to point out how they transform migratory politics into migratory police. Through the practice of illegalism, the management of these migrants uses infra-legal mechanisms that highlight the limits of the traditional relationship between legality and illegality. Through the modus operandi of governmentalization, the State regulates the migratory flow as a compensatory mechanism to mask the decline of its political sovereignty. With this, the insufficiency of the legal designation of the State with regard to the treatment of migrants is pointed out. In addition to Foucault's research, it is proposed to articulate the governmentalization of the modern state to the idea of "Waning Sovereignty", emphasized by Wendy Brown (2009). In this perspective of reading, the waning of the nation-state's political sovereignty is associated with the rise of the security state. And the "desire for walls" stimulated by the latter, shows the nostalgia for a state model that no longer exists. Thus, the production of the poor immigrant as an enemy of the nation results from a social defense mechanism undertaken by the security state, in the face of an alleged security that is permanently threatened. Despite this, this desire for security is never fully satisfied. <![CDATA[<b>O paradoxo colonial</b>: <b>cultura e formação entre biopolítica e necropolítica</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Se é no século XIX que a biopolítica se consolida, caberia então se perguntar qual teria sido o impacto da filosofia da época para a construção desse novo tipo de poder. Com isso, não seria possível ignorar a obra de Hegel, cuja complexidade teria sido responsável por moldar os rumos da filosofia durante o século XIX e seguintes. Afinal, uma de suas grandes preocupações, desde a "Fenomenologia do Espírito", teria sido a formação da cultura para elevar a vida imediata a uma vida plena, em direção ao universal e ao Espírito Absoluto. Todavia, o que subjaz a esse processo de formação da vida é aquilo que Achille Mbembe teria bem notado: para que a vida do Espírito na civilização fosse possível, fez-se necessário a existência de seu duplo, sua face noturna, a barbárie colonial. Desta maneira, o que se pretende é aprofundar os estudos de biopolítica, averiguando como os processos descritos por Hegel de constituição da vida e da cultura tiveram como pressuposto uma predação de escala planetária e uma brutalização conjugada com a espoliação da força de trabalho de povos inteiros. Em função da "dialética" do colonizador e colonizado, a condição da glória daquele é o sofrimento deste. Ou melhor, como para se fazer viver a Europa foi necessária uma política de morte, um fazer e deixar morrer o resto do planeta.<hr/>If it is in the nineteenth century that biopolitics is consolidated, then it would be necessary to ask what would have been the impact of the philosophy of the time for the construction of this new type of power. With that, it would not be possible to ignore the work of Hegel, whose complexity would have been responsible for shaping the direction of philosophy during the nineteenth and following centuries. After all, one of his major concerns, since "Phenomenology of the Spirit", would have been the formation of culture to raise the immediate life to a full life, towards the universal and the Absolute Spirit. However, what underlies this process of formation of life is what Achille Mbembe would have noticed: for the life of the Spirit in civilization to be possible, the existence of its double, its nocturnal face, colonial barbarism was necessary. In this way, what is intended is to deepen the studies of biopolitics, investigating how the processes described by Hegel for the constitution of life and culture had as a premise a predation of a planetary scale and a brutalization combined with the plundering of the workforce of entire peoples. Due to the "dialectic" of the colonizer and colonized, the condition of the former's glory is the latter's suffering. Or rather, how to make Europe live, it was necessary to have a death policy, to do and let the rest of the planet die. <![CDATA[<b>O fascínio Batailliano pela morte</b>: <b>uma alternativa à governamentalidade biopolítica</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt É sabido que um dos elementos capitais à governamentalidade biopolítica é de ter como seu objeto-mor a vida, donde decorre a obviedade do neologismo biopolítica. Mas é sabido também que para fazer jus a tal objeto, isto é, a vida, ela deve ser objeto de consideração num sistema político e governamental de defesa e segurança. Ora, pelo menos à luz da argumentação espositiana, a busca pela proteção e defesa da vida e do sujeito, dado o núcleo niilista da comunidade, se introduziu um modo de governar marcado pelo que o filósofo italiano chamou de paradigma imunitário, que consiste numa proteção da vida a partir de sua ameaça controlada que acaba por agravar ainda mais o núcleo niilista. Isto posto, e aceitando a indicação mesma de Esposito de que Georges Bataille é o mais radical anti-Hobbes (já que Hobbes é a figura emblemática que parece inaugurar toda esta deriva niilista da comunidade e da política), nosso objetivo é investigar como o fascínio batailliano pela morte - que pode ser pensado como a fascinação pelo negativo - é um modo filosoficamente instigante para pensar uma superação da deriva niilista tanto da comunidade como da biopolítica em seu modo imunitário de operar e gerir as vidas.<hr/>It is known that one of the key elements to biopolitical governmentality is to have life as its main object, from which the obviousness of "biopolitical" neologism arises. But it is also known that in order to be entitled to such an object, that is life, it must be the object of consideration in a political and governmental defense and security system. Now, at least in the light of the Espositian argument, the search for the protection and defense of life and the subject, given the nihilistic nucleus of the community, a way of governing was introduced marked by what the Italian philosopher called the immune paradigm, which consists of protection of life from its controlled threat that ends up further aggravating the nihilist nucleus. That said, and accepting Esposito's own indication that Georges Bataille is the most radical anti-Hobbes (since Hobbes is the emblematic figure who seems to inaugurate all this nihilistic drift of community and politics), our aim is to investigate how fascination Bataillian by death - which can be thought of as the fascination with the negative - is a philosophically instigating way of thinking about overcoming the nihilistic drift of both the community and biopolitics in their immune way of operating and managing lives. <![CDATA[<b>Topografias políticas de Michel Foucault</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200011&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Tendo por base o seu texto Des espaces autres, analisaremos como Foucault define e utiliza a noção de utopia para compreender os espaços e suas respectivas subjetividades produzidos pelos dispositivos de poder e saber. Também, e principalmente, mostraremos como o autor francês elucida a noção de heterotopia como um tipo de espaço que existe ao lado, através e no interior de um meio social e que, em razão de sua obliquidade e colateralidade, torna-se lugar de subversão, insubmissão e inquietação. À vista disso, este trabalho pretende apresentar o pensamento foucaultiano como uma experiência crítico-topográfica enquanto questão sobre o presente, no sentido de pesquisa, questionamento e busca de novas possibilidades à atualidade.<hr/>Based on his text "Des espaces autres", we will analyze how Foucault defines and uses the notion of utopia to understand the spaces and their respective subjectivities produced by the devices of power and knowledge. Also, and mainly, we will show that the French author elucidates the notion of heterotopy as a type of space that exists alongside, across, and within a social environment, and that due to its obliquity and collaterality, it becomes a place of subversion, insubmission, and restlessness. Given this, our work intends to present Foucault's thinking as a critical-topographical experience, as a question about the present, in the sense of research, questioning, and seeking new possibilities for the present. <![CDATA[<b>Arte, verdade e ambivalência</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Na modernidade, os discursos filosófico e literário tendem a reservar para a arte o papel privilegiado de instância de verdade, terapêutica e pedagogia para a vida e sobre a vida. Ao mesmo tempo, a prática artística frequentemente é legitimada por discursos de verdade sobre a natureza, o social e o sentir. Isso a despeito de, ao contrário de outras formas do pensamento humano como a ciência e a filosofia, a verdade não ser para a arte um objeto central. Essa relação intrincada com a verdade, associada ao seu alegado poder sobre o sujeito, indica uma semelhança entre a arte e a direção de conduta: um discurso ancorado em narrativas de verdade que procura moldar a subjetividade na direção de formas pré definidas do desejo. Papel que a arte parece ser capaz de assumir, mas não completamente, e ao custo de seu próprio poder que reside no caos da incompatibilidade entre o homem e a linguagem descoberta pela modernidade, o caos do texto sem um corpo presente que limite suas possibilidades de sentido. Este trabalho investiga as possibilidades abertas ao se pensar a arte, simultaneamente, como direção de conduta e texto sem corpo, e o artista como a personagem que navega essa ambivalência.<hr/>In modern times, philosophical and literary discourses tend to reserve for art the privileged role of instance of truth, therapy and pedagogy for life and about life. At the same time, artistic practice is often legitimized by speeches of truth about nature, the social, and the feeling. This is despite the fact that, unlike other forms of human thought such as science and philosophy, truth is not a central object for art. This intricate relationship with the truth, associated with its alleged power over the subject, indicates a similarity between art and the direction of conduct: a discourse anchored in narratives of truth that seeks to shape subjectivity in the direction of predefined forms of desire. Role that art seems to be able to assume, but not completely, and at the cost of its own power that resides in the chaos of the incompatibility between man and the language discovered by modernity, the chaos of the text without a present body that limits its possibilities of meaning . This work investigates the possibilities opened when thinking about art, simultaneously, as a direction of conduct and text without a body, and the artist as the character that navigates this ambivalence. <![CDATA[<b>Transgressão, resistência, subjetividade e arte em Foucault</b>]]> http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302021000200013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A temática da arte atravessa o pensamento de Michel Foucault em pelo menos dois momentos. Na década de 1960, em que Foucault é influenciado por autores como Blanchot, Bataille e Mallarmé e o problema da arte é posto como uma alternativa crítica aos saberes e a subjetividade é colocada em questão através das noções de transgressão, de limite e do ser da linguagem. Na década de 1980, em que o filósofo compreende a arte moderna como resistência, pois a partir de seu estilo de vida Outro, aquilo que Foucault chamou de vida artista, traz uma existência escandalosa e a marca da coragem da verdade, numa revivescência do cinismo antigo. Partindo dessa distinção, o presente artigo busca pensar como a arte, em cada um desses períodos, encontra-se colocada de maneira diversa no pensamento de Foucault, principalmente a partir da problemática da subjetividade.<hr/>The theme of art crosses Michel Foucault's thought in at least two moments. In the 1960s, when Foucault was influenced by authors such as Blanchot, Bataille, and Mallarmé and the problem of art was posed as a critical alternative to knowledge and subjectivity was put into question through the notions of transgression, limit, and the being of language. In the 1980s, when the philosopher understands modern art as resistance, because of his Other lifestyle, what Foucault called artist life, brings a scandalous existence and the mark of the courage of truth, in a "revival" of ancient cynicism. Based on this distinction, the present article seeks to think how art, in each of these periods, is placed in a different way in Foucault's thought, mainly from the subjectivity issue.