EDITORIAL

A satisfação em apresentar mais um número da Revista Avaliação Psicológica é grande, em razão de dois aspectos, em particular. Um deles refere-se à dificuldade ainda premente de editorar um periódico científico em nosso país, tal como já declarado por vários colegas editores. O segundo diz respeito a este exemplar da revista, no qual é possível encontrar um maior número de trabalhos, o que em alguma medida, pode revelar o crescimento de encaminhamentos de manuscritos.

Ao lado disso, no segundo semestre deste ano, o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica realizou em João Pessoa o III Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica e a XII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica, recebendo o auxílio do Conselho Regional de Psicologia (CRP 13 ª Região). O evento intitulado Avaliação Psicológica no Século XXI: Ética e Ciência reuniu pesquisadores, profissionais e estudantes da área de avaliação psicológica e das demais áreas que fazem interface com ela, tais como psicologia da saúde, hospitalar, clínica, organizacional e trabalho, neuropsicologia, educacional, psiquiatria, entre outras. Seguramente, o intercâmbio favoreceu o fortalecimento da área, à medida que propôs o aumento no desenvolvimento de pesquisas e, conseqüentemente, da produção científica. Esse feito, por si só, justificaria a realização de eventos dessa natureza, considerando a necessidade ainda atual da área de avaliação psicológica no que concerne à ampliação e ao amadurecimento da pesquisa científica.

O artigo que abre o presente número da Revista Avaliação Psicológica é de autoria dos argentinos Rubén Ledesma, Fernando Poó e Raquel Peltzer, da Universidad Nacional de Mar del Plata. Denominado Búsqueda Impulsiva de Sensaciones y Comportamiento de Riesgo en la Conducción, o trabalho visa analisar a relação entre a busca impulsiva de sensações, avaliada pelo questionário de personalidade de Zuckerman-Kuhlman, e comportamentos de risco durante a condução automobilística. Os resultados indicaram correlação positiva entre as variáveis na amostra geral, com especial proeminência na amostra de homens jovens, como outros estudos em culturas diferentes já haviam indicado.

Avaliação Neuropsicológica em Alcoolistas e Dependentes de Cocaína é o título do segundo artigo, cujos autores são as psicólogas Nádia de Moura Kolling e Cristiane Ribeiro da Silva, além de Janaína Castro Nuñez Carvalho, da Universidad de Buenos Aires e Instituto Escuela de Medicina del Hospital Italiano de Buenos Aires (Argentina), Silvia Mendes da Cunha, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre) e Christian Haag Kristensen, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Porto Alegre). O objetivo foi avaliar o funcionamento cognitivo em alcoolistas e dependentes de cocaína, por meio dos testes WAIS-III, COWAT, Trail Making, Teste de Stroop e Bateria de Avaliação Frontal. Os resultados sugeriram que os alcoolistas demonstraram maiores prejuízos em atenção, nas funções executivas e no controle inibitório, sendo que a amostra total do estudo teve desempenho abaixo dos grupos de referência dos testes.

Construir e avaliar a qualidade psicométrica de uma escala para avaliação de estressores ambientais no contexto off-shore-oil brasileiro foi o objetivo de Domingos Isidório da Silva Júnior, da Faculdade da Região dos Lagos e Universidade Estácio de Sá, e Maria Cristina Ferreira, da Universidade Salgado de Oliveira, todas do Rio de Janeiro, no trabalho intitulado Escala para Avaliação de Estressores Ambientais no Contexto Off-shore oil (EACOS). Após efetuação de análise fatorial exploratória e verificação da consistência interna da escala, os autores do terceiro artigo afirmam que as características métricas endossam seu uso para avaliação no contexto especificamente indicado.

O quarto artigo, Autoconceito e reconhecimento de palavras em crianças do ensino fundamental, é de autoria de Claudia Araújo da Cunha (Universidade Federal de Uberlândia), Fermino Fernandes Sisto (Universidade São Francisco) e Fernanda Machado (Universidade Federal de Uberlândia). Com o objetivo de discutir as relações entre o reconhecimento de palavras e o autoconceito em crianças de 2a, 3a e 4a séries do ensino fundamental, os autores lançaram mão da Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil e um teste de reconhecimento de palavras. As correlações observadas permitiram afirmar que as crianças que adquiriram a habilidade de reconhecer palavras informaram que sentem medos e ansiedades, assim vontade de ajudar os amigos e de serem ajudados.

Fomentar a discussão sobre os instrumentos de avaliação psicológica no formato de escolha forçada multidimensional, também conhecido como medida ipsativa, foi o objetivo de Giselle Mueller-Roger Welter e Cláudio Garcia Capitão, ambos da Universidade São Francisco, no artigo teórico denominado Medidas Ipsativas na Avaliação Psicológica. O trabalho versa sobre questões relativas à desejabilidade social dessas medidas, além de suas possibilidades de validação e limitações psicométricas, promovendo uma discussão interessante aos pesquisadores da área e usuários de instrumentos deste tipo.

Validação do Modelo de Inteligência de Carroll em uma Amostra Brasileira é o título do sexto artigo, cuja autoria é de Cristiano Mauro Assis Gomes e Oto Borges, da Universidade Federal de Minas Gerais. O estudo é fruto do relato de uma pesquisa que visou analisar, em uma amostra brasileira composta por estudantes de ensino médio, o Modelo dos Três Estratos elaborado por Carroll. Para tanto, os autores aplicaram uma versão traduzida e adaptada do Kit of Factor-Referenced Cognitive Tests, e os resultados foram submetidos à análise fatorial exploratória, sendo que os três níveis de habilidades foram identificados.

Katya Luciane de Oliveira, da Universidade São Francisco e Raquel Ávila Maia Oliveira, da Universidade de Alfenas, são as autoras do artigo Propriedades psicométricas de uma escala de condições de estudo para universitários. A aplicação da escala se deu em universitários de cinco diferentes cursos de três universidades particulares de Minas Gerais, e os resultados indicaram diferenças significativas entre gêneros e cursos, além da existência de quatro fatores, com bons índices de consistência interna.

O oitavo artigo, de autoria de Dejenane Aparecida Pascoal Pereira e Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, buscou verificar a validade de construto e precisão da Escala de Avaliação de Depressão para Crianças. Para tanto, as autoras procederam uma análise fatorial exploratória, concluindo a existência de quatro fatores. A precisão, avaliada por meio de Alfa de Cronbach, também foi considerada boa. O título do artigo é Validade e Precisão da Escala de Avaliação de Depressão para Crianças.

Frederico Neves Conde e Jacob Arie Laros (Universidade de Brasília), em Unidimensionalidade e a propriedade de invariância das estimativas da habilidade pela TRI, buscaram investigar se estimativas da proficiência realmente independem da dificuldade do teste e, para tanto, analisaram as respostas de 18.806 alunos da 8ª série do Ensino Fundamental em uma prova de Matemática. Os resultados permitiram aos autores afirmar que a verificação do pressuposto da unidimensionalidade é de suma importância sempre que a TRI é utilizada, a fim de que a propriedade tão desejável da invariância dos parâmetros possa se manifestar.

Objetivando relatar os procedimentos utilizados para adaptar o Inventário de Externalização, especialmente quanto às suas características lingüísticas, e apresentar dados sobre sua precisão, o décimo artigo intitulado Tradução, adaptação cultural e análise de consistência interna do Inventário de Externalização, é apresentado por Hudson C. W. de Carvalho (Universidade Federal de Minas Gerais), Ângela Maria Vieira Pinheiro (Faculdade Divinópolis), Christopher J. Patrick, Robert F. Krueger e Kristian Erik Markon (os três últimos, da Universidade de Minnesota, EUA). Os resultados obtidos indicaram que os procedimentos utilizados foram bem-sucedidos, e a precisão encontrada pode ser considerada boa.

O Funcionamento diferencial do item no Teste Pictórico de Memória é o título do artigo de Fabián Javier Marín Rueda, da Universidade São Francisco. O objetivo do estudo foi verificar o ajuste do Teste Pictórico de Memória ao modelo Rasch, bem como a presença de funcionamento diferencial dos itens, em função do sexo das pessoas. Concluiu-se que o ajuste dos itens foi adequado e que de forma geral, há um equilíbrio na diferenciação do padrão de respostas dos itens, por parte de homens e mulheres.

Os três artigos que encerram esse número têm como tema a análise de produção científica de diferentes temas dentro da psicologia. Inicialmente, buscou-se mapear e analisar os resumos dos painéis apresentados nos três Congressos Nacionais de Avaliação Psicológica, no artigo denominado Análise da produção científica em painéis dos Congressos Brasileiros de Avaliação Psicológica, de autoria de Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly, Marjorie Cristina Rocha da Silva, Maiana Farias Oliveira Nunes e Mayra Silva de Souza, da Universidade São Francisco. Observou-se, entre outros fatos, que houve uma grande variedade de testes psicológicos citados e que a maioria dos estudos realizados foram psicométricos, com procedimento quantitativo de análise de dados. As tendências e implicações dos achados são discutidas.

Silvia Verônica Pacanaro e Acácia Aparecida Angeli dos Santos, da Universidade São Francisco, apresentam o artigo Avaliação do estresse no contexto educacional: análise de produção de artigos científicos. O levantamento foi relativo às publicações veiculadas em revistas científicas de psicologia no período compreendido entre 1996 e 2005. A análise dos dados, por meio de categorias criadas especificamente para esse fim, possibilitou verificar um aumento da produção científica sobre o tema ao longo do período analisado.

Por fim, identificar as características da produção científica sobre criatividade foi o objetivo de Tatiana de Cássia Nakano, da Universidade São Francisco, e Solange Muglia Wechsler, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. O período avaliado foi o compreendido entre 1984 e 2006, nas bases de dados da CAPES e IndexPsi, o que permitiu recuperar não só artigos, mas também teses e dissertações. As autoras concluíram que o interesse pelo tema é grande, embora ainda existam lacunas no que toca aos contextos de saúde e organizacional.

Completando o sexto volume de Avaliação Psicológica, três resenhas são apresentadas. Fernanda Luzia Lopes apresenta o livro Avaliação Psicológica seus domínios, de Patrícia Waltz Schellini, indicando sua leitura, tanto para estudantes quanto para profissionais. Marjorie Cristina Rocha da Silva traz uma avaliação crítica de Sexualidade começa na infância, e afirma que os temas abordados, por serem atuais e pertinentes, vão ao encontro da necessidade e curiosidade de pais e professores. Finalizando, Silvia Godoy de Souza faz comentários introduzindo o livro Processos de Escolha e Orientação Profissional, e o indica para adolescentes que estão em momento de escolha, pais que lidam com essa situação em casa e profissionais que trabalham com essa temática.

Aproveitamos o ensejo para desejar a todos um excelente final de semestre e um 2008 bastante produtivo!

Ana Paula Porto Noronha, editora.