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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.6 no.2 Porto Alegre Dec. 2007

 

RESENHAS

 

A avaliação psicológica e seus domínios

 

 

Fernanda Luzia Lopes *

Universidade São Francisco

 

 

Schelini, P. W. (Org.). (2007). Alguns domínios da avaliação psicológica. Campinas, S.P.: Alínea

A avaliação psicológica não é uma atividade recente, estima-se seu início por volta do século XIX. A partir de então, os estudos e pesquisas sobre o tema desenvolveram-se e diversificaram-se quanto à área de aplicação, com ênfase na confiabilidade de seus critérios teóricos e de seus resultados. No Brasil não é diferente, as pesquisas em avaliação psicológica vêm intensificando-se de forma ampla, com o desenvolvimento de estudos de validade, precisão e padronização de testes estrangeiros e, ainda, com a elaboração de instrumentos próprios, que privilegiam as diversas áreas da Psicologia. O livro organizado por Patrícia Waltz Schelini teve por objetivo focalizar a multiplicidade dos instrumentos e técnicas de avaliação, aplicados aos construtos abarcados pela obra e, também, ao conhecimento seguro da Psicologia. Os sete capítulos foram escritos por profissionais envolvidos com a prática psicológica e apresentam-se de forma contemporânea e concernente com a atual diversidade de técnicas e pesquisas da avaliação psicológica.

O primeiro capítulo, Inteligência: definições do domínio e avaliação no horizonte do modelo Cattell-Horn-Carroll, de Patrícia Waltz Schelini, traça um histórico do construto inteligência, de maneira abrangente, apresentando características teóricas de estudiosos como Darwin, Francis Galton, Cattell, Binet, Spearman, entre outros. Assim, a autora desenvolve o texto em um estilo didático, enfatizando a consolidação do modelo de integração CHC, defendendo-a como a mais compreensiva e empírica forma de representação da estrutura da cognição e das habilidades acadêmicas. Contudo, ela destaca que não existe um instrumento capaz de mensurar todas as capacidades do modelo CHC, e sim apenas algumas delas.

No capítulo dois, Atenção, Edyleine Benczik e Erasmo Barbante Casella definem o construto, embora indiquem a problemática desse tema que, mesmo na literatura específica, apresenta falhas de conceituação, já que priorizam as funções da atenção sem, muitas vezes, mencionar os processos envolvidos. Os autores discursam sobre as funções cerebrais implicadas pelo processo da atenção, entre elas, a modulação pelo sistema reticular e cortical e, ainda, os tipos de atenção fragmentadas em seletiva, dividida, sustentada e alternada. No que concerne à sua avaliação, foram considerados diversos testes que mobilizam os tipos de atenção; porém, muitos deles não apresentam padronização com amostra brasileira e mostram-se ambíguos quanto ao construto.

O terceiro capítulo, intitulado Motivação para aprendizagem escolar de Luciana Gurgel Guida Siqueira, destaca o comportamento dos estudantes em relação ao aproveitamento da aprendizagem que, entre outros aspectos, tem a questão motivacional como tema. A motivação definida como movimento intencional do próprio sujeito, em vários estudos, pode ser dividida em extrínseca - na qual, o motivo encontra-se no ambiente exterior e, intrínseca, isto é, o envolvimento do sujeito a uma tarefa por seu próprio intento; diante dessas duas possibilidades, a autora demonstra suas conseqüências no contexto escolar. Nesse enfoque, a avaliação da motivação, segundo Siqueira, merece cautela, pois, como em outras áreas, sofre algumas conseqüências em razão da complexidade e do dinamismo da discussão. Aliado a isso, há a carência de estudos sobre tal construto no Brasil. No entanto, técnicas como observação direta, questionários e escalas, podem ser utilizadas como instrumentos de mensuração motivacional, embora com algumas limitações situacionais.

O capítulo quatro, Avaliação da auto-estima: uma proposta de medida, de Mônica Gobitta, versa sobre a questão da auto-estima, considerando a sua magnitude na promoção da saúde mental do sujeito, já que possui efeito moderador sobre determinados traços de personalidade. A autora chama a atenção para os poucos estudos nacionais sobre o tema e, também salienta, a dificuldade de definição conceitual de auto-estima. Tal conflito, em grande parte, deve-se ao fato do construto abarcar conceitos das chamadas teorias do eu, como a auto-avaliação, autopercepção e auto-conceito sem, contudo, postular um limiar à cada esfera. Gobitta afirma que muitos pesquisadores concordam quanto à combinação de instrumentos projetivos e escalas de auto-relato, ou seja, técnicas qualitativas e quantitativas, respectivamente, podem ser seguras formas de mensuração da auto-estima ou de seus domínios correlatos.

Caroline Rappold, Cláudia Giacomoni e Cláudio Simon Hutz apresentam o quinto capítulo: Bem-estar subjetivo - definição e formas de avaliação. Nessa seção, descrevem o início da "Psicologia Positiva" que, por meio das Grandes Guerras Mundiais, estabeleceram um paralelo entre bem-estar e saúde mental. O bem-estar subjetivo, na esfera psicológica, abrange os sentimentos e pensamentos do indivíduo sobre sua própria condição de vida; assim, relaciona-se à saúde psíquica, sem embora, ser sinonímia de saúde mental. Dependentes ao bem-estar subjetivo, de acordo com os autores, existem três aspectos a serem considerados: o impacto da subjetividade individual sobre a vida, a ausência de fatores negativos não são os únicos determinantes do bem-estar e, por último, o bem-estar inclui uma medida global de satisfação. Para que se possa avaliar o bem-estar subjetivo, destacam-se alguns métodos como medidas de auto-relato; porém, dá-se a necessidade da investigação de aspectos cognitivos e emocionais, a fim de uma avaliação do construto como um todo.

Imagem corporal: conceitualização e avaliação, de Rodrigo Sanches Peres e Manoel Antonio dos Santos, título do sexto capítulo, promove o corpo como mediador entre sensações oriundas do meio externo, dado o princípio, de ser ele, a primeira maneira de contato com a realidade. De acordo com os autores, a teoria freudiana associa o funcionamento do ego vinculado à representação corporal, pois a essa estrutura é atribuída a responsabilidade pela escolha dos objetos. Já o termo imagem corporal, com sua inclusão no meio psicológico datada na década de 30, refere-se à representação mental do sujeito, em relação ao próprio corpo, evidenciando-se a discordância teórica quanto à conceituação do tema. O capítulo demonstra que a avaliação da imagem corporal pode ser realizada por meio de técnicas analíticas, com seu conteúdo quantitativo da singularidade dos aspectos psicológicos ou ainda, por técnicas projetivas, manifestantes de processos mentais profundos e inconscientes.

Simone Ferreira da Silva Domingues, Anegreice Valério, Sara Del Prete Pancieira e Maria Regina Maluf, encerram a obra com o capítulo intitulado Tarefa de crença falsa na avaliação de atribuição de estados mentais de crença. Aqui, as autoras discorrem sobre a teoria da mente, que condiz com o estado de explanar e antever o próprio comportamento e o de outras pessoas, com a alusão aos estados mentais. Nesse sentido, um dos aspectos da teoria da mente mais examinados é a atribuição de crenças. Desse modo, muitos teóricos, desenvolveram técnicas a partir da utilização de tarefas de crenças falsas, que têm o objetivo de avaliar a atribuição de crenças de forma experimental e controlada. Tais estudos corroboram a teorias da mente em uma nova área de pesquisa, que visa facilitar um melhor consenso dos processos envolvidos.

Patrícia Waltz Schelini, ao organizar esse livro, abordou concepções pertinentes e atuais relacionados à Avaliação Psicológica. Os autores, de forma didática, oferecem um panorama dos construtos abordados, que facilitam a compreensão de cada capítulo. Além disso, enfatizam a necessidade de normatização, padronização e validade de testes estrangeiros, bem como a ampliação das pesquisas nacionais referentes aos temas singulares, para que assim, obtenha-se uma melhor delimitação e conceitualização dos assuntos contemplados em cada capítulo. Dessa forma, a obra é destinada a estudantes de graduação e pós-graduação em Psicologia, bem como, a professores e psicopedagogos que, embora não se utilizem de instrumentos de avaliação psicológica, podem valer-se de seus conceitos a fim de um melhor discernimento do outro.

 

 

Sobre a autora:

* Fernanda Luzia Lopes: acadêmica de psicologia pela Universidade São Francisco. Bolsista do Programa de Iniciação Científica da Universidade São Francisco. E-mail: fernandallopes@hotmail.com

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