SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.13 issue2Validity characteristics of a meaning of work inventory in creative industriesExecutive Function Impairments in crack/cocaine abusers: estudios de caso author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

article

Indicators

Share


Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.13 no.2 Itatiba Aug. 2014

 

 

Precisão e validade do Pfister para avaliação de crianças

 

Reliability and Validity evidences of Pfister Colored Pyramid Test to children assessment

 

Fidedignidad y Validez del Test de Pfister para Evaluación de los niños

 

 

Flávia Helena Zanetti FarahI; Lucila Moraes CardosoII; Anna Elisa de Villemor-AmaralIII,1

ICentro Universitário Adventista de São Paulo
IIUniversidade Estadual do Ceará
IIIUniversidade São Francisco

 

 


RESUMO

O objetivo foi buscar evidências de validade do Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC) para crianças e verificar a precisão entre avaliadores. A amostra foi composta por 200 crianças de seis a 10 anos, ambos os sexos, de escolas públicas e particulares do estado de São Paulo. O TPC e o HTP, usado como medida externa, foram administrados individualmente, sempre nesta ordem. Os protocolos do HTP das crianças foram classificados em dois grupos extremos considerando a ausência ou a presença de indicadores de adequação emocional e, em seguida, comparados e correlacionados com o TPC. Nos resultados, o grupo com maior dificuldade em lidar com demandas emocionais pelo HTP apresentou a cor por dupla vermelho e marrom aumentado no TPC. No estudo de precisão entre avaliadores, a concordância entre os dois juízes independentes foi de 88%. Conclui-se que o TPC é um instrumento com evidências de validade e precisão.

Palavras-chave: avaliação psicológica; teste das pirâmides coloridas; desenho da casa-árvore-pessoa.


ABSTRACT

The aim of this study was to seek evidence of validity for the Color Pyramid Test Pfister (CPT) for children and check accuracy between raters. The sample consisted of 200 children aged 6 to 10 years, both genders, from public and private schools in the state of Sao Paulo. The CPT and HTP, which was used as an external measure, were administered individually always in this order. The HTP protocols of the children were classified into two extreme groups according to the presence or absence of emotional suitability indicators, and then compared and correlated with the CPT. In the results, the group with most difficulty to deal with the emotional demands according to the HTP presented the dual color red and brown increased in the CPT. In the accuracy study among raters, the correlation between the two independent raters was 88%. It is concluded that CPT is an instrument with validity and accuracy.

Keywords: psychological assessment; color pyramid test; house-tree-person drawing.


RESUMEN

El objetivo fue buscar evidencia de la validez de Test de Las Piramides Coloridas (TPC) para los niños y comprobar la precisión entre evaluadores. La muestra consistió en 200 niños de 6 a 10 años, de ambos sexos, de escuelas públicas y privadas en el estado de São Paulo. El TPC y HTP, que se utilizó como una medida externa se administraron individualmente siempre en este orden. Los protocolos HTP se clasificaron en dos grupos extremos de acuerdo a la presencia o ausencia de indicadores emocionales de adecuación emocional, y luego comparadas y correlacionadas con el TPC. En los resultados, el grupo con más dificultades de enfrentamiento de la demanda emocional conforme el HTP presentó los colores rojo y marrón aumentados en TPC. En el estudio de precisión entre evaluadores, la correlación entre los jueces independientes fue de 88%. Se concluye que TPC es un instrumento con validez y exactitud.

Palabras-clave: evaluación psicológica; test de las piramides coloridas; dibujo de la casa-arbol-pessoa.


 

 

Uma maneira de contribuir para um desenvolvimento infantil saudável é identificar quais são os processos que ocorrem com a maioria das crianças durante o desenvolvimento e estabelecer os parâmetros sobre o que é esperado. Em muitos casos, identificar as dificuldades o mais cedo possível e realizar oportuna intervenção aumentam a probabilidade de um desenvolvimento equilibrado, pois se sabe que os primeiros anos de vida são fundamentais para a estruturação da personalidade, ao mesmo tempo em que são mais vulneráveis às diversas alterações sociais e fisiológicas (Pérez-Ramos, 2000). Cada vez mais, nota-se que a avaliação psicológica de crianças e de adolescentes é indispensável à prevenção de problemas futuros (Hutz, 2010).

As estratégias para uma avaliação psicológica adequada requerem instrumentos eficientes. Para que os instrumentos possam ter parecer favorável para uso, o Conselho Federal de Psicologia exige que sejam realizados estudos que assegurem sua precisão e sua validade (CFP 02/2003). Vários são os tipos de estudos que fornecem dados de evidências de validade e de precisão aos testes psicológicos. Deste modo, como os instrumentos possuem naturezas distintas, faz-se necessário ter métodos específicos para buscar evidências de validade e precisão, considerando-se as especificidades de cada instrumento.

Há um conjunto de instrumentos que permitem uma avaliação mais qualitativa da singularidade do sujeito e que não possuem respostas certas ou erradas. Esses instrumentos são historicamente conhecidos como métodos ou técnicas projetivas. Porém, Ritzler (2006) afirmou que "técnica projetiva" é um rótulo ultrapassado e impreciso que não apreende a natureza desses métodos de avaliação da personalidade. Assim, o termo método de autoexpressão ou, simplesmente, método expressivo seria mais adequado para nomear esse conjunto de instrumentos.

De acordo com Anzieu (1978), os métodos por ele chamados projetivos oferecem uma ampla gama de dados qualitativos que devem ser codificados em hipóteses a serem testadas. Por isso, a validação desses métodos não pode ser tomada do mesmo modo que os testes com respostas certas ou erradas. No mesmo sentido, Fensterseifer e Werlang (2008) argumentam que investigar as qualidades psicométricas dos métodos expressivos é uma tarefa complexa e desafiadora. Corroborando essa ideia, Villemor- Amaral e Casado (2006) defendem que o critério de cientificidade não pode se fundamentar apenas nos parâmetros da psicometria – é preciso valorizar também o raciocínio clínico e o estudo dos aspectos idiográficos.

A natureza qualitativa e as características peculiares dos métodos expressivos da personalidade aumentam o desafio dos estudos que buscam evidências de sua validade e precisão (Villemor-Amaral & Casado, 2006). Uma estratégia mais comumente adotada para precisão dos métodos expressivos é a confiabilidade entre avaliadores, por meio da qual parte dos protocolos usados na pesquisa deve ser submetida a um segundo juiz que fará análise às cegas dos protocolos. Esse procedimento é indicado para situações em que a interpretação dos dados pode ser influenciada pela subjetividade do avaliador (Urbina, 2007). No que se refere às evidências de validade, uma possibilidade é buscar evidências de validade convergente, nas quais se utiliza uma medida externa que avalie a mesma característica ou características relacionadas, para verificar se o método em estudo mede o mesmo constructo ou constructo semelhante (Urbina, 2007).

Outro desafio desses métodos é a escassez de instrumentos para avaliação de crianças. Atualmente, o único instrumento com parecer favorável para uso com crianças da população brasileira é o House-Tree-Person (HTP). Essa deficiência de instrumentos para avaliação da personalidade infantil tem gerado preocupação entre profissionais da área, enfatizando a importância de estudos que acrescentem evidências de validade e precisão desses métodos para essa população específica.

Um método expressivo que, após parecer favorável do CFP, poderá ser usado na avaliação de crianças com mais de seis anos é o Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC). O TPC permite verificar se o examinando reage aos estímulos emocionais com menor ou maior controle das funções cognitivas. Costuma ser bem aceito pelas pessoas em geral, principalmente por ser uma técnica não-verbal com características lúdicas e por requisitar um tempo curto de aplicação (Villemor-Amaral, 2012).

Na busca de pesquisas com o TPC, tanto na literatura nacional quanto internacional, verificou-se que poucos são os estudos com adultos e mais escassos ainda aqueles com crianças. Na literatura nacional, foram encontrados somente três estudos com crianças.

O primeiro estudo foi realizado com crianças de seis a 12 anos e apresentou os dados normativos com relação à frequência de cores e síndromes cromáticas para essa faixa etária (Villemor Amaral, 1978). No entanto, já se passaram 35 anos desde que esse estudo foi realizado, de modo que não é adequado considerar seus resultados sem que sejam feitos estudos atualizados.

O segundo estudo buscou evidências de validade do TPC para uso com crianças surdas. O TPC foi administrado em crianças de seis a 12 anos, de ambos os sexos e escolaridade do pré à 6ª série do Ensino Fundamental. Os grupos foram compostos por 37 ouvintes e 81 surdos. Como os surdos possuem diferentes modelos educacionais, buscou-se equiparar a amostra em função desses modelos educacionais. Assim, 31 eram orais, 29 eram bilíngues e 21, submetidos ao modelo de comunicação total. Ao fazer a comparação entre surdos e ouvintes, verificou- se aumento da cor violeta, indicador de ansiedade, em crianças surdas. Entre os grupos de surdos, houve diferenças somente com relação ao aspecto formal. O estudo sugeriu sensibilidade do TPC para diferenciar os grupos (Cardoso & Capitão, 2007).

No terceiro trabalho, buscou-se verificar a sensibilidade do TPC para identificar diferenças no desenvolvimento cognitivo e emocional de 85 crianças com idade entre seis e 12 anos, de ambos os sexos. Para análise, foram comparados os indicadores de frequência das cores, síndromes cromáticas e aspecto formal. Verificou-se aumento de amarelo, síndromes de estímulo, e tapetes puros e com início de ordem nas crianças menores. Houve aumento das cores branca e preta, e estrutura em manto nas crianças maiores. Villemor-Amaral, Biasi, Pavan, Migoranci, e Tavella (2012) concluíram que o TPC foi sensível para indicar maior controle emocional decorrente do desenvolvimento cognitivo.

Considerando a importância de pesquisas que ofereçam dados confiáveis para instrumentos de avaliação infantil, e considerando ainda que o TPC é um instrumento com características que favorecem o uso com crianças, o objetivo desta pesquisa foi buscar evidências de validade e precisão do Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister para crianças de seis a 10 anos. Tem-se a hipótese de que o TPC é sensível para diferenciar as crises psicossociais comuns no desenvolvimento infantil e para identificar problemas emocionais em crianças.

 

Método

Participantes

Participaram deste estudo 200 crianças, de ambos os sexos, com idade entre seis e 10 anos (M=8,01), de escolas públicas e particulares da zona sul de São Paulo e de uma cidade com 90 mil habitantes do interior de São Paulo. Todos os participantes foram selecionados por meio de amostra não aleatória por conveniência. Foram adotados como critérios de inclusão na amostra: a criança não ter histórico de busca de ajuda psiquiátrica ou psicológica, não apresentar queixas patológicas específicas na escola ou em casa, e estar na série escolar adequada à sua idade. Buscou-se, com esses critérios, excluir crianças com indicadores mais característicos de psicopatologia.

Instrumentos

Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister (Villemor-Amaral, 2012).

O TPC foi desenvolvido pelo psicólogo suíço Max Pfister, em 1951. O teste é composto por um jogo com três cartões em papel bege. Em cada cartão, há o desenho de um esquema de pirâmide e um conjunto de quadrículos coloridos nas cores azul, vermelha, verde, amarela, laranja, marrom, violeta, preta, cinza e branca, em 24 tonalidades diferentes. Há também uma folha de aplicação e um mostruário das cores.

Na administração do instrumento, pede-se que o testando preencha um esquema de pirâmide com quadrículos coloridos de diferentes tonalidades para que, ao seu gosto, fiquem bonitas. Após o preenchimento da primeira pirâmide, pede-se que preencha outra e, depois, uma terceira pirâmide. Ao término da terceira pirâmide, é feito um inquérito para verificar a preferência do examinando pelas pirâmides.

Acredita-se que a composição da pirâmide indique a existência de uma organização mental que envolva aspectos cognitivos e emocionais da personalidade. As tendências de estruturação da forma da pirâmide se relacionam à esfera cognitiva da personalidade na medida em que se considera a capacidade de abstração, discriminação, síntese e organização perceptiva, assim como a manifestação do potencial de inteligência do indivíduo, isto é, de funções que integram e se subordinam à esfera cognitiva da personalidade (Marques, 1988). Por isso, espera-se que crianças e pré-adolescentes produzam pirâmides com aspecto formal mais desorganizado e menos diferenciado estruturalmente do que as pirâmides produzidas por adultos.

O TPC possui estudos de normatização, validade e precisão para adultos descritos por Villemor-Amaral (2012). Nos estudos normativos foram realizadas pesquisas com a população de não-pacientes. Para evidências de validade, foram feitos estudos com diferentes grupos patológicos. No que se refere ao estudo com crianças e adolescentes, novamente se destaca a escassez de pesquisas e, portanto, a necessidade de que mais estudos sejam feitos.

House-Tree-Person (HTP) (Buck, 2003).

O HTP foi idealizado por John N. Buck, em 1948. O pesquisador, na sua experiência clínica, percebeu que o tema Casa – Árvore – Pessoa se refere a conceitos familiares mesmo a crianças bem pequenas. O HTP consiste na execução desses três desenhos em duas etapas. A primeira é não-verbal, criativa e quase completamente não estruturada. Nessa etapa, solicita-se ao examinando que faça o desenho de uma casa, de uma árvore e de uma pessoa, um de cada vez. Na segunda etapa, é realizado um inquérito com uma série de perguntas relativas às associações do indivíduo sobre aspectos de cada desenho.

Trata-se de um método expressivo que fornece uma medida qualitativa de personalidade e que permite avaliar o funcionamento intelectual. O desenvolvimento desta técnica é semelhante ao dos outros métodos nos quais foi baseada a suposição de que o desenho do sujeito inclui aspectos de seu mundo interno. As forças ou as fraquezas da personalidade do sujeito envolvem o grau em que seus recursos internos podem ser mobilizados para lidar com os conflitos psicodinâmicos.

Questionário de identificação.

Esse questionário foi composto por 16 perguntas com o objetivo de conhecer o contexto familiar da criança. Desse modo, havia perguntas sobre a própria criança e sobre sua família. As perguntas sobre a criança foram nome, sexo, escolaridade, data de nascimento e idade. Quanto à família, as perguntas foram sobre se é legítima ou adotiva, o número de pessoas, a ordem de nascimento do filho avaliado, a cidade em que a família reside, a religião da família, a escolaridade e a profissão da mãe e do pai, e, por fim, se há histórico de busca de ajuda psicológica ou psiquiátrica.

Procedimentos

O projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade São Francisco. Foram realizados contatos com as escolas e, após assinatura do Termo de Consentimento da Instituição, o projeto foi apresentado na reunião de pais. Os pais que concordaram com a participação dos filhos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os instrumentos foram administrados individualmente na mesma ordem, a saber, questionário de identificação, HTP e TPC. As aplicações seguiram essa ordem pois na realização do HTP a preocupação com a estética não deve interfirir na produção dos desenhos e levantou- -se a hipótese de que as instruções do TPC, em que se pede à criança fazer pirâmides bonitas, pudessem interferir posteiormente nas produções do HTP.

Terminada as aplicações, os protocolos foram analisados e codificados para, depois, serem inseridos no banco de dados. Dentre os indicadores do TPC, optou-se por trabalhar com aspecto formal, frequência das cores e cores por dupla, conforme critérios de Villemor-Amaral (2012).

No que se refere ao HTP, a codificação seguiu as orientações de Buck (2003), com destaque a 10 variáveis para a pontuação de cada desenho, ou seja, 10 itens da casa, 10 da árvore e 10 da pessoa, num total de 30 itens. Os itens avaliados no HTP foram os mesmos nos três desenhos. Eles foram codificados quanto à presença ou à ausência de cada um dos itens, a saber, tamanho da figura proporcional, simetria normal, ausência de distorções, localização centralizada ou à direita, ausência de queda sugerida, detalhes necessários e ausência de bizarrice, detalhes essenciais (parede, telhado, porta, janela e chaminé para casa; tronco e galho para árvore; cabeça, tronco, braços, pernas e traços faciais para pessoa), ausência de detalhes não essenciais no desenho, ausência de detalhes irrelevantes (aspectos que não compõem o desenho solicitado, mas que poderiam ter sido desenhados, por exemplo, nuvens, arbustos e bengalas), e qualidade da linha média. Esse conjunto de itens, de modo geral, indica a maneira como a pessoa lida com as pressões ambientais e evidencia suas habilidades para agir criticamente nos relacionamentos cotidianos, informando sobre a capacidade de julgar problemas básicos do dia a dia e sobre a capacidade de adaptação às circunstâncias.

Neste trabalho, o HTP foi útil para composição de dois grupos extremos em relação à estabilidade da criança. Quando o item do desenho da criança estivesse de acordo com o esperado, este item era pontuado. Quando o item estivesse em desacordo com a expectativas, ele não era pontuado. Desse modo, quanto maior a pontuação, maior a capacidade da criança para lidar com as demandas da vida diária.

Como foram selecionados 30 itens, a nota máxima, nesse sistema de pontuação, foi 30 pontos e a mínima foi zero. Em seguida, foram estabelecidos, como valores extremos, pontuação entre 0 e 7,5, indicando menor índice de adequação, e pontuação entre 22,5 e 30, sugerindo maior índice de estabilidade. Desse modo, 17 crianças compuseram o grupo com menor índice de estabilidade e 36 crianças, o grupo de maior adequação.

Análise de Dados

Na análise dos dados, primeiramente, foi feito um estudo de precisão com avaliadores de variáveis com grau de subjetividade na codificação do TPC, a saber, aspecto formal. Em seguida, foram feitas as estatísticas descritivas do aspecto formal e do uso das cores.

As análises inferenciais utilizaram o qui quadrado para comparar a frequência do aspecto formal entre os grupos extremos compostos a partir do desempenho no HTP. E utilizaram o teste t de Student para comparar a média de uso das cores e das cores por dupla nos grupos extremos. Além disso, foi feita a correlação de Pearson entre a frequência das cores do TPC e a pontuação das crianças em cada desenho, e entre a frequência das cores do TPC e a soma das pontuações nos três desenhos do HTP.

 

Resultados

Conforme já abordado, o TPC possui vários indicadores, dos quais foram selecionados, para o presente estudo, o aspecto formal, a frequência das cores e as cores por dupla. A classificação do aspecto formal requer uma escolha pautada em 16 critérios previamente estabelecidos, ao passo que a análise da frequência das cores e a análise das cores por dupla dependem da frequência das cores e de suas combinações – nestas análises, basta que o examinador conte o número de cores utilizadas para alcançar o resultado correto.

Ainda que os critérios de classificação do aspecto formal estejam definidos, há algumas situações que podem gerar dúvidas ou discordância entre avaliadores. Para minimizar essa fonte de erro, foi feita uma análise de fidedignidade entre avaliadores. Desse modo, 25% dos protocolos do TPC foram sorteados e analisados por dois juízes independentes. Como cada pirâmide tem o seu aspecto formal, uma independentemente da outra, a divergência de codificação numa única pirâmide foi computada como discordância. Verificou-se uma concordância de 88% entre os juízes, ou seja, dos 50 protocolos, somente seis apresentaram divergência.

Após se verificar a consistência das codificações, analisou-se a frequência do aspecto formal em cada uma das pirâmides e na soma do conjunto das três pirâmides. A Tabela 1 apresenta os resultados em frequência e em porcentagem.

 

 

Nota-se, na Tabela 1, que o aspecto formal que predominou entre as crianças foi o tapete furado (38%). Os outros aspectos que tiveram uma frequência considerável foram formação simétrica (12%), tapete puro (11%) e formação em camada multicromática (11%). A soma dos aspectos formais do grupo tapete foi realizada em 61% das pirâmides. As formações correspondem a 31% dos aspectos formais, ao passo que as estruturas foram realizadas em 8% das pirâmides.

Outro indicador analisado foi a frequência das cores, relevante tanto pela significação das cores em si quanto porque, com esse indicador, outros índices serão formulados para uma completa avaliação do instrumento. Na Tabela 2, é apresentada a estatística descritiva da frequência das cores para o grupo de 200 crianças. Verifica-se o predomínio da cor vermelha, com 17%, seguida do verde, com 16%, logo após, o azul, com 15%, o violeta, com 12%, o amarelo e o laranja, com 9,1% e 9,0% respectivamente, o branco, com 7%, marrom e preto, com 5%, e, por último, o cinza, com 4%.

 

 

Para buscar evidências de validade do TPC, adotou- se como variável externa os grupos extremos de acordo com o HTP. O primeiro grupo foi composto pelas 17 crianças que tiveram poucos indicadores esperados. O outro grupo foi formado por 36 crianças que tiveram um número acentuado de indicadores, sugerindo maior estabilidade emocional.

Ao fazer a comparação dos grupos extremos com o aspecto formal do TPC, por meio do qui quadrado, não foram obtidas diferenças significativas. Nas pirâmides I, II e III, os resultados do qui quadrado foram, respectivamente, (χ2 =12,749; p=0,121); (χ2=9,454; p=0,490) e (χ2=8, 331; p=0,597), e, na soma das três pirâmides, o valor foi (χ2=14, 431; p=0,469). Esses dados mostram que, com relação ao aspecto formal, não foi possível distinguir os grupos extremos do HTP.

Foi feita a comparação entre os grupos extremos do HTP e a frequência das cores e cores por dupla, por meio do teste t de Student. Na comparação dos grupos extremos pela frequência das cores, não foram encontradas diferenças significativas. Na comparação das cores por dupla, a única variável sensível para diferenciar os grupos foi a dupla das cores vermelha e marrom, aumentadas no grupo de crianças que apresentam poucos indicadores esperados no HTP (t=2,149, p=0,036).

Em seguida, foi feita a correlação de Pearson entre a frequência das cores do TPC e a pontuação das crianças em cada desenho e a soma dos desenhos do HTP. Os dados dessa correlação podem ser verificados na Tabela 3.

 

 

Conforme a Tabela 3, o único indicador que apresentou correlação significativa foi a frequência de branco com o desenho da casa e da árvore no HTP. Ainda que essa correlação possa ser significativa do ponto de vista estatístico, trata-se de uma correlação fraca.

 

Discussão

A concordância entre avaliadores de 88% no aspecto formal é bastante satisfatória, visto que correlações altas positivas sugerem pequena probabilidade de diferença de erro devida às diferenças entre juízes (Urbina, 2007). Esse dado se assemelha aos resultados encontrados nas pesquisas com adultos, que obteve 86% de concordância no aspecto formal (Villemor-Amaral, 2012).

Na análise da frequência do aspecto formal, foram obtidos resultados compatíveis com o esperado em crianças, na medida em que o aumento de tapete sugere desorganização emocional e cognitiva. Esse resultado é coerente com o período da infância, conforme apontado por Marques (1988) e Villemor-Amaral et al. (2012). Soma-se a isso a frequência das formações que indicam o início de uma organização, mas ainda não satisfatoriamente estabilizada.

Na comparação do aspecto formal entre os grupos extremos do HTP, não foram obtidas diferenças significativas, isto é, o aspecto formal não foi sensível para diferenciar os grupos extremos do HTP. Esse resultado era esperado, pois o aspecto formal se relaciona mais com um funcionamento cognitivo do que com um emocional, e as variáveis selecionadas do HTP avaliam mais aspectos emocionais do que cognitivos.

Para análise dos indicadores emocionais do TPC, primeiramente, foi observada a frequência das cores (Tabela 2), que estão muito próximas aos valores obtidos por crianças no estudo de Villemor Amaral (1978). Somente se diferenciaram as cores branca (2%) e marrom (8%), sendo que, neste estudo, a cor branca está aumentada e a marrom, diminuída, quando comparada a amostra anterior.

Na comparação entre os grupos extremos do HTP, a dupla das cores vermelha e marrom esteve aumentada no grupo de crianças que apresentam poucos indicadores esperados no HTP. Ao vermelho, atribui-se excitação e impulsividade, que, associadas com a conotação de relacionamentos de caráter mais primitivo do que o associado ao marrom, apresentam um significado negativo de repressão e de descargas abruptas (Villemor- Amaral, 2012). Considerando esse resultado, é possível afirmar que, nesta pesquisa, as crianças com menor habilidade para lidar com as demandas emocionais cotidianas no HTP apresentaram também indícios de atuar com repressão ou com descargas abruptas das emoções pelo TPC.

Na correlação entre os indicadores do TPC com o HTP, observou-se fraca correlação positiva entre a frequência de branco com os desenhos da casa e da árvore no HTP. Este dado evidencia uma tendência das crianças com aumento na frequência de branco a demonstrar maior capacidade para lidar com as demandas cotidianas.

O conjunto dos resultados reforça que cada um dos métodos possui um estímulo específico e que, por isso, o examinando se relacionará de modo particular com cada um deles. No conjunto, os dados sugerem aspectos emocionais que se relacionam entre si. Essa característica não permite considerar os indicadores de modo isolado, mas apenas o conjunto deles. Acredita-se que esses achados reforçam a defesa de Villemor-Amaral e Casado (2006) sobre a importância clínica do uso em conjunto de diferentes métodos de avaliação.

O presente estudo corrobora as evidências de validade do TPC, reforçando a relevância de estudos de avaliação das qualidades psicométricas dos instrumentos, conforme diretrizes para usos dos instrumentos de avaliação psicológica (CFP, 2003). O TPC demonstrou ser interessante para uso com crianças e com pré- -adolescentes, corroborando os estudos mais recentes de Cardoso e Capitão (2007) e Villemor-Amaral et al. (2012) e também o estudo anterior de Villemor Amaral (1978), que, conforme discutido por Hutz (2010) e Pérez-Ramos (2000), trata-se de uma demanda real da psicologia brasileira.

Como conclusão, destaca-se que o alto índice de concordância entre os avaliadores no aspecto formal sugere que os critérios para a classificação deste indciador estão bem definidos. Sendo assim, o instrumento pode ser considerado preciso neste critério.

Conclui-se, então, que o TPC poderá ser útil como ferramenta complementar para avaliação psicológica de crianças de seis a 10 anos, contribuindo para minimizar os problemas decorrentes da falta de instrumentos para avaliação infantil no contexto nacional. Este estudo representa uma contribuição ao conjunto de pesquisas que apresentam dados para a população brasileira infantil.

As contribuições do presente estudo são relevantes para ampliar o número de instrumentos usados com crianças. No entanto, possuem algumas limitações, dentre elas, o fato da amostra contar com um número pequeno de participantes e ficar restrita a um grupo, no caso, os estudantes de escolas públicas da zona sul de São Paulo. É importante enfatizar que, para um instrumento apresentar bons indicadores de evidências de validade, são necessários diversos estudos que possam aferir suas qualidades psicométricas. Sugerese, portanto, que sejam realizados novos estudos com objetivo similar.

 

Referências

Anzieu, D. (1978). Os métodos projetivos. Rio de Janeiro: Campos.         [ Links ]

Buck, J. N.(2003). H-T-P: casa-árvore-pessoa, técnica projetiva de desenho manual e guia de interpretação (1a ed., R. C. Tardivo, trad.). São Paulo: Vetor.         [ Links ]

Cardoso, L. M., & Capitão, C. G. (2007). Avaliação psicológica de crianças surdas pelo Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister. Psico-USF, 12(2), 245-254.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia. (2003). Resolução CFP nº 002/2003. Brasília : DF.         [ Links ]

Fensterseifer, L., & Werlang, B. S. G. (2008). Apontamento sobre o status científico das técnicas projetivas. Em A. E. Villemor-Amaral, & B.S.G. Werlang (Eds.), Atualizações em Métodos Projetivos para Avaliação Psicológica (pp. 15-33). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Hutz, C. S. (Org.) (2010). Avanços em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica de Crianças e Adolescentes. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Marques, M. I. B. (1988). O Teste de Pirâmides Coloridas de Max Pfister. São Paulo: EPU: EDUC.         [ Links ]

Pérez-Ramos, A. L. M. Q. (2000). Avaliação prospectiva: o exame precoce da criança. Em J. A. Cunha, Psicodiagnóstico-V (pp. 151-157). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Ritzler, B. (2006). Aplicações culturais do Rorschach, Teste de Apercepção Temática e Desenhos de Figuras. Em N. A. Silva Neto, & D. M. Amparo, Métodos Projetivos: instrumentos atuais para a investigação psicológica e da cultura – IV Congresso Nacional da ASBRo, Brasília.

Urbina, S. (2007). Fundamentos da Testagem Psicológica. Porto Alegre. Artmed.         [ Links ]

Villemor Amaral, F. (1978). Pirâmides Coloridas de Pfister. 2ª ed. Rio de Janeiro: CEPA.         [ Links ]

Villemor-Amaral, A. E. (2012). As Pirâmides Coloridas de Pfister. São Paulo: Casa do psicólogo.         [ Links ]

Villemor-Amaral, A. E., & Casado, L. P. (2006). A cientificidade das técnicas projetivas em debate. Psico-USF, 11(2), 185-193.         [ Links ]

Villemor-Amaral, A. E., Biasi, F. C, Pavan, P. M. P., Migoranci, P. B., & Tavella, R. R. (2012). Evidências de validade do teste de Pfister para avaliação de crianças. Avaliação Psicológica, 11(3), 423-434.         [ Links ]

 

 

Recebido em junho de 2013
Reformulado em setembro de 2013
2ª reformulação em novembro de 2013
Aprovado em fevereiro de 2014

 

 

Sobre as autoras

Flávia Helena Zanetti Farah: é Doutora em Psicologia pela Universidade São Francisco. Docente no Centro Universitário Adventista de São Paulo.
Lucila Moraes Cardoso: é Doutora em Psicologia pela Universidade São Francisco. Docente do curso de Psicologia na Universidade Estadual do Ceará.
Anna Elisa de Villemor-Amaral: é Doutora em Ciências pela Unifesp/EPM. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.


1Endereço para correspondência: R. Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Centro, 13251-900, Itatiba-SP. Tel. (11) 4538-8040. E-mail: anna.villemor@saofrancisco.edu.br