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Arquivos Brasileiros de Psicologia
On-line version ISSN 1809-5267
Arq. bras. psicol. vol.61 no.3 Rio de Janeiro Dec. 2009
ARTIGO
Sobre a evolução de vínculos conjugais originados na Internet
About the evolution of marital bonds originated on Internet
Carla Pontes DonnamariaI; Antonios TerzisII
IPontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), São Paulo, Brasil
IIPontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), São Paulo, Brasil
RESUMO
O presente trabalho objetiva estudar a evolução do vínculo de casais cujas histórias originaram-se de relacionamentos mediados pela Internet. Ele resulta de uma pesquisa de Mestrado desenvolvida com aplicação do método psicanalítico de investigação, e interpretação de conteúdo referenciado no aporte teórico da grupanálise e da psicanálise das configurações vinculares. Esta pesquisa possibilitou-nos perceber que apesar da possibilidade de conhecer traços da personalidade do outro por meio do relacionamento virtual, o encontro é parte constitutiva do vínculo amoroso. Concluímos que, para a realidade dos vínculos amorosos, a Internet caracteriza-se como uma condição, a partir da qual o vínculo é construído por etapas que passam pela identificação de valores e desejos mútuos, pela confirmação dos dados da realidade, e pela marca que faz o primeiro encontro face a face, em um processo em que o bem ou o mal suceder estão condicionados à maturidade das pessoas envolvidas tanto quanto estão em suas relações presenciais.
Palavras-chave: Psicanálise; Vínculos Conjugais; Internet
ABSTRACT
The present study has as its goal to study couples emotional experiences who have transformed virtual bonds into marital ones. Results by a master's research conducted by the application of investigative psychoanalytical method and content interpreted according to psychoanalysis reference of bonding configurations and group psychoanalysis. The research led us to recognize that, despite the possibility of knowing traces of the other's personality in a virtual bond, the meeting is bond's constitutive part. We conclude that, for the realization of a romantic bond, the Internet is characterized as a condition, from which the bond is constructed by stages like identification of intentions and values, mutual desire, confirmation of data as reality and the establishment of the first face to face encounter, in a process where good or bad results depend mostly of the maturity of the ones involved as well as of its physical presence contact.
Keywords: Psychoanalysis; Couples Bonds; Internet.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem origem em uma dissertação de Mestrado que consistiu em um estudo sobre a evolução de vínculos conjugais originados de relacionamentos mediados pela Internet.
Buscamos descrever as condições da vivência virtual (caracterizada pelo relacionamento à distância, "acorporal") favoráveis para a geração de um vínculo. Analisamos a evolução do mesmo, contemplando os aspectos que se revelaram associados ao desejo e à decisão de transpô-lo do virtual para a convivência face a face, visando também compreender o imaginário gerado no vínculo virtual, bem como os aspectos de convergência e de divergência entre as expectativas e as realizações decorrentes de sua transposição. Para tanto, aplicamos o método psicanalítico na realização de entrevistas de tipo aberta (BLEGER, 1998) a casais heterossexuais, atualmente casados, ou em união permanente, que tiveram a experiência objeto de nosso estudo. Para a análise do material coletado, aplicamos o método proposto por Mathieu (1967) e nos reportamos à teoria psicanalítica dos grupos aplicada aos casais e à psicanálise das configurações vinculares para a interpretação do conteúdo assim destacado. A importância desta pesquisa está na contribuição que traz para o devido discernimento das implicações do uso da Internet, em relação a outros movimentos do mundo contemporâneo, para as vicissitudes de um vínculo amoroso. Conhecer peculiaridades desta realidade servirá ao próprio internauta que tem a Rede como uma oportunidade alternativa para encontrar-se com outras pessoas, aos profissionais que lidam com as questões de transformações da subjetividade, assim como poderá contribuir com outras áreas de conhecimento e pesquisa, uma vez que estamos abordando um fenômeno com repercussões tanto psicológicas e culturais, quanto econômicas e sociais.
Sobre o Conceito de Vínculo
A psicanálise, método que se propõe a estudar e intervir sobre fenômenos da natureza humana, com foco no inconsciente e nas formas de subjetividade que dele se originam, iniciou a compreensão sobre os vínculos a partir da perspectiva intrassubjetiva, por meio da qual o outro e o mundo externo ficam reduzidos a objetos internos, desconhecidos em sua autonomia (KAËS, 1997).
Para a proposta de compreensão e intervenção sobre os fenômenos grupais, percebeu-se a necessidade de investigar as repercussões do "inter" no aqui agora de um grupo. Um estudo da dimensão intersubjetiva abarca os aspectos que dependem da bidirecionalidade sujeito/outros. Esta vertente amplia a metapsicologia e concebe o vínculo como uma das bases para a construção da subjetividade, a qual se dá, simultaneamente, em três espaços psíquicos: no intrassubjetivo, no intersubjetivo e no transubjetivo; este último definindo a relação entre o ego e o macrocontexto social (PUGET; BERENSTEIN, 1993).
Heuristicamente, sob a perspectiva da intersubjetividade, podemos conceber o vínculo como uma configuração em que egos encontram-se ligados pelo que Puget e Berenstein (1993, p. 20) denominaram "conector", o qual diz respeito às representações do macrocontexto social e do complexo de Édipo, vindo a definir o que também denominaram de "espaço vincular", ou o que Spivacow (2005) refere como "campo relacional". Trata-se de uma configuração que implica e supera a mera soma das partes de cada eu, em uma combinação que articula as constelações objetais individuais (VIDAL, 1998).
Dinamicamente, o vínculo é sustentado por uma série de estipulações inconscientes tais como acordos, pactos e regras de qualidade afetiva, de modo que se pode dizer, como pontuam Puget e Berenstein (1993), que há vínculo a partir do momento em que existe uma mútua representação interna, quando a existência de outra determinada pessoa deixou de ser indiferente e passou a ter significado e despertar sentimentos, incluindo o que os mesmos autores denominaram de sentimento de pertinência.
Para Vidal (1998), o acordo inconsciente é um exercício pelo qual se busca unificar harmonicamente diversas resoluções do narcisismo e do complexo de Édipo de cada eu, em uma vivência de encontro que brinde o desejado e ilusório caráter de unidade. A mesma autora também afirma que todo acordo inconsciente comporta uma ilusão de eternidade e o desejo de cada um contar com o outro como um objeto único. Constituir-se-ia de uma apropriação mútua e compartilhada de aspectos da vida mental de cada ego, ocorrendo uma co-identificação com uma base de motivos comuns, o que alude ao conceito de identificação proposto por Freud (1900/1988) ao afirmar que a identificação não corresponde a uma simples imitação, mas ao processo do ego incorporar um traço do outro, que passa a funcionar como próprio, mediante uma transformação.
Para a manutenção do vínculo também se criam pactos que se diferenciam dos acordos por tratar dos conteúdos não compartilhados (PUGET; BERENSTEIN, 1993).
Spivacow (2005) refere que, em um vínculo, o contato com o outro ativa em cada um dos sujeitos alguns funcionamentos e conteúdos conscientes e inconscientes, enquanto outros se desativam. Isso dialoga com o que foi exposto por Pichon-Rivière (1980/2000) que, a partir da concepção da pessoa como uma totalidade integrada por mente, corpo e também pelo mundo exterior, se preocupou com a maneira particular pela qual cada indivíduo se relaciona com outro ou outros, criando estruturas particulares em cada caso e a cada momento, concebendo o vínculo como uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, que engloba tanto o sujeito quanto o objeto.
O Vínculo Conjugal e as Motivações Psíquicas na Escolha do Cônjuge
Para a realidade do vínculo conjugal, Puget e Berenstein (1993) identificaram parâmetros definidores (cotidianidade, projeto vital compartilhado, manutenção de relações sexuais entre si e tendência à monogamia), os quais estão sendo modificados, como sinalizam Escárcega e Estrada (2005), em uma velocidade vertiginosa. Como estes autores, Vaitsman (1994), Giddens (1993) e Rossi (2003) também observaram, no cenário do mundo pós-moderno, uma atenuação das obrigações entre as pessoas que se unem em casal, fácil dissolução de uma união marcada por imediatismo e despreocupação com o futuro, em uma relação em que o bem-estar e o desejo voluntário de estar juntos definem sua sustentação.
A tendência de o cônjuge projetar no parceiro a relação tal como viveram seus próprios pais, ainda bastante marcada pela configuração hierarquizada característica do modelo tradicional de casal do mundo moderno, contrasta com a expectativa do alcance de um ideal de felicidade, imperativo da sociedade contemporânea, resultando daí conflitos capazes de comprometer a sustentação do relacionamento (CHAVES, 2004).
Em sua condição de unidade familiar, o vínculo conjugal reserva as funções de organizador psíquico e social, proposto por Kaës (1997). Pode significar também uma saída para o Édipo, a partir do momento em que o sujeito se vê aceito pelo outro do sexo oposto, aliviando a culpa pelas fantasias incestuosas ou agressivas (LOSSO; DE LOSSO, 1987); embora, em algumas situações, ao invés de saída, contradições na vida conjugal geradoras de sintomas, ambivalências e paradoxos podem levar a uma reentrada No Édipo, no qual buscas e fugas individuais se misturam com prazeres e sofrimentos que um impõe ao outro (ARENSBURG, 1991). Estes aspectos nos levam a pensar que a instabilidade pela qual passam os relacionamentos amorosos do mundo pós-moderno não deve ameaçar o desejo comum de encontrar um parceiro para a realização de um vínculo duradouro. A questão é: quais são os fatores implicados nesta escolha, uma vez que critérios como beleza, inteligência, entre outros da esfera da objetividade, não garantem o desejo de unir-se em matrimônio?
Freud (1914/1996) identificou duas motivações que podem estar na base de um processo de escolha objetal. Quando o investimento libidinal passa pelo conflito edípico na busca de um objeto que ressignifique experiências anteriores de satisfação, ligadas a figuras parentais, busca-se uma relação de objeto denominada por Freud de anaclítica. Quando a busca significa uma procura por si mesmo, ou por aquela pessoa que gostaria de ser, define-se uma escolha de objeto narcísica. Estas motivações, segundo o próprio pai da psicanálise, não esgotam todas as possíveis. Ele simplesmente descreveu aquelas que chegou a identificar.
Segundo Spivacow (2005), para um casal se encaminhar para uma forma de relação institucionalizada, pesa fortemente a contribuição que o outro tem para o equilíbrio pessoal e para a organização defensiva do eu, diferentemente do que ocorre em um relacionamento transitório. O autor afirma que a escolha do(a) parceiro(a) se apoia tanto na atração erótica e sensual pelo outro como na segurança que este proporciona ao eu quanto a não convocar os aspectos da personalidade que a organização defensiva necessitou excluir. Esta explanação sustenta o motivo pelo qual aspectos objetivos, por mais interessantes e atraentes que sejam, não garantem a sustentação de um relacionamento amoroso.
Influências Socioculturais na Escolha do Parceiro
Em concomitância com as motivações psíquicas envolvidas na escolha do cônjuge, as expectativas e iniciativas atualizadas neste processo são também atravessadas por variáveis sociais, culturais e até políticas e econômicas (COSTA, 2000; GIDDENS, 2002; RAMALHO, 2005).
A própria história acerca das escolhas de parceiros começa, paradoxalmente, pela não escolha. Até o século V, tratava-se exclusivamente de um negócio de família, atuado pelos nobres, com finalidade de alianças políticas e acúmulo de riquezas. Com o tempo, sob a influência de outros fatores, o poder de decisão foi sendo transferido para os próprios cônjuges. No entanto, o amor como motivo explícito para a escolha de um parceiro e definição de uma vida conjugal ocorre somente no século XVII quando é referido o "amor romântico", época em que o amor não se torna algo simplesmente possível, mas um fim idealizado (ARAÚJO, 2002).
Giddens (1993, p. 56) observa que é a partir dessa época do "amor romântico" que os parceiros passam a questionar, ao menos com maior frequência, seus próprios sentimentos e a qualidade de seus vínculos, fazendo indagações tais como: "como eu me sinto em relação ao outro? Como o outro se sente a meu respeito? Será que nossos sentimentos são profundos o bastante para suportar um envolvimento prolongado?". Entretanto, o cenário social e cultural da época, reforçado pela forte influência da Igreja na preconização da indissolubilidade do casamento, impedia que tais questionamentos conduzissem a rompimentos.
No século XIX, a Medicina reforça a importância da sexualidade adulta e matrimonial, indicando que a escolha de um único parceiro e a preservação da monogamia deveria ser visto como uma conduta de preservação da saúde.
Depois, com o crescimento da sociedade urbana e consumista, com o surgimento da pílula anticoncepcional, e com a inserção da mulher no mercado de trabalho, eventos do século XX, o casamento tradicional, regido pela dominação masculina, começa a ceder espaço para uma nova forma de relacionamento, na qual o prazer sexual torna-se critério adicional no processo de escolha do parceiro, e segue com reivindicações de igualdade de direitos.
Tentando ainda fugir do modelo tradicional de casamento, cônjuges contemporâneos se entregam aos valores de consumo do momento, e ao imperativo de prazer imediato e constante. Esta subordinação do casamento à satisfação emocional, segundo Vaistman (1994), é a condição geradora da marca de instabilidade do vínculo conjugal que se expressa no final do século XX e vem marcar o início deste, quando, como diz Rossi (2003, p. 91), "a liberdade de expressar a própria subjetividade, de realizar os próprios desejos nas suas mais peculiares manifestações tornou-se um dever a ser cumprido pelos cidadãos".
Enfim, vivemos uma época na qual se revela uma suposta liberdade de escolha atravessada por uma perspectiva social de felicidade individual e imediata (CHAVES, 2004). É neste cenário que surgem os primeiros provedores de acesso à Internet. Ou seja, a função deletar do computador surge em um mundo já marcado por relações mais instáveis.
Sobre o Espaço Virtual e seus Recursos de Interação
A palavra virtual tem sua origem no étimo virtualis, do latim medieval que, por sua vez, é uma deformação da palavra virtus, que significa existir em potência. Lévy (2005), um dos mais conhecidos autores a tratar do tema, a utiliza com este sentido, posicionando o virtual em oposição ao atual e não ao real, como se tornou de uso comum para diferenciar as relações mediadas pela Internet das relações presenciais. Apresenta o exemplo da relação entre a semente e a árvore, cuja germinação atualiza a primeira, portadora de toda informação necessária para esta realização. Afirma que toda entidade capaz de gerar manifestações concretas, sem estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular, confere uma entidade virtual. Com esse sentido, utilizamos o termo em nosso trabalho para falar das relações reais mediadas pelo computador. A realidade, sob esta perspectiva, está na existência de pessoas que, apesar da distância, e ainda que mediadas por um computador, provocam reações umas nas outras.
Turkle (1999) registra que as pessoas com experiência de relacionamento na Internet estariam expressando um desejo de tornar mais permeável as fronteiras do "real" e do "virtual". A separação entre dois mundos, segundo a autora, seria um esforço mais entre especialistas do que entre usuários para situar certos tipos de experiência em uma ou em outra dimensão.
Sobre este mesmo aspecto, Oliveira (2001) observa, no mundo on-line, a atualização de paradigmas e estereótipos originados no mundo off-line. Ou seja, como diz Bettini (2002, p. 164), "a forma de se vincular e de se ter atitudes na Internet pode ser um reflexo de como o homem experimenta seu dia-a-dia".
Até mesmo aquele internauta que se aproveita do anonimato para tentar seduzir usando de manipulações das informações sobre si mesmo expõe aspectos reais de sua personalidade, pois, como afirma Gonçalves (2002), ninguém consegue mentir nos aspectos relacionados à inteligência, ao humor e à visão de mundo.
Sobre o comportamento mentiroso vale registrar, também, que qualquer evidência de sua prática, durante ou após o relacionamento virtual, pode revelar-se fatal para a evolução e sustentação de um vínculo, especialmente para um vínculo amoroso (NASCIMENTO, 2007).
Outros motivos, tal como na vida off-line, também podem provocar o rompimento de um vínculo virtual. Sobre esta experiência, Birman (1997) observa uma tendência de a pessoa sentir-se menos ofendida do que se sentiria em uma relação presencial por ter sido recusada por seu discurso, e não por sua aparência. Não apontaríamos essa condição como uma vantagem dos relacionamentos virtuais sobre os presenciais, pois acreditamos que não deve significar uma opção de vida sob o propósito de deixar de viver as vicissitudes da outra.
Quanto ao amor virtual, são levantadas dúvidas sobre sua veracidade, sendo considerado por alguns autores como apenas uma fantasia. Exemplo de percepção negativa sobre este aspecto encontra-se em Sampaio (2004), jornalista que reuniu, em livro, dois anos de estudos e entrevistas sobre namoros na Internet. A autora identifica como etéreo aquele que está do outro lado da tela, pelo fato de esse alguém poder desaparecer a qualquer momento. Destaca-se a questão: como é possível amar uma pessoa sem poder vê-la, tocá-la, sentir seu cheiro? No entanto, histórias de relacionamentos originados na Internet revelam também experiências positivas, realidade que corrobora a observação de Nicolaci-da-Costa (2006) de que uma forma de pensar e viver diferente daquela a que estamos habituados pode gerar medo e insegurança; ao que Lins (2007, p. 395) acrescenta: "ainda mais no que diz respeito aos relacionamentos amorosos".
Evitando qualquer generalização equivocada, compartilhamos com Prestes (2005) as seguintes questões em torno das chances de sucesso ou de fracasso dos enamoramentos virtuais:
Por que esperamos que um enamoramento on-line tenha 100% de efetividade quando a realidade off-line assinala outra coisa? Ou, acaso todos os enamoramentos da vida real terminam em bodas de prata? A relação matrimônio-divórcio tende a equiparar-se na realidade; então por que aludir o status de efêmero ao referir-se aos enamoramentos on-line? (PRESTES, 2005, p. 3).
E para a compreensão das repercussões do uso da comunicação on-line sobre os relacionamentos é importante também conhecermos as variações relacionadas aos recursos disponíveis. Discorremos sobre os mesmos:
E-mail (Correio Eletrônico): Ferramenta mais conhecida entre os usuários de Internet, implica intercâmbio assíncrono de mensagens escritas e de documentos com opção de anexar imagens, sons e vídeos. O aspecto assíncrono da comunicação permite, tal como permitem as cartas de papel, a redação de textos breves ou longos. A inovação, neste sentido, se dá pelo acréscimo nas velocidades de emissão e recepção das mensagens, favoráveis ao sentimento de pertencimento. Seu fácil arquivamento possibilita a releitura das mensagens, o que, segundo Turkle (1999), pode favorecer a compreensão do quanto uma relação depende do imaginário e perceber a própria contribuição na construção desse imaginário. Schwartz (2007) registra tratar-se da ferramenta atualmente menos utilizada entre os mais jovens, os quais estariam atribuindo seu uso aos mais velhos. Desta forma, a evidência de pesquisas anteriores (LINS, 2007), de que seu uso marcaria uma etapa precedente ao encontro presencial, precisa ser revista. Os costumes, na verdade, vale observar, sempre sofreram transformações concomitantes às dos recursos disponíveis em cada contexto. É a atual velocidade implicada nas transformações que nos dá a impressão de que o mundo e os costumes teriam sido os mesmos até poucas décadas atrás.
Fóruns: Programas de acesso on-line, nos quais é possível redigir mensagens que permanecem acessíveis a outros internautas, para a discussão de um tema para o qual o fórum foi criado. A formação de vínculos pode decorrer de uma identificação mútua por meio da troca de opiniões, ideias, tal como ocorre nos ambientes de discussão presenciais, embora não seja utilizado necessariamente com tal propósito, também da mesma forma como não nos dirigimos para os diversos ambientes de convívio presencial tendo em mente o propósito de encontrar um parceiro.
Chat (Sala de Bate-Papo): Permite diálogo em tempo real entre vários internautas. Para acessar uma sala de bate-papo virtual basta preencher um campo reservado para o apelido (o nickname, como é mais conhecido), o qual pode ser utilizado simplesmente para preservar a verdadeira identidade quanto para registrar a intenção com a qual o internauta ingressa à sala. Protegidos pelo anonimato, os internautas sentem-se mais seguros para revelar segredos, dividir sentimentos, pensamentos e fantasias (BEN-ZE'EV, 2004). Sob a tentativa de compensar a ausência de tons de voz, que indicariam, por exemplo, se um comentário foi afetuoso ou irônico, destaca-se o uso dos emoticons (expressões iconográficas representativas das expressões faciais associadas ao humor), os quais, evidentemente, não preservam seus usuários de qualquer mal-entendido, visto tratar-se de um recurso de característica pré-verbal.
MSN: Assemelha-se ao chat no sentido de permitir comunicação em tempo real e diferencia-se quanto à privacidade. O usuário o acessa por meio de uma conta de e-mail e de uma senha, e interage com outros internautas que tenham sido convidados ou autorizados ao contato. Somente as pessoas autorizadas têm a oportunidade de saber se aquele que o autorizou está, ou não, on-line. Por intermédio dele é possível manter uma foto, ou outra imagem, visível na mesma tela na qual são trocadas as mensagens. Os mesmos recursos iconográficos utilizados nos chats são aplicados também no MSN. Atualmente, também permite comunicações em videoconferência, normalmente reservadas para as relações mais íntimas ou profissionais.
Skype: Bastante similar ao MSN. É muito utilizado para videoconferência.
Sites de Encontros: Alguns sites são propositadamente criados para ajudar a encontrar parceiro. Normalmente são um contrato de serviço pago. Entre os serviços são oferecidas dicas sobre correção e maneiras de escrever ao pretendido. Segundo Ramalho (2005), algumas pessoas se encorajam para a busca de parceiro por este caminho por saber que todos estão ali, uma vez cadastrados, receptivos diante da oportunidade de conhecer alguém.
Orkut: O site de relacionamento atualmente mais usado no país. Neste, cada usuário cadastra-se para gerar uma página própria, na qual expõe, respondendo a um questionário padrão, informações sobre seu perfil, com opção para inclusão de fotos e vídeos. Seus amigos cadastrados também ficam expostos em uma lista, e seus perfis podem ser acessados por um clique pelo próprio dono da página ou por seus visitantes. Por este caminho, forma-se uma extensa rede na qual se realizam reencontros, nascem novas amizades e também novos romances, por meio de mensagens trocadas de forma assíncrona.
Pelo exposto é possível afirmar que nem sempre um relacionamento virtual que culmina em vínculo amoroso origina-se de um plano de encontrar parceiro. Portanto, nem toda vida conjugal originada de um relacionamento virtual remete a uma alternativa contra dificuldades de relacionamentos presenciais ou a uma busca por relações parciais e voláteis, fato que nos trouxe para este tema de estudo.
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Estudar a evolução do vínculo de casais de orientação heterossexual, casados, ou em união estável, originado na Internet.
Objetivos Específicos:
Descrever, por intermédio da experiência dos casais participantes, as condições do ambiente virtual favoráveis à geração de um vínculo.
Analisar a evolução do mesmo, contemplando os aspectos que se revelaram associados ao desejo e à decisão de transpô-lo para a convivência face a face.
Compreender o imaginário gerado na fase virtual do vínculo, bem como os aspectos de convergência e de divergência entre as expectativas e as realizações decorrentes de sua transposição.
MÉTODO
Participantes: Participaram desta pesquisa três casais de orientação heterossexual, casados, com idades entre 20 e 33 anos, todos com formação escolar superior, com variações nas experiências quanto ao programa utilizado na conexão, ao tempo de relacionamento virtual (variando de três meses a cinco anos), ao intervalo de tempo entre o primeiro encontro e o casamento (de seis meses a três anos e meio), e ao tempo em que estão casados (de um ano e meio a quatro anos).
Instrumento: Utilizamos o instrumento que, como diz Bleger (1998), torna possível trazer a vida cotidiana do ser humano para o campo do conhecimento acadêmico: a entrevista. Para a emergência do discurso, apresentamos uma pergunta disparadora, "Que experiências emocionais marcaram a construção do relacionamento de vocês desde o primeiro contato virtual?", a partir da qual a entrevista seguiu de forma aberta para que o campo pudesse ser configurado por variáveis que dependessem dos entrevistados, por suas manifestações verbais e não verbais. Outras perguntas e intervenções surgiram com o restrito propósito de melhor compreensão do material manifesto.
Procedimento: Para contatarmos os casais, realizamos convites na comunidade local, por meio de folders distribuídos em clínicas, em escolas e em alguns outros locais de acesso público, com a colaboração de colegas que realizaram encaminhamento de casais, e na própria Internet, em comunidades virtuais frequentadas por pessoas que declaram ter tido a experiência objeto de nosso estudo. Por dificuldades de aceite na comunidade local (por indisponibilidade do casal, por recusa de um dos parceiros, ou mesmo recusa de ambos, sem apresentação de justificativa), e obtendo o primeiro aceite de um casal de brasileiros residentes no exterior por ocasião da pesquisa, duas das entrevistas foram realizadas por videoconferência. Para as entrevistas virtuais, a formalização do consentimento antecedeu a data da entrevista, para que o casal tivesse tempo suficiente para assinar e retornar o documento à pesquisadora, via e-mail, por arquivo de imagem.
Análise do Material: O material manifesto pelos casais nas entrevistas foi submetido à técnica de "Análise de Conteúdo" proposta por Mathieu (1967), destinada ao estudo de fenômenos psíquicos, não passíveis de mensuração, tais como fantasias, sentimentos e desejos, e que visa, a partir dos conteúdos manifestos, revelados em temas recorrentes, ligados por laços estruturais, desvendar o que haveria na condição latente. O trabalho de interpretação apoiou-se no referencial psicanalítico de grupo e da psicanálise das configurações vinculares.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A começar pela motivação para se buscar um relacionamento virtual, destacamos que nem todos os romances originados da Internet nascem de um plano de encontrar um parceiro. Diferentes motivações para navegar no ciberespaço (como para conhecer melhor um de seus dispositivos de comunicação, como apareceu nesta pesquisa) podem promover encontros virtuais que vêm a transformar-se em vínculos conjugais.
Quando há o objetivo de encontrar um parceiro, também há variações nas motivações para fazê-lo na Rede. Em minutos é possível acessar um dos inúmeros sites que reúnem pessoas com interesses comuns. Estes ambientes tornam-se atraentes para quem parte do desejo de compartilhar uma determinada ideologia.
Foi observada também a opção pela Internet como alternativa para evitar situações de disputa, de possível rivalidade. A ilusão de um relacionamento sem terceiros é propiciada especialmente pelos programas de comunicação virtual assíncrona. Sob este estado de ilusão, uma pessoa cujos conflitos edípicos impedem aproximações nas relações presenciais, pode permitir-se atuar na virtualidade.
Uma vez em conexão, as primeiras experiências de relacionamento on-line revelam aspectos da subjetividade de seus protagonistas. Neste estudo, as três esposas manifestaram o mesmo pensamento de que o homem privilegia os aspectos físicos, a matéria. Os aspectos mais elevados, o plano das ideias, estariam desprestigiados. Evidencia-se, assim, um imaginário relacionado ao gênero. As três mulheres assumem a mesma proposta de evitar ou de romper as relações virtuais nas quais o interesse do homem por conhecer os seus aspectos físicos fosse enunciado logo no primeiro contato. Por estes dados, observamos a Internet com seu significado de um novo ambiente para encontros, reconhecido por seus usuários; oferecendo a oportunidade de um conhecer-se "de dentro para fora", como já observara Spivacow (2007); e também podendo significar uma chance de transformação no imaginário feminino, segundo o qual para o homem os traços físicos teriam privilégio sobre os aspectos psicológicos. A partir destas experiências talvez a autoestima da mulher possa ficar menos condicionada à sua aparência física.
Sentimentos de insegurança marcaram o início dos relacionamentos virtuais. A angústia ante o desconhecido gerou diferentes atuações, nas quais novamente anunciaram-se diferenças relacionadas ao gênero. As mulheres colocaram-se mais cautelosas e pacientes no tempo que se mostrou necessário para a confirmação dos dados da realidade. Ou seja, elas tiveram uma atuação predominantemente embasada no processo secundário. Já entre os homens, as atuações estiveram especialmente embasadas no processo primário, em condutas de hesitação e impulsividade. As hesitações foram reveladas na diluição dos primeiros contatos, quando o homem mantinha conexão simultânea com diferentes mulheres, e nos comportamentos que manifestaram na aproximação da oportunidade do primeiro encontro presencial, hesitações essas que se mostraram superadas diante da confirmação de aceitação por parte das mulheres. A impulsividade ganhou expressão nos momentos em que o homem sentia-se rejeitado e nas repetidas experiências que um deles viveu com mulheres prontamente disponíveis para o sexo. Pensamos que esta diferença entre os gêneros esteja relacionada a variações na força superegóica.
Complementando a observação de Romão-Dias e Nicolaci-da-Costa (2007) de que o anonimato pode favorecer a espontaneidade, verificamos que esta também pode ser propiciada mesmo sob a exposição da identidade, quando há uma distância geográfica que coloca o outro tanto distante de si quanto da própria rede de relações.
Uma das experiências de nossos participantes ilustra o fenômeno da "descartabilidade" que parece preocupar o senso comum no que diz respeito aos relacionamentos virtuais. Partindo da ilusão de que na Internet seria mais facilmente aceito, e depois sofrendo uma série de frustrações, um dos maridos chegou a entrar em um ciclo de escolha e descarte muito expressivo, com uma voracidade insaciável, dissociando-se defensivamente dos afetos. Essa dissociação o fez regredir a níveis mais primários de relação, vivendo um período de relacionamento com objetos parciais. Foi a atuação da esposa, persistente em sua escolha, e paciente para a confirmação da realidade, que pôde romper o ciclo no qual o marido havia entrado.
Para a minimização da angústia ante o desconhecido, valores de família foram destacados. Estes foram interpretados pelas esposas como uma evidência de bom caráter e como um indício de perspectiva de um relacionamento estável.
Os aspectos familiares, ideológicos, contribuíram também para a realização do "momento fantasmático" (KAËS, 1997), primeira etapa de um processo de vinculação, quando grupos internos são externados para destinar a si próprio e ao outro um lugar determinado. Quando não há uma tarefa a cumprir e nem mesmo um tema específico a ser discutido em uma relação virtual, ganha especial evidência aquilo que é escolhido para se dizer. Em uma condição paradoxal, a carência dos aspectos não verbais permite que as impressões a respeito de outra pessoa sejam construídas diretamente a partir dos valores e desejos enunciados por ela, sem os enganos aos quais as impressões visuais por vezes conduzem. Evidentemente que este favorecimento fica condicionado a um valor de verdade na sustentação dos enunciados, sem o qual o relacionamento pode volatilizar-se de forma mais instantânea, em comparação a relações originadas na forma presencial, como vimos acontecer na experiência de um de nossos participantes antes de seu encontro com a esposa.
A condição de poder escolher aquilo que será dado a conhecer também dá a possibilidade de esconder aquilo que é preterido. A descrição de informações em um cadastro de perfil, a escolha do apelido com o qual o internauta participa de uma sala de bate-papo, aspectos sujeitos à seleção da consciência, e recortados de um todo, favorecem projeções, fantasias e ilusões que irão ou rapidamente provocar um desinteresse e rompimento do contato ou incrementar um desejo de aproximação.
Até que os aspectos de verdade ou de mentira possam ser confirmados e complementados com demais dados da realidade, fantasias são fomentadas. Sob o predomínio destas, uma terceira pessoa, conhecida em comum, pode ganhar o valor de um ego auxiliar, sendo-lhe atribuído o papel daquele que autoriza, enquanto o estado de insegurança bloqueia a própria capacidade de escolha.
As horas ininterruptas de conexão, justificadas pelo desejo de suprir a distância física, que não pode ser suprida, conforme os próprios participantes reconheceram, tiveram também a função de aproximação psíquica e foram de grande importância para a elaboração das fantasias.
A distância geográfica, nestas experiências, reservou também o significado de uma distância no tempo. Mesmo nas relações conduzidas por dispositivo de comunicação síncrona, a distância física permitiu o tempo de elaboração das fantasias e do exercício dos primeiros acordos diante das reais diferenças, de forma que desencontros emocionais pudessem ser pouco a pouco superados. Como afirma Terzis et al. (no prelo), a mesma tela que cumpre a função de mediadora pode cumprir a função de protetora, ao evitar o mal-estar que a exposição direta às vezes pode provocar.
Dados de realidade também foram buscados por meio da solicitação de fotos, na confirmação de um sobrenome em lista telefônica, e pelas vozes ao telefone, após os quais os primeiros encontros face a face foram, então, agendados.
O primeiro encontro presencial marca uma decisiva oportunidade de confirmação a respeito dos dados da realidade, além de caracterizar o momento em que o vínculo perde seu caráter de relacionamento virtual. Entram na relação os aspectos não-verbais bem como as vicissitudes do convívio presencial.
A experiência de um reconhecimento nesse momento de encontro, entre pessoas que até então nunca haviam se encontrado presencialmente, confirma o paradoxo observado por Ben-Ze'Ev (2004) de que, em um relacionamento virtual, o outro é um desconhecido, mas não um estranho, em função da aproximação psíquica que esse tipo de relacionamento, tão dependente das verbalizações, propicia. De qualquer forma, é a presença que poderá tirar o sujeito deste paradoxo.
A maturidade para lidar com o conflito instalado entre o desejo e a insegurança, bem como a sintonia nas expectativas e no compartilhamento de projetos, mostraram-se essenciais para o sucesso do desenvolvimento vincular desses casais, marcado pelo exercício e a manutenção do diálogo, o qual, segundo os mesmos, encontra-se preservado na cotidianidade, marcada por novos sonhos e realizações.
CONCLUSÃO
Com referência às condições da vivência virtual favoráveis à geração de um vínculo, destacamos o sentimento de pertencimento e a proximidade psíquica propiciados pela velocidade na emissão e recepção de mensagens, bem como o favorecimento da espontaneidade quando o outro, além de encontrar-se fisicamente distante, também não participa da própria rede de relações.
Nutrindo o desejo de transpor o vínculo do relacionamento virtual para a convivência face a face, esteve a identificação dos valores pessoais e a perspectiva de fortalecimento do vínculo. Sustentando a decisão, destacaram-se os valores de família, especialmente apreciados pelas mulheres, como já dissemos.
Um imaginário que podemos observar ser gerado na experiência virtual ocorreu a partir da vivência prévia de um dos maridos, que chegou a associar, equivocadamente, disponibilidade sexual com desejo de vinculação, bem como a recusa para o sexo em um primeiro encontro como rejeição.
Reconhecemos que as pessoas que constroem um vínculo sob a interface de um computador se veem sob o desafio de suprir a ausência física neste processo, e que, apesar de conseguirem conhecer traços da personalidade do outro, favoráveis ao sentimento de reconhecimento no encontro face a face, é a presença que irá concluir a sua realização. Este momento, portanto, reserva mais do que o significado de poder olhar, ouvir e tocar; é também parte inerente da realização vincular.
Assim, para a realidade dos vínculos amorosos, concluímos que a Internet caracteriza-se como uma condição, como uma realidade em potencial, a partir da qual o vínculo é construído por etapas que passam pela identificação de valores e desejos mútuos, pela confirmação dos dados de realidade, e pela marca que faz o primeiro encontro face a face.
A insegurança que a falta ou a insuficiência de indícios da realidade despertam, pode significar uma defesa saudável quando coloca o sujeito atento às confirmações. Desta forma, estará menos sujeito a confundir fantasia com realidade. A insegurança será notadamente desfavorável caso as fantasias de desconfiança ganhem valor de realidade e, assim, impeçam o sujeito de avançar em um relacionamento. A ausência de insegurança, por outro lado, coloca o sujeito em risco de se entregar a um relacionamento não apenas virtual, mas também fictício.
É desejável maturidade e predominância de atuações embasadas no princípio da realidade. Encontros entre pessoas expressivamente impulsivas ou hesitantes oferecem pouca chance de um desenvolvimento vincular, inclusive na Internet.
A insuficiência de maturidade pode manter a pessoa imersa em um estado de ilusão, e, desta forma, mais sujeita à frustração.
Enfim, a Internet não cria, mas possibilita a reprodução de uma série das vicissitudes possíveis na vida off-line, com alguns processamentos próprios de um relacionamento à distância, o qual demanda tempo de elaboração demarcado por determinadas etapas, em um processo em que o bem ou mal suceder estão condicionados à maturidade das pessoas envolvidas tanto quanto estão em suas relações presenciais.
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Endereço para correspondência
Carla Pontes Donnamaria
E-mail: carlapd@uol.com.br
Antonios Terzis
E-mail: aterzis@uol.com.br
Submetido em: 23/01/2009
Revisto em: 22/10/2009
Aceito em: 23/10/2009