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Arquivos Brasileiros de Psicologia
On-line version ISSN 1809-5267
Arq. bras. psicol. vol.70 no.1 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2018
ARTIGOS
Nicho de desenvolvimento: ambiente, crenças e práticas de cuidadores formais
Developmental niche: environment, beliefs and practices of formal caretakers
Nicho de desarrollo: medio ambiente, creencias y prácticas de cuidadores formales
Jeisiane Lima BritoI; Celina Maria Colino MagalhãesII; Hilma Tereza Tôrres KhouryIII
IDoutoranda. Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém. Estado do Pará. Brasil
IIDocente. Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém. Estado do Pará. Brasil
IIIDocente. Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém. Estado do Pará. Brasil
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi aplicar o conceito de Nicho ao estudo do desenvolvimento na velhice enfocando o cuidado nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Trata-se de pesquisa descritiva realizada em uma ILPI filantrópica, com cinco cuidadoras, por meio de observação das práticas de cuidado, além de questionários e escalas para avaliar o ambiente, crenças e conhecimentos sobre o idoso. Os resultados foram: cuidadoras com idade média de 48,2 anos; baixa escolaridade; práticas de cuidado inadequadas; baixo nível de conhecimento; visão negativa sobre autonomia e independência; ambiente precário, física e socialmente, com pouca interação entre as idosas e o banheiro como o pior avaliado. Os dados demonstram a inter-relação entre os subsistemas e permitem concluir que os subsistemas do conceito de Nicho de Desenvolvimento podem ser utilizados para discutir as possibilidades desenvolvimentais na velhice e em contexto de ILPI. Sugere-se ampliação do estudo.
Palavras-chave: Nicho de desenvolvimento; Idoso; Instituição de longa permanência.
ABSTRACT
The objective of this research was to apply the concept of Niche to the study of development in old age focusing on care in Long Stay Institutions for the Elderly (ILPI). This is a descriptive research carried out in a Philanthropic ILPI, with five caregivers, through observation of care practices, as well as questionnaires and scales to evaluate the environment, beliefs and knowledge about the elderly. Results: caregivers with mean age of 48.2 years; low education level; inadequate care practices; low level of knowledge; negative view on autonomy and independence; precarious environment, physically and socially, with little interaction between the elderly and the bathroom as the worst evaluated. The data demonstrate the interrelationship between the subsystems, allowing to conclude that the subsystems of the concept of Developmental Niche can be used to discuss the developmental possibilities in the old age and in the context of ILPI. An extension of the study is suggested.
Keywords: Niche development; Elderly; Long term care institution.
RESUMEN
El objetivo de esta investigación fue aplicar el concepto de Nicho al estudio del desarrollo en la vejez enfocando el cuidado en las Instituciones de Larga Permanencia para Ancianos (ILPI). Se trata de una investigación descriptiva realizada en una ILPI Filantrópica, con cinco cuidadoras, por medio de observación de las prácticas de cuidado, además de cuestionarios y escalas para evaluar el ambiente, creencias y conocimientos sobre el anciano. Resultados: cuidadoras con edad media de 48,2 años; baja escolaridad; prácticas de cuidado inadecuadas; bajo nivel de conocimiento; visión negativa sobre autonomía e independencia; ambiente precario, físico y socialmente, con poca interacción entre las ancianas y el cuarto de baño como el peor evaluado. Los datos demuestran la interrelación entre los subsistemas, permitiendo concluir que los subsistemas del concepto de Nicho de Desarrollo se pueden utilizar para discutir las posibilidades desarrolladas en la vejez y en contexto de ILPI. Se sugiere una ampliación del estudio.
Palabras clave: Nicho de desarrollo; Anciano; Institución de larga permanencia.
Introdução
O desenvolvimento humano constitui um processo complexo e como tal exige a influência dinâmica de inúmeras variáveis. De acordo com Harkness e Super (1994), a criança tem a família como centro inicial da vida, uma vez que as crenças e práticas desses cuidadores exercem enorme influência sobre o seu desenvolvimento, assim como o ambiente físico e social em que vivem. Levando tais aspectos em consideração, os autores elaboraram o conceito de Nicho de Desenvolvimento (ou Desenvolvimental) que analisa o desenvolvimento da criança como sendo influenciado por três subsistemas: 1- O ambiente físico e social; 2- As crenças dos cuidadores (ethnoteorias parentais ou psicologia dos cuidadores) e 3- As práticas de cuidado culturalmente estabelecidas (Harkness, & Super, 1992; 1994; 1996; 2005). Esses subsistemas agem em constante interação e promovem o crescimento e adaptação da criança à cultura em que vive.
O primeiro componente do sistema envolve as estruturas físicas e sociais da vida do indivíduo, nas quais os objetos e as relações sociais exercem um papel significativo sobre o seu desenvolvimento (Super, & Harkness, 1999). O segundo envolve as crenças dos cuidadores - psicologia dos cuidadores -, fator que possui efeitos diretos sobre o desenvolvimento englobando crenças e valores acerca do ser desenvolvente. É a partir das crenças que o cuidador organiza suas metas em relação ao cuidado que realiza ou irá realizar, entendendo e decidindo o que é mais adequado (Harkness, & Super, 1996). O último componente do conceito envolve as práticas de cuidado dirigidas à pessoa em desenvolvimento. Os comportamentos de cuidado são fortemente influenciados pela comunidade cultural a qual o cuidador pertence, o que faz com que entendam estas práticas como óbvias e sem necessidade de contestação por estarem associadas à vida cotidiana (Super, & Harkness, 1999).
O conceito de Nicho de Desenvolvimento vem sendo amplamente utilizado para a explicação do desenvolvimento da criança. Entretanto, de acordo com perspectiva lifespan (Baltes, 1987; 1997; Baltes, & Baltes, 1990), o desenvolvimento ocorre ao longo de toda a vida. As mudanças que acontecem, sejam em termos de crescimento/ganhos ou degeneração/perdas, ocorrem desde a infância até a velhice com diferentes níveis e intensidades em cada fase do desenvolvimento (Baltes, 1987; 1997; Baltes, & Baltes, 1990). Desta forma, pode-se inferir que os componentes do Nicho de Desenvolvimento sejam adequados para explicar não apenas o desenvolvimento infantil, mas o desenvolvimento humano como um todo. Tal premissa permite a expansão da compreensão do conceito para além da infância, favorecendo a concepção de uma teoria que contribua com a gerontologia a partir de uma visão ecológica do cuidado oferecido aos idosos e do desenvolvimento na velhice. O campo da Gerontologia urge por estudos que ampliem seu referencial teórico, uma vez que o aumento da população longeva e da expectativa de vida coloca novos desafios para a ciência e para as políticas públicas no sentido de atender as demandas deste segmento populacional que são e continuarão crescentes.
Considerando que muitos idosos necessitam de apoio, seja por condição de fragilidade e dependência, seja por ausência ou carência de vínculos familiares, as instituições de abrigamento são a modalidade mais comum de cuidado, depois do contexto familiar. Assim sendo, o foco deste trabalho será as práticas de cuidado e o conhecimento/crenças do cuidador para realizá-las junto ao idoso institucionalizado. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG, 2007) sugeriu a adoção da denominação Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) a fim de designar espaços de abrigamento que visam acolher pessoas com 60 anos ou mais, dependentes ou não, sem condições de permanecer com a família e/ou no seu domicílio, onde o cuidado prestado é integral através das atividades realizadas principalmente por um cuidador (SBGG, 2007).
Com relação ao ambiente das ILPIs, a literatura mostra os efeitos de diferentes estruturas físicas e sociais sobre o comportamento (Bessa, Silva, Borges, Moraes, & Freitas, 2012; Bestetti, & Chiarelli, 2012; Maior, Zurita & Bezerra, 2007). Investigando uma ILPI de João Pessoa (PB), Maior, Zurita, & Bezerra (2007) identificaram que o alojamento era o ambiente mais criticado pelas idosas; 75% delas modificaria este lugar, pois se sentiam sem privacidade. O ambiente é descrito como mal iluminado, sendo que as cores usadas nas paredes e piso também ajudavam a obscurecê-lo. O refeitório foi o ambiente mais alegre, pois as atividades desenvolvidas nele eram prazerosas e recreativas, mostrando-se como um ambiente de integração social.
Bessa et al. (2012) identificaram, através de observações e entrevistas, que a rotina da ILPI era extremamente padronizada, com horários para todas as atividades, os lugares no refeitório eram demarcados, as relações entre as residentes eram muito tênues, superficiais, limitando-se aos cumprimentos formais. A ausência de atividades nas instituições também é destacada por Bestetti e Chiarelli (2012) como facilitadora de um ambiente de pouca interação social.
A figura do cuidador é essencial nesse ambiente institucional. Porém, é necessário que ele tenha conhecimentos específicos para exercer bem a sua função. O cuidador ideal seria aquele com conhecimentos em diversas áreas da saúde compatíveis com a diversidade presente no processo de envelhecimento (Sampaio, Rodrigues, Pereira, Rodrigues, & Dias, 2011). Entretanto, a formação na área de saúde não é suficiente para a prestação de cuidados que valorizem a pessoa idosa como um ser biopsicossocial. A formação do profissional deve investir também na possibilidade de criação de vínculos entre o cuidador e o idoso, os quais estão em constante processo de interação. Para investigar a natureza dessa interação e seus desdobramentos, é imprescindível o conhecimento sobre os protagonistas desta relação. Considerando o campo da ecologia do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1994/1996), que analisa a relação bidirecional entre o homem e os seus sistemas ambientais e refletindo sobre a temática da ecologia envolvida no processo de cuidar, dar-se-á destaque à figura do cuidador.
Estudos que investigaram o perfil do cuidador formal de idosos indicam o predomínio de cuidadores do sexo feminino (Araújo, Lopes, Santos, & Junqueira, 2014; Barbosa, Noronha, Spyrides, & Araújo, 2017; Ribeiro, Ferreira, Ferreira, Magalhães, & Moreira, 2008; Sampaio et al., 2011; Silva, Machado, Ferreira, & Rodrigues, 2015), na faixa etária de 30 a 40 anos (Araújo, Lopes, Santos, & Junqueira, 2014; Barbosa, Noronha, Spyrides, & Araújo, 2017; Sampaio et al., 2011; Silva, Machado, Ferreira & Rodrigues, 2015) e com ensino fundamental incompleto (Ribeiro et al., 2008). Na maioria dos estudos, o cuidador não possui curso específico para cuidar de idosos ou realiza o curso somente após a contratação pela instituição (Araújo, Lopes, Santos & Junqueira, 2014; Ribeiro et al., 2008). Há também aqueles para os quais a realização do curso não foi adequada ou suficiente para o seu aprendizado (Silva et al, 2015).
O conhecimento que o cuidador de idosos possui - formação profissional - e suas crenças podem ser considerados como critérios valiosos para estimar a qualidade do cuidado que será prestado. Ferreira e Ruiz (2012) realizaram um estudo com agentes comunitários de saúde do município de Marília/SP e identificaram que as avaliações mais positivas ocorreram nos aspectos ligados ao relacionamento social dos idosos; a avaliação mais negativa envolveu o domínio relacionado à autonomia e independência. Com relação aos conhecimentos gerontológicos, houve média de acertos de 40% das 25 questões, considerado como um baixo nível de conhecimentos pelos autores. Outro estudo, realizado com cuidadores formais de Governador Valadares/MG (Sampaio et al., 2011), identificou que 53,8% possuem uma visão negativa em relação à maneira de definir o ser idoso e que 80,8% das atividades realizadas pelos cuidadores estão direcionadas às necessidades básicas dos idosos.
Crenças negativas ou positivas podem influenciar o modo de execução dos cuidados prestados. Por exemplo, práticas que estimulam a dependência do idoso podem estar relacionadas a concepções negativas ou crenças errôneas acerca do envelhecimento humano (Sampaio et al., 2011). Assim sendo, ressalta-se a importância de investigar crenças e conhecimentos sobre a velhice e sua relação com as práticas adotadas pelos cuidadores de idosos. Nesse sentido, a literatura nacional sobre o cuidado prestado ao idoso institucionalizado, analisado por meio de observação, ainda é limitada. Foi identificado um estudo da década de 1990 (Pavarini, 1996) que observou a interação entre idoso e funcionário e identificou que a manutenção da dependência foi o padrão mais frequente; os profissionais realizavam as atividades para o idoso, mesmo quando este estava apto a desenvolvê-la, ou seja, quando não tinha dependência total. Segundo a autora, estas práticas estimulam a dependência e prejudicam a manutenção da capacidade funcional. Estudos recentes baseados em autorrelato reafirmam a manutenção da dependência nas práticas de cuidado (Araújo et al., 2014; Silva et al., 2015). Mostram ainda que a maioria das atividades é voltada para cuidados com a higiene pessoal, alimentação e auxílio na locomoção em detrimento do apoio emocional e valorização da interação com outros idosos (Lampert, Scortegagna, & Grzybovski, 2016).
Os aspectos levantados até aqui reforçam o argumento de que os três componentes do nicho de desenvolvimento (ambiente físico e social, crenças dos cuidadores e práticas de cuidado) estão em constante relação e devem ser mais explorados. No atual contexto em que se insere o envelhecimento no Brasil, as ILPIs poderiam se constituir como espaços de moradia com novas possibilidades de interação social e de desenvolvimento. Desse modo, o objetivo desta pesquisa foi aplicar o conceito de Nicho de Desenvolvimento ao estudo do desenvolvimento na velhice, focando o cuidado realizado nas ILPIs, através da investigação do ambiente físico e social, das crenças, conhecimentos e práticas de cuidado de cuidadores formais.
Método
Trata-se de pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa e qualitativa, corte transversal, utilizando-se observação e autorrelato.
Participantes
O estudo foi conduzido com cinco cuidadoras formais de uma ILPI, selecionadas de acordo com os seguintes critérios: ser responsável pelo cuidado regular ao idoso; exercer a função há pelo menos 6 meses, estar vinculada à instituição pesquisada ou ser contratada pela família do idoso e aceitar participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Ambiente
A ILPI encontra-se localizada no município de Belém, no Pará. Fundada em 1938, é uma entidade totalmente filantrópica que sobrevive de taxas pagas pelas idosas e de contribuições da comunidade. A instituição é só para mulheres e tem capacidade para acomodar 38 idosas. O quadro funcional é constituído por uma diretora, uma secretária, uma assistente social, um médico, uma técnica de enfermagem (que atua como cuidadora) e duas cozinheiras. As cuidadoras são todas contratadas pelas famílias das residentes.
Instrumentos e materiais
Os instrumentos utilizados foram:
a) Ficha para caracterização das cuidadoras (Cavalcante, 2008): que incluía informações sobre sexo, idade, escolaridade, formação quanto à área de saúde do idoso;
b) Questionário para avaliação da percepção ambiental, elaborado para esta pesquisa, em que o cuidador avaliava cada espaço da instituição conforme os quesitos cor, iluminação, ventilação, tamanho etc. em uma escala do tipo Likert com cinco pontos (muito satisfeita - muito insatisfeita), além de mencionar os aspectos positivos e negativos de cada espaço (por exemplo: Quais os aspectos positivos e negativos do refeitório?);
c) Escala de Atitudes em Relação à Velhice (Neri, 1991) contendo 30 itens pertencentes a quatro domínios fatoriais (cognição, agência, relacionamento social e persona). Trata-se de uma escala diferencial semântica em que cada item é ancorado por dois adjetivos em oposição, a intensidade das respostas é indicada por um gradiente de cinco pontos e sua direção positiva ou negativa pela posição relativa dos adjetivos positivos ou negativos em cada par;
d) Lista para treino do vocabulário usado na escala de atitudes, elaborada com o objetivo de padronizar e favorecer a compreensão dos itens. As definições dos adjetivos foram retiradas de um dicionário on-line (Priberam Informática, 2014). Antes de cada item da escala de atitudes o participante era esclarecido sobre a definição da palavra (por exemplo: "O idoso é tolo ou sábio? Considerando que tolo é uma pessoa com pouco conhecimento, que age sem juízo, que age sem pensar, e sábio é aquele que sabe muito, que tem conhecimentos profundos");
e) Questionário Palmore-Neri-Cachioni para Avaliação de Conhecimentos Básicos sobre Velhice (Cachioni, 2002) contendo 25 questões de múltipla escolha (domínio físico: O número de acidentes em motoristas com mais de 65 anos, em comparação com os de 30 a 40 anos é […]; cognitivo: Em comparação com os jovens, a capacidade de aprender de pessoas de 60 a 70 anos é […]; psicológico: A flexibilidade para adaptar-se a mudanças entre pessoas de 60 a 70 anos é […]; e social: A proporção de pessoas de 60 a 70 anos que vivem sozinhas é [...]) que abordam conhecimentos gerais sobre o idoso e o processo de envelhecimento;
f) protocolo de observação (Pavarini, 1996), utilizado para o registro cursivo das interações entre o cuidador e o idoso.
Procedimentos
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleo de Medicina Tropical (CEP/NMT) sob Parecer no 811.815, conforme Resolução no 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados só foi iniciada após o parecer favorável deste Comitê e a autorização da instituição participante.
Os objetivos da pesquisa foram explicados através do TCLE e os cuidadores foram abordados individualmente durante o período de trabalho. Parte dos dados foi coletada em entrevistas e a outra parte por observação de comportamento. A ordem de aplicação foi a seguinte: 1) Ficha de caracterização; 2) Protocolo para avaliação da percepção ambiental; 3) Escala de atitudes; 4) Questionário de conhecimentos. A coleta dos dados foi realizada aplicando-se um instrumento por semana, a fim de diminuir o compartilhamento de informações. Para a observação das práticas de cuidado dirigidas às idosas foi utilizada a técnica do sujeito focal (Altmann, 1993). As sessões foram registradas de forma cursiva no protocolo de observação, pois o registro de imagens através de filmadoras foi negado pelas participantes. As cuidadoras foram observadas em um arranjo de janela rotacional, a fim de controlar o efeito de ordem, isto é, a observação se deu em momentos diferentes de sua rotina de modo que foram obtidas as sequências das práticas realizadas em um plantão de 4 horas.
Análise dos dados
Para descrever o perfil dos participantes, suas crenças, conhecimentos e percepções ambientais, realizaram-se estatísticas descritivas, com apresentação dos dados em forma de tabelas de frequência e gráficos.
A descrição das práticas de cuidado de cada cuidadora foi analisada e categorizada separadamente por duas pesquisadoras do estudo (Pq I e Pq II), a fim de se obter uma média da ocorrência dos padrões de cuidado positivos, negativos e neutros e também foram analisadas de acordo com sua funcionalidade.
Resultados
Perfil das cuidadoras
Todos os cuidadores da instituição filantrópica são do sexo feminino, com média de idade de 48,20 (DP = 4,9), com baixa escolaridade (M = 5,6 anos; DP = 4,2) e sem formação específica na área de saúde do idoso. Com relação ao tempo de trabalho, todas estão na instituição há mais de cinco anos (M = 8,2 anos de serviço) e só exercem essa atividade profissional.
Ambiente físico e social da ILPI
Os quesitos de cada ambiente foram organizados em ordem decrescente de satisfação, sendo: sala da direção, pátio central, consultório médico, cozinha, capela, refeitório, dormitório e banheiro. Aspectos relacionados a alguns ambientes merecem ser destacados.
O pátio central foi o segundo ambiente melhor avaliado. Todas as cuidadoras relataram satisfação com cor, iluminação, acústica, ventilação, distribuição dos móveis e conforto. De acordo com as cuidadoras, o pátio central é um ambiente satisfatório por possuir excelente ventilação e por proporcionar trocas sociais, uma vez que as idosas podem conversar entre si ou com as próprias cuidadoras. Outro ponto positivo destacado pela cuidadora C5 foi a instalação de barras de apoio ao redor do jardim, pois isto permite que as idosas sejam colocadas para caminhar no corredor com maior segurança. Entretanto, de acordo com as cuidadoras, nem todas as idosas gostam de sair dos quartos. Dentre aquelas que ficam sentadas nos bancos do corredor há as que não conversam e passam o dia somente esperando a alimentação. Quanto ao refeitório, grande parte das cuidadoras se mostrou satisfeita com iluminação, cor, acústica, ventilação, tamanho e conforto e insatisfeitas com piso e acessibilidade. De acordo com as verbalizações das cuidadoras, é um ambiente satisfatório por ser o local de alimentação e por proporcionar trocas sociais entre as idosas. Todavia uma cuidadora (C3) referiu que por vezes as idosas são tratadas "com ignorância" pela pessoa responsável pela cozinha, a qual insiste para que as residentes terminem logo o alimento para então limpar o espaço; C5 também referiu que para ela não há nada de bom no refeitório.
O dormitório das idosas recebeu avaliações satisfatórias principalmente quanto à acessibilidade, iluminação e acústica. Porém, algumas cuidadoras reclamaram do conforto, piso, ventilação e tamanho do local. Segundo elas os quartos coletivos são pequenos, quentes, desconfortáveis, o piso não é antiderrapante, prejudicando a mobilidade das idosas, e não há banheiro nos quartos, o que dificulta o acesso noturno quando querem utilizar o vaso sanitário.
O banheiro foi o local avaliado como mais insatisfatório pelas cuidadoras, nos quesitos cor, iluminação, ventilação, tamanho, distribuição dos móveis e conforto. Para as cuidadoras, os banheiros são fétidos, não recebem limpeza adequada, o piso é escorregadio e, de acordo com elas, algumas idosas são responsáveis pela destruição de itens do banheiro (por exemplo, pia, torneira). As idosas mais debilitadas (fisicamente ou cognitivamente) são levadas para tomar banho no banheiro sem reforma, pois, de acordo com uma das cuidadoras (C5), caso as idosas façam "bagunça" no banheiro reformado, a responsável pela limpeza (que também é a responsável pela cozinha) reclama.
Aspectos referentes ao ambiente social da instituição envolveram o relacionamento entre as cuidadoras, das cuidadoras com as idosas, as atividades que realizavam juntas, entre outros. As respostas aos quesitos, pontos positivos e negativos do questionário de avaliação da percepção ambiental, também foram consideradas.
De acordo com o relato das cuidadoras, todas apreciavam a prática de cuidar das idosas. C5, especificamente, refere preferência em conversar com determinadas residentes devido às afinidades entre elas, mas todas afirmaram que o relacionamento entre cuidadoras e idosas era benéfico. O relacionamento entre as cuidadoras por outro lado era mais prático, voltado para assuntos do trabalho.
As atividades realizadas entre cuidadoras e idosas restringiam-se às práticas de cuidado básico. Outras intervenções só eram realizadas quando grupos que prestam serviço voluntário ao abrigo solicitavam o auxílio das cuidadoras para acompanharem e estimularem as idosas que recebiam seus cuidados.
Dentre os aspectos que gostariam de mudar, as cuidadoras citaram o ambiente físico (C2 e C3) e o ambiente social (C5) no que diz respeito à realização de atividades que promovessem a interação entre as idosas e a estimulação, uma vez que as residentes ficam ociosas o dia inteiro, somente esperando a alimentação e falando umas sobre as outras, gerando intrigas e dificultando o relacionamento.
Crenças e conhecimentos sobre velhice
As crenças foram analisadas quantitativamente através da Escala de Atitudes em Relação à Velhice, sendo que nesta pesquisa a graduação em cinco pontos da escala foi reduzida a três, juntando-se as alternativas muito satisfeito e satisfeito, assim como muito insatisfeito e insatisfeito. A Tabela 1 demonstra que as cuidadoras apresentaram tendência geral neutra, uma vez que as medianas estiveram entre 1,71 (Relacionamento Social) e 2,20 (Cognição).
Quando os valores das medianas de cada item individual da escala foram analisados, observaram-se dados diferentes (Tabela 2). Há um predomínio de adjetivos negativos principalmente para o domínio agência (deprimido, inativo, dependente e improdutivo) e predomínio de adjetivos positivos para o domínio relacionamento social (construtivo, bem-humorado, cordial, interessado pelas pessoas e generoso).
Com relação aos conhecimentos básicos sobre velhice, a única questão que obteve 100% de acerto foi sobre o domínio físico (Q14). Seis itens do questionário (Q25, 22, 15, 7, 5, 1) foram avaliados de forma incorreta por todos os cuidadores.
A Figura representa a discrepância entre os domínios, evidenciando uma mediana superior para o domínio físico (Md = 4) quando comparado aos domínios cognitivo (Md = 1) e social (Md = 1).
O nível de conhecimentos básicos sobre velhice foi inferior ao encontrado na literatura, não atingindo nem 40% do questionário (C1 = 33,3; C2 = 20%; C3 = 33,3; C4 = 33,3; C5 = 30%).
Práticas de cuidado
Foram consideradas como práticas negativas qualquer ação de violência contra a pessoa idosa (física, psicológica, negligência, abandono) demonstrada em gestos ou palavras. Como práticas positivas, as ações que estimulavam a independência e autonomia (estimular a comer sozinha, perguntar que roupa gostaria de vestir etc.), assim como manifestações de carinho verbal ou não. E as práticas neutras seriam aquelas que não envolviam interação direta ou relacionada com a idosa. A Tabela 3 apresenta o quantitativo destas práticas e as médias obtidas.
Os dados indicam que a média de emissão de práticas negativas (45,5) foi pouca coisa maior que a de emissão de práticas de cuidado positivas (44,5). Ao analisar os valores por cuidadora, nota-se que as cuidadoras C1 e C4 foram as que emitiram mais práticas negativas e as cuidadoras C2, C3 e C5, as que emitiram mais práticas positivas.
As práticas negativas foram ainda divididas nas seguintes categorias: 1) tratamento ríspido e desrespeitoso, presente nos seguintes relatos: "Vira a bunda pra lá, não sabe virar a bunda?" (C1), "Eu vou te matar? Por que eu vou te matar se é daqui que eu pago as minhas dívidas?" (C1); 2) negligência (deixar a idosa sozinha, sem supervisão): "Fica aí, não vai cair pelo amor de Deus, senão vou pra cadeia" (C1), "Fica quietinha aí que eu já volto, vou lavar essa roupa mijada" (C1), "Eu patetando e aqui tem serviço pra fazer" (C2); 3) invalidação de sentimentos: "'Ai, ai, dói' dizia a idosa. 'Não dói nada, não tô sentindo', disse a cuidadora" (C1); 4) ameaça de agressão: "Eu é que vou te dar uma pisa" (C1), "'Dá-me tua benção, dá-me teu amor, dá-me teu prazer', rezava a idosa. 'A senhora não se cansa não? Vou botar um esparadrapo na sua boca é o dia todinho isso!'" (C1); 5) tratamento infantilizado: "Engole filha, engole tá, pode comer, gutgut, isso, assim que eu gosto" (C4); 6) menosprezo da compreensão da idosa: "Não sabe nem que tá viva, né? Que a senhora não sabe nem se tá viva" (C4); 7) comentário constrangedor: "Mas é muito enjoada" (C1).
Dentre as categorias de práticas positivas pode-se citar: 1) interações afetivas, presentes nos seguintes relatos: "Oi, mãe, tudo bem?" disse a cuidadora ao mesmo tempo em que fazia carinho na mão da idosa que estava deitada na cama (C2),"Tá bonita!" diz a cuidadora ao passar perfume em uma idosa, a qual sorri (C5); 2) questionar sobre as vontades da idosa (autonomia): "Quer água? A senhora quer café?" (C3); 3) estímulo à independência: "Vamos sentar, Fulana?" e auxilia a idosa (C5), coloca uma mesa em frente à idosa, dá um pão na mão desta e solicita que coma (C5); 4) estimulação de habilidades sociais: "Quando a fulana reclamar com a senhora, fale as coisas também pra ela, se defenda" (C5). Já as práticas neutras envolviam categorias de comportamento que não se encaixavam nas duas classificações anteriores, como limpeza e arrumação do quarto e transporte da idosa de um ambiente para o outro.
Discussão
O presente estudo objetivou investigar o ambiente físico e social de uma ILPI e as crenças, conhecimentos e práticas de cuidado dos seus cuidadores. As variáveis investigadas foram ponderadas por sua integralidade mediante a análise do conceito de Nicho de Desenvolvimento (Harkness, & Super, 1992; 1994; 1996; 2005).
Os dados obtidos realçam um ambiente físico e social pobre tanto em termos de estrutura física quanto em termos de interação social. Com relação às crenças dos cuidadores sobre velhice, houve predomínio de adjetivos negativos principalmente para o domínio agência, o qual refere-se à capacidade de autonomia e independência dos idosos para a realização das atividades diárias. Os dados referentes aos conhecimentos básicos sobre velhice também foram adversos, sendo inferiores aos encontrados na literatura. A maioria das práticas de cuidado observadas indicam tratamentos que desconsideram a capacidade das idosas de raciocinar, de ter um entendimento sobre si mesmo, infantilizando-as, ou até mesmo, privando-as da estimulação necessária para uma melhor qualidade de vida.
Perfil das cuidadoras
O perfil encontrado na instituição filantrópica é semelhante ao encontrado na literatura: cuidadores do sexo feminino (Araújo et al., 2014; Barbosa et al., 2017; Ribeiro et al., 2008; Sampaio et al., 2011; Silva et al., 2015), mais velhas (Araújo et al., 2014; Barbosa et al., 2017; Sampaio et al., 2011; Silva et al., 2015) e com pouco conhecimento específico confirmando que a mulher ainda é considerada a tradicional provedora de cuidados; que os critérios de seleção das instituições filantrópicas diferem das particulares, as quais selecionam de acordo com a lógica de mercado (pessoas mais jovens e mais esclarecidas) e que os cuidadores contratados não apresentam formação específica ou só recebem o treinamento após a contratação (Araújo et al., 2014; Ribeiro et al., 2008; Silva et al., 2015).
Ambiente físico e social da ILPI
Os dados sobre a satisfação com o ambiente físico concordam em parte com a literatura, pois, apesar de o refeitório ser um dos ambientes mais alegres e estimulador de interações sociais (Maior et al., 2007), na instituição pesquisada, ele também funciona como um ambiente aversivo quando se trata das relações sociais existentes no local. A configuração do espaço físico está em desacordo com a literatura para Funcionamento das ILPIs (Brasil, 2005) que afirma que os dormitórios devem ser dotados de banheiro e os pisos externos e internos devem apresentar mecanismos antiderrapantes. Os dados sobre o ambiente social, por outro lado, concordam com os autores que afirmam que a ausência de atividades favorece um ambiente de pouca interação e de intrigas entre os idosos (Bestetti, & Chiarelli, 2012) e que rotinas excessivamente padronizadas também seriam responsáveis pelos conflitos e relações superficiais (Bessa et al., 2012). Como foi observado na instituição filantrópica, as idosas ficam ociosas a maior parte do tempo e falta iniciativa por parte das cuidadoras - e das próprias residentes - em modificar este cenário o que pode trazer prejuízo para o desenvolvimento de ambas.
Crenças e conhecimentos sobre velhice
A presença de crenças neutras contraria a literatura (Ferreira & Ruiz, 2012) que encontrou média moderadamente positiva. Infere-se que a expectativa dos participantes quanto às respostas mais adequadas aos itens possa ter influenciado respostas no centro da escala (neutras), demonstrando que os cuidadores talvez não quisessem se comprometer ao escolher os extremos. Outro fator provavelmente interveniente é a experiência que as participantes do estudo apresentam no cuidado com o idoso. Talvez a experiência com diferentes idosos possa ter influenciado uma visão de heterogeneidade. Entretanto, vale destacar que, devido ao número reduzido de participantes e à limitação quanto à generalização, a análise individualizada pode ser mais adequada e nesta verificou-se predomínio de crenças negativas.
Crenças positivas sobre o domínio relacionamento social e negativas sobre o domínio agência, assim como o baixo nível de conhecimento sobre velhice, concordam com dados da literatura (Ferreira, & Ruiz, 2012). No que tange ao domínio agência, os resultados são preocupantes, pois se referem a uma visão negativa sobre a autonomia do idoso, isto é, sua capacidade de decisão, de livre escolha e sobre a sua independência para realizar as atividades do cotidiano. Tal visão permite o questionamento sobre o cuidado e sobre a estimulação destinada aos idosos residentes na instituição, uma vez que, encontram-se despreparados no que tange ao conhecimento específico de sua área de atuação. Considerando a literatura apresentada (Araújo et al., 2014; Ferreira, & Ruiz, 2012; Ribeiro et al., 2008; Silva et al., 2015), é possível afirmar que o escasso conhecimento sobre a área pode influenciar o modo como o profissional desempenha suas atividades, como cuida e como trata o idoso enquanto ser humano.
Práticas de cuidado
Houve predomínio de atividades voltadas às necessidades básicas das idosas, o que está de acordo com os dados encontrados por outros autores (Lampert et al., 2016; Sampaio et al., 2011). No que se refere ao modo como estas práticas são realizadas, há variações por cuidadora. Foram encontradas desde práticas ríspidas e agressivas até práticas que estimulam a independência e o envolvimento afetivo. Entretanto, em sua maioria, as práticas de cuidado encontradas abrangem a ausência de estimulação (ou manutenção da dependência), invalidação de sentimentos, infantilização e menosprezo pela compreensão das idosas. A prática denominada como manutenção de dependência também foi observada na literatura (Pavarini, 1996) que destaca esse padrão como impeditivo para a estimulação da capacidade funcional do idoso. Vale destacar também que as práticas mais positivas foram observadas nas interações da cuidadora C5, a qual já havia recebido informações sobre o cuidado com o idoso durante o curso técnico em enfermagem.
Pode-se dizer que as variáveis discutidas englobam os três subsistemas do Nicho de Desenvolvimento do Idoso, pois investigam e analisam o ambiente físico e social de uma ILPI, as crenças e conhecimentos sobre velhice dos responsáveis pelo cuidado e os comportamentos voltados para esta prática. A análise inter-relacionada evidencia que, nesta instituição, o ambiente físico e social deficitário, as crenças negativas sobre a autonomia e independência do idoso e as práticas contraproducentes constituem um nicho que desfavorece o pleno desenvolvimento do idoso residente em ILPI.
Os resultados evidenciam a interconexão entre ambiente físico e social, crenças dos cuidadores e práticas de cuidado, permitindo concluir que os subsistemas do Nicho de Desenvolvimento podem ser utilizados para discutir as possibilidades desenvolvimentais na velhice e em contexto de ILPI. A presença de um ambiente pobre em estimulação, com cuidadores que apresentam crenças negativas sobre a autonomia do idoso e com poucos conhecimentos em gerontologia podem favorecer o surgimento de práticas de cuidado inadequadas, dificultando a manutenção da capacidade funcional do idoso.
Estes achados contribuem para a elaboração de políticas públicas que visem a capacitação dos cuidadores de idosos com foco múltiplo, isto é, sem focar somente nos aspectos biológicos relacionados aos cuidados com a saúde, mas também nos aspectos relacionais, dando ênfase às interações sociais afetivas que favoreçam o reconhecimento do idoso enquanto ser humano biopsicossocial. O presente estudo também contribui para estimular a aceleração do processo de regulamentação da profissão de cuidador de idoso, por enfatizar o quanto o despreparo destes profissionais pode gerar efeitos sobre as práticas de cuidado para com os idosos, podendo prejudicar a qualidade de vida destes.
Algumas das limitações encontradas neste trabalho incluem o tempo disponível para a coleta dos dados, pois a ILPI filantrópica estabelece um período restrito para visitas e realização de pesquisas sendo que muitas práticas de cuidado não puderam ser observadas por ocorrerem fora deste intervalo. A forma de registro também sofreu limitações, pois nenhuma das cuidadoras aceitou ter sua rotina filmada. Além disso, o fato de a análise se basear em apenas cinco cuidadoras constitui uma limitação. Assim, sugere-se a ampliação do estudo de forma a fortalecer as conclusões.
Para futuros estudos, sugere-se a ampliação do tempo de observação das práticas de cuidado para 12 horas de registro para cada cuidador, a fim de obter uma amplitude dos cuidados realizados para com o idoso, sendo que as filmagens seriam a melhor forma de registro por permitirem a contagem dos períodos de tempo destinados a cada atividade e maiores detalhes sobre os padrões de comportamento das cuidadoras frente ao idoso.
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Endereço para correspondência:
Jeisiane Lima Brito
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Hilma Tereza Tôrres Khoury
hilmatk@yahoo.com.br
Submetido em: 10/08/2015
Revisto em: 15/11/2017
Aceito em: 27/11/2017