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Cógito

Print version ISSN 1519-9479

Cogito vol.10  Salvador Oct. 2009

 

EDITORIAL

 

Humor e Psicanálise

 

Carlos Pinto Corrêa

Comissão Editorial

 

 

Este número da Cógito será dedicado a alguns dos trabalhos apresentados na Jornada realizada em 14 e 15 de novembro de 2008. Tomamos neste editorial o texto de introdução ao tema apresentado por Carlos Pinto Corrêa na abertura da jornada, já que ele norteia seus objetivos e os artigos aqui apresentados.

"Para nossa XX Jornada do Círculo Psicanalítico da Bahia, pensamos em sair do elenco de temas quase constantes que vêm se repetindo em variações das mais bem intencionadas. Depois da Arte, no ano passado, podemos ser ainda mais criativos, abordando uma questão íntima, tão perto de nós que escapa, muitas vezes, de ser um tema psicanalítico. Se esta é uma proposta que parece inicialmente risível, podemos lembrar que o riso se impõe como uma maneira violenta de romper o silêncio, ou substituir a fala por outra que, por nada dizer, fala muito. Nada mais psicanalítico do que o incompreensível do riso ou da quebra entre a dinâmica e o estático nos textos de humor.

HUMOR é somente uma disposição de ânimo? Um estado emotivo que não tem objeto ou cujo objeto é indeterminável, distinguindo-se da emoção propriamente dita? Teria razão Heidegger, em dizer que o humor fundamental é o tédio que expressa o "peso de ser", ou os gregos, ao imaginar que a comédia seria a tragédia que não acontece?

Na carta 67 a Fliess, Freud mostra-se tributário do próprio mau humor, quando enfrenta dificuldades com seus pacientes, ou no avançar de sua compreensão sobre a análise. Teoricamente, Freud esteve preso à questão do Chiste e sua Relação com o Inconsciente, em 1905. Em 1927, ele diz que havia feito uma abordagem do humor apenas do ponto de vista econômico e, então, retoma o tema em seu texto O humor.

Sempre presente em nosso trabalho e em todas as relações estabelecidas, o humor é um desafio para o pensar psicanalítico. Historicamente, está vinculado à tragédia, nas aproximações feitas por Freud, nas metáforas da literatura, ou mesmo no sofrimento imposto pela problemática mental. A dor se encontra no aparecimento do sintoma ou da demanda, no caminho analítico percorrido pelo cliente na busca do saber de si. Afinal, O Banquete de Platão nos ensina que, de um mesmo saber, pode-se fazer uma comédia ou uma tragédia.

Além da reflexão teórica, a psicanálise pode avançar em questões do humor na clínica — na transferência, no humor do analista e do cliente e, nos sonhos —, na direção da cura e no modo de se colocar frente às questões importantes da vida. Lacan disse que a análise termina com um chiste.

Pode-se ainda dizer da existência ou da falta de humor na instituição e das vinculações com conceitos filosóficos, sua expressão nas artes, na literatura e nas representações figurativas espontâneas. Um rol imperdível de temas a serem tratados em nossa jornada."

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