EDITORIAL

A revista Estudos de Psicanálise apresenta Iberê Camargo, artista plástico, nascido no Rio Grande do Sul, que fez da arte uma forma de falar do sofrimento psíquico, do olhar sobre a natureza, das cores e de suas variações diante do tempo e do espaço entre os humanos.

Como falou Freud no seu texto Escritores criativos e seus devaneios (1907), o artista encontra uma forma de dizer e revelar o que pulsa dentro dele representando no discurso falado, escrito, desenhado, como fazem as crianças, a expressão do que lhe faz sentido. A psicanálise nos salva de ficar aprisionados no campo restrito da desfiguração ou do caos inominável. Freud, a partir da própria experiência, apontou que a escuta do inconsciente pode ser uma forma de compreender as restrições do pensamento e das emoções. O tema rico e abrangente apresentado neste número é representativo do trabalho investigativo, criativo e persistente de profissionais dedicados ao entendimento da condição humana. Esta publicação abre mais caminhos à continuidade da discussão acerca das reflexões teóricas e empíricas aqui tratadas com muita propriedade por seus autores.

O lançamento da Estudos de Psicanálise na sua edição 2014/2 registra o conjunto de textos escritos por psicólogos, psicanalistas e pesquisadores investidos do propósito de estudar temas relacionados com a vida psíquica, os dinamismos do inconsciente dominado pelo amor e pelo ódio, pela vida e pela morte, pelo prazer e pelo desprazer. A experiência do trabalho terapêutico e clínico, experimentado por profissionais que estão em contato permanente com as vicissitudes do psiquismo humano registra suas experiências, suas inquietações e abastece os leitores com suas ideias e princípios que fundamentam a sua prática e o seu fazer cotidiano.

A revista continua com o compromisso de estender o conhecimento junto aos escritores e leitores, reanimando o debate e a crítica entre os que fazem da psicanálise o seu oficio cotidiano. São estudos representados por artigos, ensaios, resenhas, relatos de atividades desenvolvidas em consultórios, em seminários de formação, em estudos desenvolvidos em jornadas científicas, que figuram nas páginas deste periódico, com a intenção de socializar a elaboração de concepções teóricas e empíricas sobre assuntos relacionados à psicanálise.

A linguagem verbal e escrita, como princípio que sustenta esse estudo, transversaliza todo o texto com diversas formas de apresentação dos escritos. A narrativa da experiência, a contextualização de princípios teóricos, a problematização da prática clínica realizada por estudiosos do assunto constituem o eixo articulador deste periódico. O tema que introduz este número é a proposta de reflexão sobre as concepções teóricas e práticas na área psicanalítica.

Por acreditar na necessidade de uma formação permanente e dedicados ao estudo da psicanálise como princípio norteador do oficio em diversos espaços de trabalho, os autores de artigos, ensaios e resenhas contribuem com o presente número com suas experiências e suas inquietações tanto teóricas quanto clínicas. A inquietude humana, a pulsão que vibra dentro de cada um produz o que é inventado, recriando o sentido da vida como fez o artista que protagoniza a capa desta revista. A psicanálise tem como objeto de trabalho o inconsciente, instância que vai sendo anunciada na linguagem dos sonhos, do corpo e da palavra.

Essa linguagem, que na instância do texto se apresenta na escrita, é partilhada por muitos leitores que recriam, a partir de suas representações, seus personagens e seus dizeres. Assim, vai se constituindo com o texto que, originalmente escrito por Freud, vai se recriando, embora sempre retornando ao autor original. Assim, fazemos a incursão em cada leitura e em nossos encontros de estudos.

E para dar continuidade ao trabalho, convidamos os profissionais relacionados com as áreas humanas da saúde e estudantes para participar do XXI Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise e do I Congresso Internacional do Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul, nos dias 23, 24 e 25 de julho de 2015. Esse evento, que traz como tema central a comunicação virtual, pretende agregar no seu desenvolvimento a comunicação de trabalhos em mesas-redondas, painéis e conferências.

O tema da capa – Os carretéis – sugere um desdobramento de linhas, figuras, onde os limites dessa configuração são a angústia, as formas de vínculo, as correntes da vida. O nosso limite para esse Congresso é a possibilidade de deslocar o olhar para os diversos vértices e ângulos sobre o tema das conexões virtuais. Na cidade de Porto Alegre e com o caloroso acolhimento no inverno do Rio Grande do Sul, esperamos por todos vocês.

Noeli Reck Maggi
Membro do Conselho Editorial