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Print version ISSN 0101-3106
Ide (São Paulo) vol.30 no.45 São Paulo Dec. 2007
EM PAUTA - LINGUAGEM II
Ironia(s) em Freud: da escrita à ética
Irony/ironies in Freud: from writing to ethics
Ines Loureiro*
PUC-SP. Cogeae
RESUMO
O artigo apresenta e discute a noção de ironia em várias de suas dimensões: senso comum, ironia literária, ironia como consciência dos limites da linguagem, ironia como atitude ante a existência. Nesta última vertente, situa sumariamente a noção de ironia romântica e a concepção de ironia de Richard Rorty. Em todas as dimensões, aponta possíveis relações com a psicanálise freudiana.
Palavras-chave: Ironia, Psicanálise e filosofia, Psicanálise e linguagem, S. Freud.
ABSTRACT
This paper presents and discusses the concept of irony in several of its dimensions: its popular use, literary irony, irony as awareness of the limits of language, and irony as an attitude in face of existence. The latter addresses the notion of romantic irony and the concept of irony in Richard Rorty. This paper points to possible connections between irony, in all these dimensions, and Freudian psychoanalysis.
Keywords: Language, Mourning, Remembrance, Repetition.
O objetivo deste trabalho é traçar alguns eixos que possibilitem articular a noção de ironia com a psicanálise freudiana. Em um dossiê dedicado à questão da linguagem, decerto a ironia faz jus a um lugar central, já que diz respeito, exatamente, a um certo modo de relação com a linguagem (e, portanto, com o outro e com o mundo). Como veremos a seguir, a ironia comporta uma dimensão mais imediata, que se dá a ver no estilo freudiano de escrita e de pensamento, por exemplo, mas também outras dimensões menos óbvias, que dizem respeito a certos tipos de atitude ou de disposição frente a problemas de natureza ontológica, epistemológica e, sobretudo, ética. Também se pode divisar uma dimensão irônica na clínica; talvez fosse melhor dizer “dimensões irônicas”, pois até mesmo no âmbito do tratamento analítico encontra-se mais de uma maneira de se referir a tal dimensão.
A possibilidade de pensar essas várias dimensões depende, evidentemente, da concepção de ironia que se toma como referência. E aqui, ressaltemos desde já, o terreno é mais do que pantanoso.Vale relatar uma experiência irônica. Ante a necessidade de retomar a noção de ironia para este trabalho, voltei a consultar o já clássico Ironia e irônico, de D.Muecke (1970/1995) que poderia ser bastante adequado à ocasião já que tenta percorrer o campo da ironia “ repleto de dúvidas, polêmicas, obscuridades, usos confusos e contraditórios “de modo” exaustivo e sistemático”, no dizer promissor da contracapa.De fato,Muecke detecta e mapeia o “ crescimento quase canceroso da noção de ironia a partir dos anos 1790” (p. 51). Ocorre que, ao longo da obra, vê-se uma proliferação também “quase cancerosa” de exemplos, tipos, subtipos e grades que se sobrepõem ou se contradizem, que se bifurcam sem cessar. Observa-se, assim, um curioso paradoxo: a ambição sistemática e exaustiva redunda na disseminação ilimitada do conceito. Pura ironia, em uma das acepções correntes no senso comum: aquilo que se dá de maneira inversa à pretendida.
Em trabalho anterior (Loureiro, 2002a) examinei o estatuto da ironia romântica na escrita de Freud. Dado que lá, como aqui, tratava-se de relacionar ironia/psicanálise e que foi necessário contextualizar minimamente o problema da ironia, é inevitável retomá-lo em algumas de suas grandes linhas. Porém, o intuito agora é diferente: ampliar a discussão para além da dimensão estilística, inclusive por meio de recurso a alguns autores ausentes naquela ocasião, como Richard Rorty.
Pretendo dispor a noção de ironia em diferentes extratos ou patamares, em movimento de ampliações sucessivas: apontamentos gerais em torno da noção de ironia no senso comum, ironia literária, ironia como consciência e tematização dos limites da linguagem, ironia como atitude mais ampla“ ontológica, epistemológica e ética ” diante do mundo.
Observações gerais sobre a noção de ironia
Comecemos com algumas observações de ordem mais geral sobre a noção de ironia. Como se sabe, a noção de ironia encontra-se firmemente enraizada no senso comum. Seu sentido mais difundido é claramente derivado do uso retórico: desde a retórica clássica até a Enciclopédia, a ironia é uma figura de linguagem que remete ao “dizer o contrário do que se pensa”, ligada ao propósito de dissimulação (etimologicamente, o termo provém do grego eironeia, que significa, precisamente, “dissimulação’) Note-se que a idéia da representação pelo contrário expande-se para além do verbal: é irônico tudo aquilo que se encaminha em direção oposta à pretendida (como no exemplo acima, quanto maior o esforço para delimitar o sentido de “ironia”, mais as definições proliferam).
Ainda no senso comum, mas não apenas nesse âmbito, a ironia comumente aparece associada ao humor e/ou às diversas figuras do cômico. Ao longo da história da filosofia, diversas acepções de ironia foram sendo postuladas tendo como parâmetro o riso que provoca.1 Ora mais agressivo, ora mais benevolente, a hilaridade decorrente do emprego da ironia sempre implica um certo tipo de relação com o outro (rir do outro, opressão; rir com o outro, compartilhamento) e com o mundo (em geral, a possibilidade de uma leitura irônica da realidade, das instituições e/ou das figuras que as representam vem associada à atribuição de um potencial crítico à ironia). Isto é, nem é preciso ultrapassar o nível do senso comum para perceber que a discussão sobre a ironia se coloca claramente no terreno do laço social.
O problema da distinção entre ironia e humor (ou com as diversas outras figuras do cômico, como a zombaria, o escárnio, o chiste etc.) é um dos que mais contribui para a complexidade da abordagem da ironia. Como atestam obras como as de Muecke e outros autores (Brait, 1996; Behler, 1997), invariavelmente os esforços definicionais esbarram na infinidade de acepções que o termo adquire na pena de cada autor, com a dificuldade adicional de estarmos às voltas com teóricos oriundos de campos diferentes (como filosofia, lingüística, análise do discurso, literatura, teoria literária, estudos culturais e psicanálise, por exemplo). De modo que, mais ou menos explicitamente, o que acaba ocorrendo é um uso idiossincrático da noção, baseado no repertório e propósito crítico de cada autor. Em suma, talvez a única maneira de circular nesse campo nocional seja a de se convencionar, a cada vez, o sentido que se está atribuindo ao termo – seu escopo, suas dimensões, os contrastes com noções fronteiriças, e assim por diante.
Um bom exemplo de tal procedimento “por convenção” – exemplo tanto melhor porque situado no âmbito da Psicanálise – pode ser encontrado em Souza (2007). Partindo de uma breve indicação feita por Freud de que o homem dos ratos poderia lançar mão de uma observação irônica ao invés de uma zombaria (já que a primeira seria uma alternativa às forças compulsivas), Souza se pergunta pelo estatuto da ironia no funcionamento psíquico do neurótico obsessivo (particularmente em “O homem dos ratos”). A sugestão freudiana leva o autor a conceber a ironia na esteira da ironia romântica (o que implica acentuar traços como a auto-reflexividade) e a localizá-la como uma estrutura intermediária em um continuum que iria da zombaria/escárnio (no extremo que se caracteriza pela agressão e reificação do outro) ao uso do humor propriamente dito (no extremo oposto, do riso compartilhado, lúdico e crítico, associado à possibilidade de rir de si mesmo). Nessa acepção, a ironia poderia ser considerada como uma espécie de indicador clínico em um processo de “humorização” progressiva do obsessivo.
Esta é apenas uma das maneiras de articular ironia e clínica; veremos adiante que Rorty também se refere a uma dimensão irônica da clínica independentemente do uso do humor. Aliás, e esse é um ponto crucial, o humor não é uma referência necessária para pensar a ironia. A própria abordagem da ironia exposta neste artigo, em grande parte tributária da noção de ironia romântica (por sua vez bastante desenvolvida pela teoria literária) a concebe autonomamente em relação à esfera do humor.
Ainda uma observação de caráter geral: tanto no senso comum como também em algumas vertentes sociológico-filosóficas, costuma-se considerar a ironia como um poderoso instrumento crítico. Associado ou não ao humor (rir do outro, rir-se da autoridade etc.), a ironia freqüentemente exibe uma faceta crítica. Vejamos, por exemplo, o parágrafo de abertura de um artigo significativamente intitulado “A ironia como ato de desvelamento” (Ramos-de-Oliveira, 2004):
Este estudo pretende investigar até que ponto a ironia é recurso fundamental da teoria crítica, do pensamento negativo e uma das características mais fortes da literalidade, a qual além de tudo ou justamente por isso, é um instrumento valioso para desvelar uma sociedade que se caracteriza por artifícios de ‘seriedade’, hipostasia e ocultamento desenvolvidos nos contornos da teoria tradicional (p. 75).
No entanto, como prova contundente de que em torno da ironia inexiste consenso, encontramos, no seio da própria teoria crítica, a possibilidade de alinhar a ironia com o poder; Safatle (2004) julga possível divisar nos escritos de Adorno a sugestão de que “a crítica que se serve da ironia seria vinculada à lógica da conservação...” (p. 134) e que “... continua havendo uma ironia funcionando no cerne do poder...” (p. 135).
Cabe, por fim, uma palavra sobre a noção de ironia tal como comparece explicitamente no texto de Freud. Em O chiste e suas relações com o inconsciente (1905/1977), a ironia resume-se à representação pelo contrário; é considerada próxima ao chiste e um subtipo do cômico. Conforme assinala Brait (1996), “Freud leva em conta não só o locutor e o processo instaurador da ironia, mas também o ouvinte, visualizando o conjunto a partir de uma perspectiva que envolve principalmente, mas não exclusivamente, aspectos produzidos pelo inconsciente” (p. 44).
O prazer do ouvinte seria derivado da economia de esforço psíquico em contradizer a ironia, pois, de alguma maneira, teria captado a intenção subjacente à formulação irônica. Eu/outro, consciente/inconsciente, uma idéia e seu oposto: Brait comenta um ensaio de Paul-Laurent Assoun no qual ele aponta esse jogo de alusões e ressalta “... que ‘o percurso em direção à verdade’ é feito pela contramão, mas que o locutor conta com a sintonia do seu interlocutor” (Brait, 1996, p. 46; entre aspas simples, expressão de Assoun).
Ironia literária
A teorização sobre a ironia teve início com os primeiros românticos – mais especificamente, com o chamado grupo de Iena (composto pelos irmãos Schlegel e Novalis, entre outros) cujo ápice produtivo se deu entre 1797 e 1801. A partir da leitura de Shakespeare e Cervantes, passaram a denominar “irônicos” certos procedimentos auto-reflexivos mobilizados por esses autores. Grosso modo, a ironia literária refere-se à irrupção do autor na trama do texto; daí o caráter auto-reflexivo, que denuncia a escrita como artifício e mostra, no dizer de Behler, a consciência do jogo na obra e sobre a obra (1997, p. 61). Tal ironia não se restringe a um único gênero literário, nem se limita a épocas determinadas, constituindo-se, antes, como uma das principais características da literatura moderna (Behler, 1997, p. XI).
Alguns autores importantes (como o próprio Behler) tratam ironia literária e ironia romântica como sinônimas. Claro que há inúmeros exemplos de ironia literária no Romantismo, mas prefiro reservar o termo “ironia romântica” para designar a oscilação entre uma aguda consciência dos limites da linguagem e a crença/anseio de superá-los, chegando a colmatar a distância entre linguagem e mundo. Assim, entendo que a ironia romântica ultrapassa em muito a especificamente literária, seja por se manifestar em diversos outros terrenos que não a literatura, seja por implicar posições mais amplas sobre o ser e a linguagem – posições no mais das vezes inconciliáveis, de onde seu caráter eminentemente trágico. Creio que no máximo se poderia aludir à ironia literária como sendo uma ironia romântica lato sensu, uma vez que suas formulações seminais provêm do primeiro romantismo alemão.
Uma dos principais aspectos da ironia literária é a possibilidade de acionar um novo tipo de relação entre o autor e seu público. Segundo Karin Volobuef,
A ironia romântica (...) não se esgota na mera interrupção do fluxo narrativo com o narrador dirigindo-se ao leitor. É, muito além disso, um recurso que se destina a fomentar uma constante discussão e reflexão sobre literatura – um processo do qual o leitor forçosamente participa. Essa participação é alcançada na medida em que o escritor destrói a ilusão de verossimilhança e desnuda o caráter ficcional da narrativa,chamando a atenção do leitor para como o texto foi construído (Volobuef, 1998, p. 99, grifos meus).
Criticar e refletir sobre os próprios procedimentos criadores, submetê-los ao escrutínio público (que é compulsoriamente convocado a testemunhar a construção da obra), instaurar uma distância entre texto e leitor, romper a ilusão literária: tais são os traços mais evidentes da ironia literária. Para nós, é importante destacar tais expedientes porque eles comparecem maciçamente na escrita de Freud.
A presença da ironia literária na obra freudiana é tão evidente que quase se faz desnecessário sublinhar a freqüência com que o autor irrompe no corpo do texto. O leitor e/ou a audiência (mesmo que imaginária) é constantemente convocado a participar dos rumos de um escrito ou a tomar parte de seus bastidores (as hesitações e dúvidas de seu autor, os possíveis caminhos de exposição, as alternativas de raciocínio etc.).E não é apenas em textos como os das “Conferências introdutórias” (1916-17/1976) que o diálogo com leitor é onipresente; mesmo nos ensaios metapsicológicos ou em historiais clínicos ocorrem momentos em que o texto se desdobra, digamos assim, pelo efeito de trechos autoreflexivos. Digna de destaque é uma fala endereçada não ao leitor, mas ao próprio “personagem” de um caso clínico: “Excelente, pequeno Hans! Em nenhum adulto poderíamos desejar uma melhor compreensão da Psicanálise” (Freud, 1909, citado por Mahony, 1992, p. 84).2
Ironia como consciência dos limites da linguagem
Além da ironia retórica e da literária, é possível situála em um terceiro extrato: Arthur Nestrovski, por exemplo, situa a problemática da ironia no âmbito da linguagem em geral; mais precisamente, naquelas manifestações que indicam uma consciência dos limites da linguagem. A ironia seria “aquele movimento que faz a linguagem se suspender ou se negar a si mesma”, um “gesto de suspensão e autocancelamento da linguagem”, uma “qualidade de toda linguagem, quando ela se vê como tal, um perpétuo deslocamento que define a própria linguagem da arte...” (Nestrovski, 1996, p. 7). Esse tipo de aporte tem a vantagem de permitir que se pense a ironia em relação a qualquer forma de linguagem, artística ou não.
Em poucas palavras, a consciência e a tematização do intervalo entre linguagem/experiência empírica parece ser a espinha dorsal da moderna concepção de ironia tal como apresentada por Nestrovski. Ele detecta nos modernos uma “ambição de imediatez”, uma procura sempre renovada de uma “linguagem absoluta, das palavras que vão dar nome às coisas, dizer o mundo como ele é” (Nestrovski, 1996, p. 12). Ora, claro que tal ambição está fadada ao insucesso, e é justamente na convergência destas duas tendências antagônicas – a que persegue a imediatez e a que denuncia a impossibilidade de alcançá-la – que eclode a ironia moderna, inaugurada pelos românticos. A ironia, pois, seria uma tentativa de gerir a angústia inerente à nossa condição de falantes: o padecimento com a impossibilidade de presentificar a coisa através da palavra. Por isso, as abordagens contemporâneas da ironia reputarem-na uma característica central da criação literária (new criticism) (Behler, 1997,p. 334) ou a característica mais íntima da própria literatura (Paul de Man, citado por Behler, 1997, p. 356).
Se há um autor que padece de uma aguda consciência do hiato entre palavra e coisa, esse autor é Freud. Os fenômenos psíquicos, tal como se dão a ver na vida cotidiana e na clínica, constituem um material muitíssimo apto para evidenciar as falhas e limites da linguagem. Desnecessário ir além de exemplos banais: o abismo entre a experiência do sonho e sua narrativa, entre o atendimento de um caso e sua escrita. Na verdade, o problema dos limites da linguagem desdobra-se em pares conceituais que ocupam o epicentro da teoria freudiana – tais como afeto/idéia, pulsão/representação, representação-palavra/representação-coisa, e assim por diante.
Não é difícil encontrar manifestações de Freud acerca da dificuldade de colocar em palavras certas experiências ou processos – como bem o demonstram os comentários introdutórios aos casos clínicos ou às exposições da Psicanálise para público leigo. Creio que várias características marcantes da escrita freudiana podem ser situadas em relação a esta onipresente consciência da insuficiência da linguagem. Em trabalho anterior (Loureiro, 2002a) mencionei com maiores detalhes o uso da linguagem figurativa (emprego abundante de metáforas, sempre consideradas inadequadas ou insuficientes); o reconhecimento de uma disposição apassivada perante o objeto ou material a ser formalizado; o caráter fragmentário de sua escrita: cônscio de que nenhum relato pode dar conta integralmente da experiência, Freud recusa a pretensão à exaustividade e à precisão extremada. A mim parece que tal caráter fragmentário indica uma aceitação resignada da natureza insuficiente da linguagem, bem como do caráter necessariamente provisório e parcial do conhecimento psicanalítico. O certo é que Freud não se entrega às lamúrias sobre a impossibilidade de dizer; ao contrário, assinala reiteradamente que está cônscio de tais limites e segue buscando maneiras alternativas de figurar seus objetos.
Ironia como atitude ante o problema da existência
Se a ironia tematiza as relações entre linguagem e experiência, então não pode deixar de implicar um certo modo de conceber a relação homem/mundo. Conforme propõe René Bourgeois (1974), a ironia é uma atitude: “Ela [a noção de ironia] é nada menos que uma ‘atitude do espírito diante do problema da existência’, que uma tomada de posição filosófica na questão fundamental das relações do eu e do mundo” (Bourgeois, 1974, p. 30, grifos meus). Em sentido muito diverso, Beth Brait também menciona vários autores que consideram a ironia como atitude (em oposição à ironia como procedimento verbal):
Essa espécie de ironia estaria delimitada entre o que alguns autores chamam de “ironia situacional”, “ironia do mundo”, “ironia não-verbal” ou ainda, “ironia referencial”. Sem ser constituída na linguagem, existiria, ontologicamente, para os que acatam essa concepção, a ironia das coisas, das situações, dos seres, do destino (Brait, 1996, p. 60).
Penso que não existe uma ironia com realidade ontológica e fora da linguagem. Como Bourgeois, tomo a ironia como atitude no sentido de um posicionamento nem sempre explícito perante certas temáticas que tradicionalmente têm sido objeto da reflexão ontológica, epistemológica e ética – as problemáticas do ser, do conhecimento, da verdade, do modo de conduzir a própria vida e a relação com os outros etc.
Creio que a ironia romântica pode ser situada na intersecção da tematização da linguagem com a ironia como atitude, constituindo-se como uma vertente significativa desta segunda modalidade. Muito sinteticamente,3 a ironia romântica diz respeito a um movimento permanente e pendular entre crenças opostas: por um lado, uma leitura crítica da realidade conduz à aceitação de que as rupturas/hiatos (entre palavra e coisa, homem e natureza, real e ideal, temporal e eterno, espírito e corpo, arte e ciência etc.) são definitivos; por outro, o desejo e a confiança de que uma suposta unidade originária (e posteriormente perdida) pode ser restaurada. Note-se aqui um desdobramento do eu (crítica e negação da realidade, aproximação e distanciamento em relação ao mundo e ao próprio eu, observação dos objetos e observação da instância observadora etc.) – a dimensão autoconsciente e reflexiva que já se anunciara na tematização da linguagem agora se espraia para outros domínios. “Em busca da unidade perdida” seria um mote bastante adequado para o estilo romântico. Mesmo nos autores mais pessimistas pode-se detectar, no fundo, uma secreta esperança de que seja possível (afinal e/ou em alguma instância) converter plenamente a experiência em linguagem, reunificar homem e natureza, aceder ao Um. Este talvez seja o traço distintivo do estilo romântico em relação a outras formas de reflexividade moderna: a noção de ironia só pode ser de direito qualificada de romântica se implicar, como um de seus pólos constitutivos, tal anseio pelo absoluto.
Daí a impossibilidade de situar Freud entre os pensadores românticos, bem como a dificuldade de localizar em seus escritos a ironia romântica stricto sensu. No máximo consegue-se detectar o movimento pendular da ironia romântica nas múltiplas ocasiões em que Freud alterna um significativo envolvimento com o texto que está compondo com uma tomada de distância crítica em relação ao escrito e ao próprio ato de escrever (Loureiro, 2002a).
Uma outra vertente da ironia como atitude: o ironismo de Richard Rorty
Uma outra e recente versão da ironia como visão de mundo pode, penso eu, ser identificada nos escritos de Richard Rorty. Ao contrário da ironia romântica, a ironia em versão rortyana caracteriza-se exatamente pela crítica e renúncia aos princípios mais caros da metafísica. Vejamos.
Uso o termo “ironista” para nomear o tipo de pessoa que enfrenta a contingência de seus ou suas próprias crenças e desejos mais centrais – alguém suficientemente historicista e nominalista para abandonar a idéia de que tais crenças e desejos remetem a algo além do âmbito do tempo e do acaso (Rorty, 1999, p. XV).
Prossegue afirmando que o ironista deve preencher três condições: duvidar radical e continuamente de seu próprio vocabulário final (isto é, do conjunto de palavras empregado para justificar suas ações, crenças e modo de vida); dar-se conta de que seu vocabulário atual é incapaz de subscrever ou dissolver essas dúvidas; e, sobretudo, que não há um vocabulário mais próximo da realidade do que outros (1999, p. 73). Daí que os ironistas sejam incapazes de “... levarem-se a sério porque estão sempre conscientes de que os termos nos quais se descrevem estão sujeitos a mudanças, sempre conscientes da contingência e fragilidade de seus vocabulários finais e, por conseguinte, de seus selves” p. 73-74). Ou seja, ao contrário do senso comum e também daqueles que Rorty denomina “metafísicos”, o ironista duvida que haja uma natureza intrínseca ou essência real do que quer que seja. Para ele, não há uma realidade permanente a ser encontrada sob as múltiplas e mutáveis aparências, não havendo, portanto, um vocabulário final “verdadeiro”, capaz de corresponder à realidade tal como ela “realmente é”. A linguagem não é um meio de representação transparente; o ironista pensa que nossos vocabulários, históricos e contingentes, servem apenas descrever e redescrever continuamente o mundo. Vê a história das teorias como a permanente sucessão e substituição de descrições concorrentes. A linhagem de filósofos ironistas – inaugurada pelo jovem Hegel e levada adiante por Nietzsche, Heidegger e Derrida – rompe com a tradição metafísica do cânone Platão-Kant na medida aqueles filósofos “... definem seus avanços [achievements] pela relação com seus predecessores, e não por sua relação com a verdade” (Rorty, p. 79). Creio não ser abusivo ver no ironismo uma espécie de “projeto intelectual” encampado pelo próprio Rorty (freqüentemente ele escreve “nós, ironistas”), que valoriza sobremaneira as sempre renovadas descrições trazidas pelas narrativas literárias, jornalísticas e etnológicas. Convicto do “poder da redescrição” (p. 89) em transformar a realidade, as novas imagens traçadas por essas narrativas podem ajudar na re-criação de nós mesmos: experimentamos e jogamos com esses vocabulários, “... nesses termos redescrevemos nós mesmos, nossa situação, nosso passado, e comparamos os resultados com redescrições alternativas que usam os vocabulários de figuras alternativas. Nós, ironistas, esperamos, por meio dessa contínua redescrição, fazer para nós os melhores eus [selves] que pudermos” (p. 80). Eis os ironistas agora concebidos – ou melhor, descritos... – em termos inequivocamente éticos. Se a “melhoria” dos sujeitos individuais através dos processos de autocriação é o fim imediatamente visado, o horizonte das mudanças aponta para a diminuição do sofrimento e da humilhação humana – para o incremento da solidariedade social que se gostaria de ver vicejar em contextos democráticos.
Muito poderia ser acrescentado a essa breve caracterização do ironista e, mais ainda, sobre a complexidade do pragmatismo rortyano e seu caráter polêmico. Coerente com que escreve, Rorty tem especial apreço pelo debate público e racional com seus críticos; por isso, o leitor interessado em iniciar-se em sua obra ou inteirar-se das controvérsias que suscita tem, até mesmo em Português, um farto material à disposição (cf., por exemplo, Ghiraldelli Jr., 1999; Souza, 2005). Na Psicanálise, a perspectiva pragmática tem sido ampla e belamente discutida entre nós por nomes como Jurandir Freire Costa (1994; 1995) e Benilton Bezerra (2001), entre outros. No que se segue, pretendo apenas apresentar duas facetas em que a obra freudiana se mostra convergente com o ironismo. Deixarei de lado, deliberadamente, a literatura psicanalítica acima mencionada, a discussão sobre a pertinência de algumas das formulações rortyanas sobre a Psicanálise e, importante, passo ao largo da própria crítica à figura do ironista, bem como à ética privada/estetizada defendida por Rorty (Shusterman, 1992/1998).
Ético é o viés predominante pelo qual, penso eu, Rorty situa a contribuição de Freud para a difusão/consolidação de uma visão ironista entre nós e também para a produção de indivíduos mais aptos a um trato irônico com a própria vida. Creio que da leitura de “Freud e a reflexão moral” (Rorty, 2002) se podem depreender pelo menos duas possibilidades de relação entre psicanálise e ironia. Primeiramente, a obra de Freud poderia ser incluída na linhagem ironista, na medida em que instaura um novo vocabulário e gera uma nova descrição (e, conseqüentemente, uma nova percepção) que os homens têm de si mesmos. Mais que isso: tal descrição acentua decisivamente a contingência do self, seja porque a consciência é apenas uma das múltiplas “pessoas” internas que nos constituem, seja porque tal multiplicidade (que nos torna singulares) é ela própria formada ao longo de uma série de eventos concretos, acidentais e fortuitos – a história infantil de cada um.
Uma das idéias mais interessantes contidas nesse ensaio é a da “personificação” das instâncias psíquicas. Rorty define “pessoa” na esteira de Davidson – “conjunto coerente e plausível de crenças e desejos” (p. 197). Também diz compartilhar com Davidson a idéia de que o self inconsciente pode ser visto como “um conjunto alternativo, inconsistente com o conjunto familiar que nós identificamos com a consciência, ainda que suficientemente coerente internamente para contar como uma pessoa” (p. 197). A consciência é apenas uma das redes de crenças e desejos, internamente coerente, mas incompatível com outras redes; não havendo uma instância por excelência ou uma verdade última, as “versões” que id, ego e superego têm do passado, por exemplo, não passam disso – versões alternativas. A vontade de se familiarizar com essas “pessoas estranhas” nos conduz ao autoconhecimento – não como conhecimento da própria essência, nem daquilo que compartilhamos com outros homens, e sim autoconhecimento do que nos é peculiar: “nossas idiossincrasias acidentais, os componentes ‘irracionais’ de nós mesmos, que nos dividem em conjuntos incompatíveis de crenças e desejos” (p. 199). Um subtítulo do ensaio resume à perfeição a concepção rortyana do inconsciente: “o inconsciente racional como parceiro conversacional” (p. 198). Tal visão se sustenta, a meu ver, à custa do expurgo da dimensão energética, pulsional, afetiva: “O que é novo na visão que Freud tem do inconsciente é a sua afirmação de que nossas identidades privadas inconscientes não são brutais, obtusas, sombrias e repulsivas, mas antes pares intelectuais e parceiros conversacionais de nossas identidades conscientes” (Rorty, 1986/2002, p. 199). Ou seja, o inconsciente como parceiro conversacional é, necessariamente, lingüístico e racional.
Se adentramos rapidamente tal concepção de inconsciente foi apenas para fazer inteligível a idéia da contingência do self – essa sim importante para situar Freud como um ironista cuja herança tornou-se uma poderosa ferramenta para os que lhe sucederam:
A capacidade crescente do intelectual sincrético, irônico, nominalista, de oscilar para frente e para trás entre, por exemplo, vocabulários religiosos, morais, científicos, literários, filosóficos e psicanalíticos, sem colocar a questão “E qual desses nos mostra as coisas como realmente são?”, a crescente capacidade dos intelectuais de tratar vocabulários antes como instrumentos do que como espelhos – é o grande legado de Freud. Ele quebrou algumas das últimas cadeias que nos mantinham presos à idéia grega de que nós, ou o mundo, possuímos uma natureza que, uma vez que seja descoberta, nos dirá o que nós devemos fazer de nós mesmos (p. 208).
Na contramão de explicações filosóficas ou religiosas que se pretendem verdadeiras, definitivas e totais, a Psicanálise – tal como Freud a situa na célebre conferência sobre as visões de mundo – não faz mais do que construir, parcial e pacientemente, sua própria versão do psiquismo, sem a veleidade de descobrir uma suposta verdade última sobre seu objeto. Nesse aspecto, de fato não há como discordar da leitura de Rorty.
Há no ensaio de Rorty uma segunda possibilidade de estreita articulação entre Psicanálise e ironia. Nele a própria clínica psicanalítica é descrita como um dispositivo de ironização (com o perdão da “licença poética” de rimar Foucault com Rorty...), na medida em que proporciona ao paciente a possibilidade de um olhar irônico sobre o próprio eu e a própria história. Se inexiste uma verdade ou essência sobre o eu e sobre os fatos, a análise conduz a um trânsito incessante entre as diferentes versões propostas pelas diferentes instâncias psíquicas, processo que implica o desenvolvimento de uma saudável “tolerância às ambigüidades” ( p. 202), expressão que Rorty empresta de P. Rieff. Agora focalizando o divã, voltamos a encontrar a redescrição como instrumento de mudança:
A maturidade consistirá, segundo essa visão [que Rorty oferece de Freud], antes em buscar novas redescrições de seu próprio passado – uma capacidade de assumir uma visão nominalista, irônica, de si mesmo. Transformando as partes platônicas da alma em parceiros conversacionais umas para as outras, Freud fez pela variedade de interpretações do passado de cada pessoa o que a abordagem baconiana da ciência e da filosofia fez pela variedade de descrições do universo como um todo. Ele nos fez ver narrativas alternativas e vocabulários alternativos como instrumentos de mudança, ao invés de como candidatos para o retratar correto de como as coisas são em si mesmas (Rorty, 1986/2002, p. 202, grifos meus).
Bem-humorado, Rorty admite que tal leitura da dinâmica psíquica como uma conversação entre instâncias pode desembocar em uma visão excessivamente racionalizada e simplista do tratamento, no qual o analista se limitaria a ser uma espécie de “moderador de simpósio” (cf. nota 11, p. 216). Ainda assim, parece razoável endossar o princípio segundo o qual “... encontrar as visões de seu inconsciente sobre seu próprio passado é um modo de alcançar algumas sugestões adicionais sobre como descrever (e mudar) a si mesmo no futuro” (p. 203).
A título de fechamento, caberia uma palavra final sobre a ironia como atitude e, sobretudo, sobre o que consideramos aqui como duas de suas possíveis vertentes – a ironia romântica e a concepção rortyana. Embora Rorty trabalhe com outra noção de romantismo e chegue propor pontos comuns entre crenças/valores românticos e pragmáticos (Rorty, 2005), o retrato aqui esboçado das duas versões de ironia mostra-as bastante diferentes, para não dizer o avesso uma da outra. Em poucas palavras, Rorty ataca e renuncia de uma vez por todas aos anseios metafísicos que, em meu entender, estão sempre à espreita no pensamento romântico. O modo como ele descreve aquilo que chama de “finitude humanista” nos parece anti-romântico por excelência: abrindo mão da idéia de infinito e acostumando-nos ao estatuto de “animais consertadores” (que resolvem alguns problemas e criam outros...), foi-se criando em nós “... o hábito de pensar horizontalmente em vez de verticalmente – de entender como poderíamos providenciar um futuro ligeiramente melhor em vez de olhar para cima, para a estrutura suprema, ou para baixo, para as profundezas insondáveis” (Rorty, 2005, p. 270). Além de pouco romântica, a singela horizontalidade da finitude humanista não deixa de soar bastante freudiana...
Referências
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Endereço para correspondência
Ines Loureiro
Rua Itacolomi, 576/111 – Higienópolis
01239-020 – São Paulo – SP
Tel.: 11 3259-7187
E-mail:irblou@netpoint.com.br
Recebido: 07/05/2007
Aceito: 22/05/2007
* Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP); professora do curso de especialização “Teoria Psicanalítica”, da Cogeae/PUC-SP.
1 Para uma interessante revisão do percurso histórico-filosófico do riso no qual a ironia ocupa importante lugar, cf. Alberti (2002).
2 Os trabalhos de Patrick Mahony (1990, 1992) sobre a escrita de Freud chamam nossa atenção para excelentes exemplos que, apesar de figurarem em textos sobejamente conhecidos, poderiam passar despercebidos. Por isso, creio ser importante atribuir-lhe o devido crédito mantendo a citação indireta do texto freudiano.
3 Para uma exposição aprofundada sobre a noção de ironia romântica, cf. Loureiro (2002b, pp. 211-233).