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Print version ISSN 0101-3106
Ide (São Paulo) vol.40 no.64 São Paulo July./Dec. 2017
EM PAUTA | INTERPRETAÇÕES DA CULTURA
A "mostração" e a constituição do sujeito na clínica com aqueles que ainda não falam
The "mostration" and the constitution in the clinical with those who do not speak yet
Claudia Mascarenhas Fernandes
Psicóloga, psicanalista, membro do Espaço Moebius de Psicanálise (BA), doutora em psicologia clínica (USP), mestre em filosofia (Unicamp). Diretora clínica do Instituto Viva Infância, membro do MPASP (Movimento Autismo e Saúde Pública), vice-presidente no Brasil CIPPA (Coordination Internacional de Psychanalystes et Psychotherapeutes qui Travaillent avec L'autisme)
RESUMO
A clínica com aqueles que não falam cresceu na prática clínica com a criança, mesmo que esta última questione os fundamentos da psicanálise ela mesma, principalmente quando se trata de crianças autistas. A imagem com o suporte da letra é um elemento indispensável para que essa clínica possa ser lida. Como a psicanálise pode usar a imagem em sua clínica? Na prática clínica, a imagem está realmente no campo do negativo?
Palavras-chave: Psicanálise. Psicanálise com crianças. Criança. Imagem. Letra.
SUMMARY
The clinical practice with those who do not speak can be grounded in the field of psychoanalysis, even though it has been questioned in its fundamentals, when it refers to the child and more specifically, an autistic child. Not only can the clinical practice with infants be read by the psychoanalysis, but it can also be presented in its most radical form: the psychoanalysis as a practice of discourse without words. Imagery, with the support of the letter, is an indispensable element in psychoanalysis to make the readings in this clinical practice viable. How psychoanalysis can utilise the imagery in the clinical with those do no to speak? Il is the imagery really negative for the psychoanalysis practices? The setting of an autistic child may chance the conception of a psychoanalysis who only works with the words.
Keywords: Psychoanalysis. Child psychoanalysis. Infant. Imagery. Letter.
Na grande querela sobre as imagens (Le Gaufey, 1997), a partir da "inelutável modalidade do visível" (Didi-Hubermann, 1992), interessa aqui não especialmente abordar toda a herança dos debates entre representação, verdade, imagem, sua inscrição ou estilo, mas, sobretudo, reivindicar a participação nesse debate sobre a noção de imagem para a psicanálise, suas marcas e seus propósitos, e, sobretudo, o que a clínica psicanalítica faz com o que se mostra.
É também a incontornável cisão entre olhar e visão que perfura esse debate de forma contundente, de modo que o visível pode ser tomado como o que consegue visibilidade num mar de invisibilidades. Assim como é tratando do que se vê que se permite discutir tanto o invisível quanto o ser visto: o que vemos só vale pelo que nos olha. "Inelutável é, portanto, a cisão que separa em nós o que vemos daquilo que nos olha" (Didi-Huberman, 1992).
Foucault, ao imprimir nova tonalidade à querela sobre a noção de imagem, faz uma crítica importante à psicanálise, que merece destaque por sua posição de alteridade ao pensamento psicanalítico. Afirma o autor: a psicanálise minimiza o valor da imagem (Foucault, 2006). Essa posição radical é provocadora pela boa argumentação que sustenta a propósito do valor negativado que pode portar a imagem para a psicanálise freudiana e instila uma suspeita determinante sobre o alicerce a partir do qual se constrói a noção de imagem, pois, segundo Foucault, a psicanálise freudiana acredita que o sentido se investe de imagem "por um excesso", portanto, a plástica será imaginária para os sentidos que nela emergem "a forma de sua contradição" (2006).
Há na teoria freudiana, de acordo com Foucault, certa confusão entre as noções de significação e indício. Os indícios não têm significações, afirma a crítica foucaultiana. Se encontramos pegadas na neve como indícios - para um caçador podem ser indicadoras de que uma lebre acabou de passar -, todavia, elas não têm mais significações do que teriam para qualquer outro que ali passasse, assim como não é somente o caçador que pode ter a imagem da lebre na cabeça. Uma voz trêmula ao fazer um enunciado pode indicar cólera, portanto, a palavra lebre ou cólera são significações, e a voz trêmula ou as pegadas são indícios. O filósofo francês acredita que a psicanálise explora apenas uma dimensão do universo simbólico: a do vocabulário simbólico. "No entanto não é indiferente que tal imagem dê corpo a tal significação", pois "A imagem é uma linguagem que se exprime sem formular" (Foucault, 2006. p. 12), duvidando, a partir daí, da ideia de que exista um lugar na psicanálise freudiana para a imagem propriamente dita na linguagem.
A despeito dos problemas que podem trazer a noção de representação, o clínico nato que era Freud legou-nos, a partir do uso que os sonhos fazem da imagem, uma pista que corrobora esta tese: a imagem pode ser usada a favor do tratamento daqueles que ainda não falam e, portanto, pode ser retirada de um provável lugar secundário ou negativado, já que existem imagens que não conseguem ser faladas.
Parece então que a questão que se formula como necessária é: o que faz a psicanálise com a imagem?
Esse tema, sem nenhuma hesitação, continua um debate que é muito caro à psicanálise com crianças, principalmente à clínica com aqueles que ainda não falam, pois a psicanálise com crianças questiona, talvez sem formular claramente, a espinha dorsal da psicanálise: o que fazer com a imagem que aparece na clínica?
O imaginário, a imagem e a imaginação são três noções distintas para a psicanálise. A imagem é o que se mostra e o que se esconde no jogo especular. A imaginação pode ser lida como uma das formas da sustentação das relações com o fantasma. O imaginário, noção lacaniana, é um dos registros que sustentam a tópica do sujeito. O real, o simbólico e o imaginário são registros estruturais do sujeito, e o Eu se forma sob ângulo privilegiadamente imaginário.
Mas por que não poderia vir da própria imagem uma ideia de ordem?
Nas crianças com dificuldades na estruturação da realidade, tudo parece absolutamente igual, igualmente indiferente, portanto. Esse é o caráter uniforme da realidade. Para essas crianças, a linguagem não envolveu o sistema imaginário, por isso, o real e o imaginário são equivalentes - essa era a explicação de Lacan para o caso kleiniano, o famoso caso Dick. Nesse caso, as simbolizações do analista servem para introduzir uma posição inicial para o sujeito fazer agir o real e o imaginário.
A projeção da imagem sucede constantemente a do desejo, a reintrojeção da imagem é a reintrojeção do desejo. A criança se repete nisso e, ao longo desse jogo de báscula, o desejo é reassumido pela criança e assim ela faz o aprendizado da ordem simbólica: ao passar pelo outro é reprovado ou aprovado por ele. A mostração (Fernandes, 2012) imaginária pode ser apontada como um momento que faz saltar esse imaginário de sua condição "dita secundária". Mas não há nada de secundário na noção de imaginário porque, para que um acesso ao simbólico se dê, é preciso passar pelo imaginário.
A herança da psicanálise com criança deu lugar também a outro tipo de problemática. A questão não é somente a noção de imagem e seu valor na teoria, mas como se servir dela numa clínica em que a palavra ainda não aparece associada, como acontece na clínica com o adulto. Obviamente isso traz consequências, especialmente para a clínica com crianças pequenas, com uma agudização maior para a clínica daqueles que ainda não falam. Desse modo, a questão ainda se torna mais contundente quando se trata da clínica com crianças autistas, em que a palavra ainda comparece ao lado do paciente, e este pode se apresentar encerrado numa espécie de bolha para a escuta da palavra que vem do analista.
Na psicanálise com crianças, de modo geral, trabalha-se com o que a criança mostra, mesmo que a palavra falada continue sendo seu emblema maior. A clínica com aqueles que ainda não falam precisa dar lugar à imagem, que pode ser usada como elemento digno de trabalho; digno em "suas razões". Em vista disso, é necessário considerar que há uma "esquize" no que se mostra, dado que há duas perspectivas relativas à imagem: a imagem total, Eu ideal, a partir do qual o sujeito se vê; e o traço de onde o sujeito se olha, tido como ideal de Eu.
Quando alguma "mostração" é trazida para a sessão por seus pacientes, fisgados pelo que não pode ser dito e deve ser mostrado, é possível verificar que o analista, dentro desse quadro, faz função de suporte e faz também aparecer a diferença do que se vê para o que nos olha.
Aparentemente, o caráter de visibilidade (Vorcaro, 1998) apontado por Freud na criança, por suas exteriorizações sexuais, torna o infantil na criança o signo de sua transparência. "Não são difíceis de observar as manifestações da atividade infantil; ao contrário, para deixá-las passar despercebidas ou incompreendidas é que é preciso certa arte" (Freud, 1910/1969, p. 39). Des-se modo, a criança carrega, segundo Freud, a capacidade e a tarefa de mostrar esse infantil articulado pela simultaneidade entre geografia do prazer no corpo e fantasias infantis (Fernandes, 2007), ligação essa perdida ou recalcada no adulto.
Há o suporte imagético que se mostra (pede um olhar, um deciframento) e o que a inscrição desse suporte esconde (apaga e cifra). É preciso, no entanto, ante aqueles que ainda não falam, que o cifrado que está sendo escrito no corpo da criança possa passar pela imagem, mostrando-se na sessão (materialidade do corpo ou das produções), para que, então, ao se encontrar no lugar com seus sinais de sofrimento, sede de enigmas, passe para outra coisa. Trata-se de passar da escrita com imagens, já que a imagem escreve signos (Allouch, 1984), para uma escrita com letras, para que sua causa possa ser lida.
As relações entre imagem e letra são ensaiadas por Lacan (1957/1992) no texto "A instância da letra no inconsciente", em que cita Freud a partir da imagem do significante e considera que isso nada tem a ver com a significação: "O que distingue os dois mecanismos (condensação e deslocamento), que têm na função do trabalho dos sonhos, Traumarbeit, um papel privilegiado de homólogo do discurso?" (Lacan, 1957/1992, p. 511), responde ele mesmo: esses mecanismos têm o papel de possibilitar a figuração e, ainda que limitados, favorecem essa condição de figurabilidade, que Freud (1900/1969) designou como representabilidade. Então, se há uma razão para o privilégio das figuras da condensação e do deslocamento em lugar de outras, é por serem mais propícias às condições de representabilidade. Esse é, afinal, um privilégio para a imagem. E a marca, a letra, como se apresenta?
Interessa aqui saber que existem dois polos da letra: "o que opõe letra como significante e o que trata da letra pulsional" (Yankelevich, 2004, p. 261). Ambos têm a ver com o corpo, a marca e a inscrição (eixo patêmico, seja no nível inconsciente, significante, seja no nível pulsional [Ritvo, 2000]). Existe também, no âmbito da letra, o eixo matêmico, ou seja, que se trans-mite. A letra como inscrição no corpo, de um lado, e a letra como o que se transmite, do outro lado, compõem a clínica com aqueles que ainda não falam. Se de um lado há uma relação direta com o que se mostra para ser cifrado e lido numa direta relação com a imagem, do outro lado há o que não se mostra, numa oposição à imagem, que é o que se transmite de letra. Trata-se de duas ordens distintas, mas que se ligam.
É a ideia de letra que permite distinguir a noção de que a psicanálise é também uma prática de leitura. Se, como argumenta Brauer (2003), o campo da psicanálise lacaniana situa-se entre o escrito e a fala, é possível entender ainda de forma mais ampla a referência ao campo do inconsciente como campo da linguagem. A autora afirma ainda que, se a psicanálise privilegia o significante, não se trata de qualquer significante, mas daquele sob a condição de que ele tenha valor de escrita do caso singular (Brauer, 2003). O significante que importa é esse que se faz letra, ou seja, que se transmite e pode se dar a ler.
Defendo a ideia de que a psicanálise, ao trabalhar com esses pacientes que ainda não falam, longe de confundir olhar e visão, está em face de um invisível que o analista deve se deixar fazer ante um visível em relação ao qual a criança comparece também, mas que não deixa de engendrar o que há de invisível, como enfatiza Didi-Huberman, "o olhar é esse objeto invisível e irrecuperável que se desloca no campo do visível" (1992, p. 13).
Ao analista não cabe interpretar o que se passa diante da "mostração" aos seus olhos. Num primeiro momento, ele deixa exalar a atualidade do olhar a partir do semblante da visão do que se mostra, para ver o que foi escolhido para ser mostrado e o que olha para ele, dado que essa não é decididamente uma escolha qualquer, para que num segundo momento seja possível transcrever e transliterar a imagem em letras que podem vir a ser seus pontos de leitura sobre e para esse que ainda não fala.
O aspecto subversivo da psicanálise, mais ainda, da psicanálise com pacientes que não falam, nos faz perceber que o trabalho de reviravolta de conceitos exteriores à psicanálise pode, por ela, ser reinventado e transvalorado. A despeito de todas as pertinentes críticas à sociedade do espetáculo, ao uso desenfreado que a imagem nos propõe atualmente, das influências do excesso das virtualidades, a psicanálise, em seu caráter subversivo, pode apontar um outro ângulo para a imagem, um lugar constitutivo para o psiquismo e que pode ser bem usado, na clínica daqueles que ainda não falam, como elemento para as condições da constituição do sujeito.
Marcos é uma criança autista que me foi trazida aos cinco anos. O seu autismo não nos colocava dúvidas, dificuldade de comunicação e interação, interesses restritos e repetitivos, algumas estereotipais, ecolalias; sinais que compõem um quadro de autismo. Há no trabalho clínico com a criança autista algumas premissas importantes: 1) aposta no sujeito; 2) apoio e escuta aos pais; 3) trabalho interdisciplinar para uma problemática polifatorial; 4) inclusão Social. Nos encontros iniciais é preciso conhecer a criança, o que os pais contam sobre ela e o que ela mesma vai "mostrando". Eu pergunto sempre à criança: tem alguma coisa chateando você?
Num primeiro tempo do trabalho trata-se de conhecer a criança e de ir ao seu encontro. Encontrar o melhor canal de aproximação, a partir de algum movimento dela, ou tentar pequenas interrupções, provocações, em seus movimentos. Para mim, o analista nessa clínica precisa ser ativo, ter iniciativas de buscar, de provocar, de instigar a interação. Diria que, na relação com a criança autista, a demanda inicial é do analista. O pai ou a mãe estão presentes na sessão (reconto da história, ensinar ao analista sobre o filho, compartilhar dificuldades e a emoção dos tímidos avanços). Nesse momento inicial, Marcos, depois de certo tempo, sem falar, olhar ou fazer contato, escolheu o papel para "mostrar" algo, mas mostrava ainda escondendo, pois tudo que rabiscava, imediatamente após fazê-lo, rasgava e jogava fora.
Nesse tempo inicial ainda cabe tentar encontrar, após conseguir uma entrada, um eixo de troca (na maioria das vezes é corporal), vou insistir em repetir e repetir, criando uma marca na troca, uma marca daquela troca. O prazer nessas trocas iniciais é fundamental para favorecer a marca, que será inscrita quando esta posteriormente vier a faltar. Temos muitas idas e vindas. Fechamentos, aberturas, aproximações e afastamentos, até que a criança mantenha a interação e comece a buscar o prazer compartilhado. Sustentada a interação com a criança, repetida a interação, compartilhado o prazer desse movimento, é preciso que se introduza uma parada, uma falta. Esse é um dos momentos mais lindos do trabalho, os primeiros passos para a relação com participação ativa da criança: ela vai pedir para interagir porque ela vai querer compartilhar isso, um começo, a construção do interesse em um jogo que um outro está envolvido. Essa mano-bra pode durar muito tempo.
Num segundo tempo a criança começará a enviar sinais de reconhecimento da presença do analista. A depender da criança, o nome do analista começa a ser pronunciado. A instauração dessa falta permitirá mudar de posição: a criança inicia uma posição desejante em direção ao outro.
O analista vai esticar esse jogo, complexificando-o com outros elementos, sem deixar de articulá-lo com o que a criança agora já lhe pede. A satisfação não lhe vem mais, apenas, de uma autoestimulação sensorial que ele faz a ele mesmo, o interesse de modo geral se amplia e há uma busca na satisfação na interação com o outro. A criança busca o analista e começa a aceitar outros assuntos, outros pequenos jogos. Teremos as condições necessárias ao acontecimento de um desejo e de uma demanda, ambos endereçados ao outro. O analista trabalhará assiduamente para reproduzir as situações em que a criança poderá experimentar muitas vezes essa vivência. É um momento muito delicado também porque, nesse início de abertura da bolha autística, o mundo entra muito intensamente, podem aparecer os chamados Tocs, algumas crises de angústia, dificuldades de sono. É preciso ter muita atenção com o que está em volta da criança para poder ajudar, tanto a ela quanto à família, a identificar o que pode provocar desestabilizações, turbações (emoi), até mesmo passagens ao ato (Lacan, 1962/1963).
É um momento em que os pais precisam ser também muito bem acolhidos, há realmente uma grande aproximação minha com a criança e com os pais: "estamos todos juntos nisso".
O terceiro tempo corresponde à capacidade da criança de entrar nas trocas, aqui os desafios cotidianos são trabalhados. As interações precisam ser alargadas, e eu uso todo tipo de recurso que eu tenho (enviar foto de minhas viagens, recados falados pelo whatsApp, ir na apresentação da escola, enfim), as experiências de interações começam a ser vivenciadas em vários ambientes, com todas as dificuldades que lhes são peculiares em cada lugar. Aqui a criança já demonstra o que se tem chamado de "empatia", que acredito haver bem antes mas sem ser percebida, já se importa com o prazer e com os incômodos dos familiares, já demonstra as emoções buscando resposta dos outros... É a partir desse momento que me parece possível dizer que terminamos o tempo da construção para entrar no "tempo da complexificação" (Crespin, 2017). Aqui aparecerá a necessidade de potencializar os aspectos positivos das capacidades da criança. Descobrir as vias de criação para a criança, o que ela faz bem, o que ela gosta, para ir construindo um lugar simbólico. A autonomia tem maior ênfase aqui.
Antes deste desenho, Marcos disse: "eu quero desenhar um menino", e desenhou!
O trabalho de mostração, nesse caso usando desenhos para dar visibilidade ao que não conseguia ser dito, foi o caminho para a constituição do sujeito, a imagem e a letra aqui se conjugaram de um modo ímpar, ao ponto de agora Marcos, aos 11 anos, estar iniciando seu processo de leitura. A sua posição no mundo é de um sujeito que demonstra seus interesses, mostra suas vontades e dificuldades.
Ao analista é preciso, na transferência, possibilitar que a família SAIBA que pode contar com ele. Um trabalho psicanalítico promove essa noção de que se tem com quem contar. A saída da bolha autística e a constituição da posição de sujeito são grandes conquistas, e sobre isso a psicanálise tem a contribuir. A partir desse terceiro tempo, há algo que acontece de muito interessante: não apenas a possibilidade de aceitar as diferenças, mas, na minha clínica, a diversão e o humor passam a comparecer de modo ímpar!
A psicanálise sempre reinventou conceitos usados de outro modo em seu tempo, como Freud com a noção de perversão amplamente usada pelos sexólogos de sua época, ou mesmo Lacan com a noção de real, a ponto de imputarmos se tratar de um recurso metodológico nas teorizações psicanalíticas. O que o trabalho psicanalítico com aqueles que ainda não falam pode apontar é, quem sabe, uma reviravolta em relação à noção e à praxe com a imagem no trabalho analítico em nossa época.
REFERÊNCIAS
Allouch, J. (1984). Lettre pour lettre: transcrire, traduire et translittérer. Paris: Éres. [ Links ]
Brauer, J. F. (2003). Ensaios sobre os distúrbios graves da infância. São Paulo: Casa do Psicólogo. (Col. Primeira Infância). [ Links ]
Crespin, G. (2004). A clínica precoce: o nascimento do humano. São Paulo: Casa do Psicólogo. (Col. Primeira Infância). [ Links ]
Didi-Huberman, G. (1992). Ce que nous voyons, ce qui nous regarde. Paris: Les Éditions de Minuit. [ Links ]
Fernandes, M. C. (2007). A criança em cena: o infantil e a perversão. São Paulo: Casa do Psicólogo. (Col. Primeira Infância). [ Links ]
______. (2012). Psicanálise para aqueles que não falam? A imagem e a letra na clínica com o bebê. Salvador: Instituto Viva Infância. [ Links ]
Foucault, M. (2006). Problematizações do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. (V. Ribeiro, trad.). Rio de Janeiro: Forense Universitária. (Col. Ditos e Escritos I). [ Links ]
Freud, S. (1969). Considerações de representabilidade. In S. Freud. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1900). [ Links ]
Lacan, J. (1992). L'instance de la lettre dans l'inconscient et les principes de son pouvoir. In J. Lacan. Ecrits. Paris: Seuil. (Trabalho original publicado em 1957). [ Links ]
______. (1962-1963). L'Angoise, seminário. Documento interno à Associação Freudiana e destinada a seus membros. [ Links ]
Le Gaufey, G. (1997). Le lasso spéculaire, une étude transver sière de l'unité imaginaire. Paris: E.P.E.L. [ Links ]
Ritvo, J. (2000). O conceito de letra na obra de Lacan. Escola Letra Freudiana, ano 17, n. 26. [ Links ]
Vorcaro, A. M. R. (1997). A clínica da psicanálise com crianças. Rio de Janeiro: Companhia de Freud. [ Links ]
Yankelevich, H. (2004). Do pai à letra, na clínica, na literatura, na metapsicologia. (P. Abreu, trad.). Rio de Janeiro: Companhia de Freud. [ Links ]
Endereço para correspondência:
CLAUDIA MASCARENHAS FERNANDES
Rua Profo Cassilandro Barbuda, 1007/202
41760-110 Salvador Bahia
tel.: 71 98874-1929
claudia.mascarenhasfernandes@gmail.com
Recebido 30.04.2017
Aceito 28.05.2017