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Reverso
Print version ISSN 0102-7395
Reverso vol.38 no.71 Belo Horizonte June 2016
EDITORIAL
Ideias, palavras e frases foram se organizando num texto! E assim, recebemos para o número 71 da Reverso os artigos que ora apresentamos.
A escrita é um ato singular, que muitas vezes acontece na solidão de nossos pensamentos, no recolhimento do ser, no mergulho nas inquietações da clínica, e o efeito é o prazer do uso da palavra, aquela que designa o pensamento e nos alivia.
Sob o título Reverso e precedida por oito anos pelo Boletim do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, nossa revista faz 30 anos: 1986-2016. Jovem em relação aos primeiros periódicos psicanalíticos de Viena e, por isso, aberta, arejada, destemida, cheia de vigor, próprios à juventude! E madura, em relação à duração da vida institucional, nesse ponto serena, sabendo receber no seu interior o novo das ideias e o desafio de articulações inusitadas suscitadas pela clínica atual.
Tendo como objetivo a transmissão da psicanálise, a Reverso se oferece ainda ao psicanalista do nosso tempo, para que possa beber dessa fonte e se sentir enriquecido no seu ofício de escuta àquele que o procura: o analisando.
Dando prosseguimento ao projeto iniciado pela sensibilidade de Olímpia Helena Costa Couto, editora anterior a mim, de divulgar o artista mineiro, nossa capa é um quadro a óleo de uma figura feminina, gentilmente cedido pela artista plástica Selma Weissmann, a quem muito agradecemos pelo desprendimento e disponibilidade com que nos recebeu em seu ateliê.
Entre o aceite do convite da Presidência do CPMG, a mim formulado para ocupar a função de Editora da revista Reverso e a organização dos artigos, descobri o prazer de ter em mãos um tesouro, joias da produção psicanalítica, e de poder contar com a excelência dos colegas que compõem a Comissão Editorial: Ana Boczar, Carlos Andrade Mello, Eliana Rodrigues Pereira Mendes e Paulo Roberto Ceccarelli. A vocês meus agradecimentos pela prontidão e delicadeza com que receberam e trataram todas as questões requeridas para a confecção de uma revista deste porte.
Abrimos esta edição com o artigo estrangeiro As figuras paternas, um assunto coletivo, da psicanalista Michèle Bompard-Porte, professora universitária na França e autora de vários livros. A partir de Freud, ela aborda a formação dos grupos humanos e sua organização proveniente da lógica fálica, fazendo uma contraposição à alteridade dos sexos.
Ainda em Teoria Psicanalítica seguimos com o texto Entrevistas preliminares: marcos orientadores do tratamento psicanalítico, dos autores Anna Bárbara de Freitas Carneiro, Ione Maria Cardoso e Breno Ferreira Pena, mostrando a importância na direção do tratamento desse primeiro momento anterior ao processo psicanalítico.
Breno Ferreira Pena e Thiago Silva Martins nos brindam com o texto O caos pulsional onde trabalham o conceito do ‘disperso pulsional’ em Freud, conduzindo nosso pensamento à formulação do conceito de angústia em Lacan.
Em Da imagem à escrita: considerações sobre uma fantasia de Hans, Guilherme Henderson, Daniela Chatelard e Isalena Carvalho de forma interessante trazem da obra de Lacan a passagem da imagem ao símbolo, a distinção entre signo e significante e o surgimento do sujeito.
Na seção Clínica Psicanalítica Contemporânea trazemos O sujeito contemporâneo, o mundo virtual e a psicanálise, artigo escrito pela colega Marília Brandão Lemos de Morais Kallas, que com sua perspicácia nos oferece uma reflexão sobre os impactos que a mudança da direção do olhar, do privado para o público, trazido pela mídia eletrônica tem sobre o sujeito e a sociedade.
Seguimos com o texto de Rogério Robbe Quintella Depressão contemporânea e metapsicologia freudiana: pensando a neurose na atualidade, em que discute, com brilhantismo, o conceito de depressão na psiquiatria e na psicanálise, diferenciando-o do conceito de melancolia, no que diz respeito ao ideal do eu e ao eu ideal.
Temos também Tatiane de Fátima Ladeira e Aline Nogueira Silva Coppus escrevendo Anorexia e adolescência: uma articulação à luz da psicanálise, onde ressaltam, a partir de Freud, a importância da sexualidade e da pulsão de morte nesse distúrbio e a não elaboração do vazio na relação mãe-filha.
Na terceira seção, Cultura e Psicanálise, temos Um olhar psicanalítico sobre a autonomia para morrer, uma produção de nossa aluna em formação psicanalítica Carinna Gonçalves Simplício, que escreveu sobre um tema importante e difícil, talvez por isso pouco explorado, a saber, os impasses na deliberação quanto ao desejo do sujeito sobre sua vida/morte diante da inconstância e alternância da atuação das pulsões de Eros e de Thanatos.
Dimas Barreira Furtado nos apresenta seu texto O olho, o olhar e o mau-olhado momento em que trabalha, em Freud e Lacan, a pulsão escópica, seus desdobramentos, incluindo o olhar, ser olhado e o dar-se a ver e de forma curiosa traz da cultura, a ideia do mau-olhado e suas curas.
Fechamos esse tópico com o interessante artigo Ritos de passagem: o lugar da adolescência nas sociedades indígenas Tembé Tenetehara e Kaxuyana, de Maria do Rosário de Castro Travassos e Paulo Roberto Ceccarelli. Os autores relatam a passagem da criança indígena para o mundo adulto sem a ênfase na adolescência e consideram que seus conflitos não decorrem daí, e sim do choque entre os códigos simbólicos do índio e dos não índios.
Encerramos este número com a resenha O Eu-pele: contribuições de Didier Anzieu para a clínica da psicanálise, de Gilberto Safra e Ligia Maria Durski. Os autores trabalham as ideias do livro O Eu-pele, de 1985, do psicanalista francês acerca das relações entre o aparelho psíquico e o corpo orgânico, as deformações do Eu e as “patologias do envelope”, como Anzieu as denomina, enfatizando suas raízes nos cuidados recebidos na infância.
Agradecemos a todos os autores que nos confiaram sua produção e, com isso, engrandeceram nossa revista.
Com o mesmo carinho com que foi editada, entregamos a vocês a Reverso 71 e esperamos que possam desfrutar de toda essa produção no campo da psicanálise.
Maria Mazzarello Cotta Ribeiro
Editora