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Junguiana
On-line version ISSN 2595-1297
Junguiana vol.40 no.2 São Paulo July/Dec. 2022
Uma avaliação das técnicas expressivas pela psicologia simbólica. Apresentação da técnica "marionetes do self"1
Una evaluación de las técnicas expresivas por la psicología simbólica. Presentación de la técnica "títeres del yo"
Carlos Amadeu Botelho Byington
Médico psiquiatra e analista, membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica
RESUMO
O autor compara a psicoterapia dinâmica exclusivamente verbal e aquela que emprega também técnicas expressivas dentro da perspectiva simbólica e transferencial. Considera que as técnicas expressivas aumentam consideravelmente o potencial da elaboração simbólica, pelo fato de serem ativados em maior extensão e profundidade os significados simbólicos, junto com uma maior possibilidade de vivenciá-los. Compara a técnica menos participativa e mais verbal com a mais participativa e menos verbal e favorece a segunda pela maior produção de significados, maior possibilidade de o terapeuta exercer a sua vocação e a sua criatividade, maior cooperação do paciente na terapia e maior possibilidade da Sombra da terapia (inclusive do terapeuta) surgir e ser elaborada. Chama a atenção para o maior perigo da projeção da Função Transcendente no analista se tornar defensiva com a terapia exclusivamente verbal e interativa. O autor conclui com um aviso sobre a necessidade de precaução no uso das técnicas expressivas, pois exatamente pelo seu poder de energização dos símbolos e das funções psíquicas, elas podem exacerbar as defesas e agravar os quadros clínicos. Na segunda parte, o autor descreve a técnica expressiva das Marionetes do Self e atribui sua originalidade à sua abrangência, que inclui a relação transferencial. Descreve as características das suas peças e da sua montagem. Esclarece que o seu uso pode ser terapêutico e pedagógico para ensino normal ou supervisão. Finalmente, na terceira parte, o autor tece considerações sobre as restrições à participação ativa do consciente na terapia psicodinâmica e as atribui basicamente ao seu redutivismo ao inconsciente, tanto por Freud (o reprimido e o Id) quanto por Jung (inconsciente coletivo). Baseado na proposta de ampliação do conceito de arquétipo para englobar também o consciente e do conceito de símbolo para englobar também o objetivo, o autor propõe a elaboração simbólica igualmente a partir da perspectiva consciente e inconsciente. Em função dessa ampliação, teoriza que as técnicas behavioristas, cognitivas e até mesmo a psicofarmacoterapia podem ser usadas também como técnicas expressivas da psicoterapia dinâmica, ao serem exercidas dentro da perspectiva simbólica e transferencial. ■
Palavras-chave: Técnicas expressivas, Psicoterapia exclusivamente verbal, Marionetes do Self, Transferência, Teoria Behaviorista, Teoria Cognitiva, Psicofarmacoterapia, Arquétipo também Consciente, Sujeito e Objeto no Símbolo.
RESUMEN
El autor compara la psicoterapia dinámica exclusivamente verbal y la que también emplea técnicas expresivas dentro de la perspectiva simbólica y transferencial. Considera que las técnicas expresivas aumentan considerablemente el potencial de elaboración simbólica, debido a que se activan en mayor medida y profundidad los significados simbólicos, así como una mayor posibilidad de experimentarlos. Compara la técnica menos participativa y más verbal con la técnica más participativa y menos verbal y favorece a la segunda por mayor producción de significados, mayor posibilidad para el terapeuta de ejercer su vocación y su creatividad, mayor cooperación del paciente en la terapia y mayor posibilidad de que la Sombra de la terapia (incluido el terapeuta) surja y se elabore. Llama la atención sobre el mayor peligro de que la proyección de la Función Trascendente sobre el analista se vuelva defensiva con la terapia exclusivamente verbal e interactiva. El autor concluye con una advertencia sobre la necesidad de cautela en el uso de técnicas expresivas, pues precisamente por su poder de dinamización de símbolos y funciones psíquicas, pueden exacerbar las defensas y empeorar el cuadro clínico. En la segunda parte, el autor describe la técnica expresiva de los Títeres del Yo y atribuye su originalidad a su alcance, que incluye la relación transferencial. Describe las características de sus partes y de su montaje. Aclara que su uso puede ser terapéutico y pedagógico para la enseñanza o supervisión normal. Finalmente, en la tercera parte, el autor considera las restricciones a la participación activa del consciente en la terapia psicodinámica y las atribuye básicamente a su reduccionismo al inconsciente, tanto de Freud (lo reprimido y el Id) como de Jung (inconsciente colectivo). Partiendo de la propuesta de ampliar el concepto de arquetipo para abarcar también lo consciente y el concepto de símbolo para abarcar también lo objetivo, el autor propone la elaboración simbólica por igual desde la perspectiva consciente e inconsciente. Debido a esta expansión, teoriza que las técnicas conductistas, cognitivas e incluso la psicofarmacoterapia también pueden ser utilizadas como técnicas expresivas de la psicoterapia dinámica, cuando se ejercen en la perspectiva simbólica y transferencial. ■
Palabras claves: Técnicas Expresivas, Psicoterapia Exclusivamente Verbal, Títeres del Yo, Transferencia, Teoría Conductista, Teoría Cognitiva, Psicofarmacoterapia, Arquetipo también Consciente, Sujeto y Objeto en el Símbolo.
Primeira parte
Introdução
Os conceitos psicológicos precisam ser ampliados para expressarem a percepção crescente da imensidão da psique.
O redutivismo é o câncer do saber moderno.
Após um século de psicoterapia dinâmica, muitos analistas reconhecem cada vez mais as limitações da psicoterapia centrada na elaboração exclusivamente verbal. Aquele momento glorioso em que a interpretação milagrosa produziria o insight e a cura pode ser hoje reconhecido como uma resultante mágica do racionalismo dissociado e onipotente do século XIX.
No rompimento do redutivismo da elaboração exclusivamente verbal, Jung também foi um pioneiro. A sua descoberta do método da imaginação ativa, sua técnica da análise participativa face a face e a adoção de suas técnicas de desenho, pintura e escultura apontaram o caminho para além da associação livre e da amplificação na psicoterapia de base analítica. Por meio das técnicas expressivas podemos ultrapassar a interpretação puramente verbal dos símbolos e buscar o final da elaboração, ou seja, o próprio desenvolvimento simbólico. Muitos foram os pioneiros deste caminho. Ao lado de Jung, destaco as obras Séchehay (1960), na Suíça, e de Nise da Silveira (1980), no Rio de Janeiro, iniciada oficialmente em 1946 no centro psiquiátrico nacional. A importância do componente vivencial nessas inovações recebeu grande ímpeto pela forma como Jung usou essas técnicas expressivas para elaborar, compreender e integrar os símbolos dos seus próprios sonhos e fantasias.
Minha tendência hoje é cada vez mais considerar a elaboração simbólica igualmente verbal e não verbal o centro da atividade psíquica e da psicoterapia. Nesse caso, a interpretação passa a ser revelada pela elaboração simbólica e percebida tanto pelo terapeuta quanto pelo analisando. Sinto que Jung demonstrou muitas vezes em sua vida que a convivência com os símbolos pode contribuir até mais para a sua elaboração do que a sua explicação racional.
Lembro-me do impacto que foi para nós, jovens analistas em formação em Zurique, quando a família de Jung nos convidou para visitar as Torres de Bollingen, dias após sua morte. Na sala de uma das quatro torres, na qual Jung praticava a imaginação ativa, pintada sobre a parede principal, estava a figura de um ancião de longas barbas brancas, de chifres e com grandes asas abertas. Lendo Memórias, Sonhos e Reflexões, soubemos que aquela figura representava Filemon, o velho que aparecera numa imaginação ativa para dizer que Jung lidava com os seus pensamentos como se ele próprio os tivesse criado, mas que Jung se enganava, pois os pensamentos possuem vida própria, como animais na floresta (JUNG, 1975).
É evidente que Jung compreendeu o significado desta imagem arquetípica como a expressão da transcendência de conteúdos psíquicos ao Ego. Apesar de tê-la compreendido, provavelmente devido à importância dessa imagem na descoberta da imaginação ativa e da função transcendente, ele sentiu que precisava conviver intimamente com ela para o resto de sua vida. De fato, como vivenciam os músicos e os artistas plásticos, através do hemisfério cerebral não verbal, as imagens estão mais perto do centro da psique que o pensamento e, por isso, elas têm uma carga energética mais carregada arquetipicamente que o pensamento discriminado. A imagem de Filemon, sua barba, seus chifres, suas asas e seu semblante de sabedoria, por exemplo, nos dá um impacto estético e emocional que necessitaria de um livro para explicar. Para mim, foi definitivamente significativo que meus cinco anos de análise em Zurique tenham sido marcados por quatro pinturas de imagens de sonhos e fantasias, as quais revisito às vezes, sempre com grande impacto na vivência dos seus significados. Já quando penso racionalmente nesses significados, a emoção que me despertam é muito mais diluída. Quero crer que isso se dê porque a carga arquetípica simbólica da imagem tende a ser mais concentrada e arcaica do que a palavra racional.
As técnicas psicoterapêuticas modernas parecem se desenvolver cada vez mais em direção à vivência: técnicas corporais dramáticas para expressar a emoção; técnicas baseadas na imaginação; técnicas plásticas, como a caixa de areia e as marionetes; técnicas oraculares; técnicas produzindo alterações dos estados de consciência e técnicas verbais a serviço da imaginação como, por exemplo, escrever cartas aos complexos. A busca dos significados simbólicos é desempenhada muito mais pela mobilização dos símbolos, dentro de sua elaboração, do que por sua interpretação racional, mesmo sendo esta levada a cabo por meio de associações, sejam elas feitas pelo método da associação livre, de Freud, ou pelo método da amplificação, de Jung. Parece-me que a capacidade da elaboração racional exclusiva para causar transformação psíquica chegou ao seu limite. Se isso assim é, o caminho do desenvolvimento da técnica psicoterápica é o caminho da mobilização da vivência pelas técnicas expressivas. O grande problema desse caminho, como já estamos hoje constatando, é o apresamento das técnicas expressivas pela psicologia comportamental e seu uso ser racionalmente dirigido contra sintomas, com o esvaziamento dos símbolos e sua transformação em meros sinais a serem cognitivamente manejados. Quando isso é feito, a Psiquiatria e a Psicologia perdem a dimensão simbólica enriquecida pelos achados inconscientes durante o século XX, ressignifica-se mediocremente o tratamento da doença mental e mutila-se a dimensão psíquica teórica.
A onipotência do novo e o reacionarismo do velho
Como todas as inovações, o emprego das técnicas expressivas também desencadeia uma polarização entre o novo e o velho. As técnicas expressivas estão surgindo em cada esquina hoje, não como técnicas expressivas da elaboração simbólica que são, mas como métodos alternativos de terapia, com início e fim em si próprios. Vivências corporais, hipnose, polipneia com imaginação, caixa de areia, runas, tarot, pintura, poesia, canto e dança, em psicoterapia, são técnicas expressivas. No entanto, estão sendo empregadas como terapias em si. Nossa atual adição ao consumo de novidades não perde a oportunidade para aclamar cada técnica como a última novidade e maravilha curativa para os distúrbios psíquicos.
Essa atitude extrapola o emprego das técnicas expressivas para além de suas fronteiras e elas passam a ser exercidas de qualquer maneira por qualquer pessoa sem enquadre teórico ou responsabilidade pelas consequências do seu emprego na personalidade. Nesse caso, as técnicas expressivas são exercidas dentro da psicoterapia irresponsável ou "psicoterapia selvagem" (Freud). É como se aplicássemos vacinas ou medicamentos injetáveis, fora do contexto científico, ignorando as descobertas da microbiologia e, por isso, usando agulhas não esterilizadas. Aliás, é assim que a epidemia de Aids vem se alastrando de forma dramática na África. Para que as técnicas expressivas sejam usadas de forma responsável, posto que integradas às descobertas da Psicologia, elas necessitam, a meu ver, ser exercidas levando em conta os seguintes parâmetros:
1. Todas as coisas e vivências são símbolos e funções estruturantes arquetípicos (pessoais e impessoais, individuais e coletivos) do Self, e as técnicas expressivas também.
2. Os símbolos e funções estruturantes operam na elaboração simbólica do Processo de Individuação dentro do Processo de Humanização do Cosmos, assim como as técnicas expressivas.
3. A interação da polaridade consciente-inconsciente nos símbolos e funções estruturantes e também no emprego de todas as técnicas expressivas.
4. A interação das estruturas criativas e das estruturas defensivas ocorre em toda elaboração simbólica e, por isso, sempre também no emprego das técnicas expressivas.
5. A transferência (conceito ampliado para englobar a interação da transferência criativa e defensiva do analista e do analisando, dentro do Self Terapêutico) existe em qualquer atividade humana e deve ser percebida na relação terapêutica também durante o emprego das técnicas expressivas.
6. A análise didática do psicoterapeuta é indispensável para a psicoterapia e para o uso das técnicas expressivas.
Tudo o que for dito neste trabalho sobre psicoterapia e técnicas expressivas situa-se dentro da moldura teórico-operacional destes seis parâmetros. Quando as técnicas expressivas são empregadas fora desses seis parâmetros na psicoterapia, sua prática tende a ser onipotente, perigosa, irresponsável e não tão produtiva quanto pode ser. "Ciência sem consciência é a ruína da alma", escreveu Montaigne (1533-1592) ainda no Renascimento.
O crescimento atual deste emprego onipotente e charlatanesco das técnicas expressivas está sendo favorecido indiretamente por analistas e instituições de formação de analistas, que se apegam de maneira intolerante ao método tradicional de elaboração verbal, declarando que algumas ou todas as técnicas expressivas não são analíticas. Muitos analistas até hoje consideram as técnicas expressivas atuações onipotentes do analista que reforçam defesas. Esta ortodoxia reacionária impede que os jovens analistas aprendam estas técnicas em seminários, supervisões e análises didáticas. Qual um senex castrador, esta conduta tem atrasado o desenvolvimento da técnica psicoterápica nas instituições de formação de terapeutas e tem estimulado pacientes a buscar estas técnicas entre profissionais que não têm uma formação analítica adequada.
As técnicas expressivas na formação de analistas da SBPA
Tendo retornado ao Brasil em 1966, após minha formação em Zurique, tive a oportunidade de participar de cursos, seminários e supervisões de terapia de grupo, casal e família com analistas argentinos. Um deles, Fidel Moccio, coordenou workshops (MOCCIO; MARRODAN, 1976) com técnicas expressivas de desenho, pintura, dramatizações e imaginação integradas no referencial psicanalítico.
Em 1978, quando nosso grupo de São Paulo e do Rio de Janeiro foi admitido na Sociedade Internacional de Psicologia Analítica como a SBPA, incluí técnicas expressivas em nosso programa de formação para serem empregadas não somente em terapia, como também como técnicas pedagógicas para propiciar a vivência da teoria psicológica ensinada em seminários e supervisões.
Esta inovação criou um problema com outros analistas vindos de Zurique, que não consideravam admissíveis muitas técnicas expressivas, como as técnicas psicodramáticas e a própria psicoterapia de grupo dentro de uma análise Junguiana. Neste sentido, tive um grande alívio e prazer quando assisti neste Congresso (1992) ao trabalho de Ellynor e Helmut Barz sobre a introdução do psicodrama para grupos de analistas em formação no Instituto Jung de Zurique (Küsnacht).
As técnicas expressivas x Elaboração racional
Frequentemente as situações psicológicas têm que ser trabalhadas para elaborar seus símbolos em meio a defesas fortemente estruturadas. Este processo de elaboração simbólica envolve a interação das estruturas criativas e defensivas para formar, transformar e expressar a polaridade Ego-Outro a partir de símbolos situados dominantes tanto na Consciência, quanto na Sombra (Figura).
A polaridade Ego-Outro emerge e se discrimina a partir da elaboração simbólica, passando de um estado de indiscriminação para o de discriminação, que pode ser vivenciado em cinco posições Ego-Outro: indiferenciada, insular, polarizada, dialética e contemplativa (BYINGTOM, 1990). Este processo é longo e complexo, existindo ao longo do eixo Ego/Outro-Arquétipo Central, símbolos sem conta nos mais variados graus de discriminação. Frequentemente, vemos partes de símbolos em estágios diferentes de discriminação, podendo algumas partes estar na consciência e outras, do mesmo símbolo, na Sombra circunstancial ou cronificada. Assim, os símbolos que são constelados na terapia estão em níveis diferentes de discriminação Ego-Outro. Podem ser acessíveis ao Ego diretamente na Consciência ou na Sombra formada por defesas circunstanciais, ou podem estar afastados do Ego por defesas cronificadas e, assim, apresentar intensa resistência para a sua elaboração. Os símbolos na Sombra apresentam-se em várias modalidades de distorção que são incompatíveis com o processo lógico da consciência. Como falar com o Ego consciente sobre uma parte de símbolo de agressividade que contém muitas polaridades Ego-Outro indiferenciadamente aglutinadas na Sombra? Como explicar ao Ego consciente uma defesa de identificação com o agressor, na qual o Ego se acha em posição invertida com o Outro na Sombra cronificada?
Quando o terapeuta elabora um símbolo verbalmente, ele faz o confronto do símbolo com o Ego consciente para continuar sua elaboração simbólica e propiciar a formação das várias polaridades Ego-Outro, contidas no símbolo, integrando-as à Consciência. A elaboração verbal confronta, então, dois estados psicológicos muito diferentes. Um refere-se ao Ego-Outro mais diferenciado. O segundo inclui o símbolo constelado com suas polaridades Ego-Outro em vários níveis de indiferenciação ou, como quer a Psicanálise, de regressão. A elaboração simbólica verbal é propiciada pela atmosfera do Self terapêutico e pela repetição das interpretações. A proposta é simples, mas as dificuldades são muito grandes, porque os dois estados podem estar em níveis de discriminação muito diferentes, sobretudo quando a indiscriminação a ser elaborada está na Sombra cronificada. A duração da terapia e a dificuldade de a interpretação racional atingir o Ego da Sombra podem fazer com que o terapeuta repita muitas vezes a mesma interpretação. Quando isso ocorre, o analisando pode adaptar sua conduta à interpretação para satisfazer o analista, sem, na realidade, resgatar o símbolo fixado e realmente se transformar. Esta ocorrência é muito frequente nas longas terapias psicanalíticas exclusivamente verbais. Seu resultado é desastroso do ponto de vista da psicoterapia profunda, que, dessa maneira, se transforma em terapia comportamental, mesmo que isso seja a última coisa que o analista queira.
Sem técnicas expressivas para elaborar símbolos muitos fixados, a tendência a ficarmos em racionalizações interpretativas é muito grande. Isto para não falar em símbolos como os das fobias, do pânico ou de depressões mais intensas que as associações verbais não conseguem atingir e para os quais as técnicas expressivas são imprescindíveis.
Não devemos confundir qualquer manifestação verbal do terapeuta com interpretação. Interpretar é afirmar um significado novo. Inclusive, devemos reconhecer enfaticamente que a associação livre e a amplificação são formas verbais de elaboração simbólica e não de interpretação. Muitos terapeutas que interpretam muito pouco realizam muita elaboração simbólica verbalmente. No entanto, devemos reconhecer também que o analista que solicita o uso da imaginação do paciente já está praticando uma técnica expressiva não verbal.
A elaboração exclusivamente verbal cria frequentemente uma ilusão de compreensão que aliena o paciente da função transcendente e da raiz arquetípica dos símbolos. Dentro desta ilusão enfeitada de inteligência, vaidade, cultura, exibicionismo e admiração em graus variáveis, o analisando pode aceitar interpretações, que não vivencia, para satisfazer o analista e se mostrar também inteligente. Com o tempo, mesmo que o analista não empregue termos técnicos, pode-se formar uma rede de significados na relação terapêutica, que dificulta a elaboração simbólica e aliena o analisando do seu processo de individuação.
A escolha de uma técnica expressiva pela primeira vez é certamente uma tomada de iniciativa do analista no processo. Para muitos, isso é uma atitude defensiva, onipotente e uma intrusão alienante. Isso de fato pode ocorrer, mas não obrigatoriamente. Por outro lado, devemos reconhecer que a elaboração verbal também pode ser defensiva, onipotente, e até mesmo uma intrusão que violenta o processo. Como para mim tudo é símbolo, não tenho a menor dificuldade de ver o silêncio do analista podendo significar, além de paciência, continência e receptividade, também omissão, covardia, ignorância, mediocridade, falta de sensibilidade, preguiça e até defesa. A noção clássica de que a iniciativa do analista é sempre onipotente e intrusiva é redutiva, tende a mediocrizar a atividade terapêutica e a cercear a capacidade dos terapeutas mais criativos.
Não quero dizer que o emprego das técnicas expressivas e todas as iniciativas criativas do analista não possam fortalecer defesas e alienar o paciente no seu processo. Mas isso, a passividade, a omissão e a elaboração verbal também podem. Tudo na psique pode ser criativo e defensivo, pode favorecer a autenticidade ou a alienação, tanto por meio da ação, quanto da omissão. No caso das técnicas expressivas, vejo muito mais vantagem no analista se expor junto com o paciente do que no analista não participativo. Isso faz com que a Sombra e as defesas do analista também fiquem mais aparentes, permitindo que ele próprio as perceba melhor e as elabore. As técnicas expressivas ajudam o analista a se livrar da pose do sabe tudo. Nesse sentido, acho que, teoricamente, o analista exclusivamente verbal e menos participativo pode ter a mesma quantidade de Sombra e defesa, mas pode escondê-las melhor, até mesmo de si próprio. Ora, dentro do conceito junguiano de identificação arquetípica analista-analisando (JUNG, 1981) a terapia não participativa é muito mais perigosa e traiçoeira para esconder a Sombra do analista do que a técnica participativa.
No livro Psicologia da Transferência, Jung (1981) situa claramente a psicoterapia dentro do processo de individuação. Assim, a análise junguiana deve ser uma iniciação para a pessoa aprender e depois continuar para o resto da vida relacionando-se com os símbolos dos seus sonhos, de suas fantasias e da sua vida de um modo geral. Aprendi, por experiência própria, que a elaboração exclusivamente verbal acostuma o analisando a depender do analista para obter significados. Essa simbiose, no início da terapia, é geralmente criativa, mas, com o tempo, pode se tornar defensiva. Esta simbiose está baseada na projeção do Arquétipo da Função Transcendente do analisando no analista e na introjeção deste arquétipo pelo analista. Na eventualidade de esta simbiose se tornar defensiva, a projeção do analisando e a introjeção do analista também tendem a sê-lo. Nesse caso, ao terminar a análise, o analisando ficará dissociado de sua função transcendente, deixando-a defensivamente projetada no analista, com o consequente prejuízo do seu processo de individuação. O analista, por sua vez, ao introjetar defensivamente a função transcendente, se apossa, qual um vampiro, da ligação do Ego do analisando com o Arquétipo Central. Este é um dos grandes perigos que corre o processo de individuação durante a psicoterapia.
Muitos analisandos levam anos para descobrir que a explicação dos seus símbolos ajudou a compreender, mas não transformou a sua personalidade. É que, como estes símbolos não foram vivenciados e profundamente elaborados, as explicações formam uma camada de pensamentos independentes da sua conduta. Os analisandos aprendem as interpretações, passam-nas adiante fascinando ou infernizando amigos e familiares, mas na realidade não mudam. A interpretação pode criar uma falsa impressão, até mesmo para o próprio analista, de que a finalidade da vida psíquica é ser explicada e conhecida, e não primeiramente experienciada para somente depois ser explicada - quando for o caso. As técnicas expressivas favorecem muito a constelação do dinamismo matriarcal na análise, enquanto que a elaboração racional pode favorecer o dinamismo patriarcal em detrimento da vivência básica matriarcal.
Devemos diferenciar o emprego das técnicas expressivas para símbolos a serem elaborados ou símbolos já elaborados. Nos dois casos, o uso da técnica expressiva pode suceder a elaboração simbólica verbal. Trata-se, sem dúvida, de situações radicalmente diferentes que o timing do emprego da técnica expressiva tem que levar em conta. No primeiro caso, as técnicas expressivas têm um enorme poder de intensificar a elaboração simbólica porque elas ativam a raiz arquetípica dos símbolos pela mobilização de dimensões pouco acessíveis à palavra. No segundo caso, as técnicas expressivas também podem ser indicadas, porque elas ampliam o contexto da elaboração simbólica, indo muito além do contexto verbal. Sabemos que a dimensão simbólica se estende muito além das ideias e emoções (BYINGTON, 1987). As dimensões corporal, social e da natureza acrescentam componentes cheios de significados, bem como os sons, o silêncio. Muitos símbolos nessas dimensões ficam distantes na elaboração verbal e se tornam acessíveis e recebem mais continente para elaboração com as técnicas expressivas.
Três séculos de racionalismo materialista inflacionaram o poder da palavra, empobrecendo seus significados e tornando-a frequentemente algo automático e sem vida. As técnicas expressivas podem revivificar palavras que haviam perdido sua riqueza simbólica e se transformado em meros sinais. O próprio fato de haver movimentação corporal-espacial no setting terapêutico já é um fator energizador do processo e uma ampliação significativa do contexto de elaboração.
Existe uma forma de o terapeuta pesquisar a eficácia das técnicas expressivas na sua prática diária. Trata-se de o analista elaborar um símbolo verbalmente em associações livres e amplificações. Em seguida, lança mão de uma técnica expressiva e, no final, compara a obtenção dos significados com aqueles registrados na elaboração verbal. Até mesmo no caso de interpretações que me pareciam óbvias, sempre consigo mais significados com as técnicas expressivas. Esta me parece ser "a prova dos nove" para qualquer analista aferir o valor das técnicas expressivas.
O uso das técnicas expressivas solicita o desempenho da criatividade do analista. Se desempenhadas dentro dos seis parâmetros acima referidos, as técnicas expressivas aumentam muito o conhecimento do paciente, como também o autoconhecimento do terapeuta. Devido à sua pujança criativa, elas ativam a Função Transcendente do analista e do analisando e permitem um grande enriquecimento da elaboração simbólica no Self terapêutico. Essa maior criatividade propicia uma diminuição dos estereótipos de significados que tendemos a adotar com os anos de atividade profissional. Nesse sentido, as técnicas expressivas, quando bem usadas, são uma fonte permanente do rejuvenescimento, crescimento e autoavaliação do terapeuta. Até mesmo a posição permanentemente sentada do terapeuta, na elaboração exclusivamente verbal, tende a ser um fator físico e psíquico, por si só, empobrecedor e estagnador do terapeuta ao longo dos anos.
Os cuidados especiais com as técnicas expressivas
Como regra geral no emprego das técnicas expressivas, nunca podemos esquecer de que elas com frequência funcionam como um multiplicador da vivência simbólica e, por isso, podem precipitar o agravamento de quadros defensivos e sua sintomatologia clínica neurótica, psicopática, borderline e até mesmo psicótica. Por conseguinte, devemos sempre procurar conhecer a personalidade de um paciente por meio de sua história normal e patológica e da convivência com ele, seus sonhos, suas crises, suas análises anteriores. É importante alguma compreensão da sua dinâmica atual, identificando-se, pelo menos em linhas gerais, suas principais defesas, a extensão possível de sua Sombra circunstancial e cronificada e a interrelação de suas estruturas criativas e defensivas, antes de empregarmos qualquer técnica expressiva. Nesse período inicial, o analista deve ser predominantemente passivo, cauteloso e muito mais observador que participante.
O início do emprego de qualquer técnica expressiva, além de cauteloso, deve ser "homeopático" para se poder observar, no final da sessão e na sessão seguinte, as reações do paciente, o agravamento ou não das suas defesas e sintomas e os seus sonhos e fantasias, inclusive na relação transferencial. Dependendo das reações observadas, avançamos ou recuamos no uso das técnicas expressivas. Durante toda a terapia, essa conduta será mantida, como quem aumenta ou diminui a intensidade da chama que mantém a transformação de um processo. Todo o cuidado é pouco, sobretudo para os principiantes.
Segunda parte
As marionetes do Self
Esta técnica se baseia nas tradições da ludoterapia, incluindo a caixa de areia. Sua originalidade está na amplitude da sua representatividade dinâmica no Self terapêutico, delineando expressivamente a interação das estruturas criativas e defensivas e a dinâmica da relação transferencial, bem como na sua interação com todas as demais técnicas psicoterápicas.
As pessoas como, por exemplo, o paciente, os membros da família e o terapeuta, são representadas por bonecos, que podem ser de pano, medindo cerca de 20 centímetros, como aqueles que encontramos em lojas de artigos de ludoterapia.
Recomendo que todas as demais figuras sejam proporcionais ou maiores que as figuras humanas. Não recomendo, por exemplo, animais como leões ou gorilas em dimensões desproporcionais, menores que sua proporção normal em relação à figura humana. Uma aranha, por ser um inseto amedrontador, pode ser representada por uma aranha gigante, desproporcionalmente grande para as figuras humanas, mas nunca desproporcionalmente pequena ou até normalmente pequena. Isso prejudica a expressividade dramática da representação. Há que se imaginar que cada figura poderia ter um papel dramático num teatro de marionetes. A diferença é que as nossas marionetes representarão psicodinamicamente o drama do Self individual ou grupal, terapêutico ou pedagógico, dependendo do caso em que esta técnica expressiva seja empregada.
A coleção de marionetes
As marionetes podem ser dispostas em prateleiras e no chão em frente a uma das paredes da sala do consultório. Quanto mais beleza estética tiverem, mais atraentes serão para as representações. Os museus de História Natural estão produzindo para a venda miniaturas de animais de couro e pelo, muito apropriadas para este fim.
A coleção irá crescendo com as compras aqui ou em viagens e as contribuições de amigos e pacientes. Com o tempo, elas se tornam até um bom tema para presentes de aniversário...
Escolha da técnica
A escolha de uma técnica expressiva deve acontecer por sincronicidade, como qualquer timing na perspectiva plenamente simbólica. Geralmente, os pacientes veem as marionetes na primeira sessão de terapia e nada dizem. Ao começar a se fortalecer a aliança terapêutica, podem perguntar quando usarão as figuras. As técnicas expressivas iniciais podem ser técnicas simples, como a pintura de imagens, a representação de situações por almofadas e certas dramatizações, como role-playing com participação do analista. Com o tempo, vem a imaginação ativa e as marionetes. Por vezes, uma ou outra figura mais expressiva pode ser usada para a imaginação ativa. Isto não é uma regra. É apenas um dos muitos caminhos possíveis.
As técnicas expressivas, inicialmente, são propostas pelo analista e o ideal é que o paciente aprenda com o tempo o seu emprego, a ponto de sentir que delas dispõe para a sua expressividade.
O emprego da técnica das marionetes
Dentro da terapia individual, de casal ou de família, da supervisão ou do ensino, as marionetes são destinadas a expressar o Self terapêutico ou grupal por inteiro e, por isso, são denominadas as marionetes do Self. Podem ser empregadas também pelo terapeuta para representar seu estado psicológico no final de um dia de trabalho. Nesse caso, sua associação com a imaginação ativa é muito produtiva.
A montagem deve ser disposta em lugar privilegiado da sala, de preferência no centro. Seu simbolismo é, nesse caso, muito significativo, pois as paredes da sala formarão uma mandala à sua volta.
As figuras humanas devem ser colocadas antes das demais figuras, que representarão os complexos constelados criativa ou defensivamente. Esta polaridade entre a figura humana e as outras figuras a serem elaboradas já é, por si só, um enquadre que propicia o processo de elaboração. Podemos dizer que as Marionetes do Self incluem também a plateia, o diretor e o teatro.
A colocação das figuras humanas (sentadas e apoiadas em pedaços de madeira ou pedras, se forem de pano) dá início ao processo de montagem. A figura do paciente é imprescindível. A figura do terapeuta também deve estar sempre presente para a expressão da relação transferencial. As demais figuras serão escolhidas para representar problemas, emoções, defesas. Pessoas já falecidas podem ser colocadas deitadas. Assim, não se deve colocar a figura da morte para representar uma pessoa que morreu. A representação da morte deve ser colocada quando existe um problema com a morte que necessita elaboração, como no caso do luto patológico. O simbolismo espacial deve ser aproveitado. Figuras próximas podem dar a conotação de intimidade. Figuras distantes podem indicar a dificuldade da sua elaboração. Figuras enormes, elaboração muito difícil. Posição atrás das pessoas, conotação inconsciente, e assim por diante. Nenhum significado é fixo. Tudo é simbólico e passível de incontáveis empregos dentro da variação dos significados.
A montagem é feita em conjunto. No início, o terapeuta pode ser mais ativo, mas sempre dando espaço e propiciando as manifestações do analisando. A elaboração simbólica já é intensa durante a montagem. A escolha de determinados símbolos para representar emoções, complexos ou situações pode desencadear defesas e reações transferenciais importantes para a elaboração. Como em qualquer técnica expressiva, a participação do terapeuta tem a finalidade de apresentar a terapia como um processo a dois e de evitar que o paciente seja reduzido a um participante observado. A proposta é que o analisando e o analista se tornem cada vez mais observadores participantes.
A montagem, por sua própria Gestalt, já pode sugerir o passo seguinte da elaboração simbólica, que pode ser verbal ou qualquer outra técnica, como a dramatização ou a imaginação ativa escrita ou abstrata.
Técnicas expressivas e estados alterados da consciência - hipnose, hiperventilação e drogas
As técnicas expressivas são capazes de neutralizar defesas vigentes e facilitar a elaboração simbólica. No entanto, é exatamente nesse poder das técnicas expressivas que reside o seu perigo de precipitar constelação de defesas mais graves para operacionalizar a Sombra exposta, principalmente quando se trata de técnicas que alteram o funcionamento habitual da consciência. O poder das técnicas expressivas reside normalmente, como já mencionamos, na sua capacidade de aumentar a carga energética dos símbolos e trazê-los para o aqui-e-agora da sessão terapêutica, o que permite maior eficiência da elaboração simbólica. Quando alteram o estado da consciência, acrescentamos um outro fator ao Eixo Simbólico representado pelo esquema no final. Neste caso, alteramos a acuidade da consciência, que participa e recebe o resultado da elaboração simbólica e, assim fazendo, propiciamos a entrada na consciência de uma carga maior de características inconscientes, que estão presentes em todos os símbolos, mas que atingem uma intensidade maior quanto mais graves forem as defesas que os operacionalizam na Sombra. Por isso, é uma regra geral que as técnicas expressivas estão vetadas antes de termos uma segurança de uma boa estruturação do Ego. Adquirimos esta noção pela elaboração simbólica verbal de símbolos fixados na Sombra. Portanto, as técnicas expressivas não devem ser usadas quando há sonhos sugestivos de desestruturação.
A hipnose e a hiperventilação são técnicas expressivas das mais poderosas. Devem ser empregadas somente por terapeutas experientes, com o máximo de cuidado, e somente depois que outras técnicas já tenham sido empregadas. O uso de drogas químicas, que foram legalmente usadas na década de 1960, como, por exemplo, o ácido lisérgico, não podem mais ser usadas hoje no Brasil, por estarem na ilegalidade. A elaboração simbólica dos psicofármacos que os pacientes estejam tomando como medicação coadjuvante, no entanto, pode e deve ser feita. São impressionantes os estados de alteração de consciência que produzem e que, sem elaboração, podem passar despercebidos. Paciente e psiquiatra frequentemente analisam sua ação só em função da alteração dos sintomas. No entanto, quando considerados simbolicamente como sendo uma técnica expressiva, os psicofármacos podem ser incorporados ao todo do processo de elaboração em andamento na terapia, inclusive no funcionamento maior ou menor das estruturas defensivas, como no exemplo que se segue.
Um paciente de 50 anos e com vários casos de depressão na família apresentou depressão unipolar após sua separação conjugal. Chorava muito, tinha insônia terminal e apresentava intensa diminuição da psicomotricidade. Estava em análise há dois anos e havia se separado por ter confrontado problemas graves e insolúveis na sua relação conjugal. Ao ser iniciada a medicação antidepressiva (imipramina) prescrita por uma colega por mim indicada, o paciente apresentou uma ambivalência com o alívio que sentiu dos sintomas depressivos. A elaboração com as marionetes, dramatização e imaginação ativa mostrou que, quando se respaldava na medicação e queria retomar a maneira neurótica como vivia no casamento, tendia a piorar dos sintomas e precisava aumentar a dose da medicação. Por outro lado, quando se apoiava na medicação para abandonar a conduta neurótica, melhorava muito da depressão e podia diminuir a dose da medicação. Percebemos, então, o antidepressivo como um símbolo de força, que podia ser vivenciado defensiva ou criativamente, dependendo de como o paciente o usava. Esta elaboração foi decisiva para sua transformação e a suspensão posterior da medicação.
Um dos grandes valores das marionetes é se poder vê-las durante a elaboração por outras técnicas, as dramatizações, por exemplo, e continuar a observá-las quando analista e analisando retornam às suas cadeiras para continuar a elaboração verbalmente.
As técnicas expressivas, as marionetes incluídas, devem ser localizadas no meio da sessão. A montagem das marionetes deve permanecer até o final e serem, então, desmontadas pelo analista e pelo analisando. Dentro de uma sessão de 50 minutos, costumo empregar os primeiros 10 a 15 para saber como está o paciente naquela sessão, os acontecimentos existenciais e os sonhos tidos desde a última sessão. Estes acontecimentos podem requerer a elaboração exclusivamente verbal durante o resto da sessão, caso as vivências já estejam por si só bastante mobilizadas.
Procuro nunca empregar uma técnica expressiva dentro de uma situação transferencial indiscriminada, principalmente no caso da transferência defensiva negativa do paciente. Privilegio a elaboração verbal para a problemática transferencial, antes, durante e depois das técnicas expressivas. A elaboração transferencial durante uma técnica expressiva requer sua interrupção, ao menos temporariamente. Nesse caso, volto às cadeiras para assinalar e pontuar essa interrupção. Estas considerações são linhas gerais que podem ser mudadas em função das necessidades da estratégia terapêutica. Não se pode esquecer que o estilo, o timing e as preferências de cada terapeuta por diferentes técnicas fazem parte do seu processo de individuação no nível profissional.
Recorro às técnicas expressivas quando sinto que a elaboração verbal se esgotou e que os símbolos ativados apresentam conteúdos que "pedem" (beg = implorar, em inglês, é muito expressivo) a continuação da elaboração. Prefiro empregá-las no meio da sessão, deixando os 15 minutos finais para a elaboração verbal na posição sentada normalmente adotada. Essa elaboração verbal deve incluir sempre a relação transferencial do analisando para impedir a eventual formação de Sombra na relação terapêutica, em função da maneira como o analista participou da técnica expressiva. Caso o fechamento da sessão esteja mal-acabado e necessite de mais elaboração verbal, sobram os 10 minutos de intervalo para a sessão seguinte, que podemos aproveitar, quando deles dispomos. É importante levarmos em conta se o paciente sai da sessão para dirigir um carro na estrada ou na cidade, ou para atender compromissos de responsabilidade que por si só já sejam intensamente mobilizadores.
As técnicas expressivas podem ser aprendidas individualmente ou em grupos, mas o ideal é que sejam experienciadas durante a análise didática do terapeuta.
Terceira parte
A elaboração teórica da resistência às técnicas expressivas no self cultural
Quero assinalar que a grande dificuldade e resistência tradicional de analistas empregarem as técnicas expressivas se enraíza, a meu ver, nos dois maiores redutivismos da psicologia dinâmica: no redutivismo do símbolo ao subjetivo (BYINGTON, 1987) e no redutivismo dos conceitos de Id e Arquétipo ao inconsciente.
Sabemos dos redutivismos tradicionais à sexualidade; à literalidade, também chamada reificação (pais, pênis, ansiedade de castração, cena primária, por exemplo), à infância ou à causalidade, à patologia, ao moralismo (inveja e agressividade reduzidas ao instinto de morte ou abstrações igualadas aos valores espirituais, por exemplo) e à transferência.
A setorização ou a valorização privilegiada de uma dimensão psíquica, como, por exemplo, a infância, oriunda da descoberta genial de Freud da formação e deformação do Ego pelas relações primárias, não é por si só defensiva. Estes exemplos de redutivismo defensivo, acima enumerados, enraízam-se nas maiores descobertas da psicologia moderna. A defesa redutivista instala-se quando o todo psíquico é explicado exclusivamente pelo setor em questão. O poder mutilador da defesa redutivista é enorme exatamente porque ela expressa símbolos e funções estruturantes da maior importância.
Estes redutivismos acima citados já têm sido bem identificados e razoavelmente elaborados (BYINGTON, 1990), apesar de, infelizmente, continuarem sendo fartamente exercidos. É difícil para o Ego abrir mão dos redutivismos, porque eles lhe dão a impressão de que o Self é menor do que é, e o Ego com isso se sente menos inferiorizado diante da grandiosidade misteriosa e transcendente da vivência simbólica, que relaciona o Ego e os arquétipos dentro do Self.
A função estruturante criativa por trás do redutivismo é a setorização. Ela permite trabalhar os símbolos em compartimentos do Self, o que é importante na elaboração. O ser humano não é jiboia. Só podemos comer um boi aos bifes. Quando a setorização explica o boi só pelo gosto do bife, no entanto, a função estruturante criativa passa à defensiva.
A setorização criativa é característica dos dinamismos matriarcal e patriarcal, podendo aí, ocasionalmente, tornar-se defensiva. Na prática da alteridade, a setorização criativa tem mais probabilidade de se tornar defensiva, porque o apego aos dinamismos matriarcal e patriarcal dificulta a elaboração dialética das polaridades dentro do todo, requisito essencial da Alteridade (BYINGTOM, 1990).
O fato de os pensamentos científico, sistêmico e holístico (oriundos do dinamismo de alteridade) serem hoje cada vez mais empregados para conhecer os fenômenos humanos no ecossistema planetário é que tornou a defesa redutivista tão mutiladora para o pensamento moderno. Nesse contexto, a defesa redutivista, operando dominantemente no dinamismo de alteridade, se tornou o câncer do saber moderno e a grande expressão da defesa onipotente racionalista tão comum hoje entre nós.
O redutivismo do símbolo ao subjetivo
Este gravíssimo redutivismo se originou na separação sujeito/objeto inerente à matematização e maquinização do conhecimento científico, como descreveu Capra (1982), mas também, como tenho insistido (BYINGTON, 1987), nas consequências da dissociação subjetivo-objetivo que acompanhou a separação entre a ciência e a Igreja no final do século XVIII.
A preocupação de Jung em reunir o subjetivo-objetivo em sua obra foi imensa. Para tal, trilhou três grandes abordagens expressas nos conceitos de Unus Mundus (JUNG, 1963) sincronicidade (JUNG, 1960b) e psicoide (JUNG, 1960a).
Esta abordagem de Jung tenta incluir o mundo objetivo ("a natureza") numa relação dialética com o subjetivo dentro de um todo, sem, contudo, denunciar sua dissociação histórica e sem enfrentá-la na sua raiz conceitual. Isto leva, sem querer, à ratificação deste redutivismo, porque, primeiro, se considera como fato que dentro é igual a subjetivo-psíquico e fora é igual a objetivo-não psíquico, para depois se tentar conceituar que tanto dentro quanto fora pertencem à mesma dimensão, demonstrado "milagrosamente" pela sincronicidade, pelo Unus Mundus, ou pelo psicoide.
Para elaborar esta ambiguidade, que só consegue perpetuar o redutivismo da psique ao subjetivo, e da natureza ao objetivo, amplifiquei o conceito de símbolo para englobar, a priori, à dimensão subjetivo-objetivo. Esta inovação me permitiu formular uma conceituação de epistemologia simbólica e de ciência simbólica (BYINGTON, 1987).
Esta modificação conceitual do símbolo me parece o passo fundamental para a integração da psicologia na ontologia, como propõe Heidegger (1962), dentro da qual o "ser-aqui é ser-no-mundo" (HEIDEGGER, 1962) e da filosofia da ciência, como descreveu Teilhard de Chardin (1962), na qual a consciência é o resultado da complexificação da matéria e é, por conseguinte, inseparável da natureza.
Assim, a psique já é no mundo, isto é, a psique é dentro e fora porque o símbolo que é a sua expressão essencial é sujeito e objeto.
A polaridade Ego-Outro, quando relacionada com a polaridade dentro-fora, nos mostra, agora sim, que o Ego corresponde ao dentro e o Outro, ao fora. Ambos, porém, Ego-Outro e dentro-fora pertencem ao Self psíquico através de cada símbolo que os engloba. Um rinoceronte, por exemplo, como símbolo vivenciado num sonho ou numa visita ao zoológico, ao ser elaborado, trará características ao Ego pela introjeção e ao Outro pela projeção. Por mais que se estude e se conheça as características objetivas dos rinocerontes, isso fará discriminar e crescer a polaridade Ego-Outro na consciência, mas em momento algum fará o rinoceronte sair do símbolo do Self. A diferença psicológica entre o símbolo do rinoceronte e do unicórnio, por exemplo, não é que o unicórnio seja dentro e o rinoceronte seja fora, pois ambos são dentro e fora. A diferença está na propriedade da concretude que o símbolo do rinoceronte tem e que o unicórnio não tem e isso o torna um animal exclusivamente fantástico.
A partir do exemplo acima, podemos compreender que as técnicas expressivas, inclusive os psicofármacos, apesar de terem características objetivas inegáveis, quando percebidas simbolicamente, estão claramente dentro do Self. Podemos dizer, então, que os psicofármacos são símbolos que apresentam características e efeitos diferentes devido à variação da composição química da sua concretude. Não só os placebos têm componentes subjetivos. Os psicofármacos os têm também em alto grau. Os efeitos de ambos podem ser grandemente influenciados pela transferência criativa do médico e do paciente.
A importância desta ontologização da psicologia dinâmica, neste trabalho, com a ampliação do conceito de símbolo, será percebida plenamente adiante quando considerarmos a psicofarmacologia e as técnicas behavioristas como símbolos, funções e sistemas estruturantes que podem ser incluídos nas técnicas expressivas. Antes, porém, precisamos abordar o outro imenso redutivismo da psicologia dinâmica.
O redutivismo do Id e do arquétipo ao inconsciente
No meu entender, quando Joseph Breuer e Bertha Pappenheim (Anna O.) (BREUER, J. FREUD, 1974), através da hipnose (talking cure e chimney sweeping), chegaram à associação da hidrofobia com a lembrança do cãozinho de sua governanta, bebendo água num copo (BREUER; FREUD, 1974), descobriu-se algo muito mais importante do que o inconsciente dinâmico. Naquele momento, desvelou-se para a ciência moderna, pela segunda vez, o poder criativo da psique, presente tanto na consciência quanto no inconsciente. Um século antes, essa imensa capacidade criativa havia sido descoberta no Mesmerismo. Ainda que em grau muito maior na primeira do que na segunda, nestas duas oportunidades históricas não havia ainda suficiente capacidade do Ego para reconhecer devidamente a pujança do fenômeno psíquico. O kairos, o momento do encontro do Ego com sua transcendência arquetípica, dentro da ciência, ainda não havia chegado.
Foi uma sincronicidade que Phillipe Pinel, o psiquiatra que abriu as portas da medicina para receber os loucos dos calabouços tenha chegado a Paris em 1778, no mesmo ano em que Anton Mesmer, o médico vienense capaz de "tratar" plateias inteiras com seu bastão e uma armação de ferros e espelhos. Uma técnica expressiva mais para circo do que para consultório.
O fascínio coletivo exercido por Mesmer e sua teoria do magnetismo animal obrigou a mais importante comunidade científica da época a tomar posição. A Academia de Ciências (Paris) nomeou uma comissão chefiada por Jean Silvain Bailly e composta por Bory, Benjamim Franklin, Lavoisier e Le Roi, em conjunto com a Faculdade de Medicina, cuja comissão era composta por Borie, Darcet, Guillotin e Sallin (ZILBOORG; HENRY, 1941). Após seus estudos, a comissão concluiu que os efeitos se deviam somente à imaginação e, com isso, desmoralizou o fenômeno do Mesmerismo, tratando-o como algo sem qualquer importância. Foi uma sincronicidade que Bailly e Lavoisier tenham sido executados na guilhotina inventada por seu colega Guillotin, que se tornaria o aparelho símbolo da dissociação mente-corpo (subjetivo-objetivo), no final do século XVIII, dentre as consequências da dissociação ciência/religião.
No final do século XVIII, a constatação do poder criativo da imaginação, claramente consciente e inconsciente, foi simplesmente negada. No final do século XIX, a redescoberta desse mesmo poder, também claramente consciente e inconsciente, incluindo sua capacidade metafórica (simbólica) de criar sintomas neuróticos, como a hidrofobia histérica, não foi inteiramente negada, mas foi reduzida ao inconsciente. Nem mesmo quando Freud prescindiu do hipnotismo e descobriu a associação livre como método de elaboração, deixou de reduzir o Id ao inconsciente e fazer da consciência um simples epifenômeno, mera consequência.
Jung evitou o redutivismo à sexualidade, quando percebeu a libido como energia psíquica e não exclusivamente sexual. Evitou também o redutivismo à infância, às defesas (patologia) e à transferência, quando descreveu o arquétipo e seu poder prospectivo, dentro do processo de individuação, inclusive na relação terapêutica. Não resistiu, porém, ao redutivismo ao inconsciente e situou o arquétipo exclusivamente no inconsciente coletivo. Identificou-se assim, tanto na obra de Freud como na de Jung e nas de seus seguidores, o que é manifesto com a consciência e o que é latente com o inconsciente, apesar de ser óbvio que o que é manifesto é consciente e inconsciente, e o que é latente é também igualmente capaz de se tornar consciente e inconsciente quando ativado. Isto por si só exemplifica o poder extraordinário da defesa redutivista.
O fascínio pela descoberta do inconsciente dinâmico ocultou, durante a primeira metade do século XX e boa parte da segunda, a noção de que a psique é no mundo e se manifesta igualmente de maneira consciente e inconsciente. Até mesmo o movimento surrealista, que empolgou as artes plásticas no início do século, não resistiu ao poder desta defesa, apesar de ser óbvio que o bizarro, o inesperado e até o grotesco de suas manifestações eram, em primeiríssimo lugar, a expressão do poder criativo da imaginação, e somente em segundo lugar eram conscientes ou inconscientes. A defesa deformou a interpretação do movimento surrealista, transformando-o na "arte do inconsciente". Jung elaborou a redução do fenômeno artístico e religioso, resgatando-o da redução ao inconsciente reprimido, mas não escapou da redução de todos os fenômenos psíquicos como os sonhos, os mitos, a religião e a arte ao inconsciente criativo. A interpretação do componente subjetivo da alquimia como a projeção inconsciente dos alquimistas na matéria é um dos seus redutivismos mais lastimáveis, devido à importância central que a alquimia ocupa em sua obra.
A setorização da psique em consciente e inconsciente trouxe um grande avanço à psicologia moderna, sobretudo no estudo das defesas e manifestações inconscientes, que foram privilegiadas. O redutivismo da psicologia dinâmica ao inconsciente, porém, teve consequências desastrosas que desconjuntaram ainda mais a relação da árvore cultural do Ocidente com suas raízes, relação esta já tão abalada pela dissociação subjetivo-objetivo e o redutivismo do conhecimento científico exclusivamente à realidade objetiva.
O redutivismo ao inconsciente situou as manifestações psíquicas e culturais de iniciativa consciente, como, por exemplo, a filosofia e a psicologia comportamental, em segundo plano. Isto separou a psicologia dinâmica de suas raízes históricas e de sua irmã comportamental. O redutivismo de Jung da parte subjetiva da alquimia às projeções inconscientes dos alquimistas é um exemplo da influência da deformação deste redutivismo na compreensão do humanismo Europeu. Os mitos, as tradições, os sonhos, o processo criativo e até mesmo a criatividade científica, ao serem percebidos como arquetípicos, foram enraizados basicamente no inconsciente.
No que concerne à técnica, o redutivismo dos símbolos e de sua carga arquetípica ao inconsciente transformou as manifestações por iniciativa consciente, como as técnicas behavioristas e cognitivas, em simples terapia de apoio não analítica.
A inclusão das terapias de apoio, behavioristas e a psicofarmacoterapia na percepção arquetípica e simbólica
Este redutivismo do Id e do arquétipo ao inconsciente e ao interno impediu o reconhecimento da realidade simbólica e a vivência transferencial das terapias de apoio, das técnicas behavioristas e da psicofarmacoterapia.
Percebendo-se a polaridade Ego-Outro sempre formada e transformada pela elaboração dos símbolos que atuam na polaridade consciente/inconsciente e cuja elaboração é sempre coordenada por arquétipos e, em última análise, pelo Arquétipo Central, não há nenhuma razão para excluirmos as terapias de apoio e qualquer técnica behaviorista ou medicação psicotrópica da realidade simbólica e arquetípica. Quando seu simbolismo é percebido, podemos empregá-las coerentemente dentro do processo de individuação dos pacientes, levando em conta suas defesas e o processo transferencial. Quando seu simbolismo não é percebido, elas são então empregadas exclusivamente do ponto de vista do terapeuta. Isto as torna exclusivamente literais, pois ignora o contexto simbólico, inclusive transferencial, em que elas operam. Mas é preciso reiterar que este contexto simbólico e transferencial, mesmo ignorado, continua a existir através do inconsciente.
A percepção das limitações da psicologia dinâmica analítica clássica no tratamento das depressões monopolares graves, das síndromes de acentuada ansiedade (fobias e pânico), dos dinamismos perversos e psicopáticos, da síndrome borderline, dos estados psicóticos, da obesidade, da anorexia nervosa e da drogadição, incluindo o alcoolismo, foi acompanhada da adoção de muitas técnicas expressivas cognitivas e behavioristas para o seu tratamento. Dentre essas técnicas capazes de alterar o estado psíquico e o comportamento dele decorrente, situam-se os psicofármacos, cujo futuro é muito promissor devido ao desenvolvimento crescente da psicobiologia.
O desenvolvimento psicofarmacológico e de técnicas cognitivas tem afastado muitos terapeutas das grandes aquisições da psicologia dinâmica em nosso século, como a realidade simbólica, as estruturas criativas e defensivas, a relação transferencial, a terapia dentro do processo de individuação e a necessidade da análise didática. Espero haver demonstrado neste trabalho que esta divergência crescente e altamente alienante e nefasta pode ser evitada. Se elaborarmos e ampliarmos os conceitos de símbolo e de arquétipo para englobarmos a polaridade sujeito/objeto e consciente/inconsciente, poderemos englobar as teorias cognitivas e a psicofarmacologia dentro da teoria de desenvolvimento simbólico da psique. No que concerne à técnica, desaparecem os obstáculos epistemológicos para perceber e aplicar as técnicas de apoio, as behavioristas, os psicofármacos e todas as demais técnicas expressivas verbais e não verbais, como meios de exercer a elaboração simbólica dentro da interação das estruturas criativas e defensivas, da relação transferencial e do processo de individuação. ■
BYINGTON, Carlos (1993). An Evaluation of Expressive Techiques by Symbolic Psychology. Description of the technique marionettes of the Self. Junguiana, Journal of the Brazilian Society of Analytical Psychology, São Paulo, 1993.
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Recebido: 21/08/2022
Revisado: 07/11/2022
1 Trabalho baseado no Workshop de apresentação da técnica "Marionetes do Self" no XII Congresso Internacional de Psicologia Analítica, Chicago, agosto 23-29, 1992. Revisto em Set. 2001.