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Revista Psicopedagogia
Print version ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.23 no.72 São Paulo 2006
RESENHA
Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade
Editora: Vozes
Organização: ABPp
Resenha: Maria Irene de Matos Maluf
"Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade" é o tema central deste livro, por representar as preocupações da atualidade, fundamentar e incitar os debates sobre os desafios que o século XXI coloca para os especialistas em aprendizagem humana.
Apesar de conter textos de autores que privilegiam abordagens diferentes entre si, como, por exemplo, os aspectos emocionais, as questões da educação e da saúde, a cognição, a linguagem, a interdisciplinaridade e a formação, há uma grande coerência e preocupação em atender ao temário central da obra, o que se revela na leitura destes interessantes artigos. Controvérsias inquietantes também estão presentes neste compêndio, para lançar dúvidas, criar frutíferas discussões, promover a busca de novos conhecimentos, do saber e da subjetividade, que formam a grande teia da aprendizagem humana.
Pode-se dizer que esta publicação foi elaborada para psicopedagogos, mas não apenas para eles. Professores, educadores, psicólogos, médicos, fonoaudiólogos e pesquisadores vão percorrer estas páginas com igual interesse e proveito, tal a riqueza e amplitude dos trabalhos apresentados.
Que estas páginas sejam prazerosas e enriquecedoras para todos os leitores!
Maria Irene de Matos Maluf
Presidente Nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia
Gestão 2005/2007
Neuropsicologia e Psicopedagogia: desenvolvimento integrado de competências essenciais para a aprendizagem
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle
RESUMO
Os estudos dos processos cognitivos são essenciais no desenvolvimento de competências. A compreensão da aprendizagem numa visão pedagógica neurocientífica pode permitir o planejamento de estratégias educacionais que incluam a todos num programa abrangente, envolvendo sistemas, potencializando resultados. As pesquisas neurocientíficas procuram desvendar o processo de aprendizagem, delineando outras perspectivas no sistema educacional. Novos conhecimentos e habilidades são exigidos, novas tecnologias despontam e um saber mais consistente se promove, não fragmentado, não superficial. Ele se constrói a partir das experiências anteriores, ligadas a emoções fixadas na memória e expressas na linguagem própria do indivíduo. O desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) tem sido o caminho apontado para a mudança que se faz necessária para que o aprendiz seja sujeito de sua aprendizagem. As competências são as funções cognitivas utilizadas para estabelecer relações com o ambiente e levar ao desenvolvimento das habilidades de pensar, decidir ou "saber fazer", possibilitando nova aquisição de competências. A competência é uma construção mental e não a mera resolução de problema: envolve a compreensão do que se faz. Novas metodologias são necessárias para o desenvolvimento de competências na escola. É preciso trabalhar por projetos que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos com a finalidade de alcançar um campo para a formação do cidadão mentalmente saudável e responsável, que irá focar o fortalecimento e a coesão de seu grupo social.
Psicopedagogia: um saber interdisciplinar e sistêmico
Maria Luiza Puglisi Munhoz
RESUMO
A Psicopedagogia, em sua ação educativa, ao articular disciplinas parcelares, caracteriza-se como um saber interdisciplinar, que utiliza os conhecimentos de outras disciplinas para a criação de conhecimentos próprios. Rompe com os paradigmas da ciência tradicional ao propor a integração das culturas da ciência e das humanidades, buscando promover a conscientização da condição humana. Por ultrapassar os limites disciplinares, aproxima-se da visão integradora do pensamento complexo e abre espaço para o uso de metodologias referendadas na abordagem relacional sistêmica, ao aprofundar seus estudos sobre os processos de ensino/aprendizagem em seus aspectos relacionais. A abordagem sistêmica é um instrumento metodológico adequado para o pensamento complexo, que considera o contexto e as complexidades inerentes aos processos biopsicossociais influenciadores das condutas do ser humano. A partir dos estudos da cibernética, o enfoque sistêmico cria uma teoria que procura dar conta das relações, ao invés das partes isoladas, valorizando todos os elementos dessa relação de forma igualitária. A fim de propor uma estratégia de aprendizagem dos novos paradigmas, Morin amplia os ensinamentos de Bateson, ao desenvolver os Metálogos, e introduz a argumentação como forma de chegar à aquisição de novos conhecimentos. A partir dessa proposta metodológica, desenvolvemos pesquisas qualitativas na atuação psicopedagógica, que citaremos como ilustração.
Aprendizagem e formação de psicopedagogos: sujeito e subjetividade
Beatriz Scoz
RESUMO
Este estudo trata de compreender a construção da subjetividade de psicopedagogos, com base na configuração de sentidos que produzem em seus processos de aprender e de ensinar em suas famílias, em suas comunidades de convivência, escolas e em seus processos formativos. Também é considerada a percepção que os psicopedagogos têm de suas próprias produções de sentido e, com base nestas, dos novos sentidos que vão produzindo. A técnica utilizada é vivencial, denomina-se Jogo de Areia (Sandplay) e foi criada por Dora Kalff, analista junguiana. Trata-se de uma caixa com areia e miniaturas onde os sujeitos constroem cenas. Os psicopedagogos constroem e relatam cenas de suas trajetórias de vida e de situações de ensino e aprendizagem. A utilização dessa técnica é alicerçada nos princípios que a norteiam, em minhas experiências profissionais e nas concepções de autores como Fernando González Rey, psicólogo; Alícia Fernández e Sara Pain, psicopedagogas; Estelle Weinrib e Ruth Ammann, analistas junguianas. O ato simbólico, os momentos reflexivos e o aflorar das emoções presentes na construção dos cenários possibilitam a compreensão dos sentidos que os psicopedagogos produzem em seus processos de aprender e de ensinar e, conseqüentemente, de suas subjetividades em construção. Além disso, eles mesmos percebem a situação em que se encontram, superam a maneira fragmentada de compreendê-la e redefinem novos sentidos em relação a seus processos de aprender e de ensinar. A vivência com o Jogo de Areia é também um meio educativo: a capacidade de produzir sentidos, de questioná-los e, a partir daí, fazer surgir novos sentidos faz com que os psicopedagogos reconheçam suas capacidades pensantes e transitem por uma "zona de desenvolvimento próximo", abrindo-se assim espaços facilitadores de aprendizagem. Tais vivências podem, assim, constituir valioso recurso para a formação de psicopedagogos, na direção de uma melhor compreensão dos processos de aprendizagem e na direção de uma melhor qualificação profissional.
Familia e infancia hoy: nuevas problemáticas
María Cristina Rojas
RESUMEN
Se consideran en este artículo las transformaciones de la familia a partir de la variación de ciertas condiciones socioculturales, las que modificaron tanto su composición visible como las modalidades vinculares. Se propone pensar a la/s familia/s en términos de diversidades, cada una con su singular configuración. En relación con las formas de vincularse en la familia con niños, se toman en cuenta algunos modos de funcionamiento hoy frecuentes, abordándose, entre otras, la cuestión de las "familias simétricas". En la atención clínica de tales familias se encuentran singulares impedimentos en los padres para asumir las funciones de sostén e interdicción que operan en la constitución del psiquismo e instalan la renuncia pulsional a la violencia y el incesto: son éstos temas indicados en el trabajo con padres desde la psicopedagogía y la psicología. La niñez considerada por la modernidad se diluye y es otra la idea del niño propuesta en el imaginario social actual: se analizan dichas concepciones epocales, que inciden en las prácticas sociales vinculadas con la niñez.
Inserção da Psicopedagogia nos serviços de saúde e de educação em Sergipe
Auredite Cardoso Costa
RESUMO
Este artigo tem como objetivo partilhar com outros estados brasileiros os avanços da Psicopedagogia em Sergipe, sua inserção social na comunidade sergipana, especialmente na área da Saúde e da Educação, no âmbito da Rede Pública, da Rede Privada e do Terceiro Setor. O impulso quanto à inserção do psicopedagogo no mercado como profissional, até então reconhecido socialmente, tem origem num grupo da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp-Seção Sergipe, em parceria com a Faculdade Pio Décimo, pioneira na formação de psicopedagogos no Estado. Percebe-se que a Psicopedagogia em Sergipe tem mostrado sua real função na esfera da aprendizagem, a partir de seu contato com a comunidade por meio dos estágios curriculares, da intervenção psicopedagógica voluntária em instituições Públicas e do Terceiro Setor, da participação em atos públicos, palestras, encontros e do zelo por uma formação de qualidade respaldada uma competência teórica-prática.
Obstáculos cognitivos na aprendizagem matemática inicial: a contagem, as operações iniciais e os diferentes sentidos de número
Beatriz Vargas Dorneles
RESUMO
Este texto descreve as dificuldades cognitivas, as quais chamamos de obstáculos, que as crianças, em geral, encontram ao realizarem a aquisição dos primeiros conhecimentos matemáticos. São retomadas pesquisas relativas à contagem, às operações matemáticas iniciais e aos números racionais, como exemplo de diferentes sentidos de número. Considera-se o conhecimento dos princípios da contagem essencial para a compreensão do conhecimento matemático posterior e analisa-se a necessidade de um tempo maior que algumas crianças, consideradas com dificuldade na matemática, necessitam para tal aprendizagem. São descritos alguns dos obstáculos que as operações de adição, multiplicação e divisão impõem às crianças. Além disso, são analisadas concepções iniciais a respeito dos números racionais que as crianças brasileiras apresentam. Pesquisas das três áreas do conhecimento matemático (contagem, operações e diferentes sentidos de número) são referidas. Salienta-se a compreensão evolutiva do conhecimento matemático e destacam-se as habilidades cognitivas prejudicadas em algumas crianças com dificuldades na área.
As estratégias metacognitivas de quem aprende e de quem ensina
Evelise Maria Labatut Portilho
RESUMO
O presente artigo objetiva destacar a importância do "conhecer do próprio conhecer" na prática educativa, isto é, a relação que se estabelece entre aquele que aprende e aquele que ensina. Ao tomar consciência e adquirir controle sobre sua aprendizagem, acredita-se que o aluno possa chegar a melhores e mais significativos resultados em seu trabalho acadêmico. E o professor, utilizando-se do ensino estratégico, ao conhecer a dinâmica das estratégias metacognitivas no contexto da atividade pedagógica, poderá eleger, com mais cuidado e responsabilidade ética, os conteúdos a serem trabalhados, observar os conhecimentos prévios, assim como variar seu estilo de ensinar, conforme os estilos diferentes de aprendizagem de seus alunos.
O desenho da criança no diálogo com a cultura
Rosa Iavelberg
RESUMO
Os processos subjacentes ao ato de desenhar, de acordo com as teorias ou idéias que as crianças constroem sobre desenho, produzem distintos resultados em diferentes momentos conceituais de seu desenvolvimento. Foram entrevistadas 40 crianças, individualmente, entre 3 e 14,11 anos. Concluiu-se que desenhar é um ato individual compreendendo atos socializados desde seu início. A esta compreensão sobre desenho de crianças nomeamos desenho cultivado.
Alunos que não acompanham o ensino: reflexões sobre ensino público e serviços de atendimento
Ilana Laterman
RESUMO
Este artigo apresenta reflexões sobre as interações entre escolas da rede pública municipal de ensino de Florianópolis e serviços institucionalizados de atendimento a alunos que "não acompanham o ensino". Procura compreender as implicações no processo do ensino e da aprendizagem a partir das interações entre os profissionais das escolas e dos serviços que prestam atendimento aos alunos em questão. O texto é baseado em resultados de pesquisa realizada sobre o tema das possibilidades do ensino para o aluno que não acompanha sua turma quanto à aprendizagem e apresenta dados do mapeamento sobre os serviços de atendimento a estudantes existentes em Florianópolis, aprofunda o estudo em um local de atendimento recorrentemente reconhecido como tal e dialoga com autores da área que tratam sobre a visão clínica na escolaridade. Para contextualizar o debate no campo social, busca, ainda, autores que lidam com questões do tema 'fracasso escolar'. A educação formal, ao lidar com processos de aprendizagem e socialização, questiona e é questionada por outras áreas de conhecimento que também tratam, em suas perspectivas, de processos de aprendizagem e socialização, como a psicologia, a pedagogia, neurologia, entre outras. No entanto, o diálogo entre estes diferentes campos em favor da educação pública democrática e de qualidade propõe ainda desafios e muitos questionamentos.
Instrumentos psicopedagógicos de avaliação e/ou diagnóstico
Maria Luiza Quaresma Soares da Silva; Raquel Pinto de Oliveira; Sérgio Antoniuk; Sandra Regina Kirchner Guimarães
RESUMO
O grupo de Psicopedagogia do CENEP, engajado na busca de soluções para os desafios da educação brasileira, têm se dedicado à elaboração de um instrumento psicopedagógico de avaliação e diagnóstico de problemas de aprendizagem. O instrumento aqui proposto foi desenvolvido para suprir a carência de instrumentos próprios para tal finalidade e obedece normas internacionais para diagnóstico e divulgação em pesquisa científica. Visa fornecer dados qualitativos do desempenho escolar, gerando subsídios para a intervenção e, ao mesmo tempo, fornecer dados quantitativos e comparativos entre os sujeitos e a população geral, tornando-o recurso útil à pesquisa. O protocolo de avaliação, composto por provas de leitura, escrita e matemática, já foi aplicado em um número significativo de crianças que freqüentam o CENEP, em alunos de escolas públicas de Curitiba-PR e João Pessoa-PB e em pesquisa de mestrado sobre desempenho escolar de crianças com problemas de aprendizagem. Os resultados obtidos até o momento mostram especificidade e sensibilidade do instrumento, permitindo delinear um perfil dos conhecimentos lingüísticos e matemáticos adquiridos pelos estudantes, bem como fornecer elementos para a elaboração de práticas educacionais adequadas às necessidades específicas identificadas. No momento, as provas se encontram em processo de padronização e validação.
Desafios da aprendizagem do segundo milênio: articulações entre o micro e macrossistema e contribuições da Psicopedagogia Institucional nos contextos da família, da saúde e da empresa
Eloísa Quadros Fagali
RESUMO
A proposta do presente texto é aprofundar nas reflexões e práticas em relação à função da Psicopedagogia institucional voltada para a aprendizagem das organizações, frente aos desafios no momento contemporâneo e aos conflitos em relação às questões de identidade institucional, fragmentações do conhecimento e do homem, gerando desrespeito frente às diferenças, sectarismos e exclusões. São práticas e reflexões teóricas fundamentadas numa visão ecossistêmica e do pensamento complexo, considerando a visão de rede dos múltiplos fatores psicosocioculturais e biológicos e as forças inconscientes e conscientes, individuais e coletivo. Destacam-se propostas de projetos de intervenção para o aperfeiçoamento do psicopedagogo e de outros profissionais e para oferecer suportes àqueles que se encontram excluídos no âmbito da família, da saúde e do ambiente de trabalho. Enfatiza a ampliação da concepção de aprendizagem da organização, do ponto de vista terapêutico e preventivo, com o trabalho de parcerias entre organizações privativas, públicas e de terceiro setor, que prestam serviços para ampliar as condições que garantem a qualidade saudável do trabalho em prol do desenvolvimento do homem, da cultura com o compromisso social.
Desvelando histórias de aprendizagem: trajetórias de mulheres adultas universitárias
Fabiani Ortiz Portella
RESUMO
O estudo ora apresentado busca fazer uma análise da história de aprendizagens narradas por mulheres adultas participantes do curso de pedagogia. Proponho, como objeto de estudo, a análise dos processos de aprendizagem e formação durante o referido curso, realizando uma leitura na perspectiva do campo de atuação psicopedagógica. Pelos dados preliminares, por meios das histórias contadas e da produção textual de narrativas orais e escritas, busca-se encontrar nos discursos pontos de convergência centrados nas questões que envolvem a aprendizagem, ao mesmo tempo, analisando os percursos das acadêmicas, focados numa perspectiva psicopedagógica. A articulação teórica da Psicopedagogia na perspectiva da intervenção com adultos pensa os processos de aprendizagem referindo-se à dimensão social do processo de aprendizagem. Pelos dados preliminares, pode-se avaliar que o processo de formação leva-as a refletirem sobre seu fazer em sala de aula, antes totalmente empírico. É visível a metamorfose observada nas alunas no decorrer do curso, tanto no aspecto social, quanto afetivo e cognitivo.
Relações sociais na escola e desenvolvimento da subjetividade
Maria Carmen V. R. Tacca
RESUMO
Neste artigo, queremos destacar que o processo de aprendizagem deve ser analisado, interpretado e compreendido acontecendo na integração da dimensão individual com a social, numa relação dialética que traz mudanças substantivas em ambas. Ao entrar na escola, ao participar de um grupo de colegas e interagir com eles e com os professores e em conjunto com todo o contexto social, histórico e cultural que representa a sala de aula, o aluno vai reunindo vivências e tecendo seus conhecimentos. Os processos de aprendizagem encontram-se imbricados em processos de significação que se sustentam tanto nas histórias subjetivas de cada um, como a história de suas relações sociais. Apresentamos, neste artigo, uma investigação de processos de aprendizagem, analisando as relações estabelecidas no âmbito de uma escola e o estudo de caso de um aluno na sua configuração subjetiva em relação à aprendizagem escolar. Em conclusão, argumentamos como a tensão entre subjetividade individual e social no contexto educacional é geradora de sentidos, cujos elementos criam um eixo de valor ímpar na constituição subjetiva de alunos e professores. Estas conclusões orientam para a importância de processos de comunicação e do diálogo como bases de relações sociais que possibilitam acompanhar e compreender a produção de sentido nos processos de ensinar e aprender.
A Psicanálise e a prevenção da violência no meio escolar
David Léo Levisky
RESUMO
O autor entende como violência a força que transgride os limites dos seres humanos na sua realidade física, psíquica e no campo de suas realizações sociais, éticas, estéticas, políticas e religiosas. Força que desrespeita os direitos fundamentais do homem, que deixa de ser considerado sujeito de direitos e de deveres, para ser tratado como um simples objeto. A criança e o adolescente são focos prioritários na questão da prevenção da violência. Fatores complexos, endógenos e exógenos, constitucionais e simbólicos, conscientes e inconscientes, participam da geração de violência. Estresses que perturbam a auto-estima, que deturpam a construção da identidade e da subjetividade. Afetam a espontaneidade e a autonomia do sujeito. A violência banalizada transforma-se num valor de cultura. Deixa de ser sintoma da patologia social para se incorporar ao sujeito como um modo de ser. Violência que também é um grito de alerta e de esperança por mudanças. Depende de uma ética que se estabelece precocemente na infância, no seio da família, primeiro modelo social. Têm sua segunda e última oportunidade de reorganização durante a adolescência. As ações comunitárias na prevenção da violência e da melhoria da qualidade de vida estão acima de questões partidárias, étnicas, religiosas, sociais, econômicas. Dependem de políticas públicas que articulam e integram diferentes segmentos sociais, como expressão de um sentimento amplo e democrático. A escola, como espaço criativo, nutricional e reflexivo, deve ser o ambiente, após a família, fundamental para a formação do sujeito e das lideranças capazes de lidar com as vicissitudes da vida.
Lúdico, aprendizagem e saúde
Vera Barros de Oliveira
RESUMO
O lúdico, em suas diversas modalidades, como os brinquedos, brincadeiras e jogos, acompanha nossa trajetória de vida, do nascimento à terceira idade, contribuindo para a saúde, física e mental de forma integrada, assim como para o processo de educação continuada. O brinquedo, com sua cor, forma, textura e sedução, convida ao toque e à exploração, o que gera um movimento de abertura ao meio, possibilitando o conhecimento do corpo, em seu espaço e tempo vividos. A brincadeira de faz-de-conta vem a ser a manifestação mais precoce de representação e introduz a criança no universo simbólico da linguagem e da cultura. Os jogos de socialização asseguram essa conquista e perduram vida afora. Nessa curva evolutiva lúdica, observa-se uma constante recursividade, tendo o sujeito em ação como núcleo central. Essa trajetória evidencia o corpo como alicerce da organização simbólica e social, e mostra como as manifestações simbólicas e sociais têm repercussões físicas. Essas constatações têm levado à maior utilização do brincar em ambientes de ensino/aprendizagem e de saúde, como nas brinquedotecas hospitalares. O Brincar, ao mesmo tempo que afirma sua validade, desvela sua imensa complexidade conceitual e metodológica. Nesse sentido, discute-se, por exemplo, se poderiam alguns jogos serem chamados de educativos e outros, não; sendo a mesma questão feita em relação aos brinquedos terapêuticos. Essa discussão pode levar inclusive a maior reflexão sobre as possíveis interseções da educação com a saúde, via lúdico.
Alterações ortográficas nos transtornos de aprendizagem
Jaime Luiz Zorzi
RESUMO
Os erros ortográficos fazem parte do aprendizado da escrita. Podemos encontrá-los nos texto de todas as crianças, quer sejam de escolas privadas ou públicas, quer apresentem ou não problemas no desenvolvimento. Se tais alterações se manifestam de uma forma generalizada, como é possível afirmarmos que sua ocorrência pode ser indicativa de transtornos como os distúrbios de aprendizagem ou dislexias? O objetivo deste artigo é apresentar os erros ortográficos mais comuns, assim como configurar as características que podem diferenciar o aprendizado considerado "normal" daquele desenvolvimento com desvios, indicativos dos chamados transtornos de aprendizagem.
Distúrbios de aprendizagem e transtornos da atenção: algumas reflexões
Sylvia Maria Ciasca
RESUMO
Quando falamos em distúrbios de aprendizagem (DA) e transtornos da atenção (TDA), logo associamos um ao outro e, de fato, existe uma enorme "confusão" relacionada aos mesmos. Mas, estes conceitos não devem ser usados de forma igual ou como sinônimos, porque representam duas entidades distintas, e pesquisas recentes afirmam que as áreas cerebrais envolvidas nos dois problemas também são específicas; e, ainda, a criança com TDA pode ou não ter dificuldade em aprender academicamente e, diferentemente do DA, a criança com déficit de atenção apresenta outros problemas específicos, como dificuldade de relacionamento, problemas de comportamento, entre outros. Considero importantíssimo frisar que, tanto os DA como os TDA são compatíveis com inteligência normal, fato que não ocorre nos problemas de retardo no desenvolvimento neuropsicomotor ou nas deficiências mentais. Os dois temas são, sem dúvida, de caráter inter e multidisciplinares, porque precisam do envolvimento de vários profissionais e mesclam, em seus conteúdos, as áreas da saúde, educação e assistência social. Ambos requerem equipes de diagnóstico especializadas, além de trabalhos de intervenção e remedeio.