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Revista Psicopedagogia
Print version ISSN 0103-8486
Rev. psicopedag. vol.26 no.81 São Paulo 2009
RESENHA
Geraldina Porto Witter
Doutora em Ciências, Livre-docente em Psicologia Escolar; Professora Emérita da UFPa, do UNIPE e da UNICASTELO, Coordenadora Geral da Pós-Graduação Stricto Sensu da UNICASTELO e Membro da Academia Paulista de Psicologia
Resenha do livro: Lapp D, Fisher D. Essential readings on comprehension. Newark:IRA;2009.
Sem compreensão não se pode dizer que ocorreu a leitura. Nestas circunstâncias não é de estranhar que ela seja o tema central de muitos trabalhos na área e a meta de muitas tecnologias e estratégias voltadas para aquisição, desenvolvimento e manutenção do comportamento dos leitores.
Face à variedade de materiais disponíveis, Diane Lapp e Douglas Fisher fizeram uma seleção de textos que consideram essenciais para os preocupados com a matéria. Com eles estruturaram o livro aqui resenhado. Ela é doutora em educação e leciona na San Diego State University (Califórnia, USA). Ele é doutor em filosofia e leciona na mesma universidade.
O livro compreende Introdução, 15 textos e Apêndice. A Introdução foi redigida pelos organizadores que começam por lembrar que, embora no final dos anos setenta já houvesse dados mostrando que os professores não ensinam compreensão, o que foi reiterado com veemência na última década do século passado, há muito por mudar nesse cenário. Procedimentos estratégicos e tecnologias disponíveis existem, mas parece que carecem de maior divulgação e uso no cotidiano das escolas. O problema é ainda mais grave em países carentes de pesquisa e com formação limitada e restrita dos docentes. Com o livro esperam colaborar para acelerar as mudanças neste setor da educação, reeditando artigos pertinentes, os quais são sucintamente enfocados a seguir.
Raphael Av (2005) enfoca em um artigo publicado em The Reading Teacher a ampliação da compreensão por meio da avaliação ao longo dos anos acadêmicos usando o procedimento QAR (Question Answer Relationship), ou seja, Relação entre Pergunta e Resposta, usado não apenas para avaliar, mas também para desenvolver a linguagem e preparar a organização da compreensão. Com estas mudanças tecnológicas pode ser promovido o pensar sobre o texto em níveis crescentes de complexidade, melhorar as relações entre perguntar e responder, trazendo benefícios para escolas, professores e alunos em pouco tempo e com baixo custo.
O texto seguinte trata de outros procedimentos utilizáveis para desenvolver a compreensão e que se baseiam no uso de questões, mudanças e repetições em torno de perguntas, fornecimento de pistas, como fazer anotações e manter os traços afetivos relativos ao prazer de ler e aprender. Trata-se de um artigo de Manzo, publicado no Journal of Reading (1985).
O uso de figuras para o desenvolvimento da compreensão é o tema de Hibbing e Rankin-Erickson, especialmente quando se trabalha com leitores problemáticos ou relutantes. A ênfase não é na ilustração, mas no ensinar a criar imagem mental do texto, imagem televisiva do material lido, produzir desenhos representando o texto e procedimentos similares. Trata-se de artigo publicado em 2003, na The Reading Teacher. As estratégias são de baixo custo e alta produtividade.
Walmsley (2006) trata, na The Reading Teacher, de um tema que tem sido negligenciado no ensino de compreensão da leitura, ou seja, ter criticidade para compreendendo o texto ir além dele, detectar a grande ideia, ou a ideia principal subjacente em um livro, um artigo, uma argumentação ou filme. Trata-se de um comportamento que se espera que o professor saiba ensinar aos alunos. Para tanto, o professor precisa saber como fazê-lo, para o que nem sempre parece competente.
Outra estratégia importante na área de leitura é saber resumir o material lido, o que é particularmente importante nas várias áreas de conteúdo. O ensino-aprendizagem do resumir está também relacionado com a retenção da informação e a manutenção do conhecimento. O aluno precisa aprender técnicas eficientes de resumir, saber detectar as pistas do texto e as sequências produtivas para chegar a um bom resumo, como destaca Friend (2000/2001) em artigo publicado no Journal of Adolescent & Adult Literacy.
A consciência da estrutura textual de textos expositivos precisa ser cuidadosamente trabalhada e ensinada pelo professor, com o lembra Dymock (2005), no The Reading Teacher, pois compreender este tipo de discurso traz dificuldade para os alunos e requer instrução direta inclusive sobre os seus vários níveis de elaboração. A autora apresenta várias matrizes de dificuldades.
Muito da compreensão do texto depende do autor e do leitor conhecerem e saberem usar os organizadores gráficos. Esse aspecto começou a ser pesquisado nos anos sessenta do século passado e teve seu estudo intensificado na última década. Merkley e Jefferies (2000/2001) publicaram na The Reading Teacher um artigo em que apresentam diretrizes e sugestões práticas decorrentes de pesquisas para se trabalhar com os alunos.
Fisher, Frey e Lapp publicaram, em 2008, na The Reading Teacher, um artigo em que com base em vários dados mostram que para melhorar a competência em leitura é necessário modelar a compreensão, trabalhar o vocabulário, estudar a estrutura textual e, no caso de leitores mais velhos, outros aspectos precisam ser incluídos. Complementam bem os artigos anteriores com a pesquisa que relatam.
O artigo seguinte é da responsabilidade de Lapp, Fisher e Grant, tendo sido publicado em 2008 no Journal of Adolescent & Adult Literacy e diz respeito ao ensino interativo da compreensão, cabendo ao professor estimular e ensinar como ler compreensivamente, mostrando como chegar ao cerne do texto, saber destacar o que é novo, como fazer previsões. Retomam a relevância de enfocar interativamente o vocabulário, as estratégias de compreensão, a estrutura textual e as pistas textuais para superar as lacunas de realização.
O ensino interativo pode ser usado para promover a aprendizagem independente, capacitando o estudante a ler e buscar significado, como descrevem Palincsar & Brown em artigo publicado no The Reading Teacher (1986). Esses autores defendem o emprego de estratégias de ensino recíproco para que o aluno melhore sua aprendizagem a partir do texto, equilibrando o uso de modelagem, prática dirigida, explicação e instrução diretiva.
É inegável a relação entre leitura e escrita e há dados que mostram a possibilidade de usar a escrita para ampliar a aprendizagem das várias áreas de conteúdo. Esta é a temática do texto de Cudd e Roberto, publicado em 1989, no The Reading Teacher. Os autores começam por indicar algumas variáveis que levam os alunos a terem dificuldades com os textos lidos. Sugerem o uso de algumas técnicas que recorrendo à escrita favorecem a solução dessas dificuldades. Entre elas lembram a técnica cloze, o uso de exemplos como ponto de partida, acréscimo gradual de estruturas, enumeração das mesmas, orientação em busca de reações favoráveis, uso de comparações e contrastes, etc.
De Jacobs (2008) é o texto selecionado do Journal of Adolescent & Adult Literacy, em que a autora parte da premissa de que aprendemos o que fazemos (DAE), destaca a importância da prática de escrever para desenvolvimento deste repertório. A autora usa a técnica denominada Mensagem Instantânea (IM) pelo celular ou Mensagem de Texto (SMS) como uma maneira de trabalhar a escrita, mas sem descuidar da escrita formal. O procedimento tem muito em comum com a comunicação mediada pelo computador. São respostas sociais que atendem às demandas feitas pelos avanços tecnológicos, mas que não dispensam o cuidado com a competência em leitura e escrita de textos formais dos vários tipos de gênero.
Em trabalho publicado em 2006, no Journal of Adolescent & Adult Literacy, Grisham e Wolsey consideram a sala de aula uma comunidade de aprendizagem da qual destacam os alunos, a leitura e a tecnologia utilizada. O conceito de comunidade é para os autores a alma da aprendizagem. Para que ela se institua todos os discursos devem estar conectados ao estudante e isto nem sempre ocorre. Analisam as possibilidades do uso dos recursos tecnológicos e do ciberespaço para criar esta comunidade. Relatam pesquisa em que fizeram da aprendizagem pelo aluno o centro do planejamento, recorrendo a várias tecnologias, como grupos de discussão, jogos, ciclos literários, etc, associadas ao uso da Internet, obtendo bons resultados.
O texto seguinte é da autoria de Gambel e dá continuidade à discussão das mudanças que o uso da tecnologia, especialmente a Internet, vem introduzindo na cultura da leitura. Seu artigo foi publicado em 2005, no The Reading Teacher, e discute as alterações decorrentes dos novos tempos e textos, concluindo que não há risco de ter perdas na leitura convencional, ela continuará a ser valorizada na cultura.
Em 2007, Spector e Jones publicaram, no Journal of Adolescent & Adult Literacy, uma vivência usando o Diário de Anne Frank para trabalhar a leitura crítica, tendo por foco questões sobre leitores, autores, texto e contexto constituído por outros textos da época e de comentaristas. Concluem que o envolvimento com um enfoque de leitura crítica das representações de diferenças socioculturais cria força no trabalho do aluno, tanto para se reconstruir o passado como para rever seu mundo atual.
Como são artigos publicados em periódicos estrangeiros especializados da área, é possível que o leitor que atua com leitura já os tenha lido em suas bases originais. Mas, mesmo já conhecendo os textos é interessante enfocar a aglutinação feita pelos organizadores da obra. A seleção foi nitidamente de estratégias que não requerem qualquer novo material, mas apenas uso de tecnologias de baixo custo, de reorganização da relação professor-texto-aluno usando procedimentos diversos, até o uso da Internet de forma produtiva, sem que seja exclusiva para assegurar a boa formação de leitores. Ter estes textos em um só documento pode facilitar o trabalho tanto de pesquisadores como de professores e equipe técnica nas escolas.
Resenha realizada na Universidade Camilo Castelo Branco - UNICASTELO, São Paulo, SP.
Correspondência:
Geraldina Porto Witter
Av. Pedroso de Moraes, 144, apto 302
Pinheiros - São Paulo, SP, Brasil - CEP 05420-000
E- mail: gwitter@uol.com.br
Artigo recebido: 7/8/2009
Aprovado: 1/9/2009