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Revista Psicopedagogia

Print version ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.40 no.121 São Paulo Jan./Apr. 2023

https://doi.org/10.51207/2179-4057.20230007 

ARTIGO DE REVISÃO

 

Um traço e um abraço: Afetividade como elemento facilitador da aprendizagem

 

A trace and a hug: Affectivity as a facilitating element of learning

 

 

Renata Soares Leal Ferrarezi

Advogada e psicopedagoga; Mestranda em Educação na Universidade Ibirapuera-UNIB, São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A afetividade fecunda o ser humano por toda a sua existência, desde o nascimento até a sua morte, estando presente em todas as fases da vida. A questão que se coloca é: Qual a importância da afetividade na relação aluno e professor e como esta influencia a prática pedagógica? Diversos estudos, de abordagem freudiana, piagetiana, vygotskyana e walloniana, dão ênfase à relação da afetividade com o desenvolvimento cognitivo, tendo, portanto, relação com a aprendizagem. A afetividade indiscutivelmente ocupa lugar de destaque no processo de aprendizagem e a maneira como ela acontece pode ser decisiva na concepção de mundo construída pelo aluno, bem como na sua elaboração do conhecimento.

Unitermos: Afetividade. Vínculo Afetivo. Aprendizagem.


ABSTRACT

Affectivity supports the human being throughout its existence, from birth to death, being present in all stages of life. The question that arises is: What is the importance of affectivity in the student-teacher relationship and how does it influence pedagogical practice? Several studies, with a Freudian, Piagetian, Vygotskyan and Wallonian approach, emphasize the relationship between affectivity and cognitive development, thus having a relationship with learning. Affectivity undoubtedly occupies a prominent place within the learning process and the way in which it happens can be decisive in the conception of the world built by the student, as well as in their elaboration of knowledge.

Keywords: Affectivity. Affective Bond. Learning.


 

 

"...não é para a sobrevivência que se aprende, mas "por amor" (VOLTOLINI)

 

Introdução

A afetividade fecunda o ser humano por toda a sua existência, desde o nascimento até a sua morte, estando presente em todas as fases da vida.

A questão que se coloca é: Qual a importância da afetividade na relação aluno e professor e como esta influencia a prática pedagógica?

Isto porque, é sabido que entre os fatores que influenciam a aprendizagem, a afetividade e, portanto, a relação afetiva que se estabelece entre aluno e professor é, sem dúvida, a mais importante, pois dela derivará a motivação para a aprendizagem

No Dicionário Michaelis afetividade é definida, no âmbito da psicologia, como o "conjunto de fenômenos psíquicos que se revelam na forma de emoções e de sentimentos" (1994, p. 20).

Para Freud, o conceito de afeto (affekt) está ligado ao de pulsão (trieb). Freud introduz o conceito de pulsão em "Os Três Ensaios sobre a Sexualidade" (1905), baseando-se especialmente no estudo das modalidades da sexualidade infantil (Laplanche & Pontalis, 1981).

Laplanche e Pontalis (1981, p. 395) destacam que, na teoria freudiana, a noção de pulsão sexual é desde o início contraposta a outras pulsões e que, segundo Freud, esse dualismo opera desde as origens da sexualidade, pois a pulsão sexual se destaca das funções de autoconservação em que a princípio ele se apoiava.

 

A afetividade para Freud

A pulsão é uma produção teórica de Freud que afirma ser "o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo" (Freud, 1915/1974a, p. 142).

Desse modo, a pulsão, ao mesmo tempo que representa o corpo no psiquismo, só se faz presente, neste último, através de seus representantes psíquicos. Estes são a representação, ou elementos ideativos ou ideia (Vorstellung) e o afeto (affekt). Freud designa o "quantum" de afeto como correspondendo à pulsão, "na medida em que esta se afasta da ideia e encontra expressão proporcional à sua quantidade em processos que são sentidos como afetos" (Freud, 1915/1974b, p. 176).

Freud enfatiza que somente os representantes ideativos da pulsão podem ser recalcados, enquanto os afetos, como expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional, sofrem outros destinos.

Dias e Marchelli (2008) enfatizam que para Freud o afeto é o estado emocional inicialmente ligado à realização de uma pulsão, em geral inconsciente, que dirige e incita toda a atividade do indivíduo. Todavia, uma vez reprimido, transforma-se em angústia, podendo levar à manifestação neurótica. Isto porque, os fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões são acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza. Considerando-se que o afeto é o elemento básico da afetividade, em Freud tem-se:

Um afeto inclui, em primeiro lugar, determinadas inervações ou descargas motoras e, em segundo lugar, certos sentimentos; estes são de dois tipos: percepções das ações motoras que ocorreram e sensações diretas de prazer e desprazer que, conforme dizemos, dão ao afeto seu traço predominante. Não penso, todavia, que com essa enumeração tenhamos chegado à essência de um afeto. Parecemos ver em maior profundidade no caso de alguns afetos e reconhecer que o cerne que reúne a combinação que descrevemos é a repetição de alguma experiência significativa determinada. (Freud, 1937/1969, edição eletrônica)

Para Freud (1915/1974c), o afeto poderá ter os seguintes destinos: ou ele permanece, no todo ou em parte, como é; ou é transformado num afeto qualitativamente diferente, especialmente em angústia; ou é suprimido, ou seja, impedido de se desenvolver. Quando o desenvolvimento do afeto é suprimido, ocorre o que Freud afirma como a verdadeira finalidade do recalcamento (da repressão). É aquilo que Freud denominou como "afetos inconscientes", os afetos que foram inibidos em seu desenvolvimento pelo processo de recalcamento.

A teoria dos afetos criada por Freud empreende, portanto, uma separação entre razão e paixão, pois o afeto, como pura energia, só é apreendido dentro de uma estrutura (as duas tópicas), de um conflito (oposição de afetos contrários, princípio de prazer-desprazer), que tem conexão com os processos secundários e se ligam ao princípio de realidade.

 

Afetividade na concepção walloniana

Para Wallon (citado em Almeida, 1999), a afetividade tem papel imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade, que se constitui sob a alternância de instintos funcionais, pois para ele a afetividade é um domínio funcional, uma das etapas que a criança percorre, afirmando que o nascimento da afetividade é anterior à inteligência.

Na concepção walloniana, a afetividade é o ponto de partida para o desenvolvimento da criança e sua evolução parte de uma sociabilidade primitiva para uma individualização psicológica. Assim, a vida afetiva da criança se organiza em contatos com o outro; observa que são as emoções, especificamente, que unem a criança ao meio social; são elas que ampliam os laços que se antecipam à intenção e ao raciocínio.

Wallon divide o desenvolvimento infantil em estágios e na sua psicogênese, em cada um desses estágios os aspectos afetivos e cognitivos estão em constante entrelaçamento, destacando os conceitos de alternância e preponderância funcionais, referindo-se à predominância alternada da afetividade e da cognição nas diferentes fases do desenvolvimento (Dantas, 1992, pp. 85-86).

Assim, Wallon vê o desenvolvimento da pessoa como uma construção progressiva em que se sucedem fases com predominância alternadamente afetiva e cognitiva. Cada fase tem um colorido próprio, uma unidade solidária, que é dada pelo predomínio de um tipo de atividade. As atividades predominantes correspondem aos recursos que a criança dispõe, no momento, para interagir com o ambiente. De acordo com Wallon (citado em Galvão, 1995), os estágios do desenvolvimento apresentam as seguintes características no tocante à afetividade (Quadro 1):

Na sucessão dos estágios há uma alternância entre as formas de atividade que assumem a preponderância em cada fase e a cada nova fase inverte a orientação da atividade e do interesse da criança: do eu para o mundo, das pessoas para as coisas. Trata-se do princípio da alternância funcional. Apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não se mantêm como funções exteriores uma à outra. Cada uma, ao reaparecer como atividade predominante num dado estágio, incorpora as conquistas realizadas pela outra, no estágio anterior, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação. (Galvão, 1995, pp. 44-45)

Galvão (1995) destaca que, segundo Wallon, no primeiro estágio da psicogênese tem-se uma afetividade impulsiva, emocional, que se nutre pelo olhar, pelo contato físico e se expressa em gestos, mímica e posturas. A afetividade do estágio personalismo já é diferente, pois incorpora os recursos intelectuais (notadamente a linguagem) desenvolvidos ao longo do estágio sensoriomotor e projetivo. É uma afetividade simbólica, que se exprime por palavras e ideias e que por esta via pode ser nutrida. A troca afetiva, a partir desta integração, pode se dar à distância, deixa de ser indispensável a presença física das pessoas.

Percebe-se que, para Wallon, a afetividade fica mais evidenciada no estágio personalíssimo, que vai de 3 a 6 anos, e no estágio da puberdade e adolescência, a partir de 11 anos.

Desse modo, para Almeida (1999, p. 89), conforme o alcance de novos estágios da inteligência na visão walloniana, a afetividade vai se racionalizando, e assim as conquistas atingidas no plano da inteligência são agregadas ao plano da afetividade, portanto, o desenvolvimento integral do indivíduo dependerá da reciprocidade entre a afetividade e a inteligência e ambas evoluirão ao longo do desenvolvimento da criança. Wallon enfatiza a importância de não separar a inteligência da afetividade, principalmente na fase do desenvolvimento da criança, em que ambos estão ainda sincreticamente misturados, podendo gerar riscos para a educação.

Considerando que, segundo Wallon, o desenvolvimento afetivo é imprescindível para as relações sociais, certamente torna-se fundamental para a aprendizagem, eis que o processo de ensino e aprendizagem se dá por meio da experiência e da interação. Ou seja, para Wallon, o aspecto afetivo não pode estar desvinculado do cognitivo.

 

A importância da afetividade segundo Piaget e Vygotsky

Silva et al. (2014) ressaltam que, embora Piaget (1993) não tenha destacado a afetividade como tema específico de suas investigações, ele considera que na conduta humana estão presentes tanto os aspectos cognitivos como os aspectos afetivos e interfere nas ações do sujeito.

Na teoria de Piaget, a afetividade é caracterizada como um instrumento propulsor das ações, estando a razão a seu favor. A afetividade funciona como a energia que move a ação, enquanto a razão possibilita, ao sujeito, identificar os desejos e sentimentos, e permite obter êxito nas ações efetuadas. Piaget reconheceu, portanto, que a afetividade é o agente motivador da atividade cognitiva (Dantas, 1992).

De acordo com Vygotsky (2001), a emoção constitui uma base afetiva para compreender de forma adequada o pensamento humano e tendo este autor concebido a pessoa como um todo (abordagem holista), não separou o afetivo do cognitivo. A vida emocional está conectada a outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de um modo geral. Ou seja, o indivíduo é o resultado do desenvolvimento de vários processos, afetivo, mental, cognitivo e físico, tanto interno como externo.

Vê-se que o desenvolvimento da criança dependerá de fatores internos e externos, realizando trocas de experiências num intercâmbio de relações sociais, afetivas e orgânicas.

 

Afetividade e aprendizagem

Como verificado, diversos estudos, de abordagem freudiana, piagetiana, vygotskyana e walloniana, dão ênfase à relação da afetividade com o desenvolvimento cognitivo tendo, portanto, relação com a aprendizagem.

Segundo Freire (1983), não existe educação sem amor. Para ele: "Ama-se na medida em que se busca comunicação, integração a partir da comunicação com os demais [...]" (p. 29).

Entende-se, portanto, que não é possível aprendizagem sem que exista afeto, porque para aprender é preciso gostar do que nos está sendo apresentado e, consequentemente, da pessoa que nos está ensinando. Não existe aprendizado sem que a afetividade esteja envolvida neste processo.

Para Ribeiro (2010), a educação afetiva consiste na construção de uma escola a partir do respeito, compreensão, moral e autonomia de ideias. Uma vez que se pretende capacitar sujeitos críticos, honestos e responsáveis, o desenvolvimento afetivo é fundamental para qualquer indivíduo. Com isso, a afetividade contribui para o desenvolvimento da aprendizagem de forma crítica e autônoma, pois a afetividade não se resume em manifestações de carinho físico, mas principalmente em uma preparação para o desenvolvimento cognitivo.

Durante o período de aprendizagem, a criança passa por momentos emocionais e, dependendo do sentimento, poderá contribuir ou prejudicar o desenvolvimento cognitivo/intelectual, o que comprova a relação entre a afetividade e a aprendizagem.

Além disso, a criança pode apresentar problemas na aprendizagem, consequentes de patologias variadas e comprometimento do funcionamento cognitivo (por exemplo, distúrbio do processamento auditivo central - DPAC), ou problemas decorrentes de relações familiares disfuncionais (tais como abuso físico, psicológico ou sexual, alcoolismo e violência doméstica), e da falta de interação adequada e afetividade com o professor, o que pode levar a desmotivação, tristeza e incapacidade de se concentrar nas disciplinas, principalmente nas que são mais complexas (Kupfer, 2003).

É inegável que tanto os alunos como os professores são afetados uns pelos outros e ambos pelo ambiente em que estão inseridos e observar e identificar as emoções apresentadas pela criança certamente irá auxiliar no seu desenvolvimento emocional e social, bem como no processo de aprendizagem.

Para alcançar êxito no aprendizagem, é importante que o professor desenvolva um bom relacionamento com seu aluno, já que os aspectos afetivos se complementam e são condições necessárias para o desenvolvimento cognitivo. Mahoney e Almeida (2005) destacam que "para Wallon, a aprendizagem acontece a partir do relacionamento com o meio humano e físico" (p. 16).

Sabendo que o processo da aprendizagem é complexo, a afetividade parece ser uma condição que não pode estar ausente no seu percurso. Por isso, consideram-se três momentos de grande impacto na evolução da afetividade: emoção, sentimento e paixão (Mahoney & Almeida, 2005).

A verdade é que as pessoas interagem e estabelecem vínculos e laços afetivos tendo como ponto de partida os estímulos vivenciados no ambiente que compartilham e a partir dessas vivências com outras pessoas a criança constrói o seu conhecimento, supera a fase do egocentrismo e formaliza a noção do "eu" e do "outro" como referência, viabilizando as relações afetivas, que assumem um papel especial e singular no processo educativo (Piaget, 1993). Desse modo, as interações que ocorrem no contexto escolar são marcadas pela afetividade em todos os seus aspectos, determinando a natureza das relações entre os sujeitos e os diversos objetos de conhecimento (Tassoni, 2001).

Sara Pain (1991) destaca que a emoção se situa em dois níveis:

a) o da categoria dos afetos, reconhecíveis como estados ou sinais específicos de um estado emocional e b) o da categoria dos valores afetivos, onde se produz a transformação da emoção em um valor dentro de um sistema simbólico. As operações que atingem tal transformação não pertencem ao domínio das sensações emotivas, mas a uma estrutura independente, tributária da função semiótica geral. (Pain, 1991, p. 39)

Diante disso, a afetividade apresenta-se como elemento fundamental no desenvolvimento da aprendizagem, estimulando a imaginação, o desenvolvimento intelectual e propiciando uma aprendizagem deforma significativa. Isto porque sabe-se que a interação do professor e aluno é fundamental no processo ensino aprendizagem e, neste caso, a afetividade apresenta-se como elemento facilitador, pois o aluno se sentirá mais confiante e, portanto, menos temeroso diante dos "novos" conhecimentos que o professor lhe apresenta.

Neste contexto, Chalita (2001) ressaltou que o grande pilar da educação é, sem dúvida, a habilidade emocional ao escrever que:

Não é possível desenvolver a habilidade cognitiva e a social sem que a emoção seja trabalhada. A emoção trabalha com a libertação da pessoa humana. A emoção é a busca do foco interior e exterior, de uma relação do ser humano com ele mesmo, e com o outro, o que dá trabalho, demanda tempo e esforço, mas é o passaporte para a conquista da autonomia e da felicidade. (Chalita, 2001, p. 11)

Chalita (2001) destaca ainda a importância da afetividade no tratamento dos alunos, pois, para ele, só há educação onde há afeto e onde experiências são trocadas, enriquecidas e vividas. O professor que apenas transmite informação não consegue perceber a dimensão do afeto na aprendizagem do aluno e este precisa de afeto, de atenção. É fundamental que professor amenize o sofrimento do aluno e o auxilie para que ocorra um desenvolvimento harmônico do aluno.

Para Ribeiro (2010), cabe à escola e, principalmente ao professor, a importante função social de compreender o aluno no âmbito da sua dimensão humana, tanto afetiva quanto intelectual, já que a criança depende da qualidade da interação com o meio social para se desenvolver integralmente.

A afetividade indiscutivelmente ocupa lugar de destaque dentro do processo de aprendizagem e a maneira como ela acontece pode ser decisiva na concepção de mundo construída pelo aluno, bem como na sua elaboração do conhecimento.

Segundo Piaget (1976, citado em Turatti et al., 2011), é em torno dos 7 ou 8 anos (com o nascimento das operações cognitivas e com o fim do egocentrismo pré-operacional) que ocorre o progresso sistemático da cooperação, fase em que a criança vivencia situações no seu dia a dia que a levam a experimentar sentimentos de sucesso ou fracasso. Sucesso quando consegue executar uma tarefa escolhida ou quando sua produção é valorizada. Fracasso quando a criança não consegue se sair bem. Estes fatores não influenciam apenas o desenvolvimento cognitivo, mas também o desenvolvimento afetivo. Durante o estágio operacional concreto, os afetos adquirem uma medida de estabilidade e consistência que não apresentavam antes. Em torno dos sete ou oito anos, emerge a conservação dos sentimentos e dos valores e as crianças tornam-se aptas a coordenar os seus pensamentos afetivos de um evento para outro. O pensamento afetivo é agora reversível.

O desenvolvimento afetivo ocorre de modo semelhante ao desenvolvimento cognitivo. O aspecto afetivo é responsável pela ativação da atividade intelectual e, portanto, pela aprendizagem (Wadsworth, 1997).

Por conseguinte, não ocorre aprendizagem sem que exista afeto, sem que o lado afetivo esteja envolvido neste processo.

Assim, o professor deve conquistar o seu aluno através do afeto, porque o ato de ensinar e, portanto, a prática pedagógica envolve e exige certa cumplicidade entre professor e aluno e essa cumplicidade se constrói nas intervenções diárias, na prática pedagógica diária.

Segundo Saltini (2008), "essa inter-relação é o fio condutor, o suporte afetivo do conhecimento." (p. 100). Esse autor complementa:

Neste caso, o educador serve de continente para a criança. Poderíamos dizer, portanto, que o continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas são acolhidas e valorizadas, tal qual um útero acolhe um embrião. A criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ouvida para que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado. (Saltini, 2008, p. 100)

Quando ocorrem explosões de raiva, o professor precisa ter habilidade e paciência e seria ótimo manter um diálogo com o aluno, acolhendo-o e ouvindo-o como recomenda Saltini (2008, p. 102), buscando entender os sentimentos do aluno e buscando soluções para as suas dificuldades. Tendo sensibilidade para entendê-los e buscando ações que os valorizem e dessa forma utilizando a afetividade como elemento facilitador da aprendizagem.

 

Considerações

A afetividade nas diferentes concepções teóricas aqui expostas desempenha uma função de organização das atividades psíquicas, caracterizando-se como facilitador da aprendizagem.

A relação afetiva professor aluno reflete bons resultados na aprendizagem, pois aquele aluno que vê, em seu professor, um amigo, um companheiro, um colaborador, evita causar-lhe desgostos, quer ser como ele, o tem como alguém da família e, assim, adota, quase que inconscientemente, uma conduta de respeito, cooperação e atenção nas suas aulas, frutificando uma assimilação mais rápida e consistente do conteúdo por ele ministrado.

Muitos estudos já apontaram a importância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem com base nas mais diversas teorias, cabendo destacar as conclusões de Silva et al. (2013), que realizaram pesquisa com dez meninos e dez meninas com idade entre 7 e 8 anos, do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Hortênsia, situada no Município de Itapecerica da Serra-SP e concluíram que afetividade possui grande importância no processo ensino-aprendizagem, e que com um bom relacionamento entre professor e aluno acontece uma aprendizagem satisfatória. Nesta pesquisa restou claro que é necessário que os professores entendam que o lugar que ocupam na sala de aula em relação aos seus alunos não é apenas daquele que ensina, mas aquele que deixa marcas e boas recordações no futuro.

Márcia Lustosa Silva et al. (2014), ao avaliarem 48 alunos do Ensino Médio de uma Escola Técnica Estadual, localizada na cidade de Goiana, estado de Pernambuco (Brasil), compararam a dimensão afetiva em relação com o desempenho escolar e constataram um melhor desempenho no grupo de estudantes com ligações afetivas aos seus docentes. De acordo com este estudo, o vínculo estabelecido pela interação professor e aluno propicia a construção do conhecimento específico, baseando-se na dimensão afetiva e interpretação que ambos fazem a respeito de suas ações e comportamentos mediante o processo de ensino-aprendizagem.

Com base na pesquisa realizada com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual de Teresina-PI sobre o que eles pensam acerca da afetividade, suas manifestações nas vivências escolares e a relação que estas têm com a aprendizagem de conteúdos, Silva e Albuquerque (2015) concluíram que os alunos apresentaram uma concepção de afetividade atrelada à relação professor aluno, pautada em carinho, atenção, compreensão e diálogo e atribuem grande importância à afetividade no processo de aprendizagem. Esses alunos consideraram como um bom professor aquele que sabe expor os conteúdos, é carinhoso, tem um bom relacionamento com os alunos e interage com estes e facilitam a aprendizagem, à medida que os alunos apontaram as disciplinas que mais gostavam como aquelas ministradas por seus professores favoritos e que, por sua vez, são aquelas em que mais se esforçam e adquirem mais aprendizado e têm melhor desempenho escolar.

É inegável e fundamental que se reconheça a afetividade do aluno como uma dimensão inseparável e responsável pela promoção da aprendizagem, e que o professor também tenha clareza dessa afetividade como mola propulsora, utilizando-a de forma a favorecer a sua prática pedagógica.

A afetividade ocupa, portanto, lugar de destaque dentro do processo de aprendizagem e a maneira como ela acontece pode ser decisiva na elaboração do conhecimento culturalmente organizado pelo aluno, bem como na sua concepção do mundo.

Esperamos que essas reflexões possam ser úteis àqueles que pretendem transpor os desafios que se lhes apresentam nestes novos tempos e que possam conduzir os envolvidos na prática pedagógica à utilização da afetividade como elemento de facilitação da aprendizagem, tornando esta uma prática real e constante nas nossas escolas, contribuindo para a formação não só de crianças, mas de uma sociedade mais saudável e feliz.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Renata Soares Leal Ferrarezi
Av. Interlagos, 1329 - Chácara Flora - São Paulo, SP, Brasil - CEP 04661-100
E-mail: renataferrarezi@gmail.com

Artigo recebido: 22/4/2022
Aprovado: 28/10/2022

 

 

Trabalho realizado no programa de mestrado em Educação na Universidade Ibirapuera-UNIB, São Paulo, SP, Brasil.
Conflito de interesses: A autora declara não haver.

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