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Aletheia
Print version ISSN 1413-0394
Aletheia no.43-44 Canoas Aug. 2014
ARTIGOS EMPÍRICOS
A percepção de psicodramatistas e gestalt-terapeutas sobre os fatores facilitadores de integração entre as suas abordagens
The perception of psychodramatists and gestalt therapists about the factors that facilitates integration between their approaches
Érico Douglas VieiraI; Luc VandenbergheII
I Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí
II Pontifícia Universidade Católica de Goiás
RESUMO
O objetivo deste artigo é descrever condições sugestivas de integração entre o Psicodrama e a Gestalt-terapia, tema que emergiu de uma sequência de conversações com profissionais destas abordagens. Foram entrevistados 22 profissionais que possuem um percurso significativo nas abordagens, 11 de cada escola. A teoria fundamentada nos dados foi o método utilizado, buscando-se a teorização emergente a partir dos depoimentos obtidos. Como condições que sugerem a integração foram identificadas: a abertura integrativa existente na própria abordagem; a afinidade epistemológica entre a Gestalt-terapia e o Psicodrama; a percepção dos déficits na própria abordagem; a percepção que a integração pode ampliar a prática clínica. Esses resultados apontam a existência de elementos que podem viabilizar a integração entre as psicoterapias.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, Psicodrama, Integração em psicoterapia.
ABSTRACT
This article describes conditions that favor integration of Psychodrama and Gestal-ttherapy that emerged in conversations with professionals of these approaches. 22 professionals with substantial involvement in either of these two movements were interviewed, 11 belonging to each approach. A grounded theory analysis was used to allow theory to emerge from the contents. Conditions that favor integration are the openness that exists in the therapist's approach; epistemological similarities with the other approach; the perception of deficits in the therapist's approach; the appreciation of integration as a way to broaden the scope of one's clinical practice. These results suggest that elements exist that can make psychotherapy integration viable.
Keywords: Gestalt-therapy, Psychodrama, Psychotherapy integration.
Introdução
As possibilidades de diálogos e trocas entre abordagens psicológicas vem despertando um crescente interesse dos pesquisadores e psicoterapeutas. Coexistem de um lado promessas de expansão da prática profissional e da compreensão dos processos clínicos através das aproximações entre saberes e, de outro, um receio de que uma "mistura" teórica resulte em combinações desordenas e produtos incoerentes (Figueiredo, 2009; Norcross, 2005). Por exemplo, o termo eclético possui uma conotação negativa no campo, revelando a ameaça que o tema da integração encerra (Gold & Stricker, 2006). Além disso, a rivalidade entre sistemas presente na história das psicoterapias persiste atualmente (Paris, 2013).
No entanto, ao lado da luta ideológica, há outro impulso em direção ao estabelecimento de aproximações entre sistemas (Norcross, 2005). Watchel (2010) argumenta que os obstáculos para o vislumbre de outras formas de ver e pensar estão sendo cada vez mais removidos. Os pesquisadores e psicoterapeutas passam a olhar para as outras abordagens com algum interesse e seriedade, ficando expostos a mais de uma maneira de pensar e praticar a psicoterapia.
Surge na década de 1990 o chamado Movimento de Integração em Psicoterapia, caracterizado pela congregação de profissionais que buscam ultrapassar as próprias fronteiras para ver o que pode ser aprendido a partir de outras formas de fazer psicoterapia (Hawkins & Nestoros, 1997; Norcross, 2005). Este movimento possui associações e revistas científicas nos Estados Unidos e na Europa. No cenário brasileiro detectam-se produções esparsas sobre aproximações entre abordagens. Parece predominar o receio descrito acima quanto à perda da coerência decorrente da integração.
A partir das tensões descritas entre impulsos para a integração e o receio presente no campo, surgiu a ideia de investigar, através de uma pesquisa qualitativa, como eram as condições que estimulam aproximações entre a Gestalt-terapia e o Psicodrama. Objetivou-se estudar as perspectivas de psicodramatistas e gestalt-terapeutas a partir das suas narrativas quando instados a refletirem sobre as possibilidades de pontes entre a abordagem de cada um e a outra. Na prática clínica e docente dos autores deste artigo houve a percepção de semelhanças e afinidades entre as duas abordagens e a constatação da escassez de estudos sobre esta aparente unidade. A partir disso, cresceu a motivação para investigar mais profundamente este possível espaço de interseção. A expectativa era encontrar nas ponderações dos entrevistados os fatores em comum entre as duas escolas tais como as bases filosóficas existenciais, humanistas e fenomenológicas como a condição principal promotora de aproximações. Apesar de este aspecto ter surgido, outros pontos inesperados emergiram das narrativas e averiguaram-se mais importantes como a constatação de que as abordagens foram construídas graças a intercâmbios com diversos saberes, a consciência de falhas da abordagem de filiação que estimulam buscas externas, a percepção de que a complexidade da prática clínica demanda estudar outros conceitos, dentre outros aspectos que serão descritos.
Pretende-se que a análise das experiências dos psicodramatistas e gestalt-terapeutas entrevistados possa fomentar outros estudos sobre integração entre estas duas escolas e auxiliar o campo das psicoterapias nas reflexões sobre as condições de abertura para a aproximação entre outras abordagens.
Método
A Teoria Fundamentada nos dados, metodologia de natureza qualitativa, foi adotada neste estudo. Consiste numa forma de coletar e analisar material através de diretrizes sistemáticas e flexíveis com o objetivo de construir uma teoria fundamentada nos próprios dados (Charmaz, 2009). O agnosticismo teórico consiste na recusa do pesquisador em alinhar sua interpretação precocemente com uma posição teórica já articulada e com estudos existentes na área. O pesquisador deve se aproximar da realidade empírica sem hipóteses preconcebidas objetivando a construção de códigos e categorias a partir dos dados. Através de um ajuste adequado aos dados, procura-se uma compreensão conceitual e abstrata da realidade estudada (Pidgeon & Henwood, 2009). Apesar de prescindir de hipóteses para a construção do estudo, os pesquisadores possuem interesses iniciais de pesquisa. No entanto, são necessárias comparações constantes destes interesses com os dados emergentes (Lyn & Morse, 2013).
Para a coleta de dados a entrevista intensiva foi utilizada. Esta ferramenta permite reflexões minuciosas e a possibilidade de exploração detalhada sobre um tema do qual os entrevistados tenham experiências consideráveis. Permite, ainda, insights consideráveis dos participantes e a oportunidade de abordar aspectos emergentes durante a conversa (Charmaz, 2009).
Como participantes da pesquisa, buscamos entrevistados com base em dois critérios: a disponibilidade em fornecer a entrevista e a capacidade de dar informações. Os primeiros participantes foram buscados através da rede de relacionamentos do pesquisador. Iniciado o processo das entrevistas, outros informantes foram indicados pelo próprio entrevistado. Tal procedimento de constituição de amostra denomina-se snowballing. A partir da disponibilidade em dar informações, o participante assinava um termo de consentimento e autorizava a gravação em áudio da entrevista. Onze entrevistas aconteceram nos consultórios dos profissionais, a partir de agendamento prévio. Duas entrevistas aconteceram via Skype. Em algumas situações, o pesquisador precisou se adequar às particularidades do momento em que o participante tinha a disponibilidade em fornecer a entrevista. Neste sentido, nove entrevistas foram realizadas durante congressos de Psicodrama e de Gestalt-terapia. Neste caso, o entrevistador procurava uma sala adequada no local do evento para a realização da entrevista. A inserção do entrevistador e entrevistados neste ambiente de congresso pode ter funcionado como um efeito de imersão, estimulando as reflexões durante as conversações. As vinte e duas entrevistas foram realizadas entre fevereiro de 2012 e outubro de 2013.
As entrevistas foram baseadas nos seguintes eixos norteadores: trajetória na própria abordagem; grau de conhecimento da outra abordagem; pontos em comum entre a Gestalt-terapia e o Psicodrama; reflexões sobre características das duas abordagens; possibilidades de integrações entre as abordagens.
Os participantes foram 22 profissionais, onze psicodramatistas e onze gestalt-terapeutas. Foram entrevistados 14 mulheres (06 psicodramatistas e 08 gestalt-terapeutas) e 08 homens (05 psicodramatistas e 03 gestalt-terapeutas). Dezessete são professores de formação na abordagem (07 de Psicodrama e 10 de Gestalt-terapia) e seis são professores universitários (05 de Gestalt-terapia e 01 de Psicodrama). O papel de pioneirismo em âmbito regional e nacional foi exercido por 10 informantes (06 gestalt-terapeutas e 04 psicodramatistas). Temos 10 donos de institutos de formação (06 gestalt-terapeutas e 04 psicodramatistas). Por fim, oito são autores de livros na abordagem (06 gestalt-terapeutas e 05 psicodramatistas). A amostra é constituída por informantes que possuem percurso respeitado em suas comunidades. Além disso, o número considerável de pioneiros e donos de institutos sinaliza a possibilidade de serem profissionais profundamente comprometidos com os interesses de suas comunidades. Possuem uma sólida trajetória na abordagem, pois todos possuem experiência prática relevante, além de terem contato constante com conceitos através de atividade docente e de produção intelectual. O encerramento da busca de novos participantes se deu pela análise de que as perguntas de pesquisa foram respondidas.
As entrevistas foram gravadas, transcritas textualmente e geraram o material a ser analisado. A análise foi feita pelos dois autores que constituiam o painel de pesquisa, ambos psicólogos clínicos. As categorias construídas foram resultado da investigação das entrevistadas sem nenhuma adoção de hipótese ou a priori. A intenção era conhecer algo novo que pudesse emergir das narrativas. A análise dos dados se inicia com a codificação aberta da Teoria Fundamentada que representa uma primeira tentativa para nomear os segmentos de dados para a compreensão do assunto em pesquisa. A codificação pretende promover um salto dos eventos concretos para os insights teóricos (Charmaz, 2009). Os segmentos de dados, que são os trechos das entrevistas, foram nomeados na margem. Foram realizadas sucessivas discussões a respeito da codificação entre a equipe de pesquisa para a ampliação da análise. Cada entrevista foi estudada minuciosamente. As transcrições das entrevistas foram comparadas com a finalidade de identificar padrões em comum. Várias revisões dos códigos iniciais geraram códigos focados, que eram mais refinados. Estes foram organizados em famílias a partir de suas semelhanças formando categorias e subcategorias. Esta organização gerou uma tabela com os conjuntos de códigos agrupados em categorias. A cada nova entrevista, novos códigos emergiam e eram inseridos na tabela. Várias reconfigurações dos dados foram realizadas através da comparação e análises repetitivas, experimentando várias maneiras de organizar os códigos. Comparações constantes dos dados brutos e dos códigos com as categorias emergentes levaram a uma sequência de revisões em busca dos conceitos que melhor captassem os significados negociados nas entrevistas. Os temas que não estavam explícitos nos conteúdos das entrevistas, mas que estavam subjacentes às falas dos entrevistados foram escritos em memorandos. Estes textos deram suporte analítico ao desenvolvimento das categorias e dos códigos.
Em suas narrativas, os participantes relataram perspectivas e experiências que identificam elementos que favorecem os diálogos integrativos e as condições que potencializam a abertura para trocas entre e o Psicodrama e a Gestalt-terapia. As categorias construídas a partir da análise dos dados foram: (01) A própria abordagem possui uma abertura integrativa; (02) As duas abordagens possuem pontos em comum; (03) Percepção de falhas da própria abordagem e (04) Ampliação da prática clínica através da integração. Os achados desta pesquisa são específicos às características desta amostra de profissionais engajados com a abordagem de filiação nos âmbitos prático, teórico e institucional.
Por fim, é importante informar que este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás sob o protocolo de número CAAE 003.0.168.000-11.
Resultados
A Tabela 1 demonstra quais participantes contribuíram para a construção de cada código, como também o agrupamento dos códigos nas categorias que compõem o eixo das condições facilitadoras de integração. Os participantes são designados pelas letras G para gestalt-terapeutas e P para psicodramatistas.
A própria abordagem possui uma abertura integrativa
No exercício de reflexão sobre as características da abordagem de filiação e da outra abordagem analisada, os participantes concluem que não existe uma pureza no percurso de uma abordagem, há uma recorrente assimilação de conceitos e práticas de outros sistemas. Mesmo após o processo de criação e consolidação, a incorporação de conceitos, ideias e atitudes clínicas de outras abordagens permanece.
Os participantes trazem exemplos concretos dessa observação: o Psicodrama absorveu influências do Hassidismo que é uma corrente filosófica do Judaísmo, além de ter tido uma grande influência do Existencialismo (P11). A metodologia psicodramática foi construída a partir de influências do teatro (P10, P11, P14). De acordo com muitos gestalt-terapeutas, sua abordagem absorveu influências do Psicodrama principalmente no trabalho com grupos e na utilização de recursos de ação (G2, G3, G4, G5, G6, G7, G8, G18, G19 e G22). Alguns psicodramatistas também constatam esta influência do Psicodrama sobre a visão clínica de Perls (P12, P14, P15 e P21). O florescimento do Psicodrama no Brasil na década de 1970, que rompeu com a hegemonia da Psicanálise, abriu caminho para o surgimento da Gestalt-terapia (P16). Muitos aspectos do Psicodrama são amplamente utilizados pela entrevistada G5, incluindo o manejo de cenas e dramatizações. Ela usa estas técnicas para ajudá-la a realizar os objetivos da sua própria abordagem, como a presentificação da experiência, por exemplo.
Para alguns gestalt-terapeutas, no entanto, a influência do Psicodrama na Gestalt-terapia é prejudicial. Os workshops de demonstração de Perls eram vivenciais e catárticos, com a utilização de técnicas de dramatização. Essa forma de praticar a Gestalt-terapia deu origem a uma vertente que é rejeitada como invasiva e traumática por certos gestalt-terapeutas (G18, G19 e G20). Diferente da vertente vivencial, a vertente relacional e dialógica veicula um discurso mais orientado pelas ideias de Martin Buber. Os gestalt-terapeutas dialógicos formam um forte grupo dentro da comunidade gestáltica brasileira. Percebe-se no grupo dialógico uma crítica às dramatizações nos workshops feitos pelo Perls (G2, G7, G8, G18, G19, G20 e G22). As técnicas de ação são vistas como imposição da autoridade do terapeuta. Com isso, a neurose do cliente em querer se ajustar à sociedade é intensificada quando o cliente atende as expectativas do terapeuta.
De acordo com certos participantes, a Gestalt-terapia influencia e é influenciada por outras abordagens, e isto é desejável (G5 e G7). A absorção das ideias de Martin Buber tornou a Gestalt-terapia mais relacional, assim como as influências de Sartre contribuíram para a valorização da ação. A influência que Perls recebeu das ideias de Bergson e Nietzche é notada (G8). O trabalho com o conceito de aqui e agora é, de acordo com o entrevistado G8, uma influência nietzschiana. Os gestalt-terapeutas atuais devem continuar explorando e cultivando estes diálogos filosóficos para que não caiam em um pragmatismo reducionista (G8).
Na outra via, a Gestalt-terapia inspira alguns psicodramatistas no trabalho com atendimentos individuais (P13 e P14). O Psicodrama é uma abordagem originalmente grupal. No entanto, os psicodramatistas contemporâneos estão interessados em desenvolver a psicoterapia individual psicodramática e a Gestalt-terapia tem formulações ricas para esta modalidade. Os psicodramatistas absorvem da Gestalt-terapia a forte ênfase na construção de uma aliança terapêutica, além das técnicas adaptadas para a situação bipessoal. Algumas técnicas de ação do Psicodrama, que foram adaptadas para o contexto gestáltico de terapia individual, agora são assimiladas da Gestalt-terapia em novos formatos pelos psicodramatistas.
O livre fluxo de ideias, conceitos e atitudes clínicas entre abordagens demonstrado pelos participantes sinaliza que esta abertura integrativa perene pode abrir caminho para novas trocas.
As duas abordagens possuem pontos em comum
A abordagem de filiação e a outra são percebidas dentro de uma visão contextual que contém todas as outras escolas. Nesta visão, uma unidade entre o Psicodrama e a Gestalt-terapia se insinua para os participantes. Na reflexão sobre a geografia das abordagens, os pontos em comum se evidenciam dentro de um contexto com outras abordagens mais divergentes epistemologicamente.
As similaridades entre as duas abordagens podem ser em parte explicadas pela influência do teatro. O teatro como veículo de expressão humana serviu de inspiração para a criação das duas abordagens, aspecto epistemológico que pode aproximá-las. Perls teve uma significativa aproximação do teatro antes de conhecer o Psicodrama. Perls foi ator de teatro e sempre teve interesse em estudar o tema (G8, G19). A expressão "medo de palco" utilizada por ele – que representa o medo do julgamento dos outros – pode ser fruto dessa influência (G19). Moreno toma posse de alguns conceitos oriundos do teatro como a ideia de catarse, da tragédia grega e o conceito de papel e, no plano metodológico, de instrumentos como protagonista, palco, plateia e diretor (P10, P11, P14).
Alguns participantes também têm consciência de que as duas abordagens se unem nas críticas à Psicanálise. A Gestalt-terapia veio diretamente de uma dissidência da Psicanálise. O livro "Ego, Fome e Agressão", de Perls, foi escrito por ele quando ainda estava no meio psicanalítico. O autor rompeu com muitos conceitos freudianos, pois sentiu que a Psicanálise valorizava demais o intelecto (G8). Perls "bebeu de várias fontes", como a Psicologia da Gestalt e a Teoria Organísmica, conseguindo formar uma síntese nova. Ao incorporar aspectos de outras abordagens criou a Gestalt-terapia (G19, G22).
Alguns psicodramatistas enfatizam a importância de contribuições psicanalíticas como o inconsciente e os mecanismos de defesas (P10, P13, P14 e P16). No entanto, sua utilização rígida pode ser um obstáculo para o entendimento do contexto do cliente. Para alguns particpantes, a Psicanálise é vista como tendo o foco no indivíduo isolado, imerso nele mesmo, como se seus sintomas surgissem "dentro" dele. O Psicodrama oferece uma visão do ser humano em relação. Os conceitos como papel e contrapapel, matriz de identidade, átomo social, sugerem que até mesmo as psicopatologias são produzidas no ambiente social (P10 e P16).
Os participantes percebem que tanto o Psicodrama como a Gestalt-terapia valorizam a vivência e a experiência para além de análises verbais, pois estes podem bloquear o contato do cliente com seus sentimentos (G2, G4, G5, G6, P13, P15 e P21). As duas abordagens desenvolveram-se em oposição a uma tendência intelectualista, pois as psicoterapias que buscavam somente o insight intelectual reduziam o potencial de expressão dos indivíduos (G2). O Psicodrama e a Gestalt-terapia possuem em comum uma visão de homem calcada nos pressupostos da Fenomenologia e do Existencialismo (P1, G2, G3, G7, P10, P14 e P17). Outro ponto de convergência é a perspectiva de uma relação horizontal entre terapeuta e cliente para romper com o poder hierarquizado do terapeuta (G3 e P13). A distância entre terapeuta e cliente dificulta a conexão e as possibilidades de mudança do cliente. É desejável que o terapeuta se apresente menos como técnico e mais como pessoa – claro que como uma pessoa qualificada – e as duas abordagens buscam isso (G2 e G3).
As duas abordagens se encontram também ao valorizarem a intersubjetividade porque percebem o ser humano em função do contexto de suas relações, além de utilizarem-se da relação terapêutica como motor para as transformações dos indivíduos (G2, G3, P11, P13 e P21). A valorização do trabalho com grupos também é uma importante similaridade (G2, G3, G7 e P15). Ambas enfatizam a experiência presente, procurando trabalhar com a presentificação, com o foco no como o cliente vivencia no aqui e agora aspectos do passado e projeções futuras (G5, G6 e P9). Porém, as semelhanças filosóficas se expressam em formulações teóricas muito diversas (G6). Deve se ter o cuidado em comparar conceitos que podem parecer similares na superfície, mas que se mostram teoricamente diferentes quando examinados mais detidamente (P17).
Às vezes, as similaridades mais importantes não são aquelas que aparentam serem as mais óbvias. A distinção entre figura e fundo da Gestalt-terapia se assemelha à distinção entre temas protagônicos e temas correlatos do Psicodrama (P10). O conceito de awareness da Gestalt-terapia tem ligação com o conceito de espontaneidade do Psicodrama (P21).
Vários gestalt-terapeutas consideram que os psicodramatistas realizam aspectos que são centrais na Gestalt-terapia, como o contato com os sentimentos (G2), a concretização e a ação (G3 e G5) e a presentificação da experiência (G5 e G19). O Psicodrama trabalha com um enfoque sistêmico e contextual que é similar ao que a Gestalt-terapia chama de teoria de campo (G3). Assim, se torna compreensível a observação que o aprimoramento da própria abordagem conduz à semelhança com a outra abordagem (P14).
Portanto, os participantes percebem aproximações entre o Psicodrama e a Gestalt-terapia através dos seus pressupostos filosóficos e visão de homem que podem inseri-las no grupo das abordagens que valorizam a experiência presente, a vivência através da ação, a intersubjetividade e a horizontalidade na relação terapêutica.
Percepção de falhas da própria abordagem
No processo de reflexão estimulado pelas entrevistas, a visão crítica e a humildade dos participantes em reconhecer as lacunas da abordagem de filiação podem quebrar a autossuficiência e permitir a possibilidade de fertilização por influências externas.
Alguns entrevistados consideram que a própria abordagem carece de fundamentos teóricos, além de não fornecerem todos os aportes metodológicos necessários para a prática (P11, P14, P15, P17 e G20). O distanciamento das tradições originais, pela desvalorização do trabalho com grupos (G5) e o engano em acreditar que somente no atendimento individual é possível um enfoque fenomenológico (G3), prejudicaram a Gestalt-terapia. O Psicodrama também se distanciou da tradição original por desconsiderar o trabalho com as questões sociais e com o desejo de transformação social (P16). O Psicodrama inclui vertentes deterministas que vão contra a essência aberta da abordagem. As teorias da Matriz de Identidade e do Núcleo do Eu não devem ser seguidas à risca, sob pena de encaixar os sujeitos em fases do desenvolvimento (P12 e P17). Alguns psicodramatistas criticam o hermetismo teórico nos escritos de Moreno que são considerados de difícil entendimento (P14 e P17). Insistir muito nas dramatizações, impondo ao cliente a realização da técnica, pode ser contraterapêutico (P15). Falta uma teoria de desenvolvimento mais consistente (P16 e P17) e essa carência do cultivo de fundamentos teóricos, faz com que alguns psicodramatistas trabalhem de forma excessivamente pragmática. Com isso, a abordagem perde espaço na atualidade (P17).
Críticas são tecidas visando os profissionais da própria abordagem que deturpam sua essência quando deixam de aprofundar e buscar o aperfeiçoamento. Isto pode, por exemplo, resultar em práticas diretivas na Gestalt-terapia que é uma abordagem essencialmente não diretiva. Há uma contradição entre uma filosofia libertária retratada nos conceitos e as práticas autoritárias de alguns profissionais na Gestalt-terapia (G8). Alguns "defeitos" humanos, como o narcisismo e a competividade, são grandes obstáculos para a prática da Gestalt-terapia (G18 e G20). Os psicodramatistas podem ficar detidos na execução das técnicas, que são eficazes, sem tentar entender as matrizes teóricas de onde surgiram. Dessa forma, prestam um desserviço à abordagem que luta para romper um preconceito de que o Psicodrama seria somente um conjunto de técnicas (P10, P12 e P17). Com a ênfase no "fazeísmo", termo utilizado por um entrevistado (G8), os profissionais querem somente aplicar técnicas, sem uma reflexão sobre os fundamentos filosóficos (G8 e P17).
Os participantes gostariam que as suas abordagens desenvolvessem um corpo teórico mais robusto e que os profissionais as representassem de forma mais adequada. Há uma insatisfação com profissionais que se prendem na execução de técnicas sem o esforço em aprofundar nos fundamentos teóricos. Estas lacunas podem abrir caminho para aprender como o outro lida com estas questões.
Ampliação da prática clínica através da integração
A percepção das potencialidades de outras abordagens, a complexidade da realidade que se apresenta ao profissional e a constatação da insuficiência da própria abordagem em responder a esta complexidade podem, conjuntamente, facilitar a busca por outros recursos. Há o vislumbre de que seria benéfico o estabelecimento de pontes entre abordagens e de que a prática profissional pode ser ampliada.
Muitos profissionais acham enriquecedor o estudo de diversas abordagens, e para alguns isso é realmente indispensável: "A minha maior diferença é que me recuso a ficar restrita por qualquer sistema teórico, o ser humano é tão complexo que acho que precisamos de todos para ajudá-lo" (P13). A complexidade da prática clínica traz questões que uma abordagem sozinha não pode responder, estimulando o profissional para uma abertura para conhecer outros sistemas (P10 e G20). Ao dialogar com outros sistemas, os profissionais podem se beneficiar com a riqueza que as diferentes perspectivas trazem para a compreensão do ser humano (P11, P13, P15, P17 e G20). A conexão com o cliente exige a transcendência dos modelos teóricos, o profissional não deve se prender às teorias para não ofuscar a percepção do cliente (G2, G8, P13, G18 e G20). Por exemplo, para P13 a relação terapêutica é mais importante para o sucesso do trabalho do que a teoria.
Muitos profissionais entrevistados estudam diversas abordagens para contemplar a diversidade da experiência pessoal, e um dos entrevistados chega a sentir a necessidade deste estudo. A partir da fala de P9, para que a prática aconteça em sintonia com a identidade do profissional é necessário o estabelecimento de pontes com outras abordagens. As características pessoais do profissional podem facilitar a integração especialmente, a humildade intelectual que promove o cultivo de uma atitude de constante busca de estudos e melhorias (G20).
A admiração pela outra abordagem pode ser um fator importante para a construção de pontes epistemológicas bem como a percepção dos aspectos em comum com a própria abordagem (P1, G5 e P13). Perceber a forma distinta como a outra abordagem trabalha algum fator que é importante na própria abordagem, fomenta uma relação de proximidade e uma vontade em aprofundar os conhecimentos na outra abordagem (P1, G5 e P13).
Portanto, conseguir intervir em realidades complexas, a preocupação ética em atender eficazmente a clientela e a busca pessoal pelo aperfeiçoamento guiam os profissionais para o exercício da integração.
Discussão
Os estudos sobre aproximações entre abordagens são escassos na literatura e o desenho predominante é de natureza teórica. Milanello (2005) buscou compreender as compatibilidades entre Moreno e Winnicott quanto à ideia de amadurecimento psicológico. Bezerra (2007) investigou as afinidades epistemológicas entre a Gestalt-terapia e a Abordagem Centrada na Pessoa, traçando as necessidades atuais de reformulações destas escolas diante dos desafios contemporâneos. Calderoni (2010) objetivou em seu trabalho identificar as convergências e possibilidades de complementação entre o Psicodrama e a Dasenisanalyse de Medard Boss. Philippi (2004) realizou estudo teórico sobre as aproximações entre a Gestalt-terapia e as Terapias Sistêmicas quanto ao conceito de subjetividade. O que se conclui é que tais estudos de natureza teórica priorizam o ponto de vista do pesquisador e não as perspectivas dos psicoterapeutas. O presente estudo, por sua vez, procurou privilegiar as percepções dos psicodramatistas e gestalt-terapeutas sobre as possibilidades de aproximações entre suas abordagens. Foi adotado o referencial da pessoa que vive a realidade na base e não o ponto de vista do pesquisador acadêmico, nos casos de estudos bibliográficos.
Nas reflexões sobre o processo de formação e desenvolvimento de sua abordagem, alguns participantes percebem uma realidade dinâmica de trocas de conceitos com outras escolas. Cada abordagem encontra-se em permanente transformação para tentar responder aos anseios de sua comunidade profissional e às necessidades da clientela atendida. Neste sentido, a integração representa um importante papel para o enriquecimento de cada abordagem, pois a assimilação de outras ideias representa uma condição vital para o amadurecimento (Norcross, 2005). Esse fluxo integrativo é criativo e inovador, já que os aspectos assimilados sofrem modificações para a composição coerente com as ideias da abordagem (Stricker, 2010). Este insight dos participantes pode provocar uma tensão reflexiva para os que censuram ou possuem receio quanto à integração.
Como exemplo da realidade dinâmica das abordagens, pode-se perceber a diferença entre a Gestalt-terapia centrada em workshops de ação, praticada em sua origem, e seu exercício atual calcado na relação terapêutica. A partir da década de 1980, os gestalt-terapeutas trocaram o modelo tradicional de ação do terapeuta sobre o cliente por outro que considera ambos como pertencentes a um campo relacional. Há uma maior identificação com a chamada Gestalt-terapia relacional, que pôde ser elaborada graças à influência do filósofo Martin Buber (Frazão & Fukumitsu, 2013). Os gestalt-terapeutas encontram-se divididos entre um grupo que permanece com interesse nas contribuições dos recursos de ação do Psicodrama e o outro grupo dos gestalt-terapeutas relacionais que preferem o afastamento do Psicodrama. Este grupo tece severas críticas às técnicas de ação e esta repulsa pode ter desestimulado possíveis trocas entre as duas abordagens.
Apesar de alguns bloqueios, através das narrativas dos participantes pode ser notado um canal de influência entre a Gestalt-terapia e o Psicodrama. Os psicodramatistas puderam construir modalidades individuais de atendimento clínico com a ajuda de ideias da Gestalt-terapia (Fonseca, 2000). Os achados da pesquisa e a literatura apontam para uma significativa influência que o Psicodrama exerceu sobre a Gestalt-terapia. Fritz Perls, que participou de sessões de Psicodrama dirigidas por Moreno, incorporou a técnica da cadeira vazia na Gestalt-terapia (Blatner, 1996) e as dramatizações, mas com a denominação de experimentos. No entanto, Perls já havia participado ativamente do teatro expressionista alemão antes de conhecer o Psicodrama (Lima, 2013). O trabalho de cunho experiencial da Gestalt-terapia não pode ser creditado somente pela influência do Psicodrama. É plausível supor que o Psicodrama despertou o interesse de Perls pelo seu prévio gosto pelo teatro como veículo de expressão humana. Na sua autobiografia, Perls (1979, p.248) menciona a palavra "psicodrama", quando explica os procedimentos que adotava nos seus workshops ao pedir aos membros do grupo para verbalizarem seus sentimentos como se alguém significativo estivesse presente. Em outra obra, Perls (1988) aponta uma unidade entre sua abordagem e o Psicodrama:
Há muitas escolas, além da nossa, que fazem uso do método da auto expressão como um meio de reidentificação. [...] eu gostaria de selecionar a técnica psicodramática de Moreno como uma das demonstrações mais vívidas do modo de aplicar a técnica de ir e vir (Perls, 1988, p.105)
A assimilação de procedimentos técnicos pode transformar a técnica em algo novo. Enquanto no Psicodrama, a dramatização é utilizada para resgatar a espontaneidade, procurando novas respostas para situações vividas (Moreno, 1975), Perls (1988) sugeria aos seus clientes que vivessem novamente uma situação para ganharem consciência dos modos pelos quais estavam se bloqueando e interrompendo o fluxo das experiências. Essa metamorfose é típica na assimilação integrativa, que é a incorporação de atitudes, perspectivas e técnicas provenientes de outras abordagens, porém mantendo a própria visão clínica. Os procedimentos clínicos incorporados mudam em função do novo contexto em que são utilizados, levando à acomodação da técnica assimilada que ganha uma finalidade diferente (Lampropoulos, 2001).
Um espaço de unidade entre o Psicodrama e a Gestalt-terapia foi delineado. Inicialmente, a equipe de pesquisa tinha a expectativa de que as bases fenomenológicas e existenciais seriam os principais pontos em comum citados. De fato, a pouca literatura disponível que trata da unidade entre as duas abordagens é centrada na base fenomenológico-existencial compartilhada (Almeida, 2006) ou na influência de Moreno sobre o trabalho de Perls (Blatner, 1996). O presente trabalho traz alguns avanços na investigação deste espaço de unidade. Outros aspectos filosóficos e metodológicos foram apontados tais como: a valorização da presentificação da experiência, a adesão à tendência anti-intelectual em psicoterapia, o trabalho com a dimensão intersubjetiva e contextual do ser humano e a busca de uma relação terapêutica horizontal.
É interessante observar que mesmo possuindo formulações teóricas muito diferentes, as abordagens possuem estas afinidades filosóficas que podem gerar condutas semelhantes dos seus profissionais. A afinidade metodológica detectada revela que o Psicodrama e a Gestalt-terapia possuem algumas concepções semelhantes sobre o papel do terapeuta, a visão de mundo e de ser humano e os mecanismos de mudança. Os participantes perceberam estas afinidades quando pensaram na inserção do Psicodrama e da Gestalt-terapia dentro de um contexto global com todas as outras abordagens. Os entrevistados questionam a relação de poder entre terapeuta e cliente, argumentando em favor de uma maior horizontalidade. Neste sentido, o terapeuta deve estar presente como uma pessoa e não como um técnico distante. Ele não deve se colocar como uma autoridade que sabe mais do cliente do que ele mesmo. O terapeuta se coloca como não diretivo porque existe uma crença nos recursos saudáveis do cliente. Esta concepção sobre a horizontalidade na relação terapêutica pode estimular reflexões críticas no campo da psicoterapia sobre os caminhos da mudança e os papeis do terapeuta e do cliente no processo terapêutico. O Psicodrama e a Gestalt-terapia se inserem na Terceira Força em Psicologia, movimento constituído por psicoterapias humanistas que enfocam o aumento das capacidades expressivas dos indivíduos bem como a busca por relações sociais mais autênticas (Sá-Junior, 2009).
A abertura para reconhecer as próprias lacunas foi outro importante aspecto da pesquisa. Tendo em vista que a amostra é constituída por profissionais profundamente engajados, o reconhecimento das falhas exigiu uma atitude corajosa e não defensiva. Gostariam que as abordagens fossem mais sólidas do ponto de vista teórico. Reprovam as atitudes tecnicistas sem fundamentação teórica dos profissionais e o distanciamento das tradições originais. Apontam contradições como práticas diretivas e teorias deterministas que contrastam com as filosofias libertárias de suas abordagens. Estas reflexões podem quebrar a autossuficiência e o fechamento e podem representar um primeiro passo para a busca de outros sistemas que poderiam ajudar a corrigir as falhas ou suprir o profissional dos aspectos que a própria abordagem não consegue fornecer (Watchel, 2010). A inadequação de uma abordagem única para lidar com a diversidade e a complexidade dos problemas psicológicos levam os clínicos a procurarem soluções eficazes fora dos seus paradigmas particulares (Norcross, 2005). A integração pode ser uma relevante ferramenta para solucionar os impasses vividos nas comunidades de psicodramatistas e gestalt-terapeutas.
A possibilidade de empoderamento do terapeuta na incursão em outros saberes também é um ponto que merece destaque. Permanecer cego às contribuições de outras escolas pode diminuir as possibilidades de ação do psicoterapeuta (Norcross, 2005). Uma única abordagem não consegue contemplar a riqueza pessoal do terapeuta e não consegue se ajustar à complexidade das realidades enfrentadas. Terapeutas que ganham experiência se afastam dos métodos puros nos quais foram treinados e se dirigem para a construção de modelos mais individualizados difíceis de serem atribuídos a qualquer abordagem isolada (Gold & Stricker, 2006). Na conduta dos terapeutas, ao buscarem desenvolver um estilo próprio, a aquisição de subsídios técnicos e teóricos é uma realidade (Neto & Penna, 2006). Mesmo sendo profissionais altamente comprometidos em divulgar e promover a abordagem de filiação, os participantes revelaram a preocupação ética em seres mais fieis às necessidades do cliente. De fato, a habilidade do psicoterapeuta em responder à individualidade do cliente livre das limitações de qualquer ideologia terapêutica, é uma exigência ética presente na discussão sobre integração. Para Gold e Stricker (2006), a recusa do psicoterapeuta em trabalhar de acordo com as necessidades do cliente devido à fidelidade à sua abordagem pode produzir uma profunda sensação de desconsideração nos clientes.
Na busca de outros saberes, dois processos emergiram dos dados. Por um lado, há os profissionais que examinam conhecimentos de outras abordagens utilizando o critério da semelhança, buscando ajuda em abordagens que sejam mais afins com a própria. Há um fluxo livre em acessar uma abordagem que possui uma linguagem mais próxima. A ponte entre a Gestalt-terapia e o Psicodrama se aproxima deste processo. Outro tipo de integração é a escolha de uma abordagem mais divergente, supostamente com mais chance de poder contribuir com elementos ausentes na própria abordagem. No primeiro caso, temos o fortalecimento de elementos da própria abordagem por contribuições similares, enquanto no segundo temos a expansão da abordagem com elementos de uma abordagem complementar à própria.
O presente estudo apresenta suas especificidades considerando-se as abordagens estudadas e a constituição da amostra. O trabalho está circunscrito ao espaço de interseção entre duas abordagens com afinidades filosóficas. Outros achados poderiam resultar da investigação entre abordagens mais divergentes epistemologicamente. Além disso, a amostra constitui-se de profissionais experientes, com papel de pioneirismo, donos de institutos e autores de livros. Existem limitações para se estender os achados a outros contextos e informantes. As conclusões poderiam diferir se fosse estudada a percepção de alunos de graduação ou de estudantes de cursos de formação em Gestalt-terapia ou Psicodrama, por exemplo. Portanto, outros estudos analisando a percepção de outros grupos a respeito da interseção entre estas abordagens ou investigando a integração entre escolas divergentes se fazem necessários.
Considerações finais
As pontes já construídas entre o Psicodrama e a Gestalt-terapia são pouco exploradas na literatura profissional. Numa sociedade competitiva, as diferenças entre as abordagens recebem muita ênfase (Norcross, 2005). Essa pesquisa pretende contribuir para diminuir essa lacuna e para estimular novos estudos. Os achados podem também servir para nortear estudos sobre condições de abertura para integração entre outras abordagens.
Os pontos de unidade entre as duas abordagens aparecem nas reflexões sobre as características de cada uma dentro de um contexto mais amplo contendo as demais abordagens psicológicas. É desafiador entender de que maneira arcabouços teóricos tão diversos como os do Psicodrama e da Gestalt-terapia podem gerar atitudes clínicas semelhantes como a busca da horizontalidade na relação terapêutica, a ênfase no aqui e agora, a valorização da vivência e da experiência. Outras pesquisas podem investigar como os fatores específicos de cada abordagem fazem os fatores em comum manifestarem-se. O território das chamadas psicologias humanistas ou terceira força em Psicologia convida para futuras investigações. Pode ser enriquecedor entender as convergências, divergências e possibilidades de cooperação entre outras escolas deste grupo de abordagens.
A investigação deste espaço de interseção gerou possibilidades não imaginadas no início do processo. A expectativa era de que somente a categoria dos fatores em comum fosse elaborada. As reflexões sobre as limitações da própria abordagem e sobre as possibilidades de ampliação da prática profissional revelaram a flexibilidade e ausência de dogmatismo dos participantes. Atravessou as narrativas uma atmosfera de abertura, de preocupação ética com a clientela e de curiosidade intelectual. A constatação de que as abordagens se constituíram através da incorporação de conceitos de outros saberes e de que seus impasses atuais podem ser resolvidos através de contribuições externas libera o campo para novas cooperações entre escolas. Inclusive, pode quebrar o tabu referente à conotação negativa do tema da integração.
Referências
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Endereço para contato
E-mail: ericopsi@yahoo.com.br
Recebido em julho de 2014
Aceito em abril de 2015
Érico Douglas Vieira: Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, Especialização em Psicodrama pelo Instituto Mineiro de Psicodrama Jacob Levy Moreno, Mestrado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, exercendo a Docência como Professor Adjunto do curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí.
Luc Vandenberghe: Graduação e Mestrado em Psicologia Clínica da Rijks Universiteit Gent, Bélgica e Doutorado em Psicologia pela Université de l'Etat à Liège, Bélgica. É Professor Adjunto da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e orientador dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia e em Ciências Ambientais e de Saúde.