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Psicologia Escolar e Educacional

Print version ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. vol.2 no.1 Campinas  1998

 

ARTIGOS

 

O "Centro Del bambini e delle famiglie": uma nova possibilidade para o atendimento de crianças1

 

The "Centro Del bambini e delle famiglie": a new possibility for the attendance of children

 

 

Celia Vectore2

Universidade Federal de Uberlândia

 

 


RESUMO

Este trabalho apresenta e analisa, em termos das possibilidades de implantação e primeiras avaliações, aexperiência italiana relativa aos cuidados com a criança, representada pelos atuais "Centros das Crianças e dasFamílias". Trata-se de um novo serviço de natureza sócio-educativa que tem como objetivo oferecerinstrumentos de apoio à difícil tarefa dos genitores bem como proporcionar oportunidades adequadas dedesenvolvimento tanto para as crianças quanto para suas famílias. O artigo lança algumas luzes para autilização do referido serviço em contexto brasileiro.

Palavras-chave: Criança, Família, Serviço.


ABSTRACT

This job presents and analyses, in terms ofthe possibilities of implantation and evaluations, the Italianexperience related to children care, represented by the existing "Centri Del bambini e delle famiglie". 1t is aquestion of a new service with a social-educative nature that has the objetive of providing support instrumentsto developing opportunities, both for children and to their families. The article points out some light to the useof the referred service in a Brazilian context.

Keywords: Child, Family, Service.


 

 

Em nenhum momento da história da educação e dos cuidados prestados ao ser humano emdesenvolvimento, o pré-escolar foi objeto de tamanha atenção, em escala internacional, como vemsendo presentemente. Após um passado relativamente próximo de poucas tentativas isoladas erelativo desinteresse dos pesquisadores mais qualificados, a educação pré-escolar ganhouextraordinária relevância, tanto no exterior como em alguns círculos específicos do país, conformese comprova pela extensa literatura hoje em dia disponível a esse respeito.

Vários fatores contribuíram para fazer com que os seis primeiros anos de vida passassem acontar com um realce, nos âmbitos educacional e psicológico, que não tiveram no passado. Sem opropósito de analisar em profundidade essa pluralidade de possíveis fatores e condições, poder-se-á,no entanto, lembrar alguns deles, mais óbvios:

• preocupação com a redução de desigualdades sociais e com as causas e conseqüências da pobreza, mobilização precoce de recursos que reduzam ou neutralizem a possibilidade demalogro na escola, em nível de primeiro grau;

• agravamento de problemas ligados à vida em cidades, em virtude dos processos, em expansãoacelerada, de urbanização, industrialização e competição social;

• surgimento de uma nova organização social, em função de mudanças na concepção da famíliatradicional, ou seja, aumento da instabilidade matrimonial, aumento de família com apenas umgenitor (só o pai ou só a mãe), crescimento de família com apenas um filho, fatores que podemter contribuído, segundo Catarsi (1993), na origem do fenômeno da "solidão" infantil, pois nãoraro, as crianças são privadas de experiências sociais, em virtude de suas vidas estaremcondicionadas ao escasso tempo do mundo adulto;

• crescimento, ano após ano, da percentagem da força de trabalho feminina, particularmente noque respeita às mulheres jovens, mães de filhos pequenos;

• maior e melhor reconhecimento da importância decisiva dos primeiros anos de vida nodesenvolvimento de uma personalidade sadia e na prevenção de distÚrbios mentais;

• melhor conhecimento das variáveis e condições de natureza genética, nutricional, higiênica,psicológica, social e ambiental que influem de modo substantivo no desenvolvimento da criançapequena e podem produzir danos irreparáveis nesse desenvolvimento nos anos subseqüentes.

Contudo a plena compreensão da importância dos seis primeiros anos de infância e dosprincipais aspectos do desenvolvimento físico, mental e social nessa idade surgiu em época relativamenterecente &– em fins do século passado - estando longe de ter sido encerrada a história daspesquisas sobre o que acontece de significativo na vida e na personalidade da criança antes dos seteanos (cf. Gordon, 1972; Evans, 1975; Almy, 1977; Klein, 1996).

Cresceu, assim, na maioria dos países, substancialmente, a consciência da relevância decuidados educacionais e bem-estar da criança, antes dos sete anos, redundando em recomendaçõesde iniciativas, projetos e procedimentos nesta área, assim como a multiplicação da literatura,materiais didáticos, preocupações com o preparo mais adequado, o aperfeiçoamento dos docentes, aassistência permanente a estes, uma contínua busca de melhoria de qualidade e de generalização dosserviços pré-escolares.

Convém lembrar que o caráter dicotômico dos serviços para a infância, ou seja, educativo ouassistencial deve ser ponto para reflexões, pois tais aspectos parecem interagir e necessitam sersuperados, a fim de que' não impeçam o desenvolvimento de novas alternativas de trabalho.

Assim, o objetivo do presente trabalho é contribuir no sentido de apresentar novas propostasde atendimento à infância, principalmente as que buscam, através de um serviço sócioeducativo, arecuperação da importância dos primeiros anos de vida na formação das pessoas - necessidade de seter um homem mais solidário, propiciando o seu crescimento e o seu desenvolvimento, por meio deuma multiplicidade de experiências e mediante o confronto e a troca com mais interlocutoressociais: a família, a escola e o grupo de pares.

Dentro desse contexto, é interessante apontar a experiência italiana relativa aos cuidados coma criança, representada pelos atuais "Centros das Crianças e das Famílias", cujo objetivo precípuo épropiciar oportunidades de vida e de relação sócio-educativa para as crianças e suas famílias, além de fornecer instrumentos válidos de apoio à difícil tarefa dos genitores. Trata-se de um serviçointegrado com os asilos "nidi"2 (criança de 0 a 3 anos), alternativo à pré-escola tradicional etambém à televisão, pois é cada vez maior o número de horas que a criança italiana pennanecefrente à T.V.(Musatti, 1992).

Segundo Barbini (1993), o serviço deve ser um "laboratório" cultural a favor da infância,enfatizando a observação das crianças e adequando os profissionais e suas atividades àsnecessidades infantis, num contínuo processo de troca. A criança está no centro desse processo, nãocomo "projeto de homem", mas como uma pessoa plena de direitos, que constrói a própriaidentidade numa relação contínua e integrada com a comunidade de pares, com os adultos, com asociedade e com a natureza. Assim, a família é um ponto essencial do projeto educativo construídodialeticamente a partir das necessidades da criança.

 

Considerações sobre os "centri Del bambini e delle famiglie"

Os últimos vinte anos foram marcados por profundas transformações em escala mundial, denatureza sócio-econômica e cultural. O desenvolvimento tecnológico, a inserção da mulher nomercado de trabalho, as mudanças ocorridas no núcleo familiar - divórcio, famílias com apenas umdos genitores etc., foram alguns dos fatores que deram origem a uma nova organização da vidasocial, conforme mencionado anteriormente.

Mergulhados dentro desta nova ordem social e sofrendo as conseqüências das constantesausências maternas, freqüentem ente em virtude do trabalho fora do lar, estão as crianças, cujoconceito de infância foi mudado no curso dos últimos séculos, passando-se do descaso observadono passado ao indubitável reconhecimento social e cultural dos dias de hoje.

A Itália, país onde os centros estão sendo amplamente implementados, vem, desde os anossetenta, propondo alternativas para atender as necessidades de suas crianças, bem como as de suasfamílias. Assim, a lei 1.044 de 1971 estabeleceu os asilos "nidi" (ninhos) para crianças de zero atrês anos, priorizando as necessidades dos genitores que, absorvidos pelo trabalho, não podiamcuidar diretamente dos filhos, tendo, dessa forma, a função precípua de custódia.

No início dos anos oitenta, os "nidi" passaram a ser procurados por outros tipos de famílias,desejosos de seus serviços, onde não necessariamente a mãe trabalhava fora. Além disso, anecessidade do serviço esbarrou com o aumento de déficit público, agravado em virtude dadiminuição do crescimento do produto interno, do declínio da natalidade e da ampliação daexpectativa de vida da população, como é o caso de Ferrara, cuja estimativa é de que, nos próximosanos, para cada indivíduo com menos de dezoito anos, ter-se-ão sete indivíduos com mais de 65anos, confonne explica Barbini (op. cit.). Assim, as creches para crianças de 0-3 anos foramcontinuamente modificadas, a fim de atender aos novos tipos de demanda. Ressalta-se que taismodificações ocorreram e vêm ocorrendo através de uma prática reflexiva sobre a "programaçãoprojeto"educativo, da documentação da experiência, da oportunidade de remodelamento contínuodo projeto, da atualização (reciclagem) do pessoal, da construção da memória da experiência dascrianças e também da coordenação psicopedagógica (Catarsi, 1988; Catarsi e Fortunati, 1989).

Vale lembrar que, atualmente, a oferta de serviço nessas instituições é pouca frente à demandae novas alternativas estão sendo continuamente buscadas e testadas para a agilização dosreferidos serviços, enquadrando-se, nesse caso, o centro para crianças e suas famílias. Ghedini(1993) apresenta uma estatística preocupante, pois apenas 5 % das crianças italianas nesta faixaetária são atendidas pelas creches e, de uma forma heterogênea, pois concentram-seprincipalmente ao norte do país e são praticamente inexistentes no sul da Itália.

É importante considerar que o projeto sócio-educativo para crianças e famílias apóia-se emteorias e pressupostos que consideram a importância de um adequado desenvolvimento global nainfância. Assim, é possível identificar nas diretrizes dos trabalhos, contribuições oriundas da óticaconstrutivista (Camaioni, 1980; Emiliani e Carugati, 1985; Schaffer, 1984 e 1990), como tambémênfases na maturação da inteligência e na construção do real (Fomasa e Barbetta, 1988; Fomasa,1989; Fomasa, Del Campo e Vanni, 1991), além da consideração aos aspectos do desenvolvimentoafetivo, apontados pela teoria psicanalítica (Stem, 1987; Becchi e Bondioli, 1988; Bondioli, 1988,1989, 1990). Dessa maneira, busca-se uma adequada articulação dos conhecimentos advindos daciência psicológica na orientação das práticas educativas vivenciadas no trabalho do dia-a-dianessas instituições.

Dentro desse contexto, alguns princípios básicos que norteiam o trabalho nos centros paracrianças e suas famílias são frutos de recentes contribuições científicas que consideram acapacidade precoce da criança para se adaptar. Sendo assim, é interessante que tenha e forme relaçõessatisfatórias com a mãe e outros adultos.

Além disso, deve-se apontar a importância dos jogos e dos brinquedos na construção para acriança, de si e do mundo (Schaffer, 1984 e 1990).

É interessante observar que a criança, desde muito pequena, é capaz de reconhecer as váriaspessoas ao seu redor e assim estabelecer relações diferenciadas entre elas. Dessa forma, odistanciamento físico da mãe pode propiciar à criança a aprendizagem de que a separação é umcomponente natural e necessário para o estabelecimento de novas relações satisfatórias fora do seuambiente doméstico.

Outro fator interessante a ser considerado é que, com a chegada do primeiro filho, algumasmudanças ocorrem na família e são representadas basicamente pela mudança ocasionada pelapassagem da vida em conjunto do casal para a incorporação de novos papéis, como os de mãe e pai. Dessa maneira, evidenciam-se:

1. A necessidade de adaptação do ritmo de vida à presença da criança;

2. A necessidade de aceitar a criança no sistema familiar, definindo qual o seu espaço dentro dosistema emotivo e de relações da família (Binda, 1990; Galimberti, 1990).

Assim, o projeto do centro para crianças e suas famílias prevê não apenas o aspecto assistencialistado cuidado com a criança, mas o da prevenção, apoio e integração educativa para ospequenos e suas famílias, de forma que as últimas possam vivenciar de um modo mais tranqüilo esolidário as agruras existentes no trabalho, envolvendo a criação de seus filhos.

Desse modo, acredita-se que o investir na criança implica também a necessidade de investimentosnos adultos diretamente responsáveis por ela, isto é, pais, educadores etc. Portanto aformação dos operadores dos centros é um dos aspectos que mais tem ocupado e preocupado osespecialistas.

De acordo com Cardini (1993; 1995), a formação dos operadores dos novos serviços sócioeducativospara crianças e famílias se faz sobretudo no campo, na cotidianidade do seu trabalho.

Assim, é necessário que esse profissional tenha, segundo Catarsi (1993; 1995):

1. Competência de caráter teórico e cultural;

2. Competência técnica ou didática;

3. Competência pedagógica;

4. Competência no estabelecimento de relações tanto no trabalho educativo com as crianças quantono trabalho com outros adultos. Portanto a parte mais consistente da formação, a que conta de fato,é a que ocorre no dia-a-dia, amparada por uma reflexão constante sobre a atuação profissional sob acondução de um psicólogo ou psicopedagogo na qualidade de instrutor, ou seja, formando esupervisionando tais profissionais.

Dentro desse contexto, é desejável que os operadores - através de uma formação pessoalcontínua, atenta aos aspectos pessoais e interpessoais - sejam pessoas equilibradas, com facilidadede convivência e conhecedoras de suas próprias ambivalências e conflitos.

Um outro aspecto de fundamental importância na organização do serviço nos Centros é o que diz respeito à metodologia do trabalho empregada. Assim, é desejável que a mesma esteja atreladaàs necessidades das crianças e de suas famílias. Um exemplo é o tempo do grupo, o qual se constituinum elemento da organização do projeto de crucial importância. O tempo cotidiano deveráprever/consentir uma adequada integração entre as atividades lúdicas ou livres das crianças, aspropostas organizadas diretamente pelos operadores, as situações mais ou menos espontâneaspromovidas pelos genitores ou outros adultos. Também o tempo histórico deverá prever momentosde observação e de reflexão, a fim de que a observação-documentação-construção de memória seconsolidem como componentes eficazes de uma avaliação constante e de um remodelamento permanentedo projeto inicial (Catarsi, 1993 op. cit.).

É interessante observar que os projetos veiculados nos Centros dedicam uma parte do seutempo e espaço aos adultos comprometidos diretamente com os cuidados das crianças, quer sejameles genitores, avós, babás, etc. de forma a propiciar experiências de socialização, apoio eintegração educativa referentes à tarefa de criação e orientação dos pequenos. Desse modo, sãoprevistas atividades para os adultos envolvendo o simples fazer e saborear um cafezinho emconjunto com os outros, num processo de socialização, até atividades mais elaboradas, como, porexemplo, a organização de um ciclo de palestras com especialistas em educação infantil. Além disso, há a possibilidade da organização de diversos tipos de laboratórios como: artesanato,fotografia, pintura etc, bem como são previstos espaços para que os adultos desenvolvamconjuntamente atividades com suas crianças.

Uma preocupação constante em relação aos novos serviços para a infância, entre eles osCentros para crianças e suas famílias, é a que diz respeito à utilização inteligente da estrutura, ouseja, deve-se garantir uma continuidade vertical ou diacrônica e uma continuidade horizontal ousincrônica. Assim, entende-se por continuidade vertical ou diacrônica a integração entre os serviçostradicionais (creche e escola materna) com a família e outros grupos do contexto social e, porcontinuidade horizontal ou sincrônica, o prosseguimento entre um grau de escola e outro (ensinopré-escolar/ensino fundamental). Outrossim, os centros para as crianças e suas famílias, segundoGhedini (1995), deve garantir à criança o direito de uma eficiente formação precoce e garantir à suafamília o direito de ter um local adequado para a educação e os cuidados de seus filhos. Entretantotais garantias devem estar atreladas a um profundo conhecimento das reais necessidades da família,para que não se corra o risco de fornecer serviços inadequados e, muitas vezes, bastante onerosos.Portanto, de acordo com a referida pesquisadora, é possível utilizar de forma racional e inteligente amesma estrutura de uma escola ou de uma creche para a realização de um centro, pois deve-seconsiderar que nem todas as crianças permanecem em período integral na instituição.

 

A experiência de modena

Ilustraremos, a seguir, a experiência da cidade de Modena, na região de Emilia-Romagna naItália, com relação aos centros para crianças e suas famílias.

A prefeitura de Modena vem, desde o final dos anos 60, oferecendo serviços relativos aoatendimento de crianças com até seis anos em creches (asili nidi) e escolas maternas. Em meadosdos anos 80, devido às mudanças sócioculturais (aumento do número de mulheres trabalhadorascom filhos, predomínio da familiar nuclear etc), novos serviços foram sendo criados e atrelados aoentão "nidi". Datam desta época as experiências "L'erba del nido" e dos centros de jogosdenominados "Bianconiglio", "Cappellaio Matto" e "Lo Stregatto". Em 1994, foi inaugurado o"Spazio Incontro", que é uma nova proposta para o atendimento tanto das crianças quanto de seusgenitores.

A experiência "L'erba del nido" trata da utilização da área verde de determinadas creches, noperíodo da primavera-verão (que na Itália vai de abril a setembro, com exceção dos meses de julhoe agosto que são os de férias), com o objetivo de fornecer ocasiões de brinquedo e de socializaçãoem local livre, para crianças e para os adultos que as acompanham. Normalmente, são formadosdois grupos com até vinte e cinco crianças mais os adultos acompanhantes. No período da manhã, oserviço conta com um educador da própria creche e um recreacionista; à tarde, há apenas orecreacionista.

Os centros "Bianconiglio", "Cappellaio Matto" e "Lo Stregatto", paralelamente aos serviçosda creche, oferecem ocasiões para atividades lúdicas e de socialização para crianças de diferentesidades e para os adultos que as acompanham. Funcionam no período da tarde com dois educadorese com dois auxiliares para dois grupos com até dezoito crianças.

O "Spazio Incontro" é um serviço que tem como diretrizes fundamentais o de constituir-seem um local de encontro, troca e construção de relações entre os próprios genitores e entre outrosadultos que diretamente estão envolvidos nos cuidados com as crianças e também num local paraatividades lúdicas das crianças tanto livres quanto direcionadas pelo operador ou por seus auxiliaresou colaboradores.

Assim, segundo Cardini (1993), o projeto de centro das crianças e de suas famílias podegarantir uma diversidade complexa em uma vida integrada e harmônica, quando:

a) A experiência das crianças é acolhida de tal forma que as etapas de seu desenvolvimentosão respeitadas bem como as diferenças culturais (raça, sexo, etc.);

b) Ocorre o oferecimento da máxima oportunidade de interação entre criança e criança,criança e pré-adolescente, criança e adulto etc., enfim estimulando a socialização;

 

Estratégias familiares e políticas da vida cotidiana &– uma primeira avaliação dosserviços prestados pelos centros

As propostas de trabalho voltadas para a agregação e incentivo de relações entre adultos ecrianças vêm sendo amplamente abordadas dentro do contexto da Psicologia.

Há uma considerável produção científica recente nos âmbitos nacional e internacional,tratando da importância das interações desde os primeiros momentos de vida de uma criança,através do olhar da psicanálise (Lacroin e Monmayant, 1997) até recentes pesquisas transculturais(Klein, 1996), comprovando a eficiência de boas mediações entre adultos e crianças, nodesenvolvimento do potencial cognitivo das últimas, conforme aponta Feurstein, em seu pioneiroPrograma de Enriquecimento Instrumental (1980).

Assim, manter serviços sócio-educativos que identifiquem e resgatem a importância dafamília, que incentivem a sua competência cotidiana, valorizando e reconhecendo socialmente ossaberes e a eficiência dos pais, sublinhando os seus pontos de força, a sua capacidade e seusrecursos pessoais para enfrentarem situações, pode ser considerada a primeira avaliação positivados centros em questão, salienta Catarsi (op. cit.). Por outro lado, conforme lembra Quintavalla(1996), existem nos centros alguns aspectos problemáticos, que necessitam de maioresinvestimentos, como é o caso da formação para os operadores do serviço, em virtude de suasespecificidades anteriormente descritas, vê-se que encontrar tal profissional no mercado de trabalhonão é tarefa fácil e, portanto, recursos devem ser destinados para essa profissionalização emergente.

Castagnotto (1996) sugere que, em relação à avaliação dos serviços, a pré-condição necessáriaé liberar a família da estaticidade de seu arquétipo e contextualizá-la na realidade da vidacotidiana, dando voz a sua experiência de vida social, às dinâmicas e aos conflitos oriundos das suasnecessidades, escutando e aprendendo com as estratégias espontâneas que as mulheres, homens,velhos e jovens experimentam na sua vivência familiar.

 

"Centros para crianças e sua famílias": possibilidade de implantação no contexto brasileiro

Apesar da ampla divulgação que os estudos sobre educação infantil tiveram em escalainternacional e do entusiasmo que suscitou em alguns educadores da Europa e das Américas, apesarda grande ênfase dada ao desenvolvimento e aprendizagem da criança, iniciada através dascontribuições de médicos, até os avanços da psicanálise e das psicologias experimental e cognitiva,principalmente no nosso século. Na prática, os progressos da educação pré-escolar foram econtinuam sendo lentos. A questão de como educar, criar e assegurar uma plena existência ao serhumano, por meio de um desenvolvimento de suas capacidades e habilidades, permanece semresposta sob muitos aspectos e é marcada por numerosas incertezas, a exigir uma reflexão constantee esforço árduo de todos os que se ocupam da infância, especialmente os estudiosos e os políticos,cabendo aos últimos o dever de implementarem serviços para que todas as crianças tenham o direitode vivenciarem experiências sociais e estimulantes também do ponto de vista intelectual.

Vários projetos atrelados a políticas de atendimento às crianças pequenas, especialmente nafaixa de zero a seis anos foram empreendidos em diversos países.

Neste sentido, o Brasil contou com várias recomendações e pareceres (Vectore, 1989),entretanto, faltaram diretrizes políticas eficazes que considerassem efetivamente o problema doserviço à infância. É bem verdade que tentativas isoladas e bem sucedidas existem, como é o casodo Projeto Axé, desenvolvido na cidade de Salvador - BA, com crianças em situação de risco.Infelizmente, a falta de uma política nacional consistente, ainda nos dias de hoje, vem consolidandoo triste quadro de abandono e descaso à criança brasileira.

Assim, considerando o insuficiente oferecimento de serviços à infância brasileira, cujaestimativa em 1989 era a que "cerca de 667 mil crianças até quatro anos estariam freqüentandocreche ou pré-escola e que aproximadamente 2,8 milhões de crianças entre quatro e seis anosestariam matriculadas em pré-escolas" (MEC, 1994: 13), ou seja, apenas 15% de crianças teriamacesso a algum tipo de instituição pré-escolar, tem-se que os atuais serviços sócioeducativos àinfância e às famílias em plena expansão nos países europeus talvez possam ser implementados emnosso país, através de seus princípios básicos, ou seja, oferecer um serviço flexível, de tal forma aatender aos horários e necessidades da família e o de se utilizar de modo inteligente estruturas jáexistentes, uma vez que não são necessárias estruturas especiais para abrigar esse tipo deatendimento &– há necessidade apenas de racionalizar os horários ociosos em escolas, creches, clubese, até mesmo, utilizar áreas abertas como parques, praças e play-grounds, o que representa umagrande economia levando-se em conta os sempre escassos recursos destinados à educação da criançapequena.

Entretanto uma palavra de cautela talvez deva ser acrescentada, pois, muitas vezes, o conhecimentode uma realidade tão distante da nossa, que vem buscando através de seus serviços paraa infância um adequado atendimento à criança, pode mobilizar raciocínios simplistas, susceptíveisde erros primários, passíveis de ocorrência quando se está em jogo a transposição linear de umarealidade para outra, no caso, a realidade italiana para a realidade brasileira. Há que se considerar,dessa forma, as características culturais de cada sociedade bem como as suas necessidades,adequando todos os aspectos que possam ser aproveitados, no sentido também de podermosorganizar serviços sócio-educativos eficientes às nossas crianças e às suas famílias, uma vez quecomentar a importância de um adequado desenvolvimento, principalmente durante o períodoinfantil, torna-se desnecessário, à medida que tal tema já foi objeto de inúmeras investigações e é,sem dúvida, o melhor passaporte que podemos propiciar às crianças, às portas do terceiro milênio.

Contudo outro aspecto que deve ser considerado é a necessidade da inclusão de um treinamentoem serviço para os futuros profissionais que atuarão diretamente com as crianças e com assuas respectivas famílias, uma vez que todo o trabalho deverá ser realizado por profissionaisaltamente qualificados e sob supervisão constante de profissionais especializados, no caso,basicamente por psicólogos e pedagogos.

É interessante apontar que os centros para atendimento à criança e à família vem sendo, tantona Itália quanto em outros países europeus, entre eles a França, a Dinamarca, a Espanha, um foroconstante de debates visando a uma melhor adequação dos serviços para a infância, pois atenderefetivamente crianças e famílias constitui-se num grandioso desafio. Não obstante, pesquisas eestudos deverão ser realizados a fim de que seja verificada a viabilidade de tal projeto junto àsociedade brasileira, bem como as formas mais eficientes de adequá-los à realidade de nossascrianças.

 

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Zunino, G. (org.) (1991). Nuovi orientamenti per la scuola materna. Roma: Valare Scuola

 

 

1 Experiência observada durante o período de pós-doutorado realizado em Ferrara. Itália. em 1995-1996scolar, realizado em novembro de 1996
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Doutora em Psicologia Escolar - Departamento de Psicologia Social e Educacional

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Para melhor compreensão, os asilos "nidi" (em português, ninhos) podem ser entendidos como creches.

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