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Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

Print version ISSN 1517-5545

Rev. bras. ter. comport. cogn. vol.4 no.2 São Paulo Dec. 2002

 

SOBRE LIVROS

 

Terapia analítico-comportamental: dos fundamentos filosóficos à relação com o modelo cognitivista, de Nazaré Costa, ESETec Editores Associados

 

 

Nicodemos Batista Borges1

Universidade Santo Amaro
Universidade de São Paulo

 

 


 

 

A obra referida é de autoria de Nazaré Costa, psicóloga formada pela Universidade Federal do Pará em 1995 e mestre pela mesma instituição. Segundo relato da própria autora, este trabalho é representativo de sua trajetória como pesquisadora e de seu interesse, dentro da análise do comportamento e do behaviorismo, em questões filosóficas e aplicadas à prática clínica.

É comum ouvirmos a expressão “terapia comportamental”, inclusive no próprio meio behaviorista, como se referindo a terapias construídas a partir do arcabouço conceitual do behaviorismo. Entretanto, o que muitas pessoas não sabem, inclusive alguns profissionais e estudantes de psicologia, é que há diferentes tipos de behaviorismo com diferentes princípios. Nas palavras de Todorov (1982, p. 10) “a menos que se faça a distinção entre as diversas variedades de significado, não é útil proclamar-se ‘a favor’ ou ‘contra’ o behaviorismo”. O trabalho foco desta resenha, tem no seu primeiro capítulo, “Os Behaviorismos”, uma distinção breve, porém clara, dos diferentes behaviorismos. Apresentando o behaviorismo clássico ou metodológico de Watson, os behaviorismos mediacionais de Tolman e Hull, e o behaviorismo radical de Skinner.

O capítulo dois, denominado “Terapia Analítico-comportamental: histórico, processo e características definidoras”, inicia relatando a história das terapias comportamentais; em seguida, define o processo terapêutico comportamental mais especificamente o analítico-comportamental; tudo muito brevemente, sem maiores discussões. Ressalta o crescimento da literatura analítico-comportamental no Brasil e defende a necessidade de ampliação das discussões a respeito do processo terapêutico. A autora apresenta uma divisão didática do processo terapêutico em terapia analítico-comportamental, em três etapas: inicial, intermediária e terminal. Entretanto, é necessário muito cuidado neste tipo de divisão, principalmente no que se refere às etapas inicial (avaliação) e intermediária (intervenção). Numa perspectiva analítico-comportamental o comportamento é dinâmico, estando em constante modificação, o que torna necessário uma avaliação, também, constante. “O processo diagnóstico [o termo diagnóstico não é o mais adequado, cabendo melhor a palavra avaliação] só termina quando a terapia está encerrada.” (Vandenberghe, 2002, p. 42). “A marca principal do diagnóstico [leia avaliação] comportamental é ser um processo contínuo totalmente integrado ao tratamento” (Amaral, 2001, 120).

O terceiro capítulo, “A Subjetividade sob a Ótica Behaviorista Radical: interpretação, aspectos polêmicos e manejo terapêutico”, trata de um tema que ainda causa polêmica na comunidade científica, a subjetividade. A autora, apresenta as concepções skinnerianas a respeito da temática; coloca sua posição sobre algumas críticas feitas a esta visão; terminando por discutir a função da subjetividade numa terapia analítico-comportamental.

Dando prosseguimento na obra, o quarto capítulo, “Psicoterapia ‘Cognitivo-comportamental’”, começa com uma reflexão sobre os rumos que estão sendo trilhados pelo cognitivismo e o behaviorismo, o que, segundo a autora, parece indicar uma aproximação destas duas vertentes. Posteriormente, é apresentada a terapia cognitivo-comportamental: origem, filosofia, estrutura, objetivos e procedimentos.

Em “Behaviorismo e Cognitivismo: comparação entre preposições teóricas e modelos de intervenção terapêutica” (capítulo 5), a autora faz uma confrontação teórica, considerando as proposições de Watson, Hull, Tolman, Beck e Skinner, sobre os seguintes aspectos: definições de comportamento e causalidades; paradigmas; concepções de ambiente e de homem; além do conceito de “crenças”. Dando prosseguimento, são apresentados dois trechos de sessões, sendo um atendimento em terapia cognitiva e outro em terapia analítico-comportamental. Apresenta uma discussão sobre os dois atendimentos, sugerindo diferenças e similaridades entre eles. Neste capítulo são apresentadas tabelas ilustrativas que auxiliam nas diferenciações destacadas pela a autora, tornando o capítulo mais didático.

O último capítulo, “Caracterização, Hipóteses e Implicações da Tendência Integracionista na Terapia Analítico-comportamental e na Terapia Cognitiva”, apresenta uma explanação sobre: possíveis variáveis que exerceram influência sobre o movimento integracionista das terapias behavioristas e cognitivistas; possíveis iniciadores deste processo; vantagens obtidas por aqueles que integraram os referenciais; e os perigos do ecletismo teórico e técnico. O capítulo termina com a apresentação de algumas hipóteses para a manutenção desta integração e suas possíveis implicações.

A obra é bastante didática e de simples compreensão, tornando o material útil no processo de ensino de psicologia. É indicada para professores, alunos, terapeutas e filósofos da área de psicologia ou que tenham interesse por estas questões. O trabalho merece atenção, não só pela didática e assuntos abordados, mas pelas reflexões a respeito do futuro das “terapias comportamentais”, variáveis estas que parecem estarem sendo negligenciadas pelos profissionais desta área.

Referências

Amaral, V. L. A. R. (2001). Dicotomias no processo terapêutico: diagnósticos ou terapia. Em: M. Delitti (Org). Sobre Comportamento e Cognição: Vol. 2. A Prática da Análise do Comportamento e da Terapia Cognitivo-Comportamental, 2&ordm ed. (pp. 116-120). Santo André: ESETec.

Todorov, J. C. (1982). Behaviorismo e análise experimental do comportamento. Cadernos de Análise do Comportamento, 3, 10-23.

Vandenberghe, L. (2002). A prática e as implicações da análise funcional. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 4(1), 35-45.

 

 

1 Endereço para correspondência: Rua Antonio Ambuba, 80 casa 66 - Horto do Ypê - CEP:05782-370 / São Paulo - SP - E-mail: nicodemosborges@uol.com.br.