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Avaliação Psicológica
Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431
Aval. psicol. vol.5 no.1 Porto Alegre June 2006
ARTIGOS
A necessidade da prática clínica na formação do psicólogo: experiência de 27 anos do programa de especialização psicologia da saúde em hospital-escola
Latife Yazigi1
Universidade Federal de São Paulo
Trabalho apresentado no I Encontro de Avaliação Psicológica na formação dos psicólogos São Paulo, 29 de Março de 2004
É esperado que um curso de graduação em Psicologia, em cinco anos, tenha possibilidade de apresentar carga horária suficiente em: (1) Disciplinas correlacionadas, como fisiologia, biologia, filosofia, sociologia, antropologia, neurologia, estatística; (2) Diferentes linhas de pensamento psicológico, como experimental (Wundt, Watson e Pavlov), gestáltica (teorias de campo, Goldestein, Luria e Vigotski), humanística (Rogers), existencial (Millon), fenomenológica (Minkowski), psicanalítica (Freud, Klein, Bion, Winnicott); (3) Conceitos básicos sobre personalidade, desenvolvimento, ciclo de vida, escolha vocacional; (4) Distinção entre normal e patológico, psicopatologia; (5) Noções sobre diferentes formas de avaliação do funcionamento mental: objetivas e projetivas, cognitivas, afetivas-emocionais, motoras; (6) Práticas diversificadas nas áreas de Psicologia escolar, clínica, organizacional e institucional.
Essa diversificação, importante e necessária, não tem condições de fornecer ao psicólogo o que uma prática clínica supervisionada em uma instituição de saúde pode oferecer como complementação da formação graduada. É na prática clínica supervisionada que o psicólogo terá condições de ampliar sua formação em personalidade, psicopatologia, psicoterapia, avaliação diagnóstica, diagnóstico diferencial, métodos de exame psicológico.
Essa experiência permite (a) a elucidação de diagnóstico que busca o conhecimento do que se passa com aquela pessoa, do que acontece em seu mundo interno, como ela se encontra no momento, que condições tem, o que a está afetando (carência, inibição), quais as sutilezas de certos funcionamentos mentais (descarga, agressão, atuação, ato puro) - elucidação que é um contraponto com à 'onisciência'; (b) o confronto com outras perspectivas: biológica, orgânica ou médica; (c) o imperativo de tratar o paciente, de aplacar seu sofrimento, lhe dar conforto físico e psíquico, a necessidade de interagir com a equipe, de lidar com o sofrimento dessa equipe, de se relacionar com a família e o sofrimento desta, de lidar com o preconceito, com a esquiva, com o abandono; (d) a pesquisa que visa o conhecimento sistematizado, envolve o experimentar formas de atendimento e sua repercussão, avaliar malefícios ou benefícios dos tratamentos; (e) a pós-graduação tendo em vista a carreira docente.
O programa de especialização em psicologia da saúde da UNIFESP
O Departamento de Psiquiatra da Unifesp oferece a psicólogos formados estágio prático na forma de Programa de Especialização em Psicologia da Saúde desde 1979. Trata-se de programa oficial em nível de Pós-graduação Senso Lato e sob a coordenação da Pró-reitoria de Extensão. De 1985 a 1988 esse programa teve apoio da Fundação do Desenvolvimento Administrativo, Fundap, e de 1986 até 1996 da Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Ensino Superior, CAPES.
O programa acompanha a residência em Psiquiatria, que existe desde 1970, e tem a proposta de oferecer uma experiência de trabalho participativo a partir de equipe multidisciplinar visando expor o psicólogo às mais diversas vivências de assistência em saúde mental. Por esse motivo tem a duração de dois anos com possibilidade de um terceiro.
O Departamento de Psiquiatria da Unifesp é formado por três Disciplinas, Psiquiatria Clínica, Psicologia Médica, e Psicoterapia e Psicodinâmica. É composto pelos setores Pronto-Atendimento, Unidade Psiquiátrica, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Interconsulta Médico-Psicológica, Psicoterapia, Psiquiatria Infantil, Psiquiatria Social e Psicodiagnóstico. Comporta os seguintes ambulatórios: didático e longitudinal, somatização, crise e os programas específicos: atendimento à dependência química (PROAD e UNIAD), aos transtornos afetivos e de ansiedade (PRODAF), aos transtornos alimentares (PROATA), pacientes com esquizofrenia (PROESQ), Centro de Referência da Infância e Adolescência (CRIA), Centro Clínico de Pesquisa e Psicoterapia (CCPP), Serviço da Atenção Psicossocial Integrada em Saúde (SAPIS) e Projeto Quixote.
O Departamento também é responsável por uma publicação, Revista Psiquiatria na Prática Médica, anteriormente Boletim de Psiquiatria, editada por seu Centro de Estudos e que possui uma edição eletrônica integral na Internet. O objetivo é divulgar pesquisas e artigos de atualização em Psiquiatria e que interessem a todas as áreas médicas, não apenas para psiquiatras.
Serão descritos a seguir os diferentes serviços freqüentados pelo psicólogo durante sua especialização. Os dados apresentados fazem parte do Relatório de Atividades do Centro de Estudos do Departamento de Psiquiatria enviado ao Ministério da Justiça.
1. Unidade Psiquiátrica é uma enfermaria com capacidade para 18 leitos, 12 femininos e seis masculinos. Sua proposta de assistência e ensino é o atendimento terapêutico que iniba a evolução crônica da doença mental. Privilegia a intervenção em 'situação de crise' que necessite de internação e que possa reverter a desorganização do funcionamento psíquico e social buscando estimular os mecanismos que facilitem a readaptação social do paciente. Propõe internação de curta permanência que possibilite o retorno do paciente à comunidade o mais breve possível. Oferece ambiente terapêutico em que seja possível observar e avaliar a natureza das relações interpessoais que ocorrem durante a internação, para tanto, os pacientes são estimulados a uma participação mais ativa no tratamento e seus aspectos mais sadios são enfatizados.
Quanto ao ensino, a Unidade Psiquiátrica visa a formação de profissionais na área de saúde mental, com ênfase à reflexão de suas experiências durante os estágios, além de conhecimento técnico e específico para cada categoria profissional, possibilitando um referencial que lhes permita trabalhar em um modelo semelhante de assistência.
A Unidade Psiquiátrica é formada por uma equipe multidisciplinar, com atenção constante para relações interpessoais, questionamentos latentes e manifestos dos papéis e funções na equipe, o que leva à necessidade de reuniões administrativas semanais para gerir essa dinâmica. A equipe de supervisores é composta por três psiquiatras, duas psicólogas, uma terapeuta ocupacional, uma assistente social, uma enfermeira, além de auxiliares e atendentes de enfermagem. Essa equipe tem a função de organizar e centralizar as atividades de assistência e ensino. A equipe de especializandos é composta por residentes de Psiquiatria, especializandos de Psicologia, de Terapia Ocupacional e de Serviço Social. Os estágios são em forma de rodízios, com duração de quatro meses. Os especializandos são distribuídos em pequenas equipes multidisciplinares que dão atendimento direto aos pacientes. Todos os atendimentos são supervisionados pela equipe fixa da Unidade.
Atividades realizadas na Unidade Psiquiátrica são: (1) atividade grupal verbal e de Terapia Ocupacional com a participação dos especializandos, pacientes e equipe da enfermagem, coordenadas por um membro da equipe de supervisores: 10 horas/semana; (2) atividade em grupo de Yoga, coordenada por uma especialista e com a participação de pacientes, especializandos: três horas/semana; (3) atendimento familiar em grupo, coordenado pela psicóloga da equipe de supervisores, com a participação dos especializandos de Psicologia e Serviço Social: duas horas semanais; (4) atendimento em grupo para familiares e pacientes no momento da licença e alta, coordenado pela psicóloga da equipe, com participação dos especializandos de Psicologia e Serviço Social: duas horas semanais; (5) atendimento clínico individual oferecido pela equipe de especializandos: seis horas semanais; (6) atendimento familiar individual oferecido pela equipe de especializandos: duas horas semanais. (7) grupo verbal com residentes e especializandos, visando refletir sobre a experiência de trabalho na unidade de internação, dia a dia do trabalho, relações de trabalho, entre equipes e com a instituição, coordenado pela psicóloga da equipe: uma hora semanal. (8) grupo de terapia ocupacional com residentes e especializandos coordenado pela terapeuta ocupacional da equipe: uma hora/semana. (9) grupo verbal com enfermagem coordenado por psicóloga da equipe e psicólogo colaborador, visando oferecer à equipe de enfermagem espaço de reflexão sobre o trabalho na unidade, as relações de trabalho, dificuldades enfrentadas: uma hora/semana. Supervisão das atividades grupais: dez horas semanais. Supervisão clínica das equipes de especializandos: oito horas semanais. Supervisão específica para categoria de especializando: seis horas semanais. Reunião clínica da unidade: duas horas semanais. Reunião administrativa: duas horas semanais. Reunião geral com a participação de toda a equipe de supervisores, especializandos, enfermagem e pacientes: uma hora mensal. As atividades no ambulatório dos egressos comportam: (a) atendimentos clínicos oferecidos pelos residentes: duas horas semanais; (b) atendimento em grupo coordenado por um membro da equipe de supervisores e com a participação dos residentes e pacientes: uma hora semanal; (c) atendimento em grupo em Terapia Ocupacional: uma hora semanal; (d) atendimento em grupo para familiares, coordenado por um membro da equipe de supervisores e com a participação dos especializandos de Psicologia e Serviço Social: uma hora semanal.
2. Centro de Atenção Psicossocial, CAPS, tem como objetivo contribuir para a formação de profissionais de saúde mental, em estágios de especialização no Departamento de Psiquiatria - médicos psiquiatras, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Possibilita a oportunidade de aprendizado por meio de atendimento a pacientes e familiares, supervisionados pelos profissionais do setor; além da participação nas diversas modalidades de atendimento em grupo e da discussão dos casos em reuniões clínicas semanais com toda a equipe. O serviço oferece acompanhamento intensivo, semi-intensivo e ambulatorial a pacientes psicóticos e neuróticos graves, visando a integração psíquica, familiar e social. O especializando tem contato com diversos pacientes que, além de diagnósticos diferentes, estão em momentos particulares de sua evolução clínica.
A cada quadrimestre o serviço recebe de duas a três duplas de psicólogos especializandos, que são distribuídos em quatro mini-equipes e responsáveis por até dez pacientes acompanhados na unidade. O trabalho em mini-equipe favorece a reflexão sobre o atendimento destes pacientes e familiares que se encontram em um momento de extrema fragilidade e desorganização. O estudo do caso de maneira aprofundada, tarefa supervisionada ao longo do estágio, incentiva o estagiário de psicologia na aplicação de instrumentos como o método de Rorschach, o que contribui tanto na formação clínica do aluno, como na melhor compreensão da personalidade do paciente, esclarecendo questões relativas ao diagnóstico, tratamento e prognóstico. A investigação inicial e ao longo do tratamento propiciam o desenvolvimento do raciocínio clínico do estagiário ampliando seu conhecimento em Psicopatologia.
As atividades assistenciais no serviço compreendem: triagem, psicodiagnóstico, atendimentos clínicos, atendimentos individuais e grupais. Os grupos são conduzidos por uma dupla de profissionais da equipe fixa e podem ser abertos a todos os pacientes ou a um grupo determinado, dependendo dos critérios estabelecidos para cada proposta de atendimento. O estagiário de psicologia, ao longo dos oito meses de estágio nos dois anos de especialização, poderá participar de até quatro grupos terapêuticos realizados no serviço. A participação mínima em cada grupo é de dois meses, tempo considerado adequado para que o estagiário possa ter a experiência na modalidade de intervenção proposta por cada grupo. Os grupos terapêuticos realizados são: Grupo de recepção, Grupo de autocuidado, Grupo de terapia ocupacional, Grupo verbal, dois Grupos de psicoterapia, dois Ateliês de pintura de livre expressão, Grupo de expressão corporal, Sarau de poesia, Grupo de caminhada, Grupo de familiares, Oficina de histórias, Grupo de ambientação, Grupo de culinária, Rádio CAPS, Grupo da palavra e Grupo de fechamento. Além das atividades assistenciais, os estagiários participam também do Grupo de reflexão, que acontece semanalmente, com uma hora de duração. A proposta deste grupo é discutir com os especializandos a clínica no CAPS e a experiência do estágio, por meio da realização de atividades práticas de leituras e discussões.
A passagem dos estagiários, residentes, psicólogos e terapeutas ocupacionais no 1º ano é distribuída em uma carga horária semanal de 20 horas e duração de quatro meses: atividades práticas com 15 horas semanais que incluem atendimentos individuais a pacientes e familiares; participação nos grupos de atendimento; participação nos espaços de convivência e outras atividades abertas. Três horas semanais de supervisões, duas supervisões de mini-equipe por semana com uma dupla de profissionais da equipe e uma supervisão específica de cada área, psiquiatria, psicologia e terapia ocupacional, também com especialista da equipe. No 2º ano a carga horária semanal é de 15 horas e a duração de quatro meses com as seguintes atividades práticas: dez horas semanais de atendimentos individuais a pacientes e familiares; participação nos grupos de atendimento; participação nos espaços de convivência e outras atividades abertas. Três horas semanais de supervisões, são distribuídas em duas supervisões de mini-equipe, com uma dupla de profissionais da equipe, além de uma supervisão específica da área de especialização com profissional da equipe. Os especializandos, tanto de primeiro, quanto de segundo ano participam semanalmente da Reunião Clínica. Esta reunião tem duração de duas horas e refere-se à apresentação e discussão dos casos acompanhados no serviço com a presença de toda a equipe.
3. Ambulatório Didático tem como ênfase a atividade prática que consiste no atendimento de pacientes psiquiátricos em regime ambulatorial. São atendidos pacientes adultos com as mais diversas queixas. O estágio propicia aos residentes e psicólogos o atendimento/acompanhamento dos pacientes durante o período de quatro meses. Durante este estágio são realizadas discussões clinicas e supervisões tendo sempre como foco os casos em atendimento. Estas discussões e supervisões buscam aprofundar os conhecimentos de Psicopatologia, diagnóstico psiquiátrico, investigação de doenças orgânicas que se manifestam com sintomas psíquicos e seu encaminhamento apropriado além do tratamento psicofarmacológico. A compreensão psicanalítica do caso permeia todo este aprofundamento do conhecimento e proporciona ao estudante mais um angulo de visão e instrumento de raciocínio. A partir desta possibilidade de aprender, experienciar sob supervisão, e acompanhar técnicas novas e/ou tradicionais de atendimento vincular e manuseio medicamentoso, busca-se aprimorar o desenvolvimento da capacidade de observação clínica. Desse modo, propicia a organização de registros detalhados do que tenha sido possível obter mediante as anamneses subjetiva e objetiva e, ainda, estimula o estudante a detectar e discutir as questões éticas suscitadas pelo atendimento. Exercita-se continuamente o hábito da formulação diagnóstica ampla, que inclua aspectos: nosográficos, demográficos, epidemiológicos, psicodinâmicos, familiares, situacionais e sócio-culturais. Isto porque a constituição de um diagnóstico o mais amplo possível permite a melhor discussão de estratégias de intervenção, as quais serão mais eficazes por levarem em conta a multiplicidade de fatores certamente envolvidos no fato do adoecer. O estágio oferece o exercício de uma prática clínica fundamentada em uma compreensão psicanalítica, discussões dos casos, leitura crítica e busca de conhecimentos e atualizações. As supervisões com psicólogos e residentes em um mesmo espaço proporciona o diálogo e a apreensão do trabalho e uma visão critica e não distorcida do trabalho de ambos. A carga horária compreende três horas de supervisão e de no mínimo duas horas de atendimentos ao paciente por semana.
4. Setor de Psicoterapia tem como objetivos (1) oferecer assistência psicoterápica psicanalítica ambulatorial a pacientes do complexo Hospital São Paulo/Unifesp; (2) propiciar ensino e treinamento em psicoterapia psicanalítica por alunos em graduação médica, especialização em psicologia em saúde e residência médica, e pós-graduação senso estrito; (3) desenvolver projetos de pesquisa, principalmente clínica, nas áreas de psicoterapia e psicodinâmica.
As ações desenvolvidas estão relacionadas às áreas de saúde e educação. Na área de saúde oferece (a) atendimento psicoterápico individual realizado por médicos residentes e psicólogos em especialização uma a duas vezes por semana, pelo prazo de dois a três anos; (b) atendimento psicoterápico grupal em que médicos residentes de terceiro ano oferecem acompanhamento em grupo de seis a oito pessoas, pelo prazo de um ano, podendo os pacientes ser reencaminhados para novos grupos.
Na área de educação oferece supervisão dos atendimentos psicoterápicos aos residentes e especializandos. Estas supervisões são individuais, semanais e em todo o período de atendimento. Os supervisores são membros da disciplina de Psicoterapia, professores e psicoterapeutas com formação na área de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica. Portanto, se estendem por dois anos para os especializandos em Psicologia da Saúde e por três anos para os residentes. As supervisões são dirigidas para o entendimento do mundo mental do paciente, para o reconhecimento da evolução do processo psicoterápico e para os aspectos presentes na postura do terapeuta. Cada aluno deve atender no mínimo dois pacientes sendo um com freqüência semanal e outro com duas sessões por semana. Esta diferença proporciona apreender as diferenças decorrentes de um contato mais próximo e íntimo para que se estabeleça um bom vinculo entre paciente e terapeuta. As supervisões dos atendimentos em grupo são também semanais e principalmente baseadas nos estudos de Bleger e Bion.
O setor é responsável por dois cursos teóricos de duração anual referentes a fundamentos teóricos fundamentas para a prática psicoterápica: (1) Fundamentos Psicanalíticos para Prática Psicoterápica, oferecido a médicos residentes, psicólogos e assistentes sociais durante o primeiro ano de suas especializações e tem por objetivo introduzir os alunos no campo psicoterápico a partir da relação paciente-terapeuta; (2) Fundamentos para Prática Psicoterápica Grupal, oferecido a médicos residentes de terceiro ano na forma de seminários semanais, com duração de seis meses, e se propõe a iniciar seus participantes na prática psicoterápica grupal. Ocorrem também módulos de temas específicos sobre Psicoterapia, oferecido a residentes de terceiro ano. Estes são cursos que procuram aprofundar alguns temas teóricos relacionados à prática psicoterápica retomando questões apresentadas no curso do primeiro ano, mas num momento de maior experiência por parte do grupo de alunos. Estes se desenvolvem por meio de seminários semanais e tem duração de um semestre.
A pesquisa sobre psicoterapia psicanalítica tem sido objeto de estudo há dois anos e pretende avaliar a competência dos terapeutas, assim como o seu desenvolvimento durante o estágio.
O Setor de Psicoterapia é responsável pelo Centro Clínico de Pesquisa em Psicoterapia, CCPP, uma casa nas imediações do complexo da Unifesp, com consultórios mobiliados com poltronas, divã e o paciente é atendido sempre no mesmo consultório. A necessidade de um espaço íntimo e de privacidade para essa atividade dentro de uma instituição foi o que mobilizou o grupo de professores a buscá-lo frente à administração da Unifesp. Constitui-se em um modelo que permite o surgimento da subjetividade do paciente e da introjeção do modelo da singularidade de cada pessoa.
Médicos residentes em Psiquiatria e especializandos em Psicologia desenvolvem no CCPP as seguintes atividades: (a) atendimento em psicoterapia individual a longo prazo, no qual, cada profissional atende pelos menos dois pacientes, com uma freqüência de uma a duas vezes por semana por no mínimo dois anos; (b) supervisão de atendimento psicoterápico individual em reuniões em grupo da qual participam dois residentes e dois especializandos de 1º ano e dois residentes e dois especializandos de 2º ano, em supervisões semanais, com duração média de 90 minutos; para o 3º ano de atendimento em psicoterapia individual, os residentes atendem pelo menos um paciente em psicoterapia individual; (c) atendimentos em psicoterapia grupal, semanal, com seis a oito pacientes, duração de 90 minutos para residentes de terceiro; (d) supervisão de atendimento psicoterápico grupal quinzenal com duração de 90 minutos durante todo o ano; (f) reuniões clínicas quinzenais, com duração de 90 minutos e contando com a participação de todos os supervisores, residentes e especializandos envolvidos com os atendimentos de psicoterapia.
A triagem dos pacientes encaminhados pelas diversas clínicas internas do Complexo Assistencial da Unifesp ou de serviços externos é realizada por um grupo de dois residentes de terceiro ano com supervisão de todos os casos. São avaliadas as indicações para cada tipo de atendimento, individual, grupal e encaminhadas para terapeutas de primeiro, segundo ou terceiro ano, de acordo a maior gravidade do caso. Espera-se que os pacientes possam permanecer por três anos no mínimo com cada terapeuta e posteriormente são encaminhados de acordo com a peculiaridade de cada situação.
5. Setor de Psicodiagnóstico tem como objetivo principal a avaliação psicológica, em sentido amplo e nas mais variadas atividades e áreas do Departamento. A avaliação psicológica compreende entrevistas e exames psicológicos específicos, com a finalidade diagnóstica e de instrumentalização e metodologia para as pesquisas atualmente em curso no departamento. Deste modo, a avaliação acontece na assistência, no ensino e na pesquisa. Quanto ao ensino, os psicólogos especializandos freqüentam cursos de dois anos, com duas horas semanais, para a aprendizagem dos métodos psicológicos. O ensino prático acontece juntamente com as atividades de assistência, uma vez que os exames sempre são aplicados dentro de um contexto clínico e multiprofissional. A necessidade de cada exame é amplamente discutida, bem como os resultados em reuniões de equipes específicas. Quanto à pesquisa, o setor de Psicodiagnóstico desenvolve projetos próprios bem como outros projetos, relacionados à Pós-graduação, associados com outros serviços, setores ou mesmo disciplinas do próprio Departamento ou de outros da Unifesp. Atualmente há um empenho de todos os profissionais do setor para as avaliações psicológicas dos três projetos de Psicoterapia envolvidos no projeto Pesquisa em Psicoterapia Psicanalítica. Quanto à assistência, o Setor de Psicodiagnóstico está presente em todas as áreas do Departamento em que for solicitado, como um sistema de consultoria. Além dos serviços existentes, o setor também se encarrega de exames psicológicos para perícia, solicitados pela Unifesp.
O Setor tem as seguintes atribuições: (a) é responsável pelo Programa de Especialização em Psicologia em Saúde; (b) dedica-se ao curso sobre Psicodiagnóstico de Rorschach I e II no Sistema Compreensivo, um ano de duração cada, para os alunos de 1º e 2º anos do Programa de Especialização em Psicologia em Saúde; (c) supervisiona os exames de Rorschach realizados pelos especializandos e por voluntários de 3º ano nos diferentes setores, serviços e programas do Departamento.
6. Interconsulta Médico-Psicológica é realizada em atendimento aos pedidos feitos pelas diversas enfermarias do Hospital São Paulo. O referencial teórico que dá suporte à observação e à intervenção no campo interacional da Interconsulta é o psicodinâmico. Tanto a intervenção quanto o atendimento especializado são orientados pelo campo interacional e nele integrados. Após o recebimento do pedido de Interconsulta que chega através de um BIP, indicando a enfermaria do hospital, o profissional solicitante e o motivo do pedido, a dinâmica do atendimento vai operar, geralmente, através dos seguintes procedimentos: o pedido é atendido rapidamente já que a Interconsulta é uma situação emergencial; o interconsultor procura o profissional solicitante para se apresentar e verificar a natureza da demanda, em seu plano manifesto e latente; a partir daí ele irá orientar suas ações, estabelecendo contato com paciente, com os profissionais que o assistem e com a família, tendo o cuidado de manter contato com o profissional solicitante após cada ação. Um diagnóstico do campo interacional é formulado, lado a lado com os diagnósticos específicos, para os quais poderá ser solicitada a colaboração de outros especialistas da área de saúde mental, psicólogos e psiquiatras. Desde o início são implementadas e propostas intervenções. No plano mais geral, que focaliza o campo interacional, todos os procedimentos já constituem uma intervenção. As ações específicas podem englobar diferentes instrumentos, técnicas e procedimentos, mas terão sempre em conta, como pano de fundo, a dinâmica do campo interacional.
As ações específicas podem envolver, entre outras (a) indicação e implementação de intervenção especializada para o paciente, para fins diagnósticos ou terapêuticos; (b) indicação e implementação de tratamento psiquiátrico ou psicoterápico para o paciente; (c) indicação e implementação de intervenção para a família; (d) indicação, pedido ou sugestão de alguma intervenção na própria enfermaria, por exemplo, grupo de discussão com profissionais, cuja demanda é mobilizada a partir da discussão de uma situação da Interconsulta em andamento.
A equipe de Interconsultores conta com um corpo fixo composto por psiquiatras e psicólogos, docentes, contratados, bolsistas e voluntários; e uma equipe móvel composta por residentes de Psiquiatria, dois do 1º ano e dois do 2º ano, e especializandos de Psicologia, dois do 1º ano e, eventualmente, residentes de 3º ano que optam pelo estágio no serviço. Os residentes e especializandos rodiziam em grupos a cada quatro meses e passam pelo estágio no 1º e no 2º ano.
Quanto ao Programa de Ligação: o profissional fica vinculado a uma determinada enfermaria e exerce aí suas funções. O referencial que norteia o atendimento é o mesmo da intervenção em Interconsulta. A diferença é que o profissional fica vinculado a uma enfermaria e não atende só aos pedidos dos profissionais da enfermaria, mas fica atento a outras demandas que verifique no contato com os pacientes e com a equipe da enfermaria.
Além do atendimento individual, são realizados grupos com os pacientes e familiares, bem como reuniões e programas de capacitação para os aspectos psicossociais dirigidas às equipes das enfermarias.
Assim, no 1o ano o psicólogo freqüenta os programas de ligação do Hospital São Paulo durante quatro meses. No 2º ano participa dos atendimentos aos pedidos de Interconsulta do Hospital São Paulo durante quatro meses. Dada a natureza do trabalho e as intensas situações emocionais consteladas nos atendimentos, são realizadas supervisões diárias de duas horas de duração. O psicólogo também participa de duas reuniões semanais para a discussão de casos e condutas.
7. Psiquiatria Social tem o objetivo de estudar a relação entre condições de vida da população e o processo de adoecimento mental/psíquico. Iniciou sua atuação no município de Embú, São Paulo. Com ênfase em uma abordagem preventiva, dedicou-se a projetos voltados principalmente à criança, tais como "Projeto de Intervenção Precoce na Relação Mãe-Filho", "Projeto Desenvolver" e "Projeto Saúde do Escolar". Nos últimos anos, ampliou-se o foco de atuação, refletindo o atual caráter multidisciplinar da equipe, em que aspectos sociológicos, antropológico-culturais, epidemiológicos, psicológicos e psiquiátricos vêm norteando os trabalhos desenvolvidos.
O Curso de Psiquiatria Social oferecido aos residentes de Psiquiatria e alunos de especialização em Saúde Mental, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais, visa (a) proporcionar uma compreensão geral dos aspectos sociais e antropológicos envolvidos nas questões de saúde e doença mental; (b) ampliar o enfoque da clínica de pacientes que procuram o serviço de saúde, integrando aspectos orgânicos, emocionais e psicossociais, através de participação efetiva em equipe multidisciplinar; (c) contribuir ao aprimoramento de profissionais da área de saúde mental, preparando-os para uma prestação de serviços em saúde coletiva e formar profissionais com uma visão mais crítica e abrangente do sistema de saúde.
O curso divide-se em blocos: Psiquiatria Social, Psiquiatria Comunitária Antropologia, Epidemiologia Clínica aplicada à Psiquiatria e Políticas Públicas em Saúde, permitindo aos alunos uma reflexão sobre a prática sob pontos de vistas variados. Os profissionais do setor trabalharam os conteúdos dos projetos que desenvolvem na Unifesp e profissionais de outras instituições foram convidados para enriquecer o conteúdo programático.O estágio prático do setor de Psiquiatria Social para residentes e especializandos de Psicologia e Serviço Social desenvolvido no Programa de Atendimento e Pesquisa do Primeiro Episódio Psicótico tem como objetivos: (a) proporcionar uma compreensão geral dos aspectos psicossociais e antropológicos envolvidos; (b) ampliar o enfoque da clínica destes pacientes e seus familiares que procuram o serviço de saúde, procurando integrar aspectos biológicos, emocionais e psicossociais; (c) contribuir no aprimoramento de profissionais da área de saúde mental, preparando-os para uma prestação de serviços adequados às necessidades específicas dos pacientes que estão passando pelo primeiro episódio psicótico assim como seus familiares; (d) proporcionar atendimento clínico e participação em diferentes abordagens psicossociais como grupo psicoeducacional, acompanhamento domiciliar e parcerias com instituições e órgãos da comunidade.
O estágio em Psiquiatria Social tem duração de quatro meses com carga horária de quatro horas na semana e dele participam duas residentes em Psiquiatria e duas psicólogos especializandos. As atividades desenvolvidas são: (a) atendimento clínico por residentes e com supervisão de uma psiquiatra; (b) atendimento do Grupo Psicoeducacional para familiares por residentes e especializando com supervisão de uma assistente social; (c) atendimento a familiares com supervisão de uma assistente social; (d) visitas domiciliares, realizadas por: duplas de residentes e psicólogos.
O programa está desenvolvendo projeto de pesquisa sobre Primeiro Episódio e violência intradoméstica.
8. Setor da Infância e Adolescência tem como atividades principais: (a) manter e desenvolver um serviço de atendimento clínico ambulatorial, para crianças e adolescentes, que compreende: triagem, atendimentos diagnósticos e acompanhamentos clínicos, terapias individuais ou grupais, incluindo os familiares. Existem também dois programas de atendimento intensivo, um para crianças psicóticas, incluindo autistas, e seus familiares, e outro para adolescentes com quadros clínicos graves e agudos. No serviço a ênfase é dada à visão global do indivíduo, tendo os atendimentos características abrangentes, incluindo sempre a família e expandindo, quando necessário, nossa intervenção nas escolas e nossa articulação com outros órgãos prestadores de assistência à infância e adolescência: Conselhos Tutelares, Febem, Ministério Público, Juizado de Menores. Todos atendimentos realizados em nosso serviço são gratuitos, atendendo tanto aos encaminhamentos através do SUS ou de outros órgãos públicos, como aos pacientes que nos procuram diretamente; (b) participar da formação dos profissionais em estágios de aprimoramento e/ou especialização inscritos no departamento, médicos psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, enfermeiros, psicopedagogos e outros, oferecendo cursos e oportunidades de aprendizado em serviço, por meio de tarefas clínicas realizadas por eles e supervisionadas pelos professores do setor; (c) desenvolvimento de pesquisas que podem estar relacionadas tanto a aspectos de investigação básica sobre fatos clínicos ou do desenvolvimento mental, como a questões de modelos assistenciais. Deve ser destacado que em 2002 foi celebrado entre a UNIFESP e a Secretaria Estadual de Saúde um convênio que propiciou a criação do Centro de Referência da Infância e Adolescência - CRIA - uma unidade assistencial do setor.
Em resumo, no Programa de Especialização são oferecidas atividades práticas na forma de atendimentos a adultos, adolescentes e crianças, todas supervisionadas pelo corpo docente do Departamento, sejam elas desenvolvidas nos diversos ambulatórios de Psiquiatria, na unidade psiquiátrica, nas diferentes enfermarias do Hospital São Paulo, no Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, no Centro de Referência da Infância e Adolescência - CRIA, além da participação nas discussões das Reuniões Clínicas e cursos teóricos do Departamento (Tabela 1).
Assim, no 1o. ano o psicólogo freqüenta: (1) Unidade Psiquiátrica, durante quatro meses, em tempo integral, ou seja, de 2a a 6a feira das 08:00 às 16:00 horas. O psicólogo realiza avaliações e atendimentos aos pacientes internados contando com supervisão da equipe fixa; (2) Psicoterapia Psicanalítica, durante os dois anos de estágio o psicólogo atende a pacientes com supervisão semanal. Quinzenalmente há Reunião Clínica para a discussão dos casos; (3) Interconsulta Médico Psicologia: durante quatro meses, estágio em hospital geral, Hospital São Paulo, nas variadas especialidades, onde o psicólogo é chamado para atender diversos pedidos de consulta associados com o paciente, a família e a equipe. Como os pedidos chegam diariamente e o psicólogo precisa atendê-los com agilidade e presteza, são realizadas supervisões diárias de duas horas de duração. O psicólogo também participa de duas reuniões semanais para a discussão de casos e condutas; (4) Ambulatório Didático, durante quatro meses de atendimento de no mínimo três pacientes e duas supervisões semanais de duas horas cada; (5) Centro de Atenção Psicossocial, CAPS, durante quatro meses, estágio no serviço com carga horária semanal de 20 horas distribuídas em 15 horas para atividades práticas, atendimentos individuais a pacientes e familiares, participação nos grupos de atendimento, participação nos espaços de convivência e outras atividades abertas; três horas de supervisão, duas supervisões de mini-equipe por semana com uma dupla de profissionais da equipe e uma específica da Psicologia, e ainda, duas horas de Reunião Clínica para a apresentação e discussão dos casos acompanhados no serviço com a presença de toda a equipe. Quanto aos cursos teóricos o psicólogo do primeiro ano freqüenta os cursos teóricos de Psicopatologia, Fundamentos Psicanalíticos para Prática Psicoterápica e Psicodiagnóstico de Rorschach I.
No 2o. ano, o psicólogo freqüenta: (1) Unidade Psiquiátrica, durante quatro meses, em tempo integral, ou seja, de 2a a 6a feira das 08:00 às 16:00 horas. O psicólogo realiza avaliações e atendimentos aos pacientes internados contando com supervisão da equipe fixa; (2) Psicoterapia Psicanalítica, o psicólogo prossegue os atendimentos a pacientes com supervisão semanal com uma Reunião Clínica quinzenal para a discussão dos casos; (3) Interconsulta Médico-Psicológica, durante quatro meses, estágio no hospital geral com supervisões diárias de duas horas de duração. O psicólogo também participa de duas reuniões semanais para a discussão de casos e condutas; Durante quatro meses os especializandos de Psicologia passam ao mesmo tempo pelos seguintes estágios práticos: (4) Centro de Atenção Psicossocial, CAPS, estágio no serviço com carga horária semanal de 15 horas distribuídas em dez horas para atividades práticas, três horas de supervisão e duas horas de Reunião Clínica; (5) Centro de Referência Infância e Adolescência, CRIA, psicodiagnóstico e atendimento a crianças, adolescentes e familiares com supervisão e Reunião Clínica semanais para a discussão dos casos acompanhados; (6) Psiquiatria Social, estágio realizado no Programa Primeiro Epísódio Psicótico (PEP) com quatro horas semanais de duração. O psicólogo no segundo ano freqüenta os seguintes cursos teóricos: Psiquiatria Social, Psiquiatria Infantil e Psicodiagnóstico de Rorschach II.
Ao final do Programa o especializando deve apresentar um trabalho de conclusão do curso, uma monografia. Alguns deles se encaminham para o mestrado e depois doutorado do Programa de Pós-graduação em Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria.
Sobre a autora:
1 Latife Yazigi: Professora Titular do Departamento de Psiquiatria da Universiade Federal de São Paulo. Pesquisadora 1A CNPq.1ª Vice-Presidente da International Rorschach Society, IRS. 1ère Vice-Président de la Société Internationale de Psychopathologie Phénoméno-Structurale, SIPPS. Membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Rorschach, ASBRo.