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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.14 no.3 Itatiba Dec. 2015

 

 

Estudo correlacional entre o HumanGuide e a Bateria Fatorial da Personalidade

 

A correlational study of the HumanGuide and the Personality Factor Inventory

 

Estudo correlacional entre HumanGuide y la Batería Factorial de la Personalidad

 

 

Ute Hesse; Cláudio Capitão; Luana Comito Muner; André Rossi1

Universidade São Francisco

 

 


RESUMO

O presente artigo objetivou realizar um estudo exploratório por meio da correlação entre os oito fatores do HumanGuide (HG) e as facetas da Bateria Fatorial da Personalidade (BFP). Ambos os instrumentos avaliam a personalidade como construto, em que os fatores espelham semelhanças das características do perfil pessoal do indivíduo. Participaram deste estudo 78 equitadores profissionais, com idade entre 18 a 60 anos (M=36,06; DP=9,42). Por meio da análise correlacional com a BFP, foram encontradas 56 correlações estatisticamente significativas com magnitude baixa e moderada. O HG como instrumento informatizado, mostrou agilidade e economia no processo de avaliação.

Palavras-chave: avaliação psicológica; cinco grandes fatores; personalidade.


ABSTRACT

This paper aimed to conduct an exploratory study based on the correlation between the eight factors of HumanGuide (HG) and the dimensions of the Factorial Personality Inventory (BFP). Both instruments evaluate personality as a construct, in which factors mirror the similarities of the individual’s own profile characteristics. The sample consisted of 78 professional horseback riders between the ages of 18 and 60 (M=36.06; SD=9.42). Through correlational analysis with the BFP, 56 statistically significant correlations with low and moderate magnitude were found. The HG, as an automated instrument, proved itself to be quick and economical in the evaluation process.

Keywords: psychological assessment; big-five model; personality.


RESUMEN

El presente artículo tuvo como objetivo realizar un estudio exploratorio por medio de la correlación entre los ochos factores del HumanGuide (HG) y las facetas de la Batería Factorial de la Personalidad (BFP). Ambos instrumentos evalúan la personalidad como constructo, donde los factores reflejan similitudes de los aspectos del perfil personal del individuo. 78 jinetes profesionales, de 18 a 60 años (M=36,06; DE=9,42) participaron del estudio. Por medio del análisis correlacional con la BFP, 56 correlaciones estadísticamente significativas fueron encontradas con baja a moderada magnitud. El HG como instrumento informatizado, mostró agilidad y economía en el proceso de evaluación.

Palabras-clave: evaluación psicológica; cinco grandes factores; personalidad.


 

 

HumanGuide

O teste HumanGuide (HG), desenvolvido por Kenmo (2007), foi fundamentado em oito necessidades universais pertencentes à teoria Szondiana da Análise do Destino. Além dessa teoria, Kenmo (2007) também fundamentou o HG por meio do teste de Szondi e do BBTTestes de Fotos de Profissões, desenvolvido por Achtnich (1991). O HumanGuide foi introduzido no Brasil por Giselle Mueller-Roger Welter e validado pelo procedimento da análise fatorial, em que são apresentados como fatores do perfil motivacional (Welter, 2011).

A compreensão da análise do destino de Szondi traz a ideia de que as escolhas dependem da dialética entre forças originadas pela genética, dos impulsos inconscientes e pela estrutura do “Eu”. A estrutura do “Eu” é descrita como fator racional das escolhas, sendo que, ao invés das escolhas serem orientadas pela influência genética e pulsional, elas são chamadas de Zwangschicksal (destino de coerção ou obrigação), e são consideradas escolhas herdadas (Szondi,1972; 1987; 1995).

O HG possui sua fundamentação teórica no teste de Szondi, um método projetivo criado em 1943 para diagnosticar os vetores pulsionais predominantes e as necessidades das pulsões, denominado Diagnóstico Experimental da Pulsão. Trata-se de um teste não verbal e consiste nas escolhas de fotografias, utilizado para confirmar hipóteses diagnósticas em casos psiquiátricos. O teste de Szondi é composto por quarenta e oito retratos de pacientes com transtornos mentais. Cada face possui um caráter evocador que permite explorar a capacidade de ressonância do indivíduo, em que o paciente psiquiátrico deve agir com um “gosto” ou “não gosto”. Segundo Szondi, as oito categorias psiquiátricas da nosologia clássica correspondem à expressão doentia extrema, de oito fatores ou “sistemas de necessidades”, cuja escolha ou rejeição expressam a relativa tensão existente nesse sistema de necessidades, com origem nas pulsões (Welter & Capitão, 2007).

Dentre os oito fatores, o fator Sensibilidade é caracterizado pela necessidade principal de estabelecer contatos interpessoais, com forte tendência da busca de proximidade física e psicológica. O fator Sensibilidade inclui também os comportamentos que buscam harmonizar o ambiente, sendo que pessoas com esse perfil típico geralmente são sensíveis e possuem grande empatia (Welter, 2011). O fator Força, no teste, é regido pelo princípio da agressividade, dominação e imposição, descreve pessoas com necessidade de buscar a constante transformação. Segundo Welter (2011), o fator inclui termos, tais como: atacar, superar, dominar, romper, lutar, vencer, entre outros.

O fator Qualidade descreve pessoas com necessidade de fazer diferença entre outras, colocam-se à disposição para prestar algum tipo de ajuda ou auxílio (Welter, 2011). Esse fator está associado ao comportamento e ao sentimento de culpa, nesse sentido, ancorado no conceito psicanalítico do Superego. Os indivíduos com escore menos elevado em Qualidade, tendem a ser qualificados como ativos, corajosos, audaciosos e que gostam de riscos (Achnicht, 1991). O fator Exposição é regido pelo senso moral, em que as pessoas manifestam a necessidade de pertencer a um grupo, serem reconhecidas e admiradas pelo outro. No caso de o fator ser típico na pessoa indica que, para esta, é importante ter possibilidade de expor o que faz (Kenmo, 2007).

O fator Estrutura indica a necessidade do controle do meio ambiente e de si mesmo. A pessoa que apresenta esse fator típico busca adequar-se às normas, regras, parâmetros e procedimentos, com tendência voltada para atividades concretas, que possibilitam a avaliação e verificação das ações realizadas (Welter, 2011). O fator Imaginação indica potencial criativo. É encontrado em sujeitos que agem de forma irracional e intuitiva. Há constante desejo pelo novo, por meio de atividades de profissionais que exijam muita leitura, abstração e interpretação da realidade (Welter, 2011).

Segundo Welter (2011), pessoas com o perfil pessoal típico da Estabilidade são dotadas de forte senso prático com base nas atividades cotidianas, apresentam a necessidade determinar atividades que iniciaram, mantendo uma visão de longo prazo. O fator de Estabilidade sugere pessoas que possuem um perfil pessoal conservador, valorizam a tradição e apresentam certa dificuldade em lidar com perdas de qualquer tipo. O fator Contatos corresponde a pessoas que apreciam as coisas boas da vida por meio da satisfação oral, da comunicação e da alimentação. Esse mesmo fator ainda está associado ao otimismo e ao trabalho em equipe (Welter, 2011).

Cinco Grandes Fatores

Na atualidade, o conceito de traço, amplamente utilizado na compreensão da personalidade, é de longe o conceito mais importante de Cattell (1975). O traço deve ser compreendido como uma “estrutura mental” para explicar regularidade ou consistência de um comportamento. A teoria pode ser compreendida como uma predisposição relativamente estável e duradoura relacionada ao comportamento (Hutz et al., 1998). A psicologia contemporânea possui uma compreensão mais integradora e abrangente dos temas multifatoriais da teoria e pesquisa sobre a personalidade. O modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF), também chamando Five-Factor Model (FFM), possui amplo esboço dos diferentes aspectos da personalidade. Esse modelo propõe uma visão integradora da personalidade e engloba aspectos da psicologia ao considerar fatores da disposição, características pessoais, assim como leva em consideração a história e contexto cultural em que o indivíduo está inserido (Nunes, Hutz, & Nunes, 2010).

O modelo dos CGF é composto pelos seguintes fatores: Neuroticismo, que visa avaliar o grau de transtorno, considerando a quantidade de emoções negativas; Extroversão, que avalia o grau de exposição e de busca por estimulação; Socialização, que avalia a preocupação e a cooperatividade em relação aos outros; Realização, que avalia o grau de escrupulosidade, comprometimento e disciplina; e Abertura, que visa avaliar a abertura a novas experiências e a realizações não convencionais (Nunes, Hutz, & Giacomoni, 2009).

Desenvolvido inicialmente por McCrae e Costa (2003), o FFM agrupa características permanentes da personalidade, além das adaptações que ajudam no ajuste individual para as constantes mudanças no ambiente social. O FFM possibilitou a interpretação da personalidade com indicadores de emoções e de comportamento, das quais foram observadas em diferentes culturas de uma forma estável e contínua. Ao longo do tempo, mostrou-se grande satisfação na identificação de características da personalidade pelos cincos fatores, pois o método é considerado um modelo descritivo e integrativo (Hutz et al., 1998). A diversidade de técnicas de avaliação, tais como a autoclassificação em testes objetivos e relatórios de observação do programa-pesquisa, levaram a encontrar consistentemente os mesmos traços, dando credibilidade para distinguir a diversidade dos aspectos da personalidade em cinco grandes fatores (Schultz & Schultz, 2011).

Muitas evidências se acumularam ao longo dos anos sobre o FFM (Costa & McCrae, 2010; Ross, Rausch, & Canada, 2003; Widiger & Lowe, 2008; Widiger & Simonsen, 2005; Widiger & Costa, 2002). Diferentes sistemas de compreensão da personalidade e diversas soluções fatoriais podem ser alojados no modelo do FFM, mostrando sua alta coerência e estabilidade. Pelo fato de ter um amplo substrato empírico dentre diversas culturas, o FFM é o modelo que mais ganhou aceitação entre os pesquisadores. Isso se deve também por sua consistência fatorial, ou seja, em estudos diversos as análises fatoriais levarem sempre aos mesmos cinco fatores (Carvalho, 2008, 2011; Schultz & Schultz, 2011; Widiger & Lowe, 2008).

No Brasil, a ferramenta que possui seu embasamento no FFM é a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) idealizada pelos estudos de Nunes, Hutz, e Nunes (2010). A BFP consiste em um instrumento de avaliação de personalidade com indicação para pesquisa, avaliação clínica e psicodiagnóstico, avaliação no contexto da psicologia do trabalho e organizacional, avaliações de triagem em instituições de saúde, orientação profissional, Psicologia Forense, Psicologia Escolar e Educacional, e avaliação neuropsicológica. Na busca de fontes de validade para os Cinco Fatores, diversos estudos são citados no manual da BFP, os quais comprovam a eficácia do instrumento ao predizer determinados comportamentos. Os estudos metaanalíticos também apontaram convergências entre os cinco fatores da BFP e outros instrumentos.

Levando em consideração a importância do modelo dos cinco grandes fatores, o presente estudo buscou explorar possíveis correlações entre o HG e a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), de Nunes et al. (2010). Ambos os instrumentos avaliam a personalidade como construto, em que os fatores espelham semelhanças das características do perfil pessoal do indivíduo. Objetivou-se nas correlações verificar se há congruência na presença negativa ou positiva dos fatores apresentados (Nascimento 2006).

 

Método

Participantes

Participaram deste estudo 78 equitadores profissionais do hipismo clássico e rural, escolhidos por critério de conveniência, com idade entre 18 a 60 anos (M=36,06; DP=9,42). Dos participantes, em sua formação acadêmica, 9% possuem o ensino médio incompleto, 23,1% ensino médio completo, 28% superior incompleto e 28% completo. Dessa amostra, 77% são do sexo masculino. A faixa salarial dos participantes variou, sendo que 29,5% deixaram de responder esse item; 33,3% responderam que ganham entre R$ 800,00 e R$ 3.800,00. O restante, 37,2, ganha acima desse valor.

paragrafo 2.

Instrumentos

HumanGuide (Welter, 2011). Segundo o manual técnico de Welter (2011), o HG tem como objetivo apreender o perfil motivacional de indivíduos adultos, considerando oito fatores de necessidades comuns a maior parte da população, com padrões motivacionais mais adaptativos e usuais. O HG vem ao encontro das necessidades do contexto organizacional e seu conceito está intimamente relacionado à avaliação do comportamento e desempenho das pessoas. Consiste de 72 itens distribuídos em nove páginas, com oito afirmações cada. Cada afirmação corresponde a um dos oito fatores ou necessidades pulsionais, segundo a teoria Szondiana. Cada afirmação do teste é respondida por meio de escolha forçada, dado que o respondente deve se posicionar respondendo quatro frases positivas e duas negativas obrigatoriamente (Welter, 2011). O tempo de aplicação é de aproximadamente 20 minutos e é realizado por meio de preenchimento eletrônico, sem supervisão direta. Os oito fatores avaliados pelo questionário Perfil Pessoal HumanGuide podem ser típicos no perfil da pessoa, sendo que os fatores que se destacam nas extremidades serão determinantes para a análise quantitativa das principais tendências da pessoa. São eles: Sensibilidade, Força, Qualidade, Exposição, Estrutura, Imaginação, Estabilidade e Contato.

O HumanGuide foi desenvolvido conforme as diretrizes da International Test Commission – ITC (2005), atendendo as questões técnicas e tecnológicas necessárias de um teste informatizado. A capacitação técnica é exigida para o uso informatizado, em que as qualidades psicométricas do instrumento, as evidências de validade, correção, a análise e apresentação dos resultados foram estudadas cuidadosamente. Foram formuladas questões relativas ao controle da autenticidade da identidade do testando, pelo fato da avaliação ser informatizada e on-line. A segurança e privacidade do acesso do material do teste, transferência dos dados pessoais do testado pela internet, também são garantidas pelos programas de computação utilizados (Welter, 2011).

O estudo de Welter e Capitão (2007) atestou a validade e precisão do instrumento. Os autores realizaram análises da estrutura interna, de correlac¸a~o do HG com o 16PF (Questiona´rio Fatorial da Personalidade) e BBT (Teste de Fotos de Profisso~es), de consistência interna e fatorial. Foram encontradas correlac¸o~es significativas entre o HG e o 16PF e entre o HG e o BBT, além de índices altos de consistência interna para o instrumento HG. A análise fatorial também reduziu os fatores do HG para quatro fatores globais, que explicaram 22,6% da variabilidade total.

Bateria Fatorial da Personalidade – BFP (Nunes et al., 2010). Trata-se de um instrumento embasado no modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF), referido na literatura como Big Five ou Five-Factor Model (FFM). A compreensão da personalidade é descrita pelos seguintes fatores e subfacetas: Neuroticismo (com as subfacetas N1 – Vulnerabilidade, N2 – Instabilidade Emocional, N3 – Passividade/Falta de Energia, N4 – Depressão), Extroversão (com as subfacetas E1 – Comunicação, E2 – Altivez, E3 – Dinamismo, E4 – Interações Sociais), Socialização (S1 – Amabilidade, S2 – Pró-Sociabilidade, S3 – Confiança,) Realização (R1 – Competência, R2 – Ponderação/Prudência, R3 – Empenho/ Comprometimento) e Abertura (A1 – Abertura a Novas Ideias, A2 – Liberalismo, A3 – Busca por Novidades) (Nunes, Hutz, & Giacomoni, 2009).

Além de estudos de dimensionalidade e precisão realizados por Nunes et al. (2010) foram realizados estudos de correlação (Bartholomeu, Nunes, & Machado, 2008; Nunes, 2009; Nunes et al., 2009) e evidência de validade de critério (Nunes, Nunes, Cunha, & Hutz, 2009; Nunes et al., 2006), apontando evidências de validade para a BFP.

Procedimentos

Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética da Universidade São Francisco (Protocolo de Aprovação CAAE nº 0338.0.142.000-11), os participantes foram selecionados de acordo com os cadastros da Federação Brasileira de Hipismo – FBH, da Federação Paulista de Hipismo – FPH, da ANDE - BRASIL – Associação Nacional de Equoterapia – Brasil e militares. Uma vez assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos profissionais e o preenchimento do questionário de identificação, foi aplicado, inicialmente, o teste HumanGuide utilizando computadores e internet do local de trabalho dos participantes. Em seguida, foi aplicada a BFP, que teve a duração de 50 minutos. As correlações foram realizadas por meio do cálculo do coeficiente de correlação de Person e foi utilizado o software estatístico SPSS 17.

 

Resultados

O estudo teve como objetivo verificar possíveis correlações entre o HumanGuide e os fatores da BFP. Para isso, utilizou-se o cálculo do coeficiente de correlações de Pearson e os resultados estão apresentados na sequência. No total, podem ser observadas 56 correlações com nível de significância de p≤0,05 ou p≤0,001, de magnitudes baixas e moderadas entre os fatores do HG e BFP; os resultados foram obtidos por meio dos dados da amostra total (N=78). A Tabela 1 apresenta as correlações encontradas por meio das análises estatísticas entre os oitos fatores do HG com o fator geral Neuroticismo e quatro subfatores dessa faceta. O fator Exposição mostrou correlação estatisticamente significativa, positiva e de magnitude moderada com N2, N3 e Neuroticismo, Imaginação também apresentou correlação positiva com N3. As demais correlações observadas foram de magnitudes baixas, porém negativas.

 

 

Na tabela 2, pode-se observar a correlação entre os fatores do HG e subfatores e fator Extroversão da BFP. Destaca-se a correlação negativa e moderada entre o fator Estabilidade e extroversão. Positivamente, o fator Contato apresentou relação com E4.

 

 

Verifica-se, na Tabela 3, que os resultados encontrados entre os fatores do HG e o escore geral Socialização apresentam 12 correlações com magnitude baixa ou moderada nessa faceta, entre elas sete foram positivas. As correlações de magnitude moderada observadas foram entre Qualidade e S2, e Exposição, S2 e Socialização..

 

 

Na Tabela 4, podem ser observadas as correlações entre os fatores do HG com o fator Realização e seus subfatores. Esses dados fortalecem a hipótese de evidência de validade para o HG, por meio de variáveis externas. Ao analisar os resultados estatísticos entre as variáveis dos dois instrumentos, pode ser observado que há maior índice de convergência nessa faceta. Foram encontradas 17 correlações, nove positivas e oito negativas de amplitudes baixas entre o HG e o fator Realização.

 

 

Na sequência, serão apresentados os dados obtidos por meio das análises dos fatores do HG, com o quinto escore geral, do fator Abertura e de seus subfatores. Esse fator expressa o quanto o indivíduo é imaginativo, diverte-se com novas ideias e valores não convencionais (Nunes et al., 2010). As cinco correlações encontradas nesta faceta podem ser melhor observadas na Tabela 5.

 

 

 

Discussão

Foram encontradas nove correlações estatisticamente significativas com magnitudes baixas na Tabela 1. Houve correlação negativa entre Força (k+) e N3– Passividade. Escores elevados em Força (k+) sugerem tendências à busca de transformação da realidade, em que baixos escores em N3–Passividade resultam na manifestação proativa e forte motivação intrínseca. Por outro lado, alto escore em N3 – Passividade mostrou correlação positiva baixa com o fator Imaginação. A correlação positiva encontrada em N3 – Passividade e imaginação (p) caracteriza dificuldade de iniciar tarefas em virtude de que o fator Imaginação (p+) expressa necessidade da expansão do Ego, porém pode ficar no mundo das ideias por meio da desorganização (Szondi, 1987). A combinação desses dois fatores pode indicar a tendência dos projetos permanecer no mundo das ideias.

Embora o HG não preveja a avaliação do nível de adaptação da pessoa em relação aos sentimentos negativos ou situações de sofrimento psicológico, pode-se observar correlações positivas baixas entre Neuroticismo e Exposição. Esse dado justifica-se pela hipótese encontrada na fundamentação teórica de Szondi (1995), em que o fator Exposição é derivado do vetor Paroxismal (P), caracterizado pelos sentimentos negativos de ansiedade, ódio e raiva. Assim, a correlação positiva com nível de significância moderada entre Exposição e N2 – Instabilidade confirma a fundamentação teórica de Szondi (1972; 1987), em que o fator Exposição (hy) representa a necessidade de manifestação dos afetos em momentos inesperados, descritos também como necessidade de fuga ou ataque. Essa formulação é condizente com altos escores em N2 – Instabilidade, que expressam a necessidade dos indivíduos de agirem impulsivamente quando sentem desconforto emocional.

A correlação negativa entre Neuroticismo e Contato foi convergente na medida em que elevados escores em Contato (m+) indicam tendência ao otimismo e facilidade nas relações interpessoais, contrapondo aos altos escores no Neuroticismo que assinalam um prejuízo significativo em relação à percepção do bem-estar da pessoa, com poucos recursos internos para lidar com sentimentos negativos. A análise da correlação negativa entre N4 – Depressão e o fator Contato aponta que altos escores em N4 – Depressão indicam expectativa negativa em relação ao futuro; por outro lado, alto escore em Contato (m+) representa necessidade de se apoiar nas coisas e nas pessoas com tendências ao otimismo (Welter, 2011).

A correlação negativa entre N2 – Instabilidade e o fator Qualidade é convergente na medida em que indivíduos com baixo escore em N2 – Instabilidade apresentam alta tolerância à frustração. Ao mesmo tempo, alto escore em Qualidade (e+) indica tendência para fazer o bem, a justiça coletiva e a tolerância (Welter, 2011).

Os resultados encontrados na faceta do Neuroticismo com os fatores do HG, portanto, trazem evidências de validade para o instrumento pela convergência das correlações encontradas, mesmo que o HG não possua o objetivo de avaliar possíveis predisposições para apresentar sofrimento psicológico. Os dados encontrados justificam-se pela sólida fundamentação teórica do HG, baseado na teoria da Análise do Destino de Szondi, que possui sua compreensão das tendências pessoais na avaliação clínica da expressão doentia das necessidades de pacientes psiquiátricos (Welter, 2011).

O vetor Contato (C), na definição de Szondi (1972), traduz o modo como o indivíduo se relaciona com os outros e com o mundo, traz a compreensão sobre as necessidades dos indivíduos buscarem contato, expressando características, tais como: apreender, pegar e tocar (Estabilidade), ou avizinhar-se, estar próximo (Contato). A definição do construto da Extroversão converge com os fatores polares do vetor Contato (C), por meio da necessidade de estabelecer relações interpessoais, ou não, apresentados na Tabela 2. Pois baixos escores nos três subfatores da Extroversão expressam que o indivíduo tem pouca vontade de falar sobre si (E1), necessita de pouca atenção dos outros (E2) e prefere ficar sozinho (E4). Tendências convergentes podem ser encontradas em baixo escore do fator Contato (m-) e altos escores em Estabilidade (d+).

As correlações negativas de magnitude moderada entre Estabilidade e Extroversão, como também em todos os subfatores, sugerem que quanto maior a tendência à necessidade de conservar e apegar-se à matéria menor é a probabilidade para a disponibilidade às relações interpessoais passageiras e superficiais, condizente com a definição de conteúdos de ambos os construtos dos instrumentos pesquisados. A correlação negativa entre Estabilidade e E2 – Altivez foi significativa, visto que confirma a tendência a pouca necessidade de receber atenção dos outros (E2) e, ao mesmo tempo, altos escores em Estabilidade (d+) sugerem preferência por objetos concretos ao invés de contatos interpessoais.

O fator Estabilidade mostrou correlações negativas, todas de significância moderada, com os demais subfatores da faceta Extroversão. O baixo escore em E1 é condizente com alto escore em Estabilidade (d+), que denota tendência para constrangimento dos indivíduos que se veem em situações de exposição. Indivíduos com Estabilidade como fator dominante preferem se concentrarem nas atividades práticas, vínculos duradouros, e evitam atividades diferentes ao mesmo tempo (E3). Ainda para as correlações negativas encontradas entre Estabilidade e subfatores da Extroversão, pode-se afirmar que baixos escores em E4–Interações Sociais acompanham altos escores em Estabilidade, pois em ambas as situações descritas pelos fatores, os indivíduos preferem ficar sozinhos ou em grupos pequenos (Nunes et al., 2010; Welter, 2011).

O fator Contato (m) possui força polar em relação ao fator Estabilidade (d), portanto é esperado que as correlações entre Extroversão, subfatores desta faceta e Contato do HG apresentem-se como positivas. É possível considerar, por meio da correlação positiva encontrada entre o fator Contato e Extroversão, que há convergência nestes fatores em virtude da necessidade expressa de sociabilidade. A facilidade para falar em público é convergente também entre os instrumentos, e foi positiva a correlação entre os fatores Contato e E1 – Comunicação. A necessidade de buscar o contato e apoio das pessoas (Contato d+) e a preferência para atividades em grupo (E4) foram convergentes e confirmadas nos resultados encontrados nos dois fatores, Contato e E4 – Interações Sociais.

Ainda na faceta da Extroversão foi possível observar correlação positiva de magnitude moderada em E2 – Altivez com Exposição, sendo os conteúdos definidos para o fator E2 – Altivez coincidem com a necessidade de o indivíduo ser o centro das atenções. O construto com altos escores de E2 – Altivez, complementa-se com a do fator Exposição, pois o construto refere-se à necessidade de receber atenção e ser visto pelos demais (Welter, 2011). Os fatores Sensibilidade com E2 – Altivez apresentaram correlação negativa, ou seja, maior escore em Sensibilidade (h+), maior disponibilidade para os outros; menor escore em E2–Altivez, pouca necessidade de receber atenção dos outros. A pessoa com alto escore em Sensibilidade (h+) tende a ser bastante afetuosa, receptiva e adaptável (Welter, 2011), sem a crença de que os outros rivalizem ou que tenham a necessidade de chamar atenção sobre si e sobre as suas qualidades, como é caso de elevados escores em E2 – Altivez (Nunes et al., 2010).

Na Tabela 3, os fatores Estrutura e Contato não apresentam correlações de magnitude significativa com o escore geral de Socialização. Isto pode ser justificado pelo fato de que o construto Contato é definido pela tendência à alegria, abertura, otimismo e sociabilidade (Kenmo, 2007); a Socialização tende à capacidade de intimidade, desejo de ajudar os demais, como também ao alto nível de altruísmo. Estas qualidades pertencem aos fatores Sensibilidade (h) e Qualidade (e) do HG. A multidimensionalidade destes dois fatores do HG sugere participação social por meio de uma contribuição positiva, esta também encontrada em altos escores dos subfatores da Socialização da BFP.

Elevados escores em Sensibilidade (h+) manifestam tendência a harmonizar as situações por meio da necessidade em antecipar as demandas percebidas nos ambientes e respectivas relações interpessoais; tais definições coincidem com as características descritas nos subfatores da Socialização. Portanto, pode-se notar que no fator Sensibilidade há correlações positivas com todos os subfatores da Socialização. Altos escores nos subfatores de Socialização descrevem indivíduos atenciosos e amáveis com os demais (S1), com tendência a apresentar uma postura franca (S2) e, ao mesmo tempo, condizente com a necessidade de harmonizar as relações, estabelecer contatos interpessoais calorosos, sendo manifestados por meio do fator Sensibilidade (h). Mas, por outro lado, a correlação positiva encontrada entre Sensibilidade (h+) e S3- Confiança pode ser indício de ingenuidade do indivíduo em relação aos demais e sua disponibilidade de ajudar. Condizentes com os estudos de Ross, Rausch, e Canada, (2003) apresentam a faceta da Socialização como o fator que se correlaciona positivamente com cooperação.

O fator Força com S3 – Pró-sociabilidade mostrou correlação negativa. Padrões comportamentais assertivos e afirmativos podem ser eventualmente impositivos e autoritários por meio da dominância no fator Força (s). Estes apresentam baixas correlações com Pró-sociabilidade, fator este caracterizado por atitudes que podem ser manipuladoras e desrespeitosas (Nunes et al., 2010).

A correlação positiva entre Qualidade e o fator S2 – Pró-sociabilidade, ambos os fatores avaliam as características que são intrinsecamente ligadas à concordância ou confronto com leis e regras sociais, ou seja, manifestam o senso ético e moral das pessoas. Elevado escore em Qualidade (e+) expressa a vontade de querer ajudar sempre; por seu lado, S2–Pró-sociabilidade caracteriza pessoas que apresentam ingenuidade em relação aos outros (Nunes et al., 2010).

A polaridade do fator Qualidade (e) e do fator Exposição (hy) no vetor Paroxismal (P) da teoria Szondiana justifica a correlação negativa encontrada com S2 – Pró-sociabilidade e Exposição; portanto, elevados escores em Exposição (hy+) e baixos em Prósociabilidade indicam indivíduos com pouca preocupação em seguir as leis. Podem ser manipuladores, e fazem pressão sobre os outros, pela necessidade de serem admirados ou reconhecidos. Nesta constelação há tendência do indivíduo à necessidade de investir em estar em evidência e não na intimidade e proximidade com o outro (Nunes et al., 2010; Welter, 2011).

Por meio da correlação negativa encontrada entre o fator Imaginação e Socialização, os resultados sugerem que indivíduos com altos escores em Imaginação (p+) são mais desconfiados e inseguros em relação à própria imagem e desconfiança. Esses mesmos aspectos podem ser encontrados na definição de baixo escore em Extroversão e confirma que os instrumentos avaliam construtos semelhantes.

Na Tabela 5, a correlação positiva com maior amplitude da amostra foi observada no subfator R3 – Empenho com Estrutura, confirmando a maior pontuação encontrada por meio da análise de conteúdo. A competência no fator Estrutura (k+) é composta por itens que descrevem inclinação para metas e para objetivos determinados (Welter, 2011), coerente com uma atitude ativa na busca dos objetivos encontradas em alto escore da variável R3 – Empenho/Comprometimento. A inclinação ao detalhismo e exigência pessoal, presente em alto escore em R3 é convergente com a necessidade de perceber, observar e corrigir, encontrados no forte senso de realidade do fator Estrutura (k+) (Achtnich, 1991).

A necessidade de ter controle lida com coisas passíveis de verificação (k+) e, ao mesmo tempo, ponderar cuidadosamente possíveis consequências de ações por meio da avaliação são tendências que podem ser correlacionadas positivamente entre os dois instrumentos, segundo os resultados encontrados em Estrutura e R1 – Competência. Constatou-se ainda, por meio de baixo escore em R1 – Competência, que representa a falta de planejamento, presente no fator Estrutura (k) com baixo escore, ou até mesmo atípico (k-). A alta correlação entre o fator Estrutura (k), Realização e subfatores, confirma a hipótese de que é adequado acreditar que ambos os instrumentos avaliem o mesmo construto, na medida em que estes fatores expressam tendência ao planejamento, disciplina e controle, ou seja, senso de realidade (Nunes et al., 2010; Welter, 2011)

Como os fatores Estrutura (k) e Imaginação (p) são variáveis bipolares do vetor do Ego (Sch) na teoria de Szondi (1972, 1987, 1995), também se justifica ter encontrado correlações significativas negativas com o fator R - Realização e Imaginação. A correlação encontrada é evidenciada pela falta de planejamento, perseverança e organização em alto escore de Imaginação (p+) e baixos em Realização. O esforço de ser perfeccionista com tendência a querer planejar detalhadamente os passos para realizar uma tarefa, (Nunes et al., 2010), pertencem aos itens de alto escore em R3–Empenho/ Comprometimento, sendo divergente do alto escore em Imaginação (p+). Tais afirmações podem ser justificadas na correlação negativa encontrada nesses dois fatores.

Foram observadas correlações no vetor Sexual (S), (Szondi, 1972; 1987; 1995), em ambas as variáveis polares da Força (s) e Sensibilidade (h). O resultado da correlação negativa em R1 – Competência e Sensibilidade reforça a hipóteses de que os indivíduos com elevados escores em Sensibilidade tendem a apresentar baixos escores em Competência. Esse dado sugere que indivíduos complacentes, atenciosos, amáveis e diplomáticos (Kenmo, 2007) costumam possuir pouca disposição para atingir objetivos e podem facilmente desistir em frente de obstáculos (Nunes et al., 2010). Ao mesmo tempo, a associação de R1 – Competência com Força resultou em correlação positiva com magnitude moderada, o que expressa, quando há necessidade de agir pelo princípio da agressividade, dominação e imposição (Welter, 2011), os indivíduos tendem a não desistir. Estes demonstram acreditar em seu potencial, gostam de atividades estruturadas e desafios.

Por fim, na Tabela 5, a correlação positiva moderada observada entre A3 – Busca por novidade e Imaginação foi significativa. O presente dado corresponde a hipóteses de que A3 – Busca por novidade correlaciona-se com o fator Imaginação em virtude de que ambos os fatores expressam características de pessoas com afinidade para atividades de produção artística, que precisam de imaginação e criatividade. Na polaridade oposta da Imaginação, o fator Estrutura (k) expressa correlação baixa negativa com A3 – Busca por novidade.

O fator Estabilidade (d) apresentou três correlações negativas ao nível de significância moderada, com A1 – Abertura a novas ideias, A3 – Busca por novidade e Abertura. Tais dados sugerem que elevados escores em Estabilidade (d+) indicam tendência de buscar o convencional, o conservadorismo e a resistência a mudanças. Assim, esses resultados coincidem com a descrição teórica e confirmam a hipótese de que elevados escores em Estabilidade tendem a comportamentos menos flexíveis e pouca abertura para conhecer novos temas (Nunes et al., 2010).

Apesar dos resultados positivos, o presente estudo possui limitações importantes que devem ser levadas em consideração na interpretação de seus resultados, a começar pelo tamanho da amostra. Um número reduzido de sujeitos tem efeitos adversos sobre as estatísticas. De maneira geral, as estatísticas se baseiam em variância, e uma amostra pequena reduz consideravelmente a variância. Outra consideração relevante diz respeito aos sujeitos (amostra de conveniência), pois são todos equitadores. Recomenda-se que futuros estudos se utilizassem de amostras randômicas e com número de sujeitos maior.

 

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recebido em julho de 2014
reformulado em junho de 2015
aprovado em julho de 2015

 

 

Sobre os autores

Ute Hesse: é psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco, Itatiba.
Claudio Capitão psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor associado doutor da Universidade São Francisco, Itatiba.
Luana Comito Muner: é psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco, Itatiba.
André Rossi: é psicólogo clínico e mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco, Itatiba.


1Endereço para correspondência: R. Adolfo Torricelli, 284, 13207-265, Jundiaí-SP. Tel.: (11) 4807-1472. E-mail: andreaugustorossi@gmail.com


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