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Psicologia em Revista
Print version ISSN 1677-1168
Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.21 no.3 Belo Horizonte Sept. 2015
RESUMOS DE TESES E DISSERTAÇÕES
Cuidado com a velhice: interdisciplinaridade e intersetorialidade
Elderly care: interdisciplinary and intersectoral
Cuidado con la vejez: interdisciplinariedad e intersectorialidad
Ana Paula Lopes Rocha*; Roberta Carvalho Romagnoli (orientadora)**
Essa pesquisa de mestrado em Psicologia tem como tema a relação da intersetorialidade com o discurso e a prática de atendimento ao idoso, mais especificamente no "Programa Maior Cuidado/ Projeto Cuidador de Idosos", no território do Alto Vera Cruz, Regional Leste, no município de Belo Horizonte-MG. Nesse percurso, pretende responder, mesmo que provisoriamente, a seguinte questão: como se dá a aplicação da intersetorialidade no Projeto Cuidador de Idosos e quais são os efeitos das ações intersetoriais no desenvolvimento da melhoria da qualidade de vida dos idosos e na capacidade de proteção das famílias e do Estado a esse segmento da sociedade?
Procurando investigar sobre a estratégia de gestão da intersetorialidade e detectar os fatores dificultadores e facilitadores do processo, realizamos o levantamento e descrição dos princípios norteadores da política pública de Assistência Social e de Saúde que sustenta o trabalho de atendimento domiciliar ao idoso, articulando esses pressupostos com as intervenções. Realizamos também entrevistas semiestruturadas com os atores envolvidos: os gestores do projeto na assistência social e na saúde, técnicos dos serviços, Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de Saúde (CS), Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), com profissionais da entidade, os cuidadores e as famílias. Em relação ao território da pesquisa de campo, este foi sugerido pela gestora que autorizou a pesquisa. As entrevistas com os gestores e profissionais tiveram o objetivo de conhecer sua percepção do programa em relação ao trabalho intersetorial como modelo de gestão na promoção da integralidade no atendimento ao idoso; com os cuidadores, sua percepção sobre a prática da intersetorialidade; com as famílias e com os idosos, de conhecer se houve mudanças no cuidado ao idoso depois das intervenções do projeto. Os dados coletados foram analisados por meio da análise institucional de René Lourau, marco teórico da pesquisa, na tentativa de ter um conhecimento efetivo da realidade proposta a ser estudada.
O Projeto Cuidador de Idosos constitui uma ação intersetorial entre a Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social e a Secretaria Municipal de Saúde para o atendimento ao idoso em seu domicílio. O Projeto oferece apoio institucional aos idosos semidependentes e dependentes em situação de alta vulnerabilidade social, residentes nas áreas de abrangência dos CRAS, mediante a disponibilização de um cuidador no domicílio. A proposta é criar uma nova modalidade de atendimento ao idoso no Município, buscando atender às demandas advindas do envelhecimento, como a dificuldade familiar em cuidar plenamente dos seus idosos (principalmente aqueles que apresentam alguma dependência), idosos residindo sozinhos, com insuficiência familiar, entre outros.
Em conjunto com essas duas políticas, com o olhar focado na intersetorialidade como promoção do atendimento integral à velhice, procuramos rastrear o conservador do instituído e as forças produtivas do instituinte ao longo desse trabalho. Esse campo de forças contraditórias produz efeitos que são denominados analisadores. Os analisadores servem tanto para o diagnóstico quanto para a intervenção e tem dupla função: revelar e transformar. Eles denunciam e esclarecem as relações e os sentidos do poder em um grupo, uma situação, ou ainda em uma organização ou instituição. Nesta pesquisa, identificamos os seguintes analisadores: os impasses na formulação e implementação do projeto nos territórios, a não escuta dos usuários sobre o que precisam em relação ao cuidado ao idoso antes da formulação do projeto, as relações entre os serviços, a não capacitação dos cuidadores de idosos em tempo hábil, a velhice e o cuidado para a família e técnicos, o discurso e a prática da intersetorialidade, discutido em detalhes na dissertação.
Grande parte da literatura aponta que a intersetorialidade permite uma resposta mais integral e adequada às demandas atuais, evitando sobreposição de ações, possibilitando novos arranjos organizacionais, permitindo maior eficiência e resultados mais significativos quanto ao impacto e sustentabilidade das políticas. Nessa pesquisa, vimos que, no discurso, a intersetorialidade é vista como uma boa estratégia de gestão, que evita sobreposição de ações, produz uma capacidade de ser mais responsiva e qualificada no atendimento ao usuário, concentra esforços financeiros e humanos, permitindo um resultado mais integral à ação pública diante de problemas sociais cada vez mais complexos. No entanto a intersetorialidade, assim como a interdisciplinaridade, é um processo complexo, que envolve o enfrentamento de contradições, restrições e resistências.
Esse estudo não pretendeu esgotar a temática proposta, mas lançar questões, sobretudo porque a conexão com o atendimento aos idosos na Assistência Social e a própria intersetorialidade ainda é um desafio para as políticas públicas. Ainda são necessários estudos que problematizem a sustentação da proposta de intersetorialidade como alternativa à integralidade no atendimento ao idoso e sua família no cotidiano.
Acreditamos que o Projeto Cuidador de Idosos, a despeito de todos os impasses, para atender à premissa da integralidade, precisa ampliar a presença do atendimento do cuidador a todos os idosos que necessitam. Além disso, nesse contexto, faz-se necessária a inserção de outras políticas em sua articulação e ações, entre elas as políticas urbanas e de segurança alimentar. Isso porque admitimos que o idoso não necessite unicamente das políticas de saúde e assistência social. E as políticas públicas para a velhice precisam avançar nos demais pontos apresentados para garantir os direitos sociais a todos os idosos, atendendo, assim, à premissa da integralidade.
Texto submetido em 9 de novembro de 2013 e aprovado para publicação em 9 de maio de 2014.
* Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas. Endereço: Rua Macedo, 154/402 - Floresta, Belo Horizonte-MG. CEP: 31015-370. E-mail: anapaularocha.psi@gmail.com.
** Doutora em Psicologia Clínica pela PUC São Paulo, professora adjunta III do Instituto de Psicologia da PUC Minas. Endereço: Rua Terra Nova, 101/401 - Sion, Belo Horizonte-MG. CEP: 30315-470. E-mail: robertaroma@uol.com.br.