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Revista da SPAGESP

Print version ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.11 no.1 Ribeirão Preto June 2010

 

EDITORIAL

 

O legado do grupo e o compromisso com a divulgação científica: antigos e novos horizontes para a Revista da Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo (SPAGESP)

 

Fabio Scorsolini-Comin 1

 

O saber depura o homem, vai filtrando a água 2
(Carlos Nejar, 1998, p. 197)

É com muito orgulho que apresento a todos o volume 11, número 1, ano 2010, da Revista da SPAGESP (Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo), agora totalmente online, com o objetivo de agilizar o processo de acesso à informação e de divulgação do conhecimento, favorecendo e dinamizando o contato com diferentes profissionais que atuam com grupos e temáticas correlatas.

O primeiro motivo desse orgulho é o da minha participação na SPAGESP, grupo que tem contribuído sobremaneira para a formação de muitos profissionais em nosso país, a partir de uma reflexão conjunta e séria acerca dos grupos, seus funcionamentos e possibilidades de interlocução. O segundo motivo refere-se ao convite para ser o editor chefe deste periódico, em parceria com o Prof. Dr. Manoel Antônio dos Santos, da Universidade de São Paulo. É com muita honra e respeito que recebo e aceito este legado, e é com muita responsabilidade que tenho me dedicado a continuar a tarefa de “publicar trabalhos originais nas subáreas de grupos, famílias, casais e instituições, inspirados na Psicanálise Vincular e/ou com interesse em Saúde Mental”.

O contato com profissionais e pesquisadores da SPAGESP, do NESME, bem como de diferentes instituições de ensino, tem trazido novas contribuições para a revista, o que deve ser ampliado ainda mais nos números vindouros. Esses diferentes encontros têm possibilitado à Revista da SPAGESP inserir-se em outras instituições e sociedades que se dedicam ao ensino, à pesquisa e à extensão, tornando-se um importante veículo de divulgação científica para além do Estado de São Paulo. A partir dessa expansão, estamos buscando, com o auxílio de nossa Comissão Editorial, ampliar os indexadores do periódico, o que será formalizado no segundo semestre de 2011. Atualmente, a Revista da SPAGESP está indexada no Index Psi Periódicos (BVS-Psi), LILACS (Bireme), CLASE (Citas Latinoamericanas en Ciências Sociales y Humanidades) e PePSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia).

O primeiro número do volume 11 é aberto com o artigo intitulado Encontros para a construção coletiva de reflexões: uma possibilidade de lidar com o sofrimento mental para além da consulta, da autoria de Isabela Bergier Dietrichkeit, do Centro de Atenção Psicossocial de Serra Negra, estado de São Paulo. Seu estudo descreve uma maneira interessante de ampliar as possibilidades de participação de pessoas com sofrimento mental no entendimento e consequente melhora de suas queixas. Na experiência relatada, foram criados encontros abertos à população com a intenção de, por meio de temas e de formas de apresentação provocativas, convidar os participantes a uma reflexão ativa e conjunta, favorecendo a transformação dos sintomas em possibilidade de cura.

O segundo artigo, Perspectiva grupal nas instituições, de Cybele Carolina Moretto, Cíntia Cardoso Vigiani Carvalho e Antonios Terzis, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, apresenta algumas concepções psicanalíticas sobre as relações grupais estabelecidas no contexto das instituições. O estudo está baseado no pressuposto de que a instituição, ainda que seja um campo heterogêneo ao da psicanálise tradicional, constitui-se um dispositivo capaz de manifestar os efeitos do inconsciente, tornando possível um trabalho ou análise de inspiração psicanalítica.

O artigo Formação em Psicologia: a experiência de estudantes de graduação na atuação em grupos com educadores, de Carolina Martins Pereira Alves, Fernanda Pavão Corrêa, Jéssica Bezerra Soares, Amanda Miareli, Fabio Scorsolini-Comin e Conceição Aparecida Serralha, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, relata a experiência de graduandos de um curso de Psicologia envolvidos em um projeto de extensão universitária, buscando compreender o modo como a atuação nesse contexto repercutiu na formação desses alunos. A partir da experiência de grupos com educadores, abriu-se a possibilidade de significar o espaço grupal como importante recurso também para a formação do psicólogo.

O quarto artigo, Psicanálise de grupo no trabalho social: contribuições à intervenção psicossocial, da autoria de Domenico Uhng Hur, da Universidade Federal de Goiás, apresenta algumas contribuições da psicanálise de grupo ao trabalho social, destacando alguns conceitos que contribuem para a compreensão de fenômenos sociais e processos grupais. Por meio de grupos operativos, o autor verificou os fenômenos das depositações, colagens imaginárias e do pressuposto básico de dependência que, se não elaborados, podem paralisar o processo grupal, o que deve ser considerado quando se pensa na intervenção psicossocial.

Na sequência, o artigo Etnopsicanálise: embasamento crítico sobre teoria e prática terapêutica, de Mariana Leal de Barros e José Francisco Miguel Henriques Bairrão, da Universidade de São Paulo, contextualiza o desenvolvimento da etnopsicanálise ao longo do século XX, apresentando o atual contexto da área. Ainda, aborda os principais teóricos que trabalham nesse campo e contribuem para elucidar e possibilitar o diálogo multidisciplinar. Os autores ressaltam a importância de se discutir sobre o alicerce teórico no qual surgiu a etnopsicanálise e a sua prática atual para refletirmos e contextualizarmos a aplicabilidade da mesma no Brasil.

A pesquisa em Psicanálise na Universidade: reflexões a partir da teoria lacaniana dos discursos é apresentada por Fuad Kyrillos Neto, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e por Jacqueline de Oliveira Moreira, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Neste artigo, os autores apresentam o resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi investigar a posição e os termos que os significantes do referencial teórico psicanalítico ocupam na estrutura discursiva das pesquisas acadêmicas realizadas em programas stricto sensu em Psicologia do Estado de Minas Gerais. Para análise dos dados, adotou-se a teoria lacaniana dos discursos. Discutindo as relações entre Psicanálise e Universidade, os autores enfatizam a elucidação do surgimento das estruturas discursivas do mestre e da histérica em pesquisas realizadas nos programas avaliados.

Ângela Buciano do Rosário, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, apresenta o trabalho Grupo com adolescentes em privação de liberdade: circulação da palavra como possibilidade de ressignificação do ato infracional. O estudo analisou o modo de subjetivação do adolescente autor de ato infracional em situação de confinamento, concebendo o contexto da instituição que o abriga. Descrevendo o cotidiano institucional a partir de uma experiência de um grupo temático, a autora destaca a palavra como possibilidade de ressignificação do ato, viabilizando sua circulação sem que as prescrições institucionais estejam tão presentes.

Finalizando este número, o artigo Solidão e processo comunicativo, de Waldemar José Fernandes, do Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares (NESME), traz algumas considerações sobre a solidão, o vínculo e a comunicação. Expressões de uso corrente, utilizadas por pacientes e profissionais, são questionadas, inclusive sobre as chamadas síndromes ou transtornos. Segundo o autor, no papel de terapeuta não podemos ser interpretadores contumazes, mas sim investigar como ocorre a comunicação desse indivíduo. É fundamental procurar captar os pontos comuns, associativos, verificando se há uma mensagem do grupo ou de parte dele e a quem é dirigida.

Desse modo, consideramos que o presente número abre um diálogo bastante diverso na área de grupos, possibilitando novas interfaces e diferentes formas de atuação. Além disso, destaco a qualidade dos artigos aqui publicados, que visam não apenas contribuir com avanços teóricos, mas também estreitar o necessário diálogo entre teoria e prática, rompendo com cisões e fragmentações.

Posto isso, desejo uma leitura proveitosa desse rico material e convido a todos para que continuem endereçando suas produções para a Revista da SPAGESP.

 

 

1 Professor do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento, da Educação e do Trabalho da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Editor da Revista da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, e-mail: scorsolini_usp@yahoo.com.br.
2 NEJAR, C. Carta aos loucos. São Paulo: Record, 1998.