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Revista da SPAGESP

Print version ISSN 1677-2970

Rev. SPAGESP vol.11 no.2 Ribeirão Preto  2010

 

ARTIGOS

 

Aprendendo a partir da experiência em grupo: ritmos e expressão corporal para a educação infantil

 

Learning through group experience: rhythms and body expression for childhood education

 

Aprendizaje de experiencia en grupo: ritmos y expresión para la educación de la primera infancia

 

 

Mariana Zamberlan Nedel 1

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo foi escrito com o objetivo de fazer um relato da experiência que a oficineira e autora deste artigo obteve com a realização de uma oficina para professoras de educação infantil. A referida oficina foi ministrada para um grupo de quatro professoras do Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, localizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e atende filhos de servidores, funcionários e de estudantes carentes desta universidade. O trabalho foi aplicado durante dois dias, abordando temas como educação musical infantil, ritmos, práticas corporais e expressão corporal. Ao longo da oficina, foi possível verificar a importância da aplicação, em escolas, creches e núcleos, das pesquisas realizadas dentro da universidade, seja na forma de oficinas, palestras ou mini-cursos, bem como os benefícios que um trabalho interdisciplinar pode proporcionar: possibilita que os educandos apresentem progresso quanto à autonomia intelectual e corporal, responsabilidade, avanço na aprendizagem, assim como estimula a expressão corporal, novas formas de comunicação e favorece a socialização e o lazer.

Palavras-chave: Oficina; Interdisciplinaridade; Educação infantil; Educação musical; Expressão corporal.


ABSTRACT

This article aimed at making a report on the experience obtained by the author who offered a workshop for four teachers of early childhood education. It was set at Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, located at Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), which attends public servants’ children, employees and needy students from the university. The workshop was held in two days, addressing topics such as childhood music education, rhythms, body practices and corporal expression. It was possible to verify the importance of applying research conducted within the university in schools, nurseries, centres, whether in form of workshops, lectures or short-term courses. Moreover, to highlight benefits provided by interdisciplinary work, that enables students to make considerable progress on leaning, intellectual and corporal autonomy and retaining responsibility. It also stimulates body expression and new forms of communication and promotes socialization and leisure.

Keywords: Workshop; Interdisciplinarity; Childhood education; Music education; Body expression.


RESUMEN

Este artículo fue escrito con el objetivo de hacer un informe de la experiencia del autor de este artículo obtenido con la realización de un taller para profesores de educación infantil. Este taller fue impartido a un grupo de cuatro profesores en el Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, que se encuentra en la Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) y atiende a niños de los servidores, empleados y de los estudiantes necesitados de esta universidad. El trabajo fue aplicado en dos días, abarcando temas como la educación musical de los niños, ritmos, prácticas corporales y expresión corporal. Durante este taller, se pudo comprobar la importancia de la aplicación en las escuelas, guarderías, núcleos de las investigaciones realizadas dentro de la universidad, ya sea en forma de talleres, conferencias o cursos de corta duración, así como los beneficios que un enfoque interdisciplinario puede proporcionar: permite a los estudiantes presentar los avances en la autonomía intelectual y corporal, responsabilidad, el progreso en el aprendizaje y estimular la expresión corporal, las nuevas formas de comunicación y promover la socialización y el ocio.

Palabras clave: Taller; Interdisciplinariedad; Educación de la primera infancia; Educación musical; Expresión corporal.


 

 

APONTAMENTOS INICIAIS

Este artigo tem por objetivo relatar a experiência obtida por meio da produção de uma oficina2 realizada em grupo que englobou, principalmente, temas acerca da educação musical infantil, ritmos, práticas corporais e expressão corporal. A oficina foi ministrada pela autora deste artigo no Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo, em novembro de 2008. A creche Ipê Amarelo localiza-se na Universidade Federal de Santa Maria e atende filhos de servidores, funcionários e de estudantes carentes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria (RS).

Deve-se salientar que a oficina foi ministrada apenas para quatro professoras, já que coube às outras professoras, presentes no dia, ficar com as crianças que já haviam chegado à creche, o que, em nenhum momento, prejudicou o andamento e o rendimento da oficina. As quatro educadoras participantes são responsáveis pelas seguintes classes: berçário (atende crianças de um a dois anos), integração (crianças de um a quatro anos), maternal (crianças de dois a três anos) e pré (crianças de cinco a seis anos).

 

DIALOGANDO COM A PRODUÇÃO CIENTÍFICA

Pelo fato de a oficina ter sido ministrada para professoras responsáveis pela educação infantil, vê-se a necessidade de se fazer uma breve contextualização acerca deste tema, bem como sobre a importância da música e do corpo - suas práticas - para a educação infantil.

O termo infância pode apresentar várias definições, as quais têm passado por diversas mudanças de acordo com o momento histórico correspondente, mas, neste artigo aplica-se o termo educação infantil que, segundo o artigo 29 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), refere-se à "primeira etapa da educação básica (e) tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social (...)" (BRASIL, 1996).

Pensando nisso, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) trata a educação infantil como a fase na qual é imprescindível a existência de uma organização que vise o desenvolvimento das seguintes capacidades: autoconhecimento e imagem positiva de si; conhecimento do próprio corpo, bem como seus limites e potencialidades; estabelecimento de comunicação e interação social entre crianças e adultos; observação e exploração do ambiente, percebendo-se integrante e agente transformador do mesmo; brincar expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades e utilização das diferentes linguagens (plástica, oral, escrita, corporal e musical).

Dessa forma, nesta fase o processo de ensino-aprendizagem torna-se ainda mais importante. Pensando nisso que, segundo Queiroz e Marinho (2006), diversos estudos nas áreas de educação musical, etnomusicologia, antropologia e educação em geral, têm mostrado a importância da utilização das linguagens artísticas para a sociedade, para a cultura e, consequentemente, para o ensino. O que há tempos estava escurecido e apagado foi retomado por tendências pós-modernas3:

À medida que as ciências naturais se aproximam das ciências sociais, estas se aproximam das humanidades. A revalorização dos estudos humanísticos acompanha a revalorização da racionalidade estético-expressiva das artes e da literatura... daí que o discurso científico se aproxime cada vez mais do discurso artístico e literário. (SANTOS, 2002, p. 92)

Diante desses diferentes conteúdos utilizados pelos educadores, destaca-se que, para a presente oficina, foram relacionados aspectos de três áreas: Música, Educação Física e Educação.

Estudos sobre ritmo e movimento, conteúdos comuns para as áreas de Educação Física e de Música, têm feito parte de contextos dicotômicos, mas a associação harmoniosa e equilibrada destes pode se tornar um recurso educacional para as três áreas citadas.

Quando se refere ao tema música, Jeandot (1990, apud MONTEIRO; ARTAXO, 2000) escreve que é nítida a receptividade da mesma enquanto um fenômeno corporal, pois desde muito cedo se vê a necessidade que a criança tem de se expressar. Mas, para Camargo (1994), o convívio social limita a capacidade de expressão humana e é através da música, integrada aos movimentos e práticas corporais, que o ser humano passa a libertar seus sentimentos e suas emoções.

Verifica-se, assim, que o principal elo entre Música e Educação Física é o ritmo, visto que este é um fenômeno existente em todo o universo, é a base da melodia musical e, de certa forma, rege as ações do ser humano, já que este é dotado de instinto rítmico (MONTEIRO; ARTAXO, 2000), o que se vê facilmente quando um instrumentista, por exemplo, ao tocar uma música expressa suas emoções por meio do balançar do corpo, dos pés.

Os gregos, há tantos séculos, já compreendiam que não poderia haver educação completa do ser humano se ela não se realizasse integralmente através do equilíbrio harmonioso entre o espírito e o corpo. A própria palavra música é de origem grega – musiké – e significa "Arte das musas", a qual abrangia diversas artes e ciências. (CAMARGO, 1994, p. 71)

Pensando-se na integração entre música e corpo, mais especificamente, traz-se considerações de Santiago (2008), que discorre sobre a necessidade de usar o corpo não de forma mecânica e inexpressiva, mas considerá-lo "como agente musical, que cria ações musicorporais":

(...) podemos entendê-lo (o corpo) como agente do nosso trabalho artístico, como parte integrante da Gestalt ser humano, CORPO-MENTE-ESPÍRITO, entendendo o corpo enquanto corporeidade e partindo de uma abordagem libertadora. (TOURINHO; SILVA, 2006, p. 37 apud SANTIAGO, 2008, p. 46)

Refletindo acerca da concepção de homem integral, são trazidas reflexões de Foucault (1985, p. 62) que concebe corpo e alma como dimensões indissociáveis: "(...) os maus hábitos da alma podem levar a misérias físicas enquanto que os excessos do corpo manifestam e sustentam as falhas da alma".

Os filósofos Laban (1978) e Freinet (1991), dentre outros autores, concebem o homem como um ser integrado (corpo-mente), salientando a necessidade de se respeitar o ritmo interno de cada um. Isto é de fundamental importância, principalmente no âmbito da aprendizagem. Permitir que a espontaneidade emirja, levando em consideração este respeito à individualidade, à subjetividade de cada um, é essencial, já que os atos e as atividades espontâneas são uma forma de exteriorização de ideias e sentimentos, dando espaço à criatividade, ao envolvimento e a autoexpressão dos alunos. (SCARPATO, 2001)

Ao pensar-se, então, na inserção do ensino da música para a educação infantil, um fator deve ser levado em conta: da mesma maneira que a criança aprende a falar antes de ler e escrever, assim também ela deve ter uma "linguagem musical" que atenda às suas necessidades infantis e com a qual se sinta à vontade, antes do estudo teórico ou execuções difíceis. (ORFF, 1982 apud CAMARGO, 1994)

Frente a essa realidade, entende-se que algumas alternativas devem ser pensadas e adotadas no cenário do ensino de música no contexto escolar. Destacam-se algumas:

(...) a primeira, a médio e longo prazo, está relacionada à atuação de um profissional com formação específica em música ... Já a segunda alternativa, que pode ser concretizada de forma mais imediata, diz respeito ao oferecimento de cursos de formação musical direcionados aos professores das escolas de educação básica (...) dar a esses profissionais condições necessárias para trabalharem com conteúdos musicais de forma adequada para o desenvolvimento da sensibilidade e da percepção dos alunos. (QUEIROZ; MARINHO, 2006, p. 74)

Mas reforça-se que, para que ocorra um processo pedagógico voltado ao educando, é necessária, acima de tudo, a existência de um professor interdisciplinar que traga em si o gosto pelo conhecimento e pela pesquisa, que possua um grau diferenciado para com seus educandos, que se permita ousar nas técnicas e nos procedimentos de ensino, além do cuidado em tornar essas técnicas transformáveis, de acordo com as necessidades e particularidades de cada educando (FAZENDA, 1995). Vê-se, assim, um professor envolvido em cada ato, em cada momento, com cada educando... Um professor envolvido com o todo.

Sendo assim, para que ocorra esta interdisciplinaridade no ensino e para que exista este profissional diferenciado nas escolas, precisa-se da aplicação de um "projeto"4 – em forma de palestras, minicursos, congressos ou grupos de reflexão - que capacite o professor e a escola propriamente dita para tal, fazendo com que eles reflitam acerca do que deve ser mudado e repensado em suas práticas educativas, já que é

importante pelo menos fazer com que os professores experimentem, eles próprios, outras maneiras de aprender além daquelas que foram convenientes para eles mesmos durante sua adolescência e que, muitas vezes, reproduzem, acreditando, com boas intenções, que são as únicas que podem funcionar. (LERBET, 2002, p. 532)

Um exemplo de aplicação de projeto de capacitação docente é esta experiência em grupo apresentada neste artigo, que permite que professores que se utilizam desses conteúdos – música e educação física - possam aprender novos conceitos, conteúdos e brincadeiras, desenvolvendo, lapidando e aprimorando suas práticas educativas.

 

DIÁRIO DE UMA OFICINEIRA

O primeiro dia começou com apresentações gerais e conversas por meio das quais foi possível saber acerca das expectativas das professoras em relação à oficina: todas afirmaram que buscavam novas informações e recursos para ministrar suas aulas para crianças de um a seis anos de idade.

Para dar início às atividades, a oficineira apresentou às professoras o "jogo de mãos e copos"5, que tem como alguns dos objetivos principais introduzir a educação musical infantil e proporcionar o desenvolvimento da coordenação motora. Para a realização desta atividade, escolheu-se, primeiramente, uma música simples e bastante conhecida – "Rabo do Tatu".

O ensino da mesma se deu a partir de algumas etapas, a seguir:

1- Primeiramente só a letra da música foi ensinada e/ou relembrada;

2- Com o copo virado com a boca para baixo, em cima da mesa, as professoras deveriam apenas bater uma mão no copo, tentando seguir o ritmo da música, explicado e demonstrado pela oficineira;

3- As professoras deveriam realizar o jogo de mãos com o copo;

4- Em seguida, as professoras deveriam passar os seus copos para as professoras que estavam sentadas ao seu lado direito;

5- Para finalizar, houve mudança de andamento, dificultando, levemente, a execução da música.

Vide abaixo a partitura da música "Rabo do Tatu" e a legenda do jogo de mãos e copos:

 

 

Dando continuidade à oficina e ainda utilizando o jogo de mãos e copos com a mesma legenda da "Rabo do Tatu", foi sugerida a execução de outra música, tendo a mesma um grau mais elevado de dificuldade. A música escolhida foi "Escatumbararibê":

 

 

Assim como a música anterior, esta também teve de ser subdividida, já que as educadoras demonstraram grande dificuldade em termos de coordenação motora. Mas, apesar disso, as professoras obtiveram sucesso na execução da música, realizando o jogo e cantando várias vezes seguidas, inclusive com andamentos mais acelerados.

Após a execução da música "Escatumbararibê", a oficineira solicitou que as educadoras inventassem e demonstrassem algumas alternativas de toques com as mãos e com os copos que pudessem substituir os que foram sugeridos e ensinados nas duas músicas levadas pela mesma. Foi possível verificar que as professoras se sentiram bastante entusiasmadas neste momento da oficina, já que puderam criar, inventar e expressar seus pensamentos acerca de uma mesma atividade. Ao dar liberdade e espaço para as professoras, a oficineira permitiu que as mesmas percebessem o seu valor, bem como das suas ideias. Diante da atividade, elas puderam se sentir integrantes, participantes, contribuintes daquele momento, e não meras reprodutoras.

Salienta-se, assim, quão interessante e importante foi essa parte da oficina, podendo ser reconhecido o valor de um educador dar o espaço para a criação e para a improvisação em sua aula. Em sua tese, Louro (2008) reforça a importância de debates acerca de metodologias de ensino; que tenham uma educação pautada em clima de liberdade, improviso, práticas corporais e educação musical, valorizando cada ser humano como único, possibilitando que o educando se reconheça como autor de sua própria história.

Iniciando o segundo dia de oficina, a oficineira tocou (violão) e cantou algumas músicas infantis para que, em seguida, as educadoras elaborassem movimentos corporais, expressando seus sentimentos e pensamentos, tentando realizar conexões com as letras das músicas. Vide a seguir as letras das músicas trabalhadas:

• CARANGUEJO
O caranguejo anda para o lado
E os outros bichos andam para frente (2x)
Pra esquerda, pra direita, para frente, para trás, com um pé
A gente anda como quer (2x)

• CHEIRO
Com cheiro bom, hummmm (2x)
O meu nariz, fica feliz
Um cheiro mal, um cheiro ruim
Não vou querer, não!!!
Perto de mim.

• MÚSICA DO PÉ
Meu pé tem dedos
Meu pé tem sola
Com o peito do meu pé
Chuto bola.

As músicas foram tocadas e cantadas diversas vezes, dando possibilidade à criação e improvisação de diferentes movimentos e expressões corporais. Além destes, esta atividade pode proporcionar e desenvolver aspectos como coordenação motora ampla, fina e socialização. Uma das músicas – "Caranguejo" - foi proposta na oficina a partir do pedido de uma das professoras durante a conversa final do dia anterior, quando a mesma solicitou alguma brincadeira que tivesse a predominância do desenvolvimento da lateralidade nas crianças.

A atividade seguinte se deu em torno da música "Canarinho da Alemanha". Após a letra ter sido ensinada e diante do fato de a música ser em ritmo de ladainha – cântico de uma roda de capoeira - a percussão corporal proposta foi: estalar dedos da mão direita, bater dedos da mão esquerda na palma da mão direita, bater dedos da mão esquerda no lado esquerdo do peito, bater dedos da mão direita no lado direito do peito, bater palma, abrir braços e bater as palmas das mãos nas colegas ao lado.

Ressalta-se que a percussão corporal foi passada às professoras vagarosamente, passo a passo, tentando facilitar ao máximo, já que foi possível perceber que as mesmas nunca haviam tido contato, anteriormente, com atividades deste tipo, evidência esta que foi posteriormente confirmada pelas mesmas. O fator dificultante da atividade foi caminhar enquanto cantavam e realizavam a percussão corporal.

Vide abaixo a partitura da música "Canarinho da Alemanha":

 

 

Dando continuidade à oficina, a oficineira levou uma história "O coelho grande e o coelhinho":

 

 

Foi estipulado, anteriormente à leitura da mesma, que cada professora seria responsável por improvisar algum tipo de som, que poderia ser emitido com o corpo, copos ou qualquer objeto presente na sala, em algumas palavras da historinha. As palavras definidas foram: coelho grande, coelhinho, orelha grande, orelhinhas, cenoura grande, cenourinha, lágrimas grades, lágrimas pequenas, caçador, casa, curativo grande e curativo pequeno. Cada professora era responsável pela emissão de som em três palavras enquanto a história era lida pela oficineira.

Para finalizar a oficina, foi feita uma proposta para que as professoras, em duplas, escolhessem uma música infantil e criassem uma composição em cima da letra. No mesmo momento, as professoras sugeriram que uma dupla fizesse com percussão corporal e outra com jogo de copos.

Após a realização desta atividade foi possível perceber que as professoras compreenderam a proposta da oficina, visto que apresentaram composições bastante criativas, tendo as quais, inclusive, diversos detalhes diferentes daqueles que foram ensinados pela oficineira.

No decorrer da oficina, a oficineira pode observar a importância da aprendizagem em grupo, na qual existe a troca de experiências entre todos os participantes do grupo – tanto daquele que ministra e coordena a atividade quanto daqueles que participam. A própria experiência pode ser um fator de criação de novos métodos educativos, visto que muitas vezes faltam materiais teóricos e práticos para a realização de uma nova e criativa prática educativa. Segundo Barbato e Corrêa (2010), a atuação em equipe envolve muitos aspectos, tais como: autoconhecimento, diálogo, escuta, autenticidade, convivência com a diversidade, saberes e experiências específicos, permitindo a compreensão do processo de ensino-aprendizagem em grupo; e as possibilidades de coordenação/intervenção, gerando situações de aprendizagem e transformação.

Sendo assim, o trabalho em grupo favorece a interação entre os participantes, incrementando a qualidade das aprendizagens, permitindo a aquisição de novos conhecimentos e a melhora de habilidades sociais, possibilitando o diálogo, facilitando a comunicação e a inclusão dos diferentes participantes. O trabalho em grupo ainda possibilita que os integrantes ajudem-se mutuamente em suas aprendizagens, ou seja, tornam-se favoráveis às diversas necessidades e intenções uns dos outros. (BONALS, 2003 apud BARBATO; CORRÊA, 2010)

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dessa oficina, foi possível verificar a importância do diálogo e da troca de conhecimentos e experiências entre a Universidade e a comunidade, as escolas, os professores etc. As educadoras participantes da oficina expressaram, em diversos momentos da oficina, como é importante esse encontro entre teoria e prática, ou seja, entre as pesquisas realizadas na universidade e a aplicação das mesmas na comunidade em geral, visto que um saber não pode ser considerado melhor que outro, além de todos saírem ganhando com esse encontro. As professoras ainda afirmaram não ter mais ideias, recursos e propostas diferentes para aplicar com suas crianças, sendo assim, elas acreditam que os alunos de graduação e de pós-graduação têm várias contribuições a dar neste sentido, mas percebem que estas informações raramente passam para além dos muros da universidade.

Outra parte a ser salientada diz respeito aos elogios feitos, pelas professoras, à oficina. Todas relataram que a oficina foi além das expectativas que tinham, além de frisarem, também, acerca da importância que as novas atividades aprendidas teriam para a elaboração de suas aulas futuras.

Percebe-se, assim, por meio da pesquisa que foi realizada no referido programa de pós-graduação citado a importância de a música ser ensinada na escola em um sentido mais lúdico e educacional, tendo como elementos participantes e integrados o corpo, o movimento e a dança, já que todo ser humano é dotado de instinto ritmo, ou melhor dizendo, a criança já nasce com um instinto para o ritmo (MONTEIRO; ARTAXO, 2000), sendo de extrema relevância a valorização do movimento e das práticas corporais (WEIGEL, 1998), já que uma educação completa, segundo Camargo (1994), só se dá através da integração entre espírito e corpo, visto que entende-se o ser humano como um ser que tem corpo e alma integrados. (FOUCAULT, 1985; TOURINHO; SILVA, 2006 apud SANTIAGO, 2008)

Reflete-se, então, acerca da importância de um trabalho interdisciplinar, que envolva Música, Educação Física e Educação, como este relatado, visto que o mesmo pode possibilitar que os alunos apresentem progresso, segundo Scarpato (2001), "na autonomia corporal e intelectual... cooperação, responsabilidade, avanço na aprendizagem", bem como proporcionar a inclusão de alunos de diferentes faixas etárias e famílias; o auxílio da expressão corporal; o estímulo a novas formas de comunicação e o favorecimento da socialização e do lazer.

Dando os contornos finais deste artigo, aborda-se a importância de a diretora do Núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo ter permitido a realização desta oficina, bem como a importância da participação das quatro educadoras na mesma. Na verdade, esperava-se, inicialmente, um número bem maior de participantes, mas, por uma divulgação não muito eficiente por parte da creche, apenas quatro professoras compareceram. Mas observa-se que nem mesmo este fato, tão pouco a curta durabilidade da oficina, prejudicou o desenvolvimento de nenhuma das atividades programadas. Muito pelo contrário, eles servem como experiência para um próximo trabalho em grupo mais bem planejado. Para finalizar, traz-se um pensamento que ficou evidente durante a realização desta oficina: "aprender em grupo é preocupar-se não somente com o produto da aprendizagem, mas com o processo ensino-aprendizagem que gera mudanças nos sujeitos". (BARBATO; CORRÊA, 2010, p. 5-6)

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBATO, R. G.; CORRÊA, A. K. O processo ensino-aprendizagem em pequenos grupos: vivência de professores de graduação em enfermagem. Docstoc , (S.l.) 2010. Disponível em: < http://www.docstoc.com/docs/21480664/O-Processo-Ensino-Aprendizagem-em-Pequenos-Grupos-viv%C3%AAncia-de >. Acesso em: 28 jun. 2011.

BEINEKE, V.; FREITAS, S. P. R. Jogo de mãos e de copos. In: Lenga la Lenga. Disponível em: < http://www.lengalalenga.com.br >. Acesso em: 07 fev. 2010.

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BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, 1998. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf >. Acesso em: 22 jun. 2011.

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Endereço para correspondência
Mariana Zamberlan Nedel
E-mail: maznedel@yahoo.com.br

Recebido em 09/06/2011.
1ª Revisão em 29/06/2011.
Aceite Final em 01/07/2011.

 

 

1 Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: maznedel@yahoo.com.br.
2 Salienta-se que a oficina teve como finalidade atender a pré-requisitos da disciplina de Seminário da Linha de Pesquisa Educação e Artes: Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical, do Programa de Pós-Graduação em Educação, Mestrado, da Universidade Federal de Santa Maria. Além disso, explica-se, aqui, que uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada no III Congresso Internacional de Educação - A Educação Humanizadora e os Desafios da Diversidade. Santa Maria-RS: FAPAS, 2009. A autora do artigo será chamada de oficineira ao longo do mesmo.
3 Fala-se em tendência à pós-modernidade pensando-se em uma visão interdisciplinar em relação à educação, onde o professor se apropria e utiliza-se de diferentes recursos e áreas com a finalidade de ensinar. Uma visão diferente da que pode ser vista no ciclo educacional disciplinar, no qual os educandos são meros "discípulos receptores" de um "mestre", este sendo, na maioria das vezes, "instrutor de conhecimentos".
4 Projeto de Capacitação Docente – termo adotado por Fazenda (1995).
5 Uma maior explicação e explanação sobre o jogo de mãos e de copos pode ser encontrada no CD e CD-ROM Lenga la Lenga: jogo de mãos e copos (BEINEKE; FREITAS, 2006), criadores desse jogo.