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Estudos e Pesquisas em Psicologia
On-line version ISSN 1808-4281
Estud. pesqui. psicol. vol.21 no.1 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2021
https://doi.org/10.12957/epp.2021.59370
Estudos e Pesquisas em Psicologia
2021, Vol. 01. doi:10.12957/epp.2021.59370
ISSN 1808-4281 (online version)
PSICOLOGIA SOCIAL
Preconceito e Identidade Patriótica face à Imigração de Médicos
Clarissa Maria Dubeux Lopes Barros*, I; Cícero Roberto Pereira**, II; Ana Raquel Rosas Torres***, II
I Faculdade Pernambucana de Saúde – FPS, Recife, PE, Brasil
II Universidade Federal da Paraíba - UFPB, João Pessoa, PB, Brasil
Endereço para correspondência
RESUMO
Este artigo analisa o papel do preconceito e de fatores identitários na oposição à contratação de médicos estrangeiros. Utilizou-se o Programa Mais Médicos (PMM) como cenário para testar a hipótese de que a oposição à contratação de médicos estrangeiros varia consoante a nacionalidade do médico e é motivada pelo preconceito e necessidade de manter a identidade patriótica. Realizamos dois estudos entre estudantes de uma universidade pública brasileira (N= 236 e N=176), nos quais colocamos em saliência a origem nacional dos médicos e avaliamos a oposição à sua contratação. Os resultados indicaram que a influência da origem dos imigrantes na oposição à sua contratação pelo PMM ocorre somente nos participantes mais preconceituosos e esse efeito é maior entre os participantes com níveis mais elevado da identidade patriótica. Em conjunto, os resultados indicam a importância de investigar o papel do preconceito juntamente com diferentes dimensões da identidade social no posicionamento frente a imigração de profissionais qualificados.
Palavras-chave: identidade, preconceito, profissional estrangeiro.
Prejudice and Patriotic Identity face to Immigration of Physicians
ABSTRACT
This article examines the role of prejudice and identity factors in opposition to hiring foreigner physicians. Used the More Doctors Program as a backdrop to test the hypothesis that opposition to hiring foreign doctors varies according to the origin of the doctor and is motivated by prejudice and the need to maintain the patriotic identity. We conducted two studies among students of a Brazilian public university (N = 236 and N = 176), in which it was highlighted the national origin of doctors and evaluated the opposition to their hiring. The results indicated that the influence of the origin of immigrants in opposition to their hiring by the Program occurs only in the most prejudiced participants and this effect is greater among participants with higher levels of patriotic identity. Together, the results indicate the importance of investigating the role of prejudice together with different dimensions of social identity in the positioning against the immigration of qualified professionals.
Keywords: identity, prejudice, foreign professional.
Prejuicio e Identidad Patriótica frente a la Inmigración de Médicos
RESUMEN
Este artículo analiza el papel del prejuicio y de factores identitarios en la oposición a la contratación de médicos extranjeros. Se utilizó el Programa Mais Médicos (PMM) como base para testar la hipótesis de que la oposición a la contratación de médicos extranjeros varía según el origen del médico y está motivada por el prejuicio y la identidad patriótica. Realizamos dos estudios entre los estudiantes de una universidad pública brasileña (N = 236 y N = 176), en los que destacamos el origen nacional de los médicos y evaluamos la oposición a su contratación. Los resultados indican que la influencia del origen de los inmigrantes sobre la oposición a su contratación por el PMM ocurre solamente en los participantes más prejuiciosos y este efecto es más importante entre los participantes que tienen niveles más altos de identidad patriótica. En conjunto, los resultados indican la importancia de investigar el papel del prejuicio junto con diversas dimensiones de la identidad social en el posicionamiento frente a la inmigración de profesionales calificados.
Palabras clave: identidad, prejuicio, profesional extranjero.
Embora já exista um corpo considerável de investigação sobre o processo de exclusão social sofrido pelos trabalhadores imigrantes com baixa formação profissional, existe uma lacuna no que se refere à recepção de trabalhadores qualificados para atender aos mercados laborais mais especializados, como por exemplo, a área da saúde (Domeniconi & Baeninger, 2017; Freire & Masanet, 2013). Um exemplo de imigração qualificada no Brasil foi o Programa Mais Médicos (PMM), implementado pelo governo brasileiro por meio da Lei n. 12.871 (2013) e definido como uma política integral de atendimento que objetivava contratar médicos estrangeiros para atuarem em locais onde a ausência desses profissionais era crônica. Na primeira etapa, o PMM inscreveu 1.618 médicos, dos quais 358 estrangeiros. Desses, a maioria era de cubanos, portugueses, espanhóis e argentinos, o que representava 10,5% da demanda total do programa no período de implantação do PMM (Ministério da Saúde, 2014).
É importante ressaltar que o processo de implantação do PMM caracterizou-se por intensa controvérsia, por ações judiciais e cisões ideológicas entre os atores sociais favoráveis e contrários à sua implantação. De fato, o que vimos durante a chegada ao Brasil desses profissionais foram expressões de discriminação flagrante, chegando muitas vezes próximas a agressões físicas.
A partir da psicologia social, e tendo em mente os estudos realizados na perspectiva das relações intergrupais (Tajfel & Turner, 1986), cabe-nos perguntar quais são os processos que estariam subjacentes a essas expressões flagrantes de discriminação, uma vez que o Brasil é muitas vezes visto como uma "democracia racial" (Freyre, 1933/1983), na qual existiria uma convivência harmoniosa entre os grupos raciais que formam o povo brasileiro, e que aqui os imigrantes seriam bem-vindos. Investigações anteriores (Barros, Torres, & Pereira, 2017) mostraram que, de uma maneira geral, estudantes de medicina eram contrários à contratação de médicos estrangeiros pelo PMM, independente da nacionalidade desses profissionais. Esses autores discutem os resultados encontrados à luz da Teoria da Identidade Social (Tajfel & Turner, 1986), que defende que quando o status quo que define o valor da pertença social de um indivíduo é ameaçado, ele responde a essa ameaça por meio de diferentes estratégias, dentre as quais o fenômeno do favoritismo do próprio grupo. De acordo com Tajfel e Turner (1986), esse fenômeno seria uma das bases do preconceito e da discriminação, pois, em essência, representaria o pensamento de que o endogrupo seria, de alguma forma, melhor do que todos os outros exogrupos. Assim, os resultados encontrados por Barros, Torres e Pereira (2017) podem ser entendidos como uma estratégia de proteção e defesa da identidade social dos participantes e do mercado de trabalho supostamente a eles destinado.
Mas como podemos explicar as expressões hostis generalizadas relacionadas aos profissionais estrangeiros contratados pelo Programa Mais Médicos? Será que elas seriam também relacionadas aos processos ligados à identidade social dos brasileiros? O preconceito contra pessoas de determinadas nacionalidades teria algum papel nas expressões de hostilidade flagrantes?
Neste trabalho, estudamos, especificamente, a oposição à contratação de médicos de três origens nacionais: cubanos, portugueses e espanhóis. A escolha dessas três nacionalidades deveu-se a serem, na época da coleta de dados, os grupos nacionais com maior presença no PMM (Ministério da Saúde, 2014). Nossa hipótese é a de que a oposição à contratação do médico imigrante varia conforme sua nacionalidade e que nessa oposição atuam duas forças motivacionais: o preconceito contra o grupo de origem do médico e a saliência de fatores identificatórios.
Diferente do que aconteceu nos estudos de Barros, Torres e Pereira (2017), nos quais a oposição à contratação não estava relacionada com a nacionalidade do profissional e sim com o fato de ser estrangeiro, se a motivação para a oposição tiver base preconceituosa, os indivíduos se oporão à contratação de médicos de forma seletiva, dependendo da origem do profissional, e essa seleção se relacionará com o nível de preconceito contra a origem nacional dos médicos. De fato, existe consenso na literatura quanto ao fato de o preconceito motivar a discriminação (Federico & Sidanius, 2002; Pettigrew & Meertens, 1995), mas nem sempre essa relação ocorre de forma direta (Stangor, 2016).
Neste artigo, propomos que essa relação dependerá de outros fatores, especialmente aqueles relacionados com a representação sobre o endogrupo, como por exemplo os fatores identitários (Tajfel & Turner, 1986). Dentre os fatores identitários, iremos analisar uma dimensão da identidade nacional: o patriotismo. Assim sendo, defendemos que se a oposição à contratação de médicos depende da representação do endogrupo, aqui operacionalizada por meio do patriotismo, a oposição seletiva deverá acontecer apenas entre os indivíduos com maior identificação com a nação. Isso deve acontecer porque as pessoas mais identificadas se sentem mais incomodadas com a presença de membros dos exogrupos, visto que essa presença pode representar uma ameaça à crença de que o endogupo é capaz de superar seus problemas. Neste sentido, considerando a relação de representações sobre o endogrupo com representações sobre o exogrupo, é provável que indivíduos preconceituosos sejam mais sensíveis às situações sociais que ameaçam a sua identidade, enquanto que os indivíduos menos preconceituosos sejam menos suscetíveis a esta ameaça.
Assim, propomos a hipótese de que haverá oposição à contratação de médicos estrangeiros apenas nos indivíduos com atitudes negativas face ao grupo nacional de origem do médico. Ou seja, o preconceito motivará a oposição à contratação, de modo que quanto maior for o preconceito, maior será esta oposição. No entanto, nem sempre isto deve ocorrer. A hipótese aqui testada defende que a oposição seletiva acontece apenas quando há ameaça à identidade patriótica do indivíduo. Dito de outra forma, não é suficiente analisar a relação entre o preconceito e a oposição aos imigrantes, é preciso analisar também como o preconceito interage com fatores identitários.
Para testar essas ideias, realizamos dois estudos tendo como participantes estudantes universitários de uma instituição pública do Nordeste brasileiro. No primeiro estudo, investigamos se a oposição à contratação do médico imigrante varia conforme a sua origem e a relação da oposição com duas forças motivacionais: o preconceito contra o grupo de origem do médico e a saliência de fatores identitários. No segundo, investigamos se a percepção do status do país de origem do imigrante e do idioma por ele falado têm alguma influência no efeito do preconceito na oposição ao imigrante qualificado. Esses estudos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa de Ensino Superior da Universidade Federal da Paraíba sob o número 49776915.7.0000.5188. Em ambos os estudos, os participantes foram informados de que a colaboração era voluntária e, se desejassem, tinham a possibilidade de interromper sua participação. Também se declarou que todas as respostas eram anônimas, bem como a eventual publicação dos dados. A seguir, apresentaremos os marcos teóricos que nortearam as hipóteses aqui testadas.
A Psicologia Social do Preconceito
Na psicologia social, a definição de preconceito mais utilizada é a de Gordon Allport (1954), que defendia que esse fenômeno seria uma antipatia baseada numa generalização falha e inflexível, que pode ser sentida ou expressa e que se dirige a todo um grupo ou a um indivíduo porque faz parte desse grupo. Dito de outra forma, a antipatia e hostilidade seria dirigida a um indivíduo porque ele pertence a um determinado grupo. Nesse sentido, o preconceito seria diferente de um mero julgamento prévio (pré-conceito) ou opiniões idiossincráticas em relação a uma pessoa. O preconceito é mais amplo e estável porque é direcionado ao grupo e, por essa razão, é resistente às informações específicas sobre uma pessoa que desconfirmam as atitudes negativas.
Posteriormente, Brown (2010) ampliou essa definição, incluindo aspectos afetivos e comportamentais. Para ele, o preconceito é a expressão de atitudes sociais depreciativas compostas por afetos negativos que motivam comportamentos hostis e discriminatórios em relação aos membros de um grupo porque pertencem a esse grupo.
Ao longo dos últimos 60 anos, muitas teorias têm sido desenvolvidas por psicólogos sociais que objetivam explicar as origens do preconceito. Pode-se refleti-lo como um processo psicológico fundamental, como a necessidade de pertencer a um grupo e com ele se identificar, ou processos ideológicos, políticos e econômicos, referentes à competição por recursos materiais e/ou simbólicos entre os grupos sociais. As dimensões ideológicas do preconceito são destacadas principalmente quando se estuda o preconceito racial, frequentemente tendo como grupo-alvo as pessoas percebidas como negras, o que nos remete para o problema do racismo.
Desde os anos 1990 temos visto um interesse crescente da psicologia brasileira nesse tema, que tem destacado as características da face oculta do racismo no Brasil (Camino, Silva, Machado, & Pereira, 2001). Embora crescente, a produção nacional sobre preconceito e racismo ainda é pequena (Sacco, De Paula Couto, & Koller, 2016), porém encontra-se em um processo de crescimento sustentável.
Noutra linha de pesquisa, Camino et al. (2001) mostraram que o racismo no Brasil se expressa "metaforicamente", como se estivesse a ser motivado por uma "formação reativa". Essa expressão estaria caracterizada pelo fato de os brasileiros negarem ser racistas, atribuindo muito mais características positivas às pessoas negras do que às brancas. Mas invertem essa assimetria quando são muito mais favoráveis a reservar funções laborais qualificadas aos brancos do que aos negros. Essa formação reativa, no entanto, não se manifesta conscientemente e revela a presença de um processamento implícito do racismo no comportamento dos brasileiros. Por exemplo, Lima, Araújo e Poderoso (2018) mostraram que policiais militares com atitudes não preconceituosas em relação às pessoas negras reagem muito mais rapidamente quando são instruídos a atirar numa pessoa armada se esta for negra do que se for branca. Em conjunto, os estudos aqui discutidos mostram que o preconceito racial no Brasil é persistente e assume diferentes expressões. Este trabalho investiga quais expressões que ele assume no âmbito do Programa Mais Médicos.
O Papel Motivacional da Identidade Social nas Atitudes contra Imigrantes
A identidade social é construída a partir da necessidade das pessoas pensarem positivamente sobre si mesmas e sobre os grupos a que pertencem. Esta proposição é um dos pressupostos fundamentais da Teoria de Identidade Social (TIS) (Tajfel & Turner, 1986), que conceitua a identidade como uma parte do autoconceito pessoal que deriva do sentimento de pertença ao grupo aliado ao significado emocional e valorativo associado a esta pertença.
Tajfel e Turner (1986) defenderam que fenômenos como o preconceito e a discriminação existiriam como resultado da identidade social: quanto mais fortes os níveis de identificação com um grupo, mais frequente seria a tendência de discriminar os membros de todos os outros grupos. O conceito da identidade social provém da necessidade em desenvolver e manter uma imagem positiva de si próprio e do grupo a que se pertence. A relação entre preconceito e processos identitários está na base das comparações sociais. Estas são realizadas por meio da semelhança e diferença que os membros de um grupo percebem entre o seu grupo e os outros grupos. Para indivíduos muito identificados com o seu grupo, a percepção de semelhança leva a atitudes intergrupais negativas porque essa semelhança ameaça de distintividade positiva que o grupo deve manter face aos outros. Para indivíduos pouco identificados com o seu grupo, é a percepção de diferença que motiva as atitudes e comportamentos negativos (Jetten, Spears, & Postmes, 2004). De fato, a hipótese de que a diferença entre grupos encontra-se na origem das atitudes intergrupais negativas já é conhecida na psicologia social, seja pela categorização, pelo conflito ou pela percepção de ameaça (Turner, Hogg, Oakes, Reicher, & Wetherell, 1987).
Pela TIS, pode-se supor que, se as pessoas se identificam como um membro do seu grupo-nação, elas tentam avaliar positivamente a nação a que pertencem. O pertencimento nacional pode levar os indivíduos a se orgulharem do seu grupo-nação, de modo que quanto mais as pessoas se identificam como membro do seu grupo-nação, mais elas tentam avaliar positivamente a nação a que pertencem. O fato de não ser capazes de solucionar seus próprios problemas é fonte de ameaça a este orgulho. A identidade nacional, através de seus dois componentes, patriotismo e nacionalismo, tem sido investigada pars saber se seus significados diversos se associam à atitudes intergrupais diferentes. (Vala, Pereira, Costa-Lopes, & Deschamps, 2010). Segundo Kosterman e Feshback (1989) a identidade nacional é composta por duas dimensões de conteúdos: patriotismo e nacionalismo. O nacionalismo representa uma faceta prejudicial da avaliação positiva do endogrupo, desde que inclua a ideia que o seu país é superior aos outros e, portanto, deve ser dominante. O patriotismo, por sua vez, seria o componente afetivo, operacionado por meio do orgulho, da responsabilidade e do sentimento de sentir-se pertencendo ao seu grupo nacional. Ele é formado por dois fatores: o primeiro, associado ao orgulho pelo sistema de democracia e funcionamento político, denominado de Patriotismo Sistema; e o outro, ligado ao orgulho pela história e conquistas do povo, chamada de Patriotismo Histórico. Tanto o nacionalismo quanto o patriotismo são construtos formadores da identidade nacional. A identidade nacional brasileira, como um construto multifacetado, pode ser explicada por recurso a dimensões como patriotismo, nacionalismo e essencialismo (Leite, Ferreira, Batista, Estramiana, & Torres, 2018).
Diversos estudos têm mostrado que tanto o nacionalismo como o patriotismo se associam com atitudes intergrupais negativas (Vala, Pereira, Costa-Lopes, & Deschamps, 2010). No entanto, a relação entre essas dimensões e as atitudes negativas direcionadas a estrangeiros não está plenamente elucidada. Por exemplo, Duckitt e Mphuting (1998) mostraram que é o nacionalismo, e não o patriotismo, que se relaciona com o etnocentrismo. Na mesma direção, Blank e Schmidt (2003) mostram que o nacionalismo se associa mais com a menor tolerância aos estrangeiros, enquanto o patriotismo corresponde a uma maior tolerância. Por outro lado, há estudos que demonstram que o patriotismo está associado à intolerância, sobretudo em pesquisas realizadas no contexto germânico após a reintegração das Alemanha Oriental e Ocidental (Blank & Schmidt, 2003). Por último, outros estudos indicam que o nacionalismo é a dimensão que tem mostrado maior impacto no estudo das atitudes intergrupais (Blank & Schmidt, 2003; Vala, Pereira, Costa-Lopes, & Deschamps, 2010).
Em síntese, os resultados sobre o patriotismo não demonstram muita clareza como os estudos do nacionalismo quanto à evidência da manifestação negativa em relação aos imigrantes. Por outro lado, não há evidências mostrando o impacto positivo de patriotismo na cooperação (Gangl, Torgler, & Kirchler, 2015).
Nossa hipótese defende que a ameaça à identidade patriótica pode motivar a discriminação contra médicos estrangeiros. Portanto, apenas os indivíduos mais patrióticos estarão mais motivados para se opor aos médicos estrangeiros, como uma forma de manter seu orgulho nacional protegido. Desta maneira, esta ameaça facilitará atitudes negativas em direção aos imigantes.
Estudo 1
Método
Participantes. Participaram 236 estudantes universitários (58% do sexo feminino) com idade variando de 17 a 56 anos (M= 23,51, DP=6,04) de vários cursos de exatas, humanas e de saúde de uma universidade pública. Os participantes foram randomicamente distribuídos a uma de três condições experimentais que definiam o grupo-alvo: grupo cubanos (n=81); grupo espanhóis (n=80) e grupo portugueses (n=75).
Instrumentos.Todos os instrumentos utilizados tinham formato Likert de sete pontos. As respostas variaram de 1 (nenhum) a 7 (muito) orgulho, para a medida do Patriotismo, e nos demais instrumentos as respostas variaram de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). A seguir, apresentamos o detalhamento da operacionalização das varíaveis.
Patriotismo. Para medir o grau de orgulho com o país, foi utilizada uma escala desenvolvida por Kosterman e Feshbach (1989) e por nós traduzida e adaptada. Ela era formada por seis itens que perguntavam ao participante em que medida ele se sentia orgulhoso de vários aspectos políticos (e.g. "Na forma como a democracia funciona no Brasil") e históricos do Brasil (e.g. "Da história do Brasil"). A análise fatorial (método Principal Axis Factoring) extraiu dois fatores. O primeiro, denominado patriotismo histórico, explica 27,11% da variância e apresentou um coeficiente de confiabilidade de 0,72. O segundo, nominado patriotismo sistema, apresentou uma variância explicada de 16,84 % e um coeficiente de confiabilidade de 0,60.
Preconceito.Este instrumentopossui oito itens e foi construído baseado em Pettigrew e Meertens (1995), especialmente para este trabalho, e avaliava o grau de concordância dos participantes com afirmações sobre os médicos do PMM, consoante a sua origem (e.g. "Dentre os médicos imigrantes do Programa Mais Médicos, os cubanos/espanhóis/portugueses são aqueles que eu tenho uma opinião menos favorável"). A análise fatorial (método Principal Axis Factoring) permitiu-nos extrair um fator que explica 23,50% da variância. A consistência interna desta medida é mediana (α =0,67).
Oposição à contratação de médicos estrangeiros.Elaborada especialmente para este trabalho, foi desenvolvida a partir das notícias veiculadas pelos meios de comunicação à época da implantação do Programa Mais Médicos. É composta por seis itens. (e.g."Sentir-me-ia desconfortável em ser atendido(a) por um médico cubano/espanhol/português"). Os resultados da análise fatorial (método Principal Axis Factoring) permitiram extrair um único fator que explica 40,02% da variância das respostas aos itens de oposição ao médico imigrante. A consistência interna desta medida é boa (α= 0,80).
Procedimentos de Coleta de Dados e Análise de Dados.O questionário foi respondido individualmente em aplicação coletiva em sala de aula após o consentimento do/a docente. Inicialmente, o participante lia o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, se aceitasse participar do estudo, em seguida recebia o instrumento utilizado. O nosso desenho de pesquisa envolve uma variável dependente quantitativa (e.g., a oposição ao Programa Mais Médicos) e três variáveis independentes, sendo uma manipulada (os grupos-alvo: cubanos x espanhóis x portugueses) e duas medidas quantitativamente (a identificação patriótica e o preconceito). Devido ao fato de termos variáveis independentes com diferentes unidades tipos de medida (categóricas e quantitativas), a análise de dados é mais facilmente realizada com um tipo particular de Análise de Variância que combina esses dois tipos de variáveis interdependentes. Esse tipo de análise é designado Ancova, isto é, Análise de Variâncias com Covariáveis (Maroco, 2011).
Resultados
Inicialmente, realizamos a Ancova e encontramos o efeito principal do preconceito, F (1,216) = 16,60, p <.001 η2p = 0.71 na oposição à contratação do médico imigrante. Este efeito reflete a existência de uma associação entre o preconceito e a oposição à contratação dos médicos, de modo que, quanto mais preconceituosos são os participantes, maior é a oposição à contratação. De maior importância, houve uma interação significativa entre o patriotismo histórico, o preconceito e o grupo-alvo, F (2,216) = 3,69, p<.0.01 η2p = 0.03, o que nos indica que este tipo do patriotismo modera o efeito do preconceito na oposição ao imigrante.
Para compreendermos melhor o significado desta interação, analisamos as diferenças entre os grupos-alvo em função do seu nível de preconceito (alto = +1DP vs. baixo = -1DP além da média do preconceito) e do nível de patriotismo histórico (alto = 1DP vs. baixo = -1DP além da média do patriotismo histórico).
Conforme a Figura 1, nos indivíduos com níveis de patriotismo histórico baixo, o preconceito não se relaciona com a oposição à contratação do médico cubano nem com a do médico espanhol. No entanto, nestes indivíduos o preconceito motiva a oposição à contratação aos médicos portugueses.
Figura 1. Oposição à contratação de médicos em função do grupo-alvo e do preconceito em indivíduos pouco (A) e muito patriotas (B).
Para os indivíduos que possuem maior orgulho da história do país, ou seja, níveis de patriotismo histórico alto, quando o grupo-alvo foi o de cubanos, o efeito do preconceito na oposição ao médico imigrante é significativo de modo que os indivíduos com baixo preconceito apresentaram menos oposição à contratação de médicos do que os indivíduos que apresentaram alto preconceito. Quando o grupo-alvo foi o dos portugueses e de espanhóis, o efeito do preconceito na oposição ao médico não foi significativo, conforme a Figura 1.
Discussão
Este estudo forneceu a evidência empírica inicial para a hipótese de que a oposição à contratação ao médico imigrante varia conforme a sua origem e que nesta oposição atuam duas forças: a primeira mostra que a oposição ao médico imigrante varia conforme sua origem; e a segunda seria as duas formas motivacionais: o preconceito contra o grupo de origem do médico e a saliência de fatores identitários.
Mostramos que dentre os grupos-alvo, o efeito do preconceito na oposição é significativo apenas para os grupos de portugueses e cubanos. Assim, entre os indivíduos menos patriotas, o efeito do preconceito na oposição é significativo apenas em relação ao grupo de portugueses, sugerindo uma operação que nomeamos de desidentificação com a pátria. Neste caso, os brasileiros parecem rejeitar o seu passado histórico na sua relação de colonizado frente ao português na posição de colonizador. Por outro lado, o preconceito motivou a maior oposição aos médicos cubanos, na condição de patriotismo alto, em que se constatou que esta condição pode ser um fator motivacional que leva os indivíduos mais preconceituosos a se oporem mais à contratação dos médicos cubanos. No entanto, algumas questões podem ser levantadas a partir desses resultados.
Por exemplo: será que a percepção do status do país de origem tem alguma influência no efeito do preconceito na oposição ao imigrante qualificado? Ou seja, o fato de ser europeu ou latino-americano interfere de alguma forma nesses resultados? Outra questão se refere ao idioma do grupo-alvo. Nesse caso, o fato de falar português ou espanhol teria alguma influência? Ou mudaria o padrão dos resultados apresentados? Essas duas questões foram analisadas no Estudo 2, apresentado a seguir.
Estudo 2
Método
Participantes. Participaram 176 estudantes universitários de uma universidade pública (20,5% do sexo masculino) com idade variando de 16 a 51 anos (M=20,72, DP=6,05). Os participantes foram randomicamente distribuídos a uma de quatro condições experimentais que definiam o grupo-alvo: grupo cubanos (n=45); grupo espanhóis (n=43), grupo portugueses (n=43) e grupo brasileiros (n=45).
Instrumentos. Foram utilizados os mesmos instrumentos do Estudo 1, com uso de duas medidas a mais: a) para avaliar o papel do idioma falado pelo médico estrangeiro e b) para analisar a percepção do status do país de origem, ambas também em formato Likert de sete pontos. Introduzimos também o grupo alvo de médicos brasileiros objetivando usá-lo como grupo controle.
Patriotismo.a análise fatorial (método Principal Axis Factoring) novamente extraiu dois fatores. O primeiro fator, denominado patriotismo histórico, explica 26,40% da variância, tendo apresentado um coeficiente de confiabilidade interna de 0,70. O segundo fator, nominado patriotismo sistema, explica 17% da variância e apresenta uma consistência interna baixa de 0,62.
Preconceito. a análise fatorial (método Principal Axis Factoring) extraiu novamente um único fator que explica 37,88% da variância e apresenta um bom coeficiente de confiabilidade de 0,84.
Oposição à contratação de médicos estrangeiros.a análise fatorial (método Principal Axis Factoring) permitiu extrair novamente um único fator que explica 38,49% da variância das respostas aos itens de oposição ao médico imigrante, e apresentou consistência interna de 0,66.
Idioma. Para medir o grau de compreensão ao idioma do médico estrangeiro, construiu-se apenas um item (e.g: "Indique em que medida acha que o idioma falado pelos médicos cubanos/espanhóis/portugueses do Programa Mais Médicos é compreensível pelos pacientes atendidos pelo Programa Mais Médicos"), cuja resposta variava de muito compreensível a pouco compreensível.
Status do País. Este item permitiu realizar comparações entre os status dos grupos-alvo, centrando-se nas comparações entre as origens dos médicos, de acordo com o grupo-alvo. Por exemplo: "Comparado com os médicos cubanos/espanhóis/portugueses do Programa Mais Médicos, os médicos cubanos/espanhóis/portugueses têm...". As respostas variavam de baixo status social a alto status social.
Procedimentos de Coleta de Dados e Análise de Dados. seguimos os mesmos procedimentos do Estudo 1. O nosso desenho de pesquisa envolve uma variável dependente quantitativa (i.e., a oposição ao Programa Mais Médicos) e três variáveis independentes, sendo uma manipulada (os grupos-alvo: cubanos x espanhóis x portugueses) e duas medidas quantitativamente (a identificação patriótica e o preconceito) e utilizamos novamente a Ancova, isto é, Análise de Variâncias com covariáveis (Maroco, 2011).
Resultados
Encontramos um efeito principal significativo do preconceito, F (1,151) = 50,14, p <.001 η2p = 0,25 na oposição ao médico imigrante. Os resultados indicam que esse efeito na oposição a todos os grupos de médicos é significativo. Tão importante quanto este resultado, foi o fato de haver uma interação tripla e significativa entre o patriotismo histórico, o preconceito e o grupo-alvo, (F (3,151) = 3,54, p<.05), o que nos indica que o patriotismo histórico modera o efeito do preconceito na oposição à contratação do médico. Para compreendermos melhor o significado desta interação, analisamos as diferenças entre os grupos-alvo em função do seu nível de preconceito (alto = +1DP vs. baixo = -1DP além da média do preconceito) e do nível de patriotismo histórico (alto = 1DP vs. baixo = -1DP além da média do patriotismo histórico).
Nos indivíduos com patriotismo histórico baixo, o preconceito não se relaciona com a oposição à contratação do médico espanhol nem com a do médico português. No entanto, nestes indivíduos o preconceito motiva a oposição à contratação aos médicos cubano e brasileiro, conforme a Figura 2.
Figura 2. Oposição à contratação de médicos em função do grupo-alvo e do preconceito em indivíduos pouco (A) e muito patriotas (B).
Nos indivíduos com patriotismo histórico alto, quando o grupo-alvo foi o de cubanos, de espanhóis e portugueses, o efeito do preconceito na oposição ao médico imigrante é significativo, de modo que os indivíduos com baixo preconceito apresentaram menos oposição aos médicos do que os indivíduos que apresentaram alto preconceito. Quando o grupo alvo foi o dos brasileiros, o efeito do preconceito na oposição ao médico não foi significativo, conforme a Figura 2.
Análise suplementar
Inserimos as variáveis do idioma e status do país, onde encontramos o efeito principal do idioma F(1,222)=30,36, p<0.001 n2p= 0.12. No entanto, mais importante é o achado de que a interação tripla entre o preconceito, a oposição à contratação de médicos e o patriotismo histórico não se altera quando analisamos a interação do idioma. Este resultado indica que o idioma não se confunde com o preconceito. Da mesma forma, o efeito principal do status do país não foi significativo.
Discussão
Este estudo confirma a evidência retratada no Estudo 1 de que não é somente o preconceito que atua na discriminação contra imigrantes qualificados, mas também a ameaça ao orgulho patriótico que desencadeia o processo de oposição. O patriotismo, em sua dimensão histórica, desempenha o papel de moderador juntamente com o preconceito no processo de discriminação contra médicos imigrantes, desfavorecendo os médicos cubanos e brasileiros entre indivíduos com baixo patriotismo. No caso do alto patriotismo histórico, percebe-se também uma supremacia da identificação endogrupal. As variáveis idioma e status do país não exerceram influência na relação entre a oposição ao Programa Mais Médicos, o preconceito e o patriotismo histórico, enfatizando assim que essas duas variáveis estão no cerne da tomada de posição em relação ao imigrante qualificado.
Considerações Finais
A oposição à imigração qualificada enquanto objeto de pesquisa no campo da psicologia social ainda carece de investigação aprofundada. Os dois estudos que aqui apresentamos contribuem para preencher uma lacuna em pesquisas sobre processos psicossociais que motivam à oposição das pessoas a esse tipo de imigração no Brasil. Traz, nesse contexto, uma primeira leitura psicossocial de como o jovem universitário brasileiro revela seu nível de oposição à contratação do médico estrangeiro.
Testamos a hipótese de que a oposição à contratação de médicos estrangeiros varia consoante a origem do médico (cubana, portuguesa, espanhola) e que essa oposição é motivada pelo preconceito e pela saliência de fatores identificatórios, neste caso, o patriotismo histórico.
A nossa hipótese foi corroborada nos dois estudos realizados, pois em ambos estudos, quanto maior o preconceito dos participantes contra os médicos imigrantes, maior foi a oposição à sua contratação pelo PMM. Esse padrão de resultados vai ao encontro de um conjunto de estudos que tem mostrado que, mesmo em sociedades onde atitudes e comportamentos preconceituosos são inibidos por leis formais e normas informais anti-preconceitos, as pessoas continuam a apoiar políticas discriminatórias baseadas no preconceito (e.g., Pereira, Vala, & Costa-Lopes, 2010). De maior importância, no entanto, os resultados foram além ao mostrar que esse efeito do preconceito não ocorre de forma indeterminada. A sua relação com a oposição à contratação de médicos estrangeiros ocorre de forma seletiva. Esse é um dado inovador nos estudos sobre o tema porque consolida a idea de que a discriminação vai sempre ocorrer contra determinados exogrupos (e.g. cubanos) e não contra todos os outros exogrupos, como preconizado inicialmente por Tajfel e Turner (1986). Dito de outra forma, os processos discriminatórios devem ser entendidos dentro de contextos histórios e sociais específicos, levando em consideração as especificidades das relações entre os grupos em um determinado momento.
Em ambos estudos, a oposição de base preconceituosa ocorreu de forma mais intensa em relação aos médicos cubanos, especialmente nos participantes mais patriotas. Dito de outra forma, foi a dimensão identitária do patriotismo baseado no orgulho na história nacional que, de certa forma, libertou nesses participantes os seus impulsos mais hostis, motivando a sua oposição aos médicos estrangeiros, especialmente os cubanos. Esse resultado, em particular, dialoga com os estudos de Becker (2017) e Villen (2018) que mostram que os documentos e atos retrantando discursos violentos, principalmente em torno da contratação de médicos cubanos para o trabalho no Sistema Único de Saúde, sinalizaram para a naturalização social de problemas como o racismo e a intolerância ideológica.
Aqui é importante esclarecer que os estudos ora apresentados não exploraram a orientação sociopolitica dos participantes, sendo essa, portanto, uma lacuna a ser preenchida em estudos futuros, não mais usando o cenário do PMM devido a seu fim, mas outros contextos no âmbito das relações intergrupais envolvendo imigrantes qualificados.
Defendemos que, em conjunto, esses resultados dão uma contribuição importante para os marcos teóricos aqui utizados – os estudos sobre o preconceito, o racismo e sobre a identidade social. Isso acontece, principalmente, porque demonstram o papel do preconceito na oposição à imigração (Pereira, Vala, & Costa-Lopes, 2010) e, além disso, contribuem também para desvelar as dferentes faces do racismo no Brasil (Batista, Torres, & Camino, 2014; Camino et al., 2001, Lima, Araújo, & Poderoso, 2018). Ademais, os resultados aqui apresentados sugerem que analisar a força de diferentes dimensões da identidade social pode ser um bom caminho para compreender as relações intergrupais entre nacionais e não nacionais. Essa é uma importante contribuição teórica, pois, até o momento, tem sido uma via pouco explorada nos estudos sobre as relações entre preconceito e identidade social.
De fato, foi o fator identitário que levou os participantes mais preconceituosos a serem seletivos na oposição aos médicos estrangeiros, pois foi quando o preconceito interagiu com o patriotismo histórico que os resultados mostraram-se diferentes de acordo com a origem do grupo, mas em todos os casos fornece-se a evidência de que o patriotismo histórico potencializa o efeito do preconceito. Isto pode indicar que os indivíduos mais patriotas são menos atentos à norma anti-racista e por isso expõem mais o nível de rejeição ao diferente de si.
As implicações teóricas nos dois estudos aqui apresentados ancoraram-se a um padrão semelhante de resultados. Nos indivíduos menos patriotas, o preconceito motivou a oposição nos grupos de portugueses e, no segundo estudo, nos grupos de brasileiros e cubanos, sugerindo, no caso dos portugueses e brasileiros, que a desidentificação com a pátria pode ser o mecanismo psicológico subjacente à explicação da significância dirigida a estes grupos.
Aqui é importante esclarecer que, embora os processos de descolonização entre Portugal e Brasil e Portugal e outras colônias africanas tenham sido diferentes, a desidentificação com a pátria é encontrada em retornados portugueses que se mostram habituados a não falarem sobre o colonialismo português e sobre a descolonização. Estudos mostram que essas pessoas se envergonham de terem sido colonos numa sociedade que se refundava num ethos anticolonial e os acusava de serem colonialistas (Peralta, 2019). Assim, estudar junto a esses indivíduos como o preconceito e as diferentes dimensões da identidade se relacionam com a tomada de posição frente à imigração de profissionais qualificados pode contribuir para o aprofudamento da compreesão dessas relações.
A compreensão do idioma e a percepção do status do país não exerceram influência na oposição ao médico imigrante. Embora se tenha encontrado no idioma o efeito principal do preconceito na oposição ao médico imigrante, este achado não foi suficiente para alterar a interação tripla entre o patriotismo histórico, o preconceito e a oposição à contratação do médico.
Por fim, acreditamos que o conjunto dos resultados são suficientemente consistentes e destacam, como principal contribuição desta pesquisa, o fato dela ser uma das primeiras a utilizar o cenário do Programa Mais Médicos, mostrando ser atual e bastante válido o contributo da psicologia social na avaliação de aceitação de políticas de saúde envolvendo profissionais imigrantes. Esse contributo torna-se ainda mais relevante quando analisados à luz do significado político da oposição à contratação de médicos, especialmente cubanos.
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Endereço para correspondência
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Ana Raquel Rosas Torres
Centro de Ciências Humanas Letras e Artes - Campus I
Programa de Pós-graduação em Psicologia Social (mestrado e doutorado)
Cidade Universitária, s/n, Cidade Universitária, João Pessoa - PB, Brasil. CEP 50090-900
Endereço eletrônico: arr.torres@gmail.com
Recebido em: 03/07/2019
Reformulado em: 21/09/2020
Aceito em: 02/10/2020
Notas
* Professora da Graduação em Psicologia e Mestrado em Psicologia da Saúde da Faculdade Pernambucana de Saúde.
** Professor Adjunto da Universidade Federal da Paraíba. Bolsista de produtividade em pesquisa (PQ 1D) do CNPq.
*** Professora Associada da Universidade Federal da Paraíba. Bolsista de Produtividade de Pesquisas 2.
Financiamento: Este trabalho recebeu financiamento dentro do projeto FCT/Capes 340/13 que possibilitou bolsa de doutorado sanduíche no ICS/Universidade de Lisboa destinada à primeira autora.
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