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Print version ISSN 2359-0769On-line version ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.14 no.2 Fortaleza Aug. 2014

 

ARTIGO ORIGINAL

 

As funções do pai: pensando a questão da autoridade na constituição do sujeito contemporâneo a partir de um estudo psicanalítico do ideal do eu

 

The functions of the father: thinking the authority matter in the constitution of the contemporary subject from a psychoanalytic study of the ego ideal

 

Las funciones del padre: pensando en la cuestión de la autoridad en la constitución del sujeto contemporáneo a partir de un estudio psicoanalítico del ideal del yo

 

Les fonctions du père: réflexion la question de l'autorité dans la constitution du sujet contemporain à partir d'une étude psychanalytique de l'idéal de moi

 

 

Rogerio Quintella

Psicanalista; Doutor em Teoria Psicanalítica (UFRJ); Professor Adjunto do curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF-PUCG)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente trabalho realiza um exame sobre o conceito de ideal do eu em Freud e Lacan para pensar a questão da autoridade nos dias de hoje e os efeitos disso da constituição do sujeito contemporâneo. Situa, primeiramente, as diferentes configurações familiares ao longo da história, especialmente aquelas que se evidenciam na atualidade, referenciadas no estudo de Margareth Mead sobre as culturas pré-figurativas, onde se assinala uma relação de poder dos filhos sobre os pais cujo estatuto implica uma nova organização dos papéis na família. Pontua-se nessa análise uma relação diferenciada com as questões da autoridade, do limite e da lei que implica um fenômeno aqui denominado evanescência do ideal do eu. Para aprofundar esta questão, nos dirigimos à obra de Freud, no sentido de pensar o papel do ideal do eu no modelo teórico da identificação que tem como operador a figura da autoridade do pai na constituição do sujeito. Em seguida, rumamos para o avanço desta questão no pensamento de Lacan, situando os três tempos da organização edipiana, distinguindo-se a função do pai como lei simbólica, da função do pai como figura identificatória que abre caminho para o ideal do eu. Tal distinção é pertinente ao traçado teórico que aqui propomos realizar, no sentido de apontar para uma peculiaridade na relação entre ideal do eu e privação circunscrita à dinâmica edipiana. Por fim, esta análise se dirige a uma concepção pluralizada da função paterna na organização do sujeito, o que implica importantes consequências do ponto de vista da constituição sintomática dos dias de hoje, característica das experiências de excesso que se evidenciam na clínica psicanalítica, bem como na relação ao gozo frente ao mal-estar contemporâneo.

Palavras-chave: função paterna; ideal do eu; autoridade; excesso; sujeito contemporâneo.


ABSTRACT

The current work does an examination of the ego ideal concept in Freud and Lacan to think the authority matter nowadays and the effects of that in the constitution of the contemporary subject. Situates first the different family configurations throughout history, especially those that are evident today, referenced in the study by Margaret Mead on the pre-figurative cultures, which indicates a power relationship of the children on parents whose statute implies a new organization of roles in the family. It is pointed in this analysis a differentiated relation with authority matters, the limit and the law that implies a phenomenon here called vanishing of the ego ideal. To deepen this matter, we turn to Freud's work, in the sense of thinking the role of the ego ideal in the theoretical model of identification that has as an operator the authority figure of the father in the constitution of the subject. In the sequence, we head to the advance of this matter in Lacan's thinking, situating the three times of the oedipal organization, distinguishing the function of the father as symbolic law from the function of the father as identificatory figure that opens the way to ego ideal. This distinction is pertinent to the theoretical path that we propose to do, in order to point to a peculiarity in the relation between ego ideal and deprivation limited to oedipal dynamics. Finally, this analysis addresses to a pluralized conception of the paternal function in the organization of the subject, which implies important consequences from the point of view of symptomatic constitution nowadays, typical of the excess experiences that are evident in the psychoanalytic clinic and in the relation to enjoyment front to the contemporary discontent.

Keywords: paternal function; ego ideal; authority; excess; contemporary subject.


RESUMEN

En este trabajo se lleva a cabo un examen del concepto de uno mismo ideal en Freud y Lacan para pensar la cuestión de la autoridad en estos días y los efectos que la constitución del sujeto contemporáneo. Se define, en primer lugar, las diferentes configuraciones familiares a lo largo de la historia, especialmente aquellos que son evidentes hoy en día, se hace referencia en el estudio de Margaret Mead en las culturas pre-figurativas, lo que indica una relación de poder de los hijos a los padres cuya situación implica una reorganización de roles en la familia. Se destaca en este análisis una relación diferente con las cuestiones de la autoridad, así como los límites y la ley en relación a un fenómeno llamado aquí fugacidad del ideal del yo. Para explorar esta cuestión, nos dirigimos a la obra de Freud, a considerar el papel del ideal del yo en el modelo teórico de la identificación operado por la figura de autoridad del padre en la constitución del sujeto. Entonces nos dirigimos a la profundización de este tema en el pensamiento de Lacan, la definición de las tres etapas de la organización edípica, distinguiendo el papel de padre como la ley simbólica, el papel del padre como una identificación que allana el camino para el ideal del yo. Esta distinción es relevante para el camino teórico que propongo aquí sí, con el fin de apuntar a una peculiaridad en la relación entre el ideal del yo y las privaciones relacionadas con la dinámica edípica. Por último, este análisis se ocupa de una concepción plural de la función paterna en la organización de el sujeto, lo que implica importantes consecuencias en términos de la Constitución sintomáticos de hoy, característico de las experiencias que se destacan demasiado en la práctica psicoanalítica y la relación de la goce antes de mal-estar contemporáneo.

Palabras clave: función paterna; ideal del yo; la autoridad; exceso; sujeto contemporáneo.


RÉSUMÉ

Ce document procède à un examen du concept de l'idéal du moi dans Freud et de Lacan à penser la question de l'autorité de nos jours et les effets que la constitution du sujet contemporain. Mensonges, d'abord, les configurations familiales différentes à travers l'histoire, en particulier ceux qui sont évidentes aujourd'hui, référencé dans l'étude de Margareth Mead sur les cultures pré-figuratives, ce qui indique une relation de pouvoir des enfants sur les parents dont le statut implique une réorganisation des rôles dans la famille. Il est mis en évidence dans cette analyse une relation différente avec les questions d'autorité, et les limites de la loi implique un phénomène appelé ici fugacité de l'idéal du moi. Pour explorer cette question, nous nous tournons vers l'œuvre de Freud, de considérer le rôle de l'idéal du moi dans le modèle théorique de l'identité comme un opérateur qui a la figure d'autorité du père dans la constitution du sujet. Puis nous nous sommes dirigés à l'avancement de cette question dans la pensée de Lacan, en plaçant les trois jours de l'organisation œdipienne, en distinguant le rôle du père comme une loi symbolique, le rôle du père comme une identification figure qui ouvre la voie à l'idéal du moi. Cette distinction est pertinente à la trajectoire théorique que je propose ici faire, afin de souligner une particularité dans la relation entre l'Idéal du Moi et de la privation liée de la dynamique œdipienne. Enfin, cette analyse porte sur une conception plurielle du fonction paternel dans l'organisation du sujet, ce qui implique des conséquences importantes en termes de la constitution de jours symptomatiques, caractéristique des expériences qui se démarquent trop dans le psychanalytique et par rapport à l'avant jouissance du malaise contemporain.

Mots-clés: fonction paternelle; idéal du moi; l'autorité; excès; sujet contemporain.


 

 

Introdução

É perene, na atualidade, a discussão a respeito da função paterna e seus destinos na clínica psicanalítica contemporânea. Muito se tem discutido acerca dos efeitos subjetivos das novas configurações familiares que ao final do século XX e início do século XXI se assinalam, evidenciando vetores que dinamizam uma importante mudança na forma como o sujeito lida com as questões do limite, da lei e da autoridade.

Esta problemática se instaura à medida que se sublinha o papel do pai como função, a qual implica a relação do sujeito com o desejo e a falta na trama da constituição psíquica e mesmo cultural (Lacan, 1999). Indagamos que implicações teóricas e clínicas as mudanças na relação à autoridade, hoje evidenciadas pelos novos modelos de configuração familiar, trazem para a concepção que define o pai como função. Sublinhe-se que esta questão tem sido amplamente discutida no seio da psicanálise contemporânea, tal como assinalam autores como Melman, (2003), Lebrun, (2004), Miller, (2004) e outros, contudo não se pode afirmar que ela se acha esgotada no campo psicanalítico. Tampouco cabe a nós esgotá-la na presente exposição. Visamos especificamente sublinhar aspectos de imprescindível abordagem no que tange à questão da autoridade na constituição do sujeito contemporâneo, bem como a relação disso com o que se denomina função paterna.

Segundo Freud, (1933/1996l), a constituição da autoridade, no que concerne, em específico, ao papel do pai nessa questão, acha-se intimamente relacionada à instauração do ideal do eu, a partir do qual o sujeito buscará sua identificação na relação com o desejo e a cultura.

O presente trabalho faz um exame dessa questão, primeiramente situando as diferentes configurações familiares ao longo da história, especialmente aquelas que se evidenciam na atualidade, buscando-se introduzir o que denominamos como evanescência do ideal do eu (Quintella, 2008). Num segundo momento, apresentaremos o papel do ideal do eu no modelo teórico da identificação que tem como operador a figura da autoridade do pai na constituição do sujeito a partir de Freud. Em seguida, rumamos para o avanço desta questão no pensamento de Lacan, distinguindo-se a função do pai como lei simbólica, da função do pai como figura identificatória que abre caminho para o ideal do eu. Tal distinção será imprescindível no sentido de discutirmos sobre a relação entre função paterna e ideal do eu, bem como os efeitos disso na constituição do sujeito e suas contrapartidas psicopatológicas frente ao mal-estar contemporâneo.

 

As configurações familiares no século XXI: discutindo sobre os modelos ideais na atualidade

Margareth Mead (1979) distingue três tipos de cultura que tocam as configurações familiares ao longo dos tempos, caracterizando diferentes modos de posicionamento entre os membros da família que emergem na história da civilização. Nesse sentido, situa a cultura pós-figurativa, a co-figurativa e a pré-figurativa. Nas culturas pós-figurativas, há uma intensa valorização dos saberes dos antepassados, em que a figura do sábio ancião percorre as configurações e valores a serem transmitidos entre os membros da família. Nas culturas co-figurativas, cujo modelo é ainda passível de constatação, especialmente no ocidente, é a figura do adulto na família que ganha destaque, contudo com a característica da reciprocidade e da troca do saber com o jovem que passa a ser valorizado como alguém que ganhará, em seu devido tempo, o lugar de autoridade na constituição de uma nova família. Na cultura pré-figurativa, o que há é o "mito do poder jovem". Ali o jovem é o detentor do poder e do saber sobre as tecnologias que movem o mundo. Assume na família o papel de mediador entre a geração precedente (pais e avós) e a sociedade com seus novos dispositivos tecnológicos (Mead, 1979). Caracteriza-se nisso, uma "tirania" dos filhos que passam a exercer novos papéis e posição de poder na relação com os pais, marcando ali o caráter fugidio da relação à autoridade dos pais sobre os filhos, o que tem se assinalado com maior preponderância no final do século XX e início do século XXI.

Esta pesquisa se dirige à reflexão sobre o papel da autoridade na família e na cultura, que deflagra uma diferença importante na constituição do sujeito contemporâneo. Nos dias de hoje fica cada vez mais evidente o esfacelamento da autoridade do pai na trama familiar desde a desconstrução do patriarcado e da emergência do discurso da ciência (Santos, 2001). Nesse contexto, conforme aponta Birman (1999), cabe também situar a cultura do narcisismo (Lasch, 1979/1983) que, subjugada ao imediatismo da satisfação pulsional, caracteriza os mais importantes vetores da subjetivação frente ao mal-estar na cultura atual.

Assinala-se sobre esse último aspecto, que o modelo de cultura atual se caracteriza por um autocentramento subjetivo que parece substituir qualquer possibilidade de projeção no tempo futuro, porquanto o descentramento subjetivo e o remetimento a uma história fantasmática cuja narrativa percorre os espaços mais insólitos do inconsciente tornam-se, nessa configuração, cada vez mais intoleráveis (Birman, 1999). Torna-se hoje cada vez mais insuportável a condição desejante, especialmente numa cultura em que a exaltação da imagem narcísica e a busca pelas satisfações e soluções imediatas caracterizam o fundamento da existência humana. Autores como Birman (1999), Pinheiro (2005) apontam de maneira pertinente que a subjetividade sustenta-se hoje muito mais referenciada pela construção imagética do que pela internalização de ideais estáveis fornecidos pela ordem familiar, cuja configuração era muito mais notória até a primeira metade do século XX.

Isto se articula a um importante vetor subjetivo, que denominamos evanescência do ideal do eu (Quintella, 2008). Esta última consideração, que será retomada no desenvolvimento da presente exposição, exige especialmente que nos reportemos à constituição psíquica na trama edipiana, à medida que o ideal do eu é intrínseco à relação do sujeito com a autoridade, circunscrita ao denominado "declínio do complexo de Édipo", tal como situou Freud e aprofundou Lacan. Este caminho teórico visa discutir sobre a especificidade do ideal do eu na atualidade e a relação disto com a função paterna, de maneira a sublinhar as diferentes dimensões desta última, dado o aspecto central da teoria de Lacan sobre o pai que engendra os três registros da constituição do sujeito (imaginário, simbólico, real). Para nos dirigirmos a essa discussão, partiremos de um estudo pormenorizado sobre a constituição do ideal do eu em Freud e Lacan, de modo que possamos avançar sobre a questão.

 

O ideal do eu em Freud

A primeira menção de Freud ao conceito de ideal do eu se acha localizada no texto "Introdução ao Narcisismo". Ali o autor situa a constituição do eu a partir da operação narcísica primária que acarretará a formação dos ideais. Para Freud, a formação do eu ideal gira em torno do narcisismo primário perdido, como tentativa de recuperação do estado inicial subjugado ao sentimento de júbilo e à fantasia de onipotência na formação do eu (Freud, 1914/1996b).

O ideal do eu, aparece no texto de Freud como importante instância a partir da qual o sujeito afasta-se do narcisismo primário, rumando para as identificações secundárias a partir das quais o sujeito sustentará uma forma de satisfação apoiada na figura do pai - bem como nos traços do ideal do eu introjetados na dinâmica edipiana. Em 1914 Freud afirma:

O desenvolvimento do ego consiste num afastamento do narcisismo primário e dá margem a uma vigorosa tentativa de recuperação desse estado. Esse afastamento é ocasionado pelo deslocamento da libido em direção a um ideal do ego imposto de fora, sendo a satisfação provocada pela realização desse ideal (Freud, 1914/1996b, p. 106).

Freud retoma esta questão em Psicologia das Massas e análise do eu (Freud, 1923/1996c), onde destaca, no capítulo sobre a identificação, o papel do pai na formação do ideal do eu, numa relação ambivalente cujo cerne é a busca do lugar ocupado pelo pai na trama familiar, frente ao desejo da mãe. Ali o autor situa o deslocamento da libido para o pai no seio da relação amorosa familiar, retomando as considerações sobre a ambivalência dirigida ao pai. Tal ambivalência caracteriza o anseio do filho por ocupar o lugar do pai, à medida que este é tomado como figura admirada pelo filho e ao mesmo tempo figura que interfere no caminho em direção à satisfação pulsional com a mãe. Nesses termos o pai, como figura para quem a mãe dirige seu desejo, será tomado pelo filho como ideal e âncora de sua identificação.

Freud situa esta ambivalência na relação ao pai, assinalando a origem disso na fantasia de parricídio que inaugura o lugar primordial do pai como organizador psíquico, instaurando-se ali a impossibilidade do sujeito aceder à satisfação incestuosa no complexo de Édipo. Esta análise já havia sido realizada em Totem e Tabu, onde Freud caracterizara a organização psíquica e cultural como resultantes do parricídio (Freud, 1913/1996a). Como pai morto na fantasia, sua presença se torna indestrutível, porque simbólica e internalizada, dada a culpa parricida cujo peso impede definitivamente o acesso ao lugar do pai junto à mãe - o que caracterizaria o próprio incesto.1 Freud faz uma homologia entre a fantasia inconsciente de parricídio do sujeito neurótico escutado na clínica e o sistema totêmico, em que a morte do totem representava a incorporação do deus na tribo primitiva mediante o ritual de refeição totêmica. Nesse ponto, Freud assinala na origem desse processo o mito do assassinato do pai na horda primitiva que o instaura como símbolo, tornando-o indestrutível para o grupo tribal. Segundo o mito freudiano, o símbolo do pai morto tornou este último "mais poderoso do que o fora quando vivo" (Freud, 1913/1996a, p. 357), produzindo-se aí a associação entre os membros do grupo que haviam se reunido para matá-lo, associação esta sustentada em torno da culpa, fundando-se com isso a própria organização social e a impossibilidade de aceder ao lugar do pai. Para Freud a civilização se funda no assassinato do pai da horda primeva, constituindo-se a partir disso a renúncia à satisfação irrestrita e a organização social em torno do sentimento de culpa.

Freud assinala então o caráter central que a fantasia parricida do neurótico assume na organização subjetiva, que segue a lógica do mito da horda primitiva e mesmo da refeição totêmica, a qual engendra o totem como símbolo do pai morto. O animal sacrificado em posição de totem é ingerido pelos membros da tribo, num processo de identificação com o deus, representante do pai morto (Freud, 1913/1996a).2

A fantasia do neurótico que instaura o símbolo do pai morto é segundo Freud primordial na dinâmica psíquica, à medida que a interdição operou seus efeitos como lei que impede o acesso da criança à mãe e a assunção ao lugar do pai, instaurando-se ali o sentimento inconsciente de culpa. O parricídio é, portanto, a condição para que a ambivalência dirigida ao pai na trama familiar mobilize a identificação ao ideal do eu. Nesse nível, a identificação ao pai ocorre por introjeção dos traços do pai. Essa identificação por traços sinaliza a própria interdição ao lugar do pai; não podendo tornar-se o pai, a criança internaliza apenas os traços do pai, posto que interditada de assumir seu lugar. A partir disso a criança vai buscar uma forma de ser subjugada aos traços do ideal do eu captados da imago paterna.

Em O eu e o isso Freud avança, definindo a constituição do eu como um "precipitado de investimentos objetais abandonados", que implicam a identificação aos traços do ideal. Freud aborda essa precipitação identificatória na relação objetal, assinalando o caráter decisivo da perda do objeto, subjugado aos investimentos primários dirigidos à mãe. Essa dinâmica tem como corolário a constituição do supereu paterno, relacionado à formação do ideal (Freud, 1923/1996d).

Esta apreensão situa o supereu como uma instância que se constitui em função do ideal. Freud inicialmente concebia o supereu como sinônimo do ideal do eu. Definiu então a exigência superegóica diante da figura do pai, afirmando: "A relação [do superego] com o ego não se exaure com o preceito: 'Você deveria ser assim (como seu pai)'. Ela também compreende a proibição: 'Você não pode ser assim (como seu pai), isto é, certas coisas são prerrogativas dele'." (Freud, 1923/1996d, p. 47). A culpa que sobrevém desta condição paradoxal e insolúvel reconduz o superego a seu massacre sobre o eu, imperando aí o masoquismo moral e a "necessidade de punição" (Freud, 1924/1996e).

Esta questão se acha inteiramente ligada à lógica do complexo de castração, que aparece em Freud como fator decisivo para a constituição do complexo de Édipo, posto que é em torno da castração que toda a mobilização edipiana gira.

Freud afirma então que, para o menino, a castração funciona como desfecho do complexo de Édipo, à medida que, para preservar seu membro sexual frente à fantasia de castração na relação ambivalente ao pai, "o ego da criança vira as costas ao complexo de Édipo" (Freud, 1924/1996f, p. 196). Diante da fantasia de castração, o menino se submete à autoridade do pai, buscando ali uma identificação, uma "forma de ser" definida na relação ao pai, pautando-se nos valores que engendram o circuito cultural. No caso da menina, que se depara com a falta na relação ao órgão masculino, esta última submete-se ao amor do pai, abrindo-se ao complexo de Édipo e engendrando o ideal como ponto de ancoragem daquilo que ela busca na relação amorosa: o falo que ela não tem, e que o pai supostamente detém (Freud, 1924/1996h).

Freud, (1925/1996i) assinala, assim, a significação do falo como elemento que assume primazia na relação entre os sexos. O falo aparece como operador da inscrição da falta para ambos os sexos, e assume ao mesmo tempo aspecto de referência na relação objetal e na constituição do ideal (Lacan, 1998). Este último, movido pela castração, assinala o lugar que o pai assume na trama familiar, à medida que funciona de suporte para as identificações secundárias e a internalização dos valores culturais segundo Freud.

Nas Novas Conferências Introdutórias sobre psicanálise, Freud (1933/1996l) define o ideal do eu como resultante de uma relação de amor que funda a autoridade paterna. O sujeito se submete ao pai para não perder seu amor frente à castração, identificando-se a este último, e mantendo-o no lugar do ideal, de maneira que sua autoridade seja preservada. Nesse sentido, a autoridade do pai, em lugar de ideal para a criança é subjugada à iminência de perda do amor, face à perda do lugar de centralidade narcísica na relação com a mãe. Na instauração do ideal do eu, o pai abre caminho para uma saída identificatória na cultura, afastando o sujeito dessa centralidade narcísica, de forma que o mesmo mantenha sustentação no desejo a partir da castração.

Nesse texto pode-se notar uma diferenciação teórica entre ideal do eu e supereu. Ali o supereu vai ser concebido como medida de exigência sobre o eu em relação ao ideal, em que Freud assevera seu massacre num movimento de punição e exigência de perfeição perante o ideal. Essa apreensão se inscreve em O mal-estar na civilização, onde Freud situa a renúncia primordial como o próprio centro de gravidade em torno do qual o supereu aplica sua exigência. Freud deixou ali cunhada a importante concepção de que o mal-estar é intrínseco ao próprio circuito pulsional perante a impossibilidade de satisfação plena na civilização (Freud, 1930/1996j). Situando a questão no âmbito da constituição desejante face à impossibilidade de reencontro com o objeto perdido, Freud concebe que a própria organização da cultura se dá em torno da renúncia pulsional. Aponta o mal-estar como índice inelutável dessa impossibilidade, localizando a própria civilização como resultante de uma condição central, que é a renúncia. O sofrimento neurótico evidencia a chamada necessidade de punição à medida que a renúncia move e fortalece a punição superegóica perante a culpa na relação à autoridade e ao ideal do eu, num processo que vai da renúncia à autopunição.

Toda essa análise implica a distinção entre supereu e ideal do eu, bem como a relação entre a figura do pai na família e a instauração do ideal do eu. Este último engendra segundo Freud a introjeção dos modelos de cultura que perfilam os modos como o sujeito buscará satisfação. O modelo teórico em pauta situa as características do sujeito neurótico do tempo de Freud, cujo sofrimento se assinala pelo conflito dirigido ao ideal do eu e seus efeitos inconscientes na construção do sintoma.

Lacan (1999) avança sobre esta questão, assinalando a constituição do sujeito na neurose a partir de sua teoria do Nome-do-Pai como significante que organiza o sujeito na cultura e instaura a lei do desejo. Como importante aspecto de sua teorização, o autor distingue a função do pai frente aos três registros da constituição do sujeito (real, simbólico, imaginário), situando a partir disso três tempos da constituição edipiana.

Partindo dessas considerações, rumamos para um exame da constituição do sujeito e de sua relação com o desejo no complexo de Édipo a partir de Lacan (1999), que nos dará suporte necessário para a análise do ideal do eu na contemporaneidade e os destinos psicopatológicos ali engendrados. Tomando Lacan (1999) como guia, procuraremos deslindar os fatores intrínsecos à função paterna ali presente, de forma a situar parâmetros de reflexão teórica acerca do tema em questão. A seguir, faremos uma exposição da teoria de Lacan sobre o Édipo freudiano, onde ele situa os três tempos que engendram a relação do sujeito com o desejo a partir da falta do objeto.

 

Lacan e os três tempos do édipo 3

Em Lacan, (1999) a relação entre narcisismo, Édipo e ideal do eu está presente desde o momento em que o autor se lança à sua releitura da obra freudiana. Isso fica claro quando o pensador situa na significação fálica a dialética relacionada à formação do ideal. O falo é abordado por Lacan como objeto do desejo da mãe, com o qual a criança a princípio se identifica. Nada mais preciso do que situar o narcisismo como ancoragem desta posição de objeto na relação com o desejo da mãe, cujo caráter assume lugar central na experiência psíquica primordial que instaura o Édipo como organizador do sujeito na cultura.

Em suas primeiras considerações, Lacan (1999) já defendia que o pai assume lugar central no complexo de Édipo. Entendido como pai simbólico, Lacan (1999) sublinha sua função, qual seja, a de fundar a lei no Outro - este último definido por Lacan como lugar simbólico onde se articula o sistema significante. Nessa apreensão, o pai tem como função organizar o sujeito na dialética desejante (Lacan, 1999). Para Lacan é o caráter intrínseco da perda do objeto - inscrição do sujeito no universo da falta e do desejo - o que está em jogo na travessia do complexo de Édipo.

Lacan (1999) aborda então o complexo de Édipo distinguindo três tempos lógicos que compõem a relação do sujeito com o desejo, cuja referência é a castração. Pela via teórica da tríade Imaginário, Simbólico, Real, Lacan retoma o pai nesses registros (pai real, pai simbólico, pai imaginário). Articula nessa tríade as dimensões da falta de objeto - castração, frustração, privação - situando as três formas da falta na constituição do sujeito.

Partimos aqui das apreensões de Lacan (1999) no seminário sobre As formações do Inconsciente, onde ele assinala a importância da concepção do pai segundo os diferentes registros da constituição subjetiva.

Lacan (1999) definiu na noção de pai real o agente da castração - agente real diante de uma ameaça imaginária. A agressividade dirigida ao pai, à medida que este se interpõe na relação com a mãe, tem como efeito a retaliação no imaginário, caracterizada por uma ameaça de castração na fantasia da criança, à medida que se trata de uma parte do corpo que implica a integralidade narcísica da criança. Instaura-se ali a castração simbólica proveniente dessa agressividade fantasmática infantil.

No registro simbólico, a mãe é proibida, estruturalmente, pela ordenação cultural (lei do incesto), que produz na criança uma frustração imaginária referida a um objeto real. O pai simbólico é um significante (Nome-do-pai) que interdita a mãe, e ao mesmo tempo organiza para a criança o sentido de sua falta: esse sentido vem do pai simbólico, que é um significante capaz de substituir o significante materno na cadeia, produzindo a metáfora.4

No registro imaginário, o pai aparece como preferível à mãe, à medida que se estabelece a identificação e a internalização dos traços do ideal. O pai promove uma privação real na mãe - priva esta última de tomar a criança como objeto de satisfação - privação do gozo já interditado, proibido, tendo como correspondente o falo como significante da falta. O pai fornece à criança uma saída para a organização erógena na formação do ideal, substituindo o empuxo ao gozo pela identificação.

Assim, no primeiro tempo do complexo de Édipo é a posição de objeto de desejo da mãe que assume caráter central na constituição do sujeito; mirando o desejo da mãe, a criança engendra a fantasia parricida, visando ser o falo. Aqui é a dimensão da lei que constitui a presença do pai de maneira velada, característica do pai simbólico. Trata-se de um significante (Nome-do-pai) que interdita a mãe, possibilitando a substituição do significante materno na cadeia, produzindo a metáfora, e tendo como correspondente lógico o significante da falta (falo). Aqui a criança constitui o próprio cerne de seu eu ideal com as decepções que lhe são intrínsecas, prestes a destroná-la de sua posição "majestosa" na relação com o desejo da mãe.

O que se inscreve nessa dinâmica é a lei do pai simbólico (pai morto), à medida que proíbe a mãe já que a mesma é interditada de ser objeto de satisfação da criança, instaurando-se desde já o significante fálico. "Esta é a etapa fálica primitiva, aquela em que a metáfora paterna age por si, uma vez que a primazia do falo já está instaurada no mundo pela existência do símbolo do discurso e da lei" (1957-1958/1999, p. 198). Tal proibição é intrínseca à própria fantasia de assassinato do pai que torna o gozo absoluto definitivamente impossível. É a instauração da falta como fundação da lei num lugar que vai além da relação falo-mãe-criança que se engendra sob a mácula da culpa parricida enunciada pela lei simbólica do pai.

Lacan (1999, p. 199) considera que, no segundo tempo, trata-se de "remeter a mãe à lei", esta última fundando, em seu próprio discurso, a lei simbólica. Aqui é a privação que funciona por força do pai imaginário, remetendo a mãe à lei já inscrita no Outro. Nessa dinâmica, o pai assume no discurso da mãe um lugar de exceção. Trata-se no segundo tempo do pai onipotente, que instaura a privação na mãe arrebatando a criança da posição de objeto. Esse momento é imprescindível para situar o pequeno sujeito como privado de ser o falo da mãe, onde ele assume ali uma posição que engendra o caráter simbólico da falta de objeto. O sujeito se acha submetido à onipotência do pai, sendo arrebatado de uma suposta onipotência frente ao desejo materno.

Aqui intervém o próprio destronamento do mundo ideal na relação com a mãe. Lacan esclarece:

É na medida em que a criança é desalojada, para seu grande benefício, da posição ideal com que ela e a mãe poderiam satisfazer-se, e na qual ela exerce a função de ser o objeto metonímico desta, que pode se estabelecer a terceira relação, a etapa seguinte, que é fecunda. Nela, com efeito, a criança torna-se outra coisa, pois essa etapa comporta a identificação com o pai e o título de propriedade viril que o pai tem (Lacan, 1999, p. 2010).

No terceiro tempo se observa exatamente o denominado declínio do complexo de Édipo:

A terceira etapa é tão importante quanto a segunda, pois é dela que depende a saída do complexo de Édipo. O falo, o pai o atestou dá-lo em sua condição e apenas em sua condição de portador ou de suporte, diria eu, da lei. É dele que depende a posse ou não desse falo pelo sujeito materno. (...). É por intervir no terceiro tempo como aquele que tem o falo, e não que o é, que se pode produzir a báscula que reinstaura a instância do falo com o objeto desejado da mãe, e não mais apenas como objeto do qual o pai pode privar. (...) O terceiro tempo é esse: o pai pode dar à mãe o que ela deseja, e pode dar porque o possui. Aqui intervém, portanto, a existência da potência no sentido genital da palavra - digamos que o pai é um pai potente. (Lacan, 1999, p. 200).

Pode-se então diferenciar as três etapas pelo viés, por exemplo, da potência ou da onipotência: no primeiro tempo, a criança ainda acredita na sua própria onipotência (apesar de já interditada); no segundo atribui a onipotência ao pai; no terceiro, declina de seu investimento primário, situando o pai como potente - potente diante do desejo da mãe.

O pai potente, que a satisfaz sexualmente a mãe, suposto detentor do falo, faz exceção à regra, funcionando como suporte da lei, e abrindo caminho para a identificação ao ideal do eu. Atesta, com isso, o valor da Ordem Simbólica inscrita no primeiro tempo. Intercambiam-se nessa organização pai real e pai imaginário - castrador e privador - na formação do ideal do eu, à medida que o sujeito, privado de ser o falo da mãe, ancora-se nesse pai real, conduzindo-se a uma saída identificatória mediante o ideal. Assim, para não perder o amor do pai ideal, o sujeito se submete a ele, divinizando-o (Freud, 1933/1996l). Lacan (1997, p. 369) conclui: "Esse pai imaginário, é ele, e não o pai real, que é o fundamento da imagem providencial de Deus". Funda-se nesse patamar a figura da autoridade, que norteia o sujeito na relação com o desejo. O sujeito se ancora no ideal do buscando ali uma forma de ser, identificando-se aos traços do pai.

Importante frisar que é na passagem do segundo para o terceiro tempo que a Ordem Simbólica, inscrita no primeiro tempo, estabelece seu valor, no momento em que o ideal do eu se constitui. Ali se inscreve o traço do pai, o "título" da virilidade para o menino, e para a menina é a partir disso que a dialética desejante se organiza, à medida que busca na relação com o pai o falo como objeto do desejo. Lacan (1999, p. 201) assevera: "É por intervir como aquele que tem o falo que o pai é internalizado no sujeito como ideal do eu, e que, a partir daí, não nos esqueçamos, o complexo de Édipo declina".

Este estudo é imprescindível para situar as questões que tocam o lugar (ou os lugares) que o pai ocupa na constituição do sujeito, bem como a figuração da autoridade no Édipo pensado por Freud e revisitado por Lacan a partir da teoria do significante. Rumamos a partir de disso para uma análise mais apurada do ideal do eu na atualidade, retomando a discussão sobre a constituição da autoridade na trama edipiana nos dias de hoje. Os efeitos disso na relação do sujeito com o desejo e o gozo, dadas as configurações familiares de hoje, apontam para uma importante mudança na relação ao pai, ao ideal e à autoridade, tal como consideramos anteriormente. Essas mudanças implicam o sujeito muitas vezes em formas peculiares de sofrimento constatáveis de maneira intensa na clínica contemporânea. Veremos como isso se assinala a partir da discussão sobre o que denominamos "evanescência do ideal do eu" e suas consequências no campo do sujeito.

 

A evanescência do ideal do eu na atualidade

Em sua conferência sobre o sujeito contemporâneo, Miller (2004) considera o "desbussolamento" do sujeito na relação com o desejo e o gozo.5 Nesse ponto, Miller (2004) assinala que o sujeito não dispõe hoje de um norteamento para sua ancoragem a partir das determinações do ideal. Trata-se hoje de um sujeito que não lança mão de uma ancoragem ideal para buscar um caminho minimamente definido no campo do desejo. Esta concepção caracteriza as peculiaridades do sujeito frente à organização psíquica, de uma forma mais radical, dos dias de hoje.

Para Miller (2004) era a contestação ao ideal o cerne da neurose na época de Freud, resultado do declínio do poder da Igreja e do discurso da ciência, que atingiu o patriarcado e a família no seu epicentro. Machado (2005) assinala sobre isso:

O declínio do poder de Deus, da religião e da Igreja atingem a vida social, política e familiar. A moral vai perdendo força como o bem maior de um indivíduo. É nesse contexto que a psicanálise surge, orientada pelos conflitos em relação ao pai e à moral. (...) Sua autoridade é questionada e isto faz sintoma (Machado. 2005, p. 17).

Freud propunha, tal como demonstramos anteriormente, um ideal do eu ancorado na imago paterna. Afirmou ainda que o ideal do eu individual é substituído por um ideal coletivo, assumido por uma figura de autoridade - o líder, o professor, o hipnotizador, etc. (Freud, 1923/1996c). Era a instauração definida do ideal cuja marca fazia prevalecer uma imago "assimétrica" na sustentação grupal e psíquica. Nesse contexto, a neurose aparecia como resposta à inquietação dirigida aos furos do Outro, à medida que o ideal do eu era passível de contestação.

Na contemporaneidade esses modelos ideais perdem valor, fazendo-se instaurar o sentimento de desamparo de maneira mais intensa. Os modelos ideais que, na época de Freud, alicerçavam um código predefinido sobre os caminhos a serem trilhados acham-se hoje desvanecidos em nome de uma perseguição pela imagem narcísica, bem como pelo imediatismo da satisfação pulsional, tal como frisamos no início de nossa exposição. Essa prevalência da imagem de si subjugada ao imediatismo da satisfação pulsional, à "plenitude narcísica" parece substituir qualquer possibilidade de projeção num futuro que suporte o tempo de espera (Pinheiro, 2005) na sustentação do desejo.

Nesse cenário, o ideal do eu constitui-se numa evanescência que implica uma forma peculiar do sujeito se relacionar com o gozo e seus imperativos. É importante que se defina os parâmetros de análise sobre esta questão, pautados no percurso que delineamos a respeito da constituição do ideal do eu e da identificação na relação à autoridade parental. O sujeito de hoje apresenta predominantemente em seu discurso uma dificuldade de dinamizar afetos que de outra sorte seriam capazes de superar as representações primárias da constituição do eu ideal, subjugado à experiência jubilosa do narcisismo. Trata-se nessa circunstância de uma fugacidade na identificação secundária edipiana que não implica o Pai como sustentáculo dessa identificação na trama familiar de hoje. Nessa conjuntura específica, não é a imago paterna o ponto de identificação ao ideal do eu. A circunstância em pauta se situa num nível em que a relação com o ideal do eu assinala uma condição peculiar frente a essa fugacidade identificatória.

Como evanescência do ideal do eu entende-se, assim, uma fugacidade no ancoramento identificatório edipiano, cuja função seria de permitir ao sujeito afastar-se do narcisismo primário (Freud, 1914/1996b) e reaparecer transformado após as identificações secundárias. O sujeito encontra hoje grandes dificuldades de ligar presente e futuro num processo psíquico de integração que o filiaria a uma ação descolada da idealização narcísica. O que se verifica no discurso do sujeito hoje, muito característico de uma depressão neurótica, é a projeção no futuro de um "eu ideal" impossível de se realizar - e isso, quando há uma projeção no futuro. Sem estabelecimento de qualquer construção narrativa a partir da qual o sujeito dispor-se-ia a agir, a idealização de si mesmo no futuro é similar à própria idealização da Criança Maravilhosa (Leclaire, S. 1975). Ela é de tal ordem que o sujeito muitas vezes deprime como expressão de seu próprio fracasso narcísico (Quintella, Pinheiro, Verztman, 2010). A imagem de si no presente é sempre insuficiente perante a exigência do eu-ideal absoluto e perdido, incapaz de reaparecer transformado mediante a identificação ao ideal do eu na saída do complexo de Édipo. Tal insuficiência beira, numa similaridade inversa, o mesmo absoluto irredutível da Criança Maravilhosa, cujo estatuto subjaz a idealização primária como ancoragem fundamental da existência do sujeito.6

Esta questão nos encaminha a uma reflexão aprofundada acerca da instauração do ideal do eu e a relação disso com o complexo de Édipo. Como vimos, Lacan assevera que o ideal do eu conjuga a passagem do segundo para o terceiro tempo no qual, a partir da privação, a criança se submete à imago paterna. Esta operação identificatória se acha subsumida à atribuição do pai como suposto detentor do falo perante o desejo da mãe (Lacan, 1999).

Para aprofundar sobre essa temática, propomos então refletir sobre o fracasso do pai em posição de ideal do eu. A respeito disso, cabe afirmar: o pai, em muitos aspectos da trama familiar na atualidade, subtrai-se da posição de detentor do falo, ou a criança não credita ao pai o direito de posse do falo.

O que se localiza nesse nível é uma ruptura precoce com o pai ideal, à medida que este não se apresenta como figura a partir da qual o sujeito buscará identificação. O ideal do eu, em sua evanescência engendra a fantasia do pai "impotente" - impotente diante do desejo da mãe - e assinala em casos diversos uma tentativa compulsiva de restabelecimento da imagem de si conflagrada no narcisismo, cujo corolário é o retorno da fantasia primária de onipotência do eu. Nesse nível, é a imagem da Criança Maravilhosa que passa muitas vezes a ser colocada no lugar do ideal do eu, funcionando ali como um sintoma.

Constata-se nessa apreensão que é o nível da privação o ponto a ser colocado em questão, à medida que, tal como Lacan (1999) reverbera, a privação é a mola da identificação ao ideal do eu na passagem do segundo para o terceiro tempo edipiano. Assinala-se nesse ponto um fenômeno cada vez mais evidente na atualidade, subjugado ao fracasso do pai como suposto detentor do falo no desfecho do complexo de Édipo. Cabe ponderarmos então sobre as prerrogativas do desfecho do complexo de Édipo que implicam um declínio das funções sexuais, a serem retomadas na puberdade, conforme Freud abordava em sua época, na denominação do "período de latência". Na contemporaneidade evidencia-se cada vez mais um enfraquecimento do período de latência no percurso da experiência pulsional, motivo pelo qual a vida sexual é retomada cada vez mais cedo.

No que concerne à neurose, podemos situar importantes diferenciais circunscritos à relação com o desejo e o sintoma, bem como aos imperativos de gozo na experiência pulsional. A diferença na neurose de hoje é que o supereu não funciona tanto como autopunição, tal como se observa na neurose obsessiva. Tampouco prevalece hoje o gozo da privação cuja característica é a marca do sintoma histérico clássico (Quinet, 2003). O supereu engendra hoje um imperativo de gozo característico das experiências de excesso tão presentes na clínica contemporânea (compulsões, toxicomania, depressão), as quais se evidenciam, guardadas suas devidas especificidades sintomáticas, como formas peculiares de responder ao mal-estar na cultura atual.

Nessa conjuntura o supereu não vai funcionar comparando o eu com seu ideal, tal como considerou Freud (1933/1996l). Isto porque o respaldo nos valores mediados pelo ideal, que o supereu buscava para sustentar sua punição ao eu e satisfazer o masoquismo moral, se acha hoje em declínio. Na atualidade há um desatrelamento entre o supereu e o ideal do eu que marca o caráter muito mais desmedido, violento ou compulsivo do primeiro. Uma agressividade culposa, antes eminentemente dirigida ao eu (Freud, 1930/1996j) na constituição da exigência superegóica, passa a ser dirigida mais intensamente para objetos externos, sob a forma da compulsão, numa tentativa desesperada de introjeção perante o fracasso identificatório ao ideal do eu. Zizek (1999) aponta esta figura do supereu como sendo a raiz da voz obscena que exige, irracionalmente, o gozo sem cálculo que funciona mais severamente como empuxo desmedido em direção à própria morte.

Miller (2004) aponta o ideal, na mudança em questão, como submetido ao gozo do objeto. Não se trata, nesse sentido, de inexistência do ideal, mas do nivelamento deste último a uma fugacidade de experiências e mercadorias ofertadas no meio social como promessa de encontro com o objeto perdido. É nesse nível que definimos o ideal do eu como evanescente. Observa-se aí uma certa relação de "exterioridade" na relação objetal, em que a busca pela perfeição imagética do eu toma o outro semelhante como ancoragem permanente da imagem de si, subtraindo-se o sujeito, cada vez mais, de uma experiência auto-reflexiva e interiorizada que caracterizava o sujeito moderno do tempo de Freud, em que a Ordem Simbólica assumia ali seu valor de alteridade radical. Considera-se, com Lacan, que é na ancoragem identificatória ao ideal do eu que se internalizam os valores da cultura, mediante os traços do pai cuja figura de autoridade assumia o representante dos valores culturais na trama familiar, atestando o valor da Ordem Simbólica inscrita no primeiro tempo do complexo de Édipo.

Nessa apreensão percebe-se a faceta contingente do pai no âmbito do lugar de ideal. A negação radical do ideal do eu na atualidade engendra novas formas de imperativo de gozo, em seu aspecto mais compulsivo e mortífero, tal como apontamos anteriormente. Isto implica a necessidade de uma apuração minuciosa sobre a relação com o supereu na atualidade, bem como do lugar que a Ordem Simbólica assume na subjetividade atual.

Não estamos considerando, com isso, a ideia de um "gozo sem freios" ou absoluto na subjetividade contemporânea - o que implicaria a supressão da civilização mesma. Não é sem motivo que muitas dessas experiências de excesso implicam um apelo ao pai (Silvestre, 1991) - uma busca pelo limite que remete à própria lei da interdição do incesto. Assinala-se nesse contexto um paradoxo que situa, por um lado, a interdição ao gozo engendrado pela metáfora paterna e, por outro lado, a própria condição do gozo, tal como apontou Lacan (1992) no avanço de seu ensino. Este é, sem dúvida, um dos mais importantes avanços da teoria de Lacan sobre a relação significante/gozo. Num determinado período de sua teoriazação, Lacan (1999) colocava ênfase no significante fálico como barra do gozo e função do desejo, destacando o interdito paterno articulado a esta função. Posteriormente, Lacan (1992, p. 113) assinala que "o assassinato do pai é a condição do gozo" abordando o mais-de-gozar como algo que escapa a regulação fálica. Mais-de-gozo implica por um lado a renúncia priordial, que faz aparecer o objeto a como causa de desejo; implica por outro lado, como resposta à perda de gozo, uma condição em que a própria renúncia fomenta a exigência do supereu (Freud,1930/1996j). Implicada na renúncia e na perda, essa dimensão do gozo reaparece na forma de um resto a ser recuperado - resto que retorna ao nível do supereu cuja outorga é o próprio imperativo de gozo - goza! (Lacan, 1993).

O empuxo ao gozo que nas experiências de excesso da atualidade insiste em se fazer presente, aparece como medida transgressiva que apela ao pai simbólico como forma de assunção da lei. O apelo ao pai, em que o excesso empurra o sujeito aos limites da morte, é o que passa a valorar o lugar da lei como ponto de basta e barra do gozo. As experiências de excesso se evidenciam ainda mais nos dias de hoje com algumas especificidades subjacentes ao fracasso do pai em posição de ideal: trata-se de um sujeito inscrito na ordem simbólica, mas cujo pai fracassa ao nível da formação do ideal do eu.7 Se o pai hoje não assume posição de suporte do ideal na família, é justamente porque fracassa em apresentar-se como preferível à mãe - o pai que priva, e que constitui a mola da identificação ao ideal. Este último evanesce hoje cada vez mais como vetor concomitante do fracasso do pai como pai potente, suposto detentor absoluto do falo no terceiro tempo do complexo de Édipo. Embora achando-se interditado e inscrito na trama edipiana, o sujeito empurra-se ainda mais ao gozo que extrapola a regulação fálica.

 

Conclusão

A proposta teórica fundamental do presente trabalho assinala o caráter peculiar da relação do sujeito com o ideal do eu nos dias de hoje, implicando-se aí uma nova distribuição dos diferentes papéis que se inscrevem na relação à autoridade, bem como na família contemporânea do ponto de vista da psicanálise, colocando-se em cena os destinos sintomáticos e psicopatológicos ali implicados. Discute fundamentalmente sobre a questão do traço do ideal do eu captado de um pai a princípio potente e privador, um pai que seria suposto detentor do falo - lugar de exceção, que norteia o caminho para a identificação ao ideal do eu. É nesse ponto que, diante do lugar de exceção colocado "sob rasura", se assim podemos nos expressar, o ideal do eu fica negado, e o sujeito dá de frente com o pai real impotente, desnorteando-se na busca pelo objeto de satisfação. Nesse sentido, cabe indagar sobre o lugar que os filhos ocupam na relação com os pais, cujo caráter assinala uma nova relação à autoridade.

Não se preconiza, na apreensão aqui exposta, uma profilaxia da identificação ao ideal do eu para o sujeito em seu percurso subjetivo, apenas buscamos assinalar um diferencial nas formas de sofrimento que prevalecem como resposta ao mal-estar contemporâneo. Pode-se afirmar que na época de Freud o sujeito padecia de um código moral rígido em seu percurso subjetivo, culpabilizando-se pelos furos desse código (neurose obsessiva) ou queixando-se desses furos (histeria). Tais códigos hoje evanescem ou não assumem valor de ideal - a não ser em suas variações mínimas - fazendo surgir na contemporaneidade formas peculiares de sofrimento que implicam modalidades diferenciadas de se organizar e se estabilizar perante tais instabilidades radicais.

Nesse sentido, o percurso da presente exposição visou, no cerne da discussão, distinguir o pai enquanto lei simbólica, do pai enquanto figura na família que ancora a saída identificatória do sujeito. Com efeito, cabe frisar que a instauração primordial da lei simbólica no primeiro tempo edipiano é condição para a constituição do ideal do eu na passagem do segundo para o terceiro tempo. Esta apreensão não implica que tais dimensões se confundam na análise da função paterna. Ou seja, a inscrição do sujeito na lei do desejo, não obstante ser o estofo para a construção da autoridade na trama familiar, não implica necessariamente as saídas identificatórias constitutivas do ideal do eu. Na mesma linha de pensamento, cabe assinalar que a evanescência do ideal do eu na atualidade, que tem como corolário as experiências de excesso frente ao mal-estar na cultura, não implica que a lei não esteja inscrita para o sujeito. O que se constata é uma posição perante a lei que vai colocar o sujeito numa condição outra na relação ao limite frente à fugacidade na construção da autoridade e das identificações secundárias, implicando-se aí um "desbussolamento" na busca pela satisfação pulsional.

Sobre isso cabe frisar que o que se evidencia hoje, na concepção aqui exposta, é o declínio da autoridade ao nível do ideal do eu - não da lei simbólica implicada na constituição do desejo. Trata-se da imago paterna que, desde a desconstrução do patriarcado, com a ascensão do discurso científico, tem como efeito as formas de gozo na contemporaneidade.

Nesse contexto, o que se constata é uma diferença na relação do sujeito com a Ordem Simbólica, perante a evanescência do ideal do eu que instaura para o primeiro a dificuldade atual de colocar no bolso o título do pai. É nesse nível que o sujeito desnorteia-se perante a privação real e própria castração.

Cabe então apontar que na atualidade o pai, em muitos casos, não se apresenta como suporte da lei (não a "suporta"), apesar da inscrição simbólica desta última, o que resulta na própria negação do ideal. Isto acontece, diríamos, ao nível da privação, que assinala uma relação diferenciada com a autoridade e o limite na experiência pulsional, em se tratando de neurose. Nessas condições o posicionamento subjetivo diante do desejo se torna uma condição ainda mais difícil de sustentar, quando o que se constata é uma constância de ofertas sociais e mercadológicas fugazes que prometem, sem sucesso, a satisfação imediata ao nível da pulsão, bem como o reencontro impossível com o objeto perdido.

Essas considerações pontuam a importância de se colocar em discussão o que se entende ou se define por declínio da função paterna na contemporaneidade. Trata-se, a nosso ver, de distinguir as diferentes dimensões que o pai assume na constituição do sujeito, características da pluralização dos Nomes-do-Pai efetuada por Lacan, (2005), bem como na própria configuração familiar dos dias de hoje.8 Situa-se, de um lado, o lugar da lei simbólica que engendra o desejo e transmite a castração, fundando-se o interdito como condição da civilização, e de outro lado, o ideal do eu que ancora as identificações secundárias na passagem do segundo para o terceiro tempo edipiano, numa relação intrínseca à privação.

Nesse sentido, poderíamos dizer que a lei simbólica continua a produzir seus efeitos de inscrição da castração, situando a neurose no contexto da formação do laço social. Não se trata de uma supressão da civilização. O que se evidencia são novas formas de laço social e de enfrentamento do mal-estar. Com efeito, as experiências de excesso características da depressão e das compulsões atuais embora apresentem uma tendência à dissolução do laço social (Herzog, 2003), insistem na busca pelo limite na forma de um "apelo ao pai".

Portanto, ao invés de abordar a questão pela via da "falência do simbólico", ou da destituição dos laços sociais, preferimos pensar modalidades outras de laço, ou tentativas de ligação na economia do gozo e seus imperativos. De uma maneira mais precisa, busca-se aqui situar a questão das mudanças subjetivas no aspecto da formação do ideal do eu como uma das funções do pai, ou como um dos Nomes-do-Pai, cujos efeitos assinalam formas diferenciadas de gozo na atualidade, bem como novas configurações familiares que colocam em questão a relação dos filhos com a autoridade na trama familiar. É pertinente, portanto, dar preferência ao termo Funções Paternas, no plural, em privilégio de uma concepção unívoca que engessa as apreensões teóricas sobre a relação ao Outro na constituição do sujeito.

Nesse âmbito, a própria concepção de família deve ser pensada a partir dos parâmetros éticos do ponto de vista teórico e clínico, cuja direção se assinala pela sustentação desejante de cada sujeito perante o mal-estar cultural (Lacan, 1997). Esta discussão é intrínseca à constituição da cultura pré-figurativa cujo estatuto intervém na assunção dos filhos na própria relação de poder perante os pais (Mead,1979).

Para concluir, apontamos o caráter indispensável de uma investigação pormenorizada sobre a relação entre o ideal do eu e a privação como uma das formas da falta de objeto, à medida que esta última aparece ao nível do real, mobilizando a instauração do ideal do eu, tal como nos demonstrou Lacan (1999). Esta constatação se acha inteiramente coadunada à análise das formas de gozo na clínica contemporânea, à medida que a privação parece assumir um aspecto peculiar na dialética desejante, bem como nas formas contemporâneas de gozo e seus imperativos, cujas experiências de excesso assinalam o caráter diferencial que o sujeito estabelece hoje na relação ao limite. Este tema merece aprofundamento investigativo na direção do debate sobre as novas configurações familiares no século XXI, muito característica dessa valoração da figura dos filhos na relação com os pais, cujo delineamento teórico está longe de ser esgotado ou plenamente solucionado. Tal discussão deve ser pensada sob os parâmetros teórico-clínicos, de maneira a situar o lugar da psicanálise contemporânea perante as modalidades de sofrimento psíquico que se assinalam na atualidade.

 

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Endereço para correspondência:
Rogerio Quintella
Universidade Federal Fluminense (PUCG) - Rua José do Patrocínio, nº 71
Campos dos Goytacazes/RJ. CEP: 28010-385
E-mail: rrquintella@hotmail.com

Recebido em: 27/05/2012
Revisado em: 19/06/2014
Aceito em: 04/11/2014

 

 

1 Apoiado em Freud, Lacan definirá a lei simbólica como o caráter interditor primordial que transmite a castração e inscreve o sujeito na dialética desejante (Lacan, 1995). Retomaremos esse ponto adiante, quando adentrarmos as considerações de Lacan sobre o tema.
2 A concepção de Freud aqui é filogenética, aspecto que será repensado por Lacan quando este último pensador propõe pensar esta questão para além da dimensão mítica do pai, localizando o caráter estrutural que a própria linguagem engendra na relação do sujeito ao significante (Lacan, 1992).
3 A exposição que se segue sobre a teoria lacaniana visa fundamentar nossa concepção para o desenvolvimento do tema aqui abordado.
4 Lacan situa aqui, portanto, a instância da lei simbólica como aquilo que opera a interdição ao gozo e a nomeação do desejo materno, dando lugar simbólico à falta e promovendo a transmissão da castração. Na psicose a foraclusão do Nome-do-Pai impede o sujeito de entrar na dinâmica edipiana, à medida que o Nome-do-Pai fica rejeitado - Verwerfung (Lacan, 1985). A foraclusão é o regime que fundamenta a psicose, sobrevindo o delírio como uma tentativa de organização que o Nome-do-Pai sustentaria na trama da cadeia significante, no caso de sua inscrição simbólica.
5 Miller situa o início desse "desbussolamento" na passagem do sistema de produção agrícola para o industrial. No primeiro o homem era regido por parâmetros naturais bem definidos, no segundo, abre-se a uma inquietação sobre as variações daquilo que é ofertado pela produção industrial como objeto de consumo (Miller, 2004).
6 A Criança Maravilhosa é um conceito desenvolvido por Serge Leclaire que caracteriza o fundamento da experiência "primária" do narcisismo, "(...) é uma representação inconsciente primordial, na qual se entrelaçam, mais densos do que em qualquer outra, os anseios, nostalgias e esperanças de cada um" (Leclaire,1975, p. 11). A Criança Maravilhosa aparece na obra de Leclaire como posição subjetiva à qual o sujeito é convocado a renunciar a fim de sustentar sua condição desejante. Assinalamos que a renúncia à Criança Maravilhosa no complexo edipiano funciona atrelada à instauração do ideal do eu que opera, tal como observou Freud, (1914/1996b), o afastamento do narcisismo primário.
7 Sendo assim, os casos de psicose não se incluem na discussão aqui reaçlizada sobre experiências de excesso, posto que o que se acha em questão na psicose é a foraclusão.
8 Lacan relativiza o conceito de Nome-do-Pai no avanço de seu ensino, quando pluraliza esse termo, assinalando a forma singular como cada um pode se servir das diferentes versões do pai em sua trajetória (Miller, 2005). Remetemo-nos à afirmação de Miller, que fundamenta a concepção aqui exposta, de que "o imaginário, o simbólico e o real, eis os verdadeiros nomes-do-pai" (Miller, 2005, p. 8).

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