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Revista Subjetividades
Print version ISSN 2359-0769On-line version ISSN 2359-0777
Rev. Subj. vol.21 no.1 Fortaleza Jan./Apr. 2021
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i1.e10936
ESTUDO TEÓRICOS
A "masculinidade tóxica" em questão: uma perspectiva psicanalítica
The "Toxic Masculinity" in Question: A Psychoanalytic Perspective
La "Masculinidad Tóxica" en Cuestión: Una Perspectiva Psicoanalítica
La « Masculinité Toxique » en Question : Une perspective Psychanalytique
Yukimi Mori MesquitaI; Hevellyn Ciely da Silva CorrêaII
IGraduanda do curso de Psciologia - Formação do Psicólogo na Universidade Federal do Pará (UFPA)
IIPsicanalista, professora adjunta da Universidade Federal do Pará, mestre e doutora em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
RESUMO
O trabalho desenvolvido teve como objetivo investigar a "masculinidade tóxica", termo que ganhou destaque e uso corrente para se referir à violência e à virilidade como características próprias ao masculino. Seu desenvolvimento consistiu em uma ampla pesquisa bibliográfica, que levantou questões acerca do masculino na psicanálise, direcionando-se às obras de Freud e Lacan, e as possíveis relações com as teorias de gênero. Partindo de uma noção não essencialista acerca da masculinidade, levantamos a hipótese de que a noção de homem ou masculino na psicanálise pode ser pensada a partir de, pelo menos, duas perspectivas: a primeira delas corresponde à tentativa de confirmação do semblante homem, no qual a violência aparece como uma tentativa de reparação do rasgo no semblante masculino; a segunda, a partir da noção de gozo fálico que, ao produzir um conjunto "todohomem", exibe as contraditórias tentativas de unificação deste conjunto, diante das quais a violência e a virilidade são reconhecidas como características que mantêm a ilusão de unidade. Com este exercício de pensamento, consideramos que lançar luz sobre a complexa dinâmica que se condensa no adjetivo "tóxico", retira-o do caráter insidioso e inescapável presente em seu uso, possibilitando a formulação de outros posicionamentos possíveis para o exercício da masculinidade.
Palavras-chave: masculinidade tóxica; gênero; psicanálise.
ABSTRACT
The work developed aimed at investigating "toxic masculinity", a term that has gained prominence and is currently used to refer to violence and virility as characteristics that are typical of men. Its development consisted of extensive bibliographic research, which raised questions about the male in psychoanalysis, addressing the works of Freud and Lacan, and the possible relations with gender theories. Starting from a non-essentialist notion about masculinity, we raise the hypothesis that the idea of man or masculine in psychoanalysis can come from at least two perspectives: the first of these corresponds to the attempt to confirm the male countenance, in which violence appears as an attempt to repair the tear in the male face; the second, based on the notion of phallic enjoyment, which, when producing an "all-man" set, displays the contradictory attempts to unify this set, before which violence and virility are recognized as characteristics that maintain the illusion of unity. With this thought exercise, we consider this shedding light on the complex dynamics that condenses in the adjective "toxic" removes it from the insidious and inescapable character present in its use, allowing the formulation of other possible positions for the exercise of masculinity.
Keywords: toxic masculinity; genre; psychoanalysis.
RESUMEN
El trabajo desarrollado tuvo el objetivo de investigar la "masculinidad tóxica", título que ganó enfoque y uso frecuente para hacer referencia a la violencia y a la virilidad como características propias al masculino. Su desarrollo se basó en una amplia búsqueda bibliográfica, que identificó cuestiones acerca del masculino en el psicoanálisis, direccionándose a las obras de Freud y Lacan, y las posibles relaciones con las teorías de género. A partir de una noción no esencialista acerca de la masculinidad, planteamos la hipótesis de que la noción de hombre o masculino en el psicoanálisis puede ser pensada a partir de , por lo menos, dos perspectivas: la primera de ellas corresponde al intento de confirmación del semblante hombre, a lo cual la violencia surge como un intento de reparo del desgarro en el semblante masculino; la segunda, a partir de la noción de gozo fálico que, al producir un conjunto "todohombre", exhibe los contradictorios intentos de unificación de este conjunto, ante las cuales la violencia y la virilidad son reconocidas como características que mantienen la ilusión de unidad. Con este ejercicio de pensamiento, consideramos que lanzar luz sobre la compleja dinámica que se condensa en el adjetivo "tóxico", lo quita del carácter insidioso e ineludible presente en su uso, posibilitando la formulación de otros posicionamientos posibles para el ejercicio de la masculinidad.
Palabras clave: masculinidad tóxica; género; psicoanálisis.
RÉSUMÉ
Le travail développé visait à enquêter sur la « masculinité toxique », un terme qui a gagné en importance et en usage courant pour désigner la violence et la virilité comme des caractéristiques typiques des hommes. Son développement a consisté en une recherche bibliographique approfondie, qui a soulevé des questions sur le masculin en psychanalyse, abordant les travaux de Freud et Lacan, et les relations possibles avec les théories du genre. Partant d'une notion non essentialiste de la masculinité, nous soulevons l'hypothèse que la notion d'homme ou de masculin en psychanalyse peut être pensée à partir d'au moins deux perspectives: la première correspond à la tentative de confirmation du visage de l'homme, dans lequel la violence apparaît comme une tentative de réparer la déchirure de la physionomie masculine; la seconde, basée sur la notion de jouissance phallique, qui, lorsqu'elle produit un ensemble «tout-homme», affiche les tentatives contradictoires d'unifier cet ensemble, devant laquelle la violence et la virilité sont reconnues comme des caractéristiques qui entretiennent l'illusion d'unité. Avec cet exercice de réflexion, nous considérons qu'éclairer la dynamique complexe qui se condense dans l'adjectif « toxique », l'éloigne du caractère insidieux et incontournable présent dans son usage, permettant la formulation d'autres positions possibles pour l'exercice de la masculinité.
Mots-clés: masculinité toxique; genre; psychanalyse.
No fim da última década, a expressão "masculinidade tóxica" passou a ser utilizada para nomear, com tom crítico, o conjunto de comportamentos associados à suposta crença da superioridade masculina, a qual é acompanhada de uma agressividade insidiosa, que alcança os próprios homens e as pessoas com quem estes se relacionam. Pode-se relacionar a utilização do termo à ideia de envenenamento das relações sociais, e do próprio sujeito que performa essa imagem viril, exigida para se encaixar no padrão masculino.
A própria noção de masculinidade passou por diversas mudanças em sua forma de ser vivenciada durante a história da humanidade, enquanto a virilidade se manteve como aspecto indissociável à condição de ser homem e foi naturalizada como sua principal característica (Virgili, 2013). Isto fez com que imperasse um modelo ideal permeado por regras específicas apresentadas aos garotos desde muito cedo: não pode chorar, não deve demonstrar sentimentos ou sinalizar fraquezas e deve se afastar o máximo possível de características consideradas femininas. No entanto a busca por essa imagem ideal acabou por apresentar grande influência no adoecimento psíquico dos homens - de acordo com dados do Ministério da Saúde (2017), de 2011 a 2016, os homens correspondiam a 79% das mortes por suicídio.
Além disso, esse modelo de masculinidade acaba por apresentar o iminente risco de resultar em comportamentos violentos contra mulheres e pessoas LGBT+, o que consiste em um grande problema social enfrentado no Brasil. Tendo isto em mente, pode-se perceber que os homens correspondem aos sujeitos que mais cometem suicídios, ao mesmo tempo em que são os que mais praticam violência no ambiente doméstico e crimes relacionados à LGBTfobia. Nota-se, dessa forma, a presença de uma perturbação real que atinge essa esfera do masculino.
Como podemos notar nesta breve entrada ao tema em questão, tratar de masculinidade, associando-a ao termo "tóxica", já de princípio direciona a complexidade que as camadas sócio-históricas colocaram sobre o exercício da masculinidade. Assim como o próprio uso do termo abre diferentes questionamentos: tóxica para quem? Como lidar com a toxicidade quando ela encontra raízes sócio-históricas e particulares? Quais as consequências de se utilizar o termo "masculinidade tóxica" ao se referir a um amplo espectro que constitui a masculinidade ocidental? A masculinidade é inescapavelmente tóxica? Entre outros - que nos fazem, a partir da psicanálise, usar o significante dentro do sentido compartilhado e, ao mesmo tempo, interrogar esses sentidos.
Com o intuito de compreender a problemática levantada, entende-se que um estudo a partir da ótica psicanalítica seria de grande contribuição para investigar os mecanismos envolvidos na construção da imagem do ideal viril. Ademais, os estudos que abordam a masculinidade como objeto prioritário e que estão alicerçados na psicanálise ainda são poucos em comparação aos estudos sobre o feminino, o que não significa que não encontremos, na psicanálise, operadores clínicos e teóricos para pensá-la.
Se a noção de masculinidade não foi tomada enquanto objeto de estudo, como vimos em trabalhos sociológicos e antropológicos (Bourdieu, 1998/2019; Courtine, 2013), desde Freud a questão da diferença sexual não é tomada como algo da ordem natural, logo, a masculinidade, assim como a feminilidade, diz respeito a um traslado singular e não pode ser compreendida aprioristicamente. Na tentativa de compreender os meios pelos quais a masculinidade se constituiu, e que, na atualidade, ganha o adjetivo "tóxica", iremos adentrar àquilo que a psicanálise considera constitutivo do sujeito, a saber, o complexo de Édipo, utilizando, para tanto, uma investigação teórica que, como é próprio à psicanálise, tem sempre no horizonte as consequências clínicas, já que diz respeito ao sujeito do inconsciente.
Partindo da perspectiva psicanalítica, nosso trabalho seguirá no sentido de traçar uma linha que, de Freud a Lacan, possa nos dar pistas sobre o masculino. Para tanto, nos dedicaremos aos trabalhos freudianos sobre a dissolução do complexo de Édipo em meninos, que têm suas ressonâncias nas questões referentes à identificação e às escolhas de objeto, as quais também serão abordadas. Com o ensino de Lacan, tais questões terão importantes dimensões, na medida em que o autor tomar o homem como um semblante no discurso e, avançando nas questões sobre a sexuação, postular um modo de gozo fálico que, regulado pela exceção de ao menos um que não passe pela castração, busca fazer uma unidade do que seria o masculino. Assim, nos dedicaremos a pensar estas duas chaves de leitura em Lacan: o semblante homem e o gozo fálico.
Dentro desse percurso, buscaremos, ainda, fazer uma discussão com as teorias de gênero, sobretudo naquilo que elas sublinham de uma não naturalidade da masculinidade, buscando as possíveis aproximações que nos ajudem a pensar aquilo que o termo "masculinidade tóxica" condensa das complexas relações aí implicadas. Para iniciar tal trajeto, nos dedicaremos ao masculino na psicanálise.
O Masculino na Psicanálise
A psicanálise foi responsável por trazer à tona a influência da sexualidade inconsciente na formação psíquica subjetiva, ao tratar da sexualidade não colada exclusivamente às práticas eróticas, mas se mostrando como realização de desejo inconsciente nas formações do inconsciente, Freud (1905/2017, 1900/2018a, 1901/2018b), desde seus primeiros escritos, nos mostra que a pulsão faz torções naquilo que seria da ordem do natural. Nesse sentido, a partir das noções de sexualidade e de pulsão, os trabalhos freudianos acerca da diferença sexual e da dinâmica edípica (Freud, 1923/2011a, 1924/2011b, 1925/2011c), em que a questão do masculino e feminino aparecem com maiores contornos, se manterão na contramão de leituras essencialistas e se interessarão pela dimensão inconsciente da sexualidade.
A partir disso, podemos dizer que mesmo os estudos de Freud sobre a dinâmica edípica em garotos acabaram por não focar nas questões relativas ao que, em termos atuais, chamamos de gênero ou identidade sexual, conquanto o autor já afirmava no texto Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos (1925/2011c, p. 298): "(...) a masculinidade e a feminilidade puras permanecem sendo construções teóricas de conteúdo incerto". Como meio de compreender essa construção, Freud nos oferece possíveis entradas a esse debate a partir da dinâmica edípica.
O Complexo de Édipo
Como dito anteriormente, temos algumas notícias da masculinidade na obra freudiana a partir do complexo de Édipo, enquanto dinâmica estruturante do sujeito, no qual o aprofundamento das questões próprias a esta tem por referência a criança do sexo masculino. Em A organização genital infantil (1923/2011a), Freud introduz o conceito do complexo de castração, perante o qual o garoto passa a temer a perda do próprio pênis - ao perceber e aceitar como verdadeira a diferença anatômica entre si e as mulheres -, levando-o a evitar comportamentos que podem ter conduzido aqueles indivíduos a perderem os seus. De acordo com o autor, "sabe-se igualmente em que grau a depreciação da mulher, o horror da mulher, a disposição à homossexualidade derivam da convicção definitiva de que a mulher não possui pênis" (Freud, 1923/2011a, p. 173).
Pode-se inferir que esse comportamento de rejeição diante de características socialmente reconhecidas como femininas pode se estender pela vida adulta, incluindo a recusa em se aceitar como indivíduo detentor de fragilidades e certas emoções supostamente restritas às mulheres e/ou a violência voltada contra tudo que detém características associadas à feminilidade. A observação da falta de pênis nas mulheres, no entanto, não é generalizada pois "(...) o menino acha que apenas mulheres indignas, provavelmente culpadas de impulsos proibidos como os dele, teriam perdido o genital" (Freud, 1924/2011b, p. 174).
Assim, as teorias infantis levantadas a partir da diferença sexual, como tentativas de lidar com a castração, ligam a falta de pênis das meninas às condutas que seriam socialmente interpretadas como indignas e, nesse movimento, tanto se desvelam os impulsos proibidos do menino quanto se direciona o castigo a outrem: as mulheres. Podemos pensar aí alguns elementos do que, em termos culturais, compreende-se como objetificação e inferiorização do sexo feminino, o que estaria na base de comportamentos violentos e, longe de justificar uma coisa pela outra, nos mostra que não podemos pensar esse problema da violência masculina a título exclusivamente social, mas que também demarca a própria dinâmica edípica em seu caráter inconsciente.
A observação do genital feminino traz outra consequência: o deparar-se com o risco da castração como algo real, de modo que a percepção dessa ameaça leva a duas possíveis reações, como apontado por Freud (1925/2011c, pp. 290-291): "Essa conjunção leva a duas reações, que podem se tornar fixas e então, separadamente ou juntas, ou em conjunção com outros fatores, determinarão permanentemente sua relação com as mulheres: aversão à criatura mutilada ou triunfante menosprezo dela". Novamente, notamos o movimento de ligar a diferença sexual a alguma construção simbólica, constituída com os recursos infantis, a seu respeito.
De uma falta de pênis no corpo, a criança do sexo masculino chega a interpretações dessa falta e atitudes sustentadas a partir daí, apontando o que o ensino de Lacan irá referir aos três registros, cuja a incidência da castração se dá no real, o corpo sem pênis; no simbólico, a suposição de que todos têm pênis, já que este representa o falo, cuja mutilação justifica sua ausência no corpo feminino; e no imaginário, ao tomar a imagem corporal feminina por aquilo que ela não tem para representar o falo (Lacan, 1956-1957/1995). Como podemos notar nessa breve passagem de Freud a Lacan, as saídas edípicas carregam a complexidade própria ao sujeito do inconsciente, cuja diferença sexual tem consequências psíquicas que não podem ser respondidas unicamente pelo corpo fisiológico.
Assim, diante da castração como aquilo com o qual o sujeito tem a ver, o garoto toma as mulheres como seres castrados, e o horror daí decorrente se associa à inferiorização do feminino. Além disso, o medo da castração pode ser entendido como crucial para o afastamento de características associadas à feminilidade. Essa leitura acerca do feminino como abjeto, algo que deve se manter longe, pois atualiza a castração masculina, deu origem a grandes discussões acerca da feminilidade na psicanálise - com autoras como Horney (1924) e Klein (1928) - e, para nossa discussão acerca da masculinidade tóxica, lança interrogações sobre os efeitos da castração a partir da diferença sexual, efeitos estes que se precipitam sobre o masculino e o feminino.
Nesse sentido, sendo adjetivada ou não como "tóxica", a masculinidade só pode ser pensada a partir da dinâmica edípica como algo que se oferece enquanto possibilidade de separação, trazendo consigo uma perda, a qual é acompanhada de tentativas de simbolização. Essa perspectiva do complexo de Édipo, em seu caráter estruturante, aponta para a dimensão fantasiosa presente nas maneiras de dar um estatuto simbólico à falta, uma vez que esta não se sustenta nas saídas imaginárias a partir de um atributo corporal. Logo, as teorias infantis, levantadas para lidar com a castração, têm sua importância menos pelo conteúdo, que aos olhos adultos parece absurdo, e mais por revelarem a sustentação do desejo que é próprio à fantasia
O movimento de dar um estatuto simbólico à falta está intimamente vinculado a um importante elemento da dinâmica edípica: o falo, que surge na pena freudiana em correlação com a anatomia, mas que esta, seja com um pênis, ou seja com uma vagina, nunca dá conta do que seria ou quem teria o falo. O caráter simbólico do falo será sublinhado por Lacan (1958/1998) no que diz respeito às operações desse significante, que encontra no corpo possíveis amparos, mas não suficientes, de tal modo a oferecer uma paragem para o medo da castração e igualmente a afirmar. Com Lacan, o falo deixa de ser tomado como objeto - como fizeram alguns autores pós-freudianos - e só pode ser compreendido em sua função, pois, nas palavras do autor:
O falo é aqui esclarecido por sua função. Na doutrina freudiana, o falo não é uma fantasia, caso se deva entender por isso um efeito imaginário. Tampouco é, como tal, um objeto (parcial, interno, bom, mau etc.), na medida em que esse termo tende a prezar a realidade implicada numa relação. E é menos ainda o órgão, pênis ou clitóris, que ele simboliza. E não foi sem razão que Freud extraiu-lhe a referência do simulacro que ele era para os antigos. (Lacan, 1958/1998, pp. 696-697)
Retirando, portanto, qualquer possibilidade de substancialização do falo, é enquanto um significante que ele pode ser pensado a partir de sua função que, conforme continua Lacan (1958/1998, p. 697), "é o significante destinado a designar, em seu conjunto, os efeitos de significado", ou seja, promove efeitos de sentido sem, contudo, neles se fechar ou estar a priori, por isso sua referência ao simulacro, como um engodo que tem efeitos de verdade sobre aqueles que o cultuam.
Adentraremos com maior atenção à questão do falo como significante mais adiante e, para o ponto em que estamos em nossa discussão, destacamos a complexidade que o falo coloca para o menino, quando ele busca se manter fálico. Pela impossibilidade dessa manutenção, o complexo de Édipo encontra sua dissolução, na qual os desejos incestuosos e parricidas são substituídos pelo supereu, instaurando assim um agente vigilante que, ao mesmo tempo em que se liga aos desejos mais primários, aos quais deve sua gênese, faz forte barreira a esses desejos (Freud, 1924/2011b). Essa disposição do supereu fará com que outros objetos - que não o materno incestuoso - sejam eleitos, assim como permitirá contribuições culturais por meio de uma consciência de culpa que, segundo Freud, quando comparada ao supereu feminino, é mais rigorosa pela maior contribuição sádica das pulsões sexuais.
Essa dinâmica, ocorrida na puberdade, poderia, grosso modo, ser pensada como plano de fundo para o desenvolvimento do exercício da virilidade associada à superioridade masculina e a comportamentos violentos. E aqui novamente os pontos da cultura e do sujeito se entrelaçam, fazendo com que a virilidade e a violência contenham em si algo da dissolução do complexo de Édipo, bem como de elementos culturais, os quais demandam de homens posições de maior destaque público, em oposição ao privado demandado da mulher.
Diante dos mecanismos mencionados, na dinâmica edípica e no cenário histórico, pode-se notar que aquilo que hoje chamamos identidade de gênero, que associa cada sexo a determinadas características culturalmente compartilhadas, não se encontra naturalmente ligada ao sexo biológico de um sujeito, tampouco se limita a uma coerção social, mas resulta de um trabalho psíquico relativo ao desenvolvimento da sexualidade. Partindo desse trabalho psíquico, somos encaminhados àquilo que seria um legado da dinâmica edípica, a saber, a identificação e as escolhas de objeto, as quais podem nos ajudar a pensar a questão da masculinidade.
Escolhas de Objeto e Identificações
Para explorar melhor as características das saídas edípicas dos homens, Freud aborda em Um tipo especial de escolha de objeto feita pelo homem Freud (1910/2013a) um tipo de escolha objetal baseada em duas condições: a precondição da existência de um terceiro prejudicado e a preferência por mulheres consideradas promíscuas. A partir dessa escolha, os homens passam a cobrar de si uma fidelidade, a qual é repetidamente burlada, e apresentam uma ânsia por salvar a mulher amada - salva-a por não a abandonar e a salva dos perigos oferecidos por sua própria promiscuidade.
Essas condições e desdobramentos da escolha de objeto possuem a mesma origem psíquica das demais maneiras de se posicionar no amor: a fixação infantil de ternura pela mãe. De acordo com Freud (1910/2013a), quando a libido permanece ligada à mãe mesmo depois do início da puberdade, as características maternas acabam por se alocar no objeto amoroso. Daí parte também a compreensão de que a eleição de uma série de objetos amorosos decorre, portanto, da tentativa de substituir algo insubstituível: a relação com a mãe.
A busca por relacionamentos triangulares, assim, deriva do complexo de Édipo, quando a criança depreende o fato de a mãe amar o pai, como um aspecto indissociável da essência da mãe, sendo o terceiro prejudicado, na atualização via escolha objetal, ninguém menos que o próprio pai (Freud, 1910/2013a). Dessa forma, a escolha pela mulher considerada promíscua se alicerça em outra reflexão feita pelo garoto ao tomar conhecimento da existência de uma vida sexual entre os adultos: com a compreensão das relações de "venda de sexo" como uma maneira de subsistência de algumas mulheres, um misto de horror e desejo toma conta desse garoto e, não podendo mais se vendar diante da face sexual da própria mãe, o garoto chega à conclusão de que esta e uma prostituta não são, afinal, tão diferentes assim (Freud, 1910/2013a).
Diante dessa compreensão, o garoto manifesta novamente os desejos incestuosos e parricidas próprios à dinâmica edípica, pois passa a desejar a mãe e considerar o pai como um rival que impede a realização desse desejo, considerando uma infidelidade o fato de a mãe ter concedido o privilégio da relação sexual ao pai e não a ele. As fantasias acerca da infidelidade da mãe passam então a ser as preferidas do garoto, o que posteriormente surge, diz Freud (1913/2013b), como uma tentativa de manter a distância entre as correntes afetiva e sensual, visando impedir que o indivíduo sinta prazer sexual ao se relacionar com um objeto que lhe suscita afeto - justamente por sua ligação com o objeto incestuoso.
Essas construções freudianas, que à primeira vista podem soar caricatas para pensar a relação do homem em suas parcerias amorosas, têm suas atualizações na escuta clínica, sobretudo em quadros de neurose obsessiva - com a divisão do objeto amoroso e as racionalizações que a acompanham -, e até mesmo na cultura, a exemplo das imagens femininas construídas pela mídia, que vão de um extremo de erotização a um ideal de pureza em torno da mulher.
Outra questão importante a destacar nessas reverberações da dinâmica edípica na vida adulta, que contribui sobremaneira para a construção da masculinidade, é a identificação que, de acordo com Freud (1921/2016), é a maneira mais primordial de uma ligação com outra pessoa; é também por meio dessa primeira identificação que o sujeito pode direcionar a libido a outros objetos. Esse mecanismo ocorre durante o complexo de Édipo, quando o menino percebe que o pai bloqueia seu acesso à mãe e passa a representar, consequentemente, um incômodo. Por conseguinte, passa a direcionar certa hostilidade ao pai, justamente pelo desejo de substituí-lo junto à mãe, dinâmica que Freud situa em diferentes obras e Lacan irá explorar para pensar o Édipo em três tempos. Nas palavras do autor:
Essa agressão parte do filho, na medida em que seu objeto privilegiado, a mãe, lhe é proibido, e se dirige ao pai. E retorna para ele em função da relação dual, uma vez que ele projeta imaginariamente no pai intenções agressivas equivalentes ou reforçadas em relação às suas. (Lacan, 1957-1958/1999, p. 175)
Assim, a agressividade direcionada ao pai irá se associar à identificação com o mesmo, fazendo com que estes dois movimentos, agressividade e identificação, estejam presentes na formação do supereu, no qual essas intenções agressivas, citadas por Lacan, irão se precipitar como agente moral. Além dessas funções normatizadoras na estrutura moral do sujeito e em suas relações com a realidade, a identificação advinda do Édipo possui um importante papel no imaginário em torno do masculino, pois, segundo Lacan (1957-1958/1999, p. 171): "A virilidade e a feminização são dois termos que traduzem o que é, essencialmente, a função do Édipo. Encontramo-nos aí, no nível em que o Édipo está diretamente ligado à função do Ideal do eu".
Nesse sentido, a função do ideal do eu é oferecer uma imagem de completude, também referente a um ideal de identidade sexual, promovendo uma organização do Eu e o antecipando, ou seja, os ideais viris masculinos se oferecem nesta dupla operação: dão uma unidade ao eu e vêm antes dele (Danziato & Souza, 2014). Essa dupla operação, que chamamos de identificação imaginária, faz com que, pela identificação com o pai, o indivíduo assuma os ideais viris, tão intrinsecamente associados à masculinidade. Dessa forma, pode-se considerar que os aspectos associados a esse ideal viril partem do objetivo de tomar o lugar do pai, de superá-lo e, por fim, possuir seu objeto, o qual remonta à relação mais primordial com a figura materna. O sujeito constrói uma imagem de um ideal do eu que, em sua completude, reflete ao indivíduo faltoso o que ele deveria ser para conseguir esse objetivo.
O pai da horda de Totem e Tabu (Freud, 1913/2013b), o qual ocupa um lugar de pai gozador e detém acesso exclusivo a todas as fêmeas da horda, principais fontes de alimentação e melhores terras, poderia representar, dessa forma, essa imagem de completude primordial, como a maneira que o indivíduo tem de finalmente superar o pai em todos os aspectos tomando o seu lugar. As referências ao poder por meio da posse e troca de mulheres, que podemos pensar como componente da toxicidade do masculino moderno ocidental, é tratado por autoras, como Federici (2017) e Rubin (1975/1993), como um importante elemento político para assunção do capitalismo, porém não é exclusivo desse sistema econômico. Desse modo, a organização política e as relações afetivas e sexuais mostram-se intimamente implicadas, como na análise freudiana do mito da horda primitiva.
A noção "masculinidade tóxica", nesse sentido, encontra diferentes possibilidades de leitura dentro da psicanálise freudiana, assim como questões sócio-históricas também oferecem importantes pistas para se pensar a construção da masculinidade. Para compreender como essas leituras podem encontrar pontos de convergência e divergência, que ajudem a pensar o problema da "masculinidade tóxica", buscaremos articulações entre a psicanálise e as teorias de gênero.
Possíveis Articulações entre a Psicanálise e as Teorias de Gênero
A partir do século XX, principalmente depois da Grande Guerra, a sociedade ocidental vem sendo convocada a refletir sobre o que é o homem (Courtine, 2013). Há uma inclinação a responder a essa pergunta baseada na perspectiva do homem como sujeito universal e da noção de homem como sujeito masculino - representado em oposição ao que é ser mulher. Essa reação, diz Ambra (2014), demonstra exatamente a problemática noção de masculino, a qual parece se encontrar enrijecida em conceitos autoexplicativos.
Desde a Antiguidade, adotava-se o modelo de sexo único para pautar as teorias sobre a diferença sexual, segundo o qual se compreendia a mulher como uma inversão do homem, o qual seria então o único sexo, tendo o modelo binário surgido somente no século XVIII (Laqueur, 2001). Assim, de acordo com Laqueur (2001, p. 19), "o sexo, ou corpo, deve ser compreendido como epifenômeno, enquanto que o gênero, que nós consideraríamos uma categoria cultural, era primário ou 'real' [grifo do autor]". Dessa forma, pode-se dizer que o questionamento sobre a categoria homem, como sujeito da diferença sexual em oposição à mulher, corresponde a uma inscrição histórica.
Historicamente, estudos tendo a masculinidade como categoria de análise no campo da psicologia e da psicanálise ainda são encontrados em menor número quando comparados às produções acerca da feminilidade. Uma das justificativas para essa conjuntura seria a consideração da existência de uma masculinidade essencial, ignorando a dimensão de construção da categoria (Ambra, 2014), ou seja, ao falar do sexo como algo imediatamente percebido, ignora-se a construção social daquilo que, ao se associar ao sexo biológico, também define o que é o masculino.
Partindo dessa perspectiva, a palavra "gênero" foi responsável por expandir as possibilidades de estudo dessa categoria nas ciências humanas, tendo sido o conceito difundido baseado em uma teoria das identidades sexuais. De acordo com Joan Scott (1989, p. 7), "o uso do 'gênero' coloca ênfase sobre todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas que não é diretamente determinado pelo sexo nem determina diretamente a sexualidade". Para a autora, gênero poderia ser definido como "(...) um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, (...) uma forma primeira de significar as relações de poder" (Scott, 1989, p. 21). Logo, o gênero lança luz sobre as construções identitárias individuais sublinhando o caráter político de tais construções.
Em contrapartida, entre a ciência médica parece não haver a preocupação em adequar o conceito de "gênero" ao desenvolvimento dos debates no campo das ciências humanas. Entre manuais diagnósticos, se encontra a "disforia de gênero" como uma patologia associada a uma "(...) incongruência acentuada entre gênero experimentado/expresso e o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos seis meses (critério A)" (American Psychiatric Association [APA], 2014, p. 452). Observa-se, portanto, que a palavra "gênero" é utilizada como sinônimo do sexo biológico, na medida em que este é agora chamado de gênero designado.
Notamos assim uma diferença radical nos discursos acerca do gênero: de um lado, a autonomia do gênero em relação ao sexo, cujo fator social mostra-se preponderante nessa autonomia; de outro lado, o uso do termo gênero para se referir à diferença biológica, patologizando a construção do gênero a partir da fisiologia. Entre um ponto e outro, a psicanálise surge como modo particular de compreender a noção de gênero por outras vias, que não a biologia ou os modos dominantes de representação social: pulsional e de objeto, ou seja, por meio das posições sexuadas (masculina ou feminina) e pelo desejo de ser ou ter o objeto do desejo.
Nesse sentido, a noção de gênero não é tomada pela psicanálise como em outros âmbitos, sendo o próprio termo "gênero" externo ao vocabulário psicanalítico, ainda que dele façamos uso por reconhecermos a importância dos debates em torno de sua construção. Essa relação de exterioridade faz com que a psicanálise adentre ao debate de forma tardia se comparada a outros campos de saber, como a história, mas tal entrada é munida de operadores próprios, advindos da clínica e da teoria que a partir dela se produz, para tomá-lo fora da seara exclusivamente biológica ou social.
Apesar da importância dada por Freud à questão anatômica, a qual pode remeter a um biologismo, sua obra permite diferentes perspectivas quanto à problemática, como já apresentamos anteriormente. De acordo com Laplanche e Pontalis (1982/2001, p. 273), no verbete masculinidade - feminilidade: "Freud sublinhou a variedade dos significados abrangidos pelos termos 'masculino' e 'feminino'. Significado biológico (...) Significado sociológico (...) Por fim, significado psicossexual [grifos dos autores]". Dessa maneira, se os dois primeiros significados parecem anteriores às postulações freudianas, e o autor os reconhece como constitutivos da masculinidade e feminilidade, o psicossexual traz consigo as descobertas da psicanálise acerca da dinâmica sexual e seu laço com a cultura.
Ao adotar a prevalência do falo como aquilo que meninos e meninas buscam algum correlato corporal, notou, desde então, este paradoxo: o falo está fora da realidade anatômica, mas a anatomia, em sua incapacidade de representar o falo, oferece distintas respostas a essa busca. Sendo assim, partindo de Freud, pode-se pensar no processo de constituição sexual como algo referenciado às representações formuladas diante do complexo de castração e do processo edípico, e não decorrente do corpo biológico.
Essa perspectiva pode ser vista como uma aproximação entre os campos da psicanálise e dos estudos de gênero, apesar das distâncias que também marcam a relação entre eles. Essa proximidade, que muitas vezes parece difícil de estabelecer a partir dos textos freudianos sobre a diferença sexual e o complexo de Édipo, terá maior alcance com o ensino de Lacan. Influenciado pelo estruturalismo, a linguística, a filosofia e a lógica, Lacan busca, em seu retorno a Freud, responder algumas questões sobre a dinâmica edípica. Nessa busca, o autor confere um caráter estrutural ao complexo de Édipo e ao complexo de castração, de modo que o pai presente na obra de Freud é substituído pela função paterna, uma operação simbólica que não diz respeito necessariamente à figura masculina e heterossexual (Lacan, 1957-1958/1999).
Dessa maneira, o complexo de Édipo, que desde Freud tem tamanha importância para compreender a subjetividade, com o ensino de Lacan não pode ser pensado sem o caráter simbólico, que inclui as construções de sentido que antecedem o sujeito, de tal modo que o uso dos signos de virilidade e agressividade, para dar sentido ao masculino, permeiam também a constituição do sujeito. Com o devido cuidado de não fazer disto uma leitura simplória do sujeito e da cultura, podemos dizer que o gênero, enquanto construção identitária que é também política, participa do caráter linguajeiro que é próprio ao Outro, ou seja, faz parte da cadeia simbólica que o antecipa, e, ao mesmo tempo em que parece lhe conferir um caráter inescapável, é justamente nessa cadeia que é possível promover furos nos sentidos já conferidos.
Nessa perspectiva, que sublinha o caráter simbólico do complexo de Édipo, outra questão importante em nosso debate também alcança importância por seu estatuto simbólico: o falo, do qual já tratamos de forma breve anteriormente, mas que agora será mais bem explorado para nos ajudar a pensar as aproximações com discussões atuais acerca do gênero e da identidade sexual.
O Significante Fálico como Operador da Sexualidade: Da Resposta à Diferença Sexual ao Semblante
A partir de Lacan, a questão da diferença sexual deixa de ser compreendida como consequência psíquica das diferenças anatômicas entre homens e mulheres, e passa a dizer respeito ao posicionamento diante da lei simbólica - a interdição do pai que incide sobre o desejo da mãe, no processo edípico. Com base nessa concepção, pode-se pensar ainda mais a masculinidade como algo dissociado de aspectos biológicos ou de uma construção social exclusiva. Para Lacan (1972-1973/2008a), o homem é o sujeito totalmente determinado pela função fálica.
Diferenciando-se da interpretação de Freud, em alguma medida referida ao substrato anatômico, o autor francês associa a construção da subjetividade a determinações da linguagem, permitindo uma aproximação da discussão entre a psicanálise e as teorias de gênero, ao pensar a diferença sexual em termos de sexuação, ou seja, de posições de gozo toda ou não toda regidas pelo falo (Lacan, 1972-1973/2008a), conforme abordaremos mais à frente. Por conseguinte, a identidade sexual é pensada a partir da castração, como em Freud, pois assume que toda normatividade se organiza em torno da falta por ela instaurada, porém, o avanço de Lacan está em vincular essa falta não a uma possibilidade de preenchimento, mas ao caráter paradoxal do falo, em que as próprias tentativas de preenchimento denunciam o caráter faltoso, ou seja, o falo como atributo traz consigo o testemunho da falta simbólica, da qual ele é significante.
Ao tratar de castração, a função fálica assume grande importância, já que, de acordo com Lacan, no plano das relações sexuais (inexistentes), a função do falo seria o único fator relevante, pois, no inconsciente, os sujeitos não se reconhecem a partir dos atributos masculino ou feminino (Lacan, 1968-1969/2008b), mas pela posição diante da função fálica. Dessa maneira, interessa menos se um homem nascido com um pênis se identifica com os traços da masculinidade, e mais o quanto esse movimento de identificação está regulado por uma tentativa de totalização, pois tal tentativa dá a ver uma regulação simbólica que busca fazer conjunto e, ao mesmo tempo em que sustenta uma unidade entre aqueles que sob ela se mantém, mostra o caráter artificial na própria tentativa.
Outra forma de compreender a importância fundamental da função fálica para a relação entre seres sexualmente identificados corresponde à possibilidade de todos os sujeitos falantes se posicionarem em relação à mulher na histeria ou ao senhor/mestre na neurose obsessiva (Ambra, 2014, p. 184). Nessa conjuntura, afasta-se de noções naturais e biológicas no que diz respeito às relações sexuais e se estabelece um modelo lógico-formal: "Isso [a realidade cromossômica] não tem absolutamente nada a ver com aquilo de que se trata, e que tem um nome perfeitamente enunciável: as relações entre o homem e a mulher" (Lacan, 1971/2009, pp. 29-30). O que se trata, portanto, são as relações entre homem e mulher, porém, tais relações não dizem respeito à realidade cromossômica, o que nos encaminha a tentar compreender a que se refere o uso dos termos homem e mulher, que não a uma diferença demarcada geneticamente. Nas palavras do autor:
O importante é isso: a identidade de gênero não é outra coisa senão o que acabo de expressar com estes termos, 'homem' e 'mulher'. É claro que a questão do que surge precocemente só se coloca a partir de que, na idade adulta, é o próprio destino dos seres falantes distribuírem-se entre homens e mulheres. Para compreender a ênfase depositada nessas coisas, nesse caso, é preciso nos darmos conta de que o que define o homem é sua relação com a mulher, e vice-versa. Nada nos permite abstrair essas definições do homem e da mulher da experiência falante completa, inclusive nas instituições em que elas se expressam, a saber, no casamento. (Lacan, 1971/2009, pp. 30-31)
O psicanalista pontua, nesses termos, a condição significante no uso dos termos "homem" e "mulher", em que nenhum possui sentido em si, mas sempre referido ao outro, construindo assim os significados comuns e as falhas nesses significados, o que é próprio à cadeia simbólica. Dessa maneira, a divisão prévia de todos os sujeitos falantes em dois significantes, homem e mulher, exerce influência no processo de formação das identidades de gênero, pois o uso desses significantes está atrelado a sentidos já estabelecidos, conforme nos referimos anteriormente em relação aos signos que compõem os sentidos conferidos à masculinidade no ocidente.
A divisão sexual, portanto, não pode ser pensada sem o caráter próprio à linguagem. A partir disso, Lacan (1971/2009) estabelece o discurso como semblante, ou seja, que a aparente naturalidade com que ele se oferece aos sujeitos escamoteia algo próprio ao discurso, a saber, o gozo. Nessa condição de semblante que é o discurso, Lacan (1971/2009) situa a mulher em um lugar especial, como a "hora da verdade", por pontuar a equivalência entre gozo e semblante, ou seja, por deixar às claras aquilo que o semblante fálico busca esconder.
Seguindo esse raciocínio, Lacan afirma ainda que o que constitui a relação com a mulher, para o homem, corresponde ao fato dele parecer homem, ou seja, à confirmação de seu semblante (Lacan, 1971/2009). Notamos, assim, que a dimensão da aparência toma grandes proporções no ensino de Lacan, uma vez que ela está diretamente vinculada ao discurso e seus efeitos, isto pode nos ajudar a pensar acerca da noção de "masculinidade tóxica" que aqui debatemos.
Ao notarmos a abrangência do discurso masculino amparado nas noções e signos relacionados à virilidade, a qual é amplamente difundida por meios de comunicação de massa, por exemplo, podemos considerar esta uma tentativa de manutenção do semblante homem. Tal semblante, portanto, carrega uma série de sentidos atrelados a construções sociais, as quais são adotadas pelos sujeitos como uma maneira de reafirmar essa imagem e lidar com a castração. Com isso, notamos o caráter de antecipação do discurso, com suas premissas que associam o significante homem ao significante viril e suas múltiplas ordenações de comportamento, ao mesmo tempo em que deixa às claras a permeabilidade do discurso, que se denuncia justamente nas constantes tentativas de garantir o semblante masculino a partir da virilidade.
Portanto, um sujeito que nasce biologicamente homem não assume o semblante masculino ao se perceber homem ou portador de um pênis, mas, retornando a Freud a partir de Lacan, ao constatar a existência de outros seres que não o possuem, e todo o semblante discursivo que acompanha essa diferença. A proposição dessa noção resulta em um aprimoramento do trabalho acerca da diferença sexual, e assim guarda uma semelhança com a noção de gênero enquanto construção social em torno do sexo (Scott, 1989). Porém não se iguala à noção de gênero, pois considera o caráter inconsciente próprio ao sexo que, em última instância, não consegue encontrar um semblante que garanta a sua totalidade, eis aí a dimensão de gozo que o discurso e o semblante carregam. Essa impossibilidade do discurso tudo dizer sobre o sexo, encaminha o ensino de Lacan aos aspectos lógicos nas fórmulas da sexuação, conforme iremos nos dedicar a seguir.
Masculino e Gozo Fálico
Com a concepção de semblante no discurso para dar conta da diferença sexual, já notamos um avanço que aponta a complexidade do tema do homem e da mulher enquanto significantes. Essa complexidade levará Lacan a postular que, diante da dúvida acerca da garantia de existência do homem, ele só poderia existir na qualidade de "todohomem", ou seja, um significante. Nesse sentido, não apenas um significante isolado, como no semblante homem, mas pertencente a um conjunto cujo "todohomem" viria representar (Lacan, 1968-1969/2008b).
Essa noção de "todohomem" como significante referente ao masculino não é sem relação com a questão sobre a identificação anteriormente debatida em Freud, a partir de Totem e Tabu, pois, pensada a partir do pai totêmico, a universalidade referente aos homens surge quando, diante do pacto dos irmãos da horda, a impossibilidade gerada se aplica a todos os sujeitos definidos como homens. Contudo tal impossibilidade só existe porque houve ao menos um, o pai da horda, sobre o qual essa regra não se aplicou, fundando a lei para todos os (outros) homens (Lacan, 1971/2009).
Nesse momento, Lacan admite o sexo a partir de desenvolvimentos lógico-formais, ao invés de fundamentá-los em conceitos externos, como a biologia, a história ou a cultura (Ambra, 2014). Diante disso, as compreensões acerca do masculino e do feminino passam a ser cada vez mais amparadas na lógica não aristotélica, de modo que a linguagem tenta fazer suplência ao gozo sexual, porém este nunca a permite de todo. Diante da impossibilidade de complementariedade, Lacan (1968-1969/2008b) diferencia o gozo masculino - fálico - e o gozo feminino - gozo Outro, em que novamente a função fálica alcança grande importância: um gozo todo regulado pela função fálica e um "não-todo" por ela regulado, como o quadro da sexuação nos mostra:
O lado esquerdo do quadro, no qual nos deteremos para nosso tema de debate, mostra a construção lógico formal do que seria o gozo fálico: na parte superior, a primeira linha demonstra a condição de existência a partir da exceção, em que existe um X não regulado pela castração demarcada pelo falo (ɸ), que faz com que, na segunda linha, para todo X, componente do grupo, o falo (ɸ) opere como significante. Estamos diante de um conjunto instaurado pela exceção do pai totêmico. Já na parte de baixo do lado Homem, vemos $, sujeito barrado, direcionar-se ao objeto a, posicionado do lado mulher, deixando ver a fantasia ($ <>a) que regula o desejo sempre faltoso, e ainda a presença do Φ que, estando do lado Homem, é alvo também de uma seta advinda do lado mulher, mostrando que os dois diferentes modos de gozo têm relação com o falo.
Dessa maneira, podemos compreender a ordenação via significante fálico, que referimos ao masculino como tentativa de coesão em um conjunto, ao mesmo tempo em que, quando se trata de desejo via fantasia, estamos todos do lado masculino, enquanto sujeito barrado referido ao objeto causa do desejo, e da mediação simbólica feita pelo falo (Φ). Assim, por se colocar a todo sujeito como faltoso, o falo faz com que todos tenham sua cadeia simbólica regulada pela função fálica, mostrando que as modalidades de gozo estão abertas a todos os sujeitos e não mantêm uma relação de exclusão entre si.
A função fálica, nesse sentido, está diretamente ligada às modalidades de gozo, em que a possibilidade de fazer conjunto regido por uma exceção demarcará o masculino enquanto posição de gozo fálico: "É possível propor a seguinte função de verdade: todo homem se define pela função fálica, sendo esta propriamente o que obtura a relação sexual" (Lacan, 1971-1972/2012, p. 43). Não se trata, portanto, de uma complementaridade entre masculino e feminino, mas de manter, cada um a sua maneira, a relação sexual sempre impossível.
A partir da sexuação, podemos pensar as tentativas de coesão para a manutenção do conjunto fálico, em que a violência e a virilidade, que demarcam certo pertencimento ao masculino no Ocidente, constituem as marcas que caracterizam tal conjunto. Nesse sentido, a "masculinidade tóxica" pode ser pensada como tentativa de garantir a manutenção de uma unidade masculina enquanto conjunto, amparado em ideais que permeiam o conceito de masculinidade e reiteram sua existência. Essas tentativas denunciam a falta, própria à função fálica, que visam tamponar, de tal modo que o caráter insidioso, contido no termo tóxico, revela justamente os efeitos do constante esforço em manter a unidade fálica.
Na psicanálise lacaniana, a diferença sexual passa, então, a ser entendida como uma posição de gozo diante da lei simbólica e, sob esse prisma, o masculino é apreendido como uma modalidade toda regulada pelo significante fálico. Para Lacan, o único fator relevante para definir o homem é ser todo determinado pela função fálica, portanto, assim como Freud, Lacan admite o homem como um efeito da diferença sexual, porém ela não está referida à anatomia, mas à sexualidade inconsciente, em que o gozo se coloca como usufruto que sinaliza o sexo como impossível.
Como podemos notar, ao tentarmos realizar possíveis leituras acerca da "masculinidade tóxica", direcionamo-nos às noções de masculino e homem na psicanálise, com o caráter significante que estes possuem. Nesse sentido, compreender os modos com que características como virilidade e violência, que compõem o que se chama de "masculinidade tóxica", se inserem na dinâmica do masculino - como aqui é compreendida - retiram qualquer possibilidade de naturalizá-las, tampouco ignora seus efeitos sobre o sujeito.
Considerações Finais
A compreensão da masculinidade como algo que se refere aos homens, mas que não encontra uma explicação biológica que justifique tal referência, fez com que, contemporaneamente, o termo "masculinidade tóxica" ganhasse destaque para se referir a características que estariam arraigadas e, muitas vezes, se confundiriam com a própria noção de masculino (Courtine, 2013). Para abordar o tema desde a psicanálise, lançamos algumas questões e possíveis leituras.
A partir de Freud, conforme vimos na primeira parte deste artigo, temos o trabalho acerca da dinâmica edípica como modo de compreender a masculinidade, com sua associação à virilidade e violência fora de uma naturalização. Não tomando tal associação como autoexplicativa, mas como interrogação de como se liga uma coisa à outra, a dissolução do complexo de Édipo em meninos nos direcionou à identificação e às escolhas de objeto como elementos que ajudam a compreender o caráter psíquico de características associadas ao masculino. Sem uma ligação de causalidade, destacamos a suspeita de que uma "masculinidade tóxica" não é sem relação com algo do sujeito, logo, tem uma dimensão inconsciente, seja ao reproduzi-la, seja ao dela escapar.
Nesse sentido, o termo "masculinidade tóxica", tão utilizado na atualidade, nos serviu de ponto a ser questionado, mais que de uso e reprodução preenchidos de sentidos. Nesse questionamento, o ensino de Lacan nos forneceu duas leituras possíveis, em que masculinidade foi pensada a partir do semblante homem e pela tentativa de unidade do conjunto masculino que, regulado pela exceção do pai totêmico, dá a ver uma posição de gozo fálico. As duas leituras oferecidas pelo trabalho lacaniano nos apontam um avanço em questões que estavam insinuadas na obra freudiana, mas que só puderam alcançar tais dimensões, que ajudam a pensar questões contemporâneas de identidade de gênero, a partir do estatuto significante do falo.
Ao tomar o falo como significante que representa a diferença sexual, a qual não se inscreve no inconsciente, senão por esse único significante, e também como significante da falta que aponta para o desejo, as operações com o falo guardam uma relação estreita com o campo da cultura, também ela atravessada pela linguagem, o que faz com que um e outro, o sujeito e a cultura, deem notícias do que pode servir como marca da diferença sexual e do desejo. Os sujeitos sexuados, uma vez que têm de se a ver com a partilha sexual, encontram nos limites do imaginário e do simbólico - próprios à cultura e ao sujeito - algum tratamento contingente, construindo, a partir daí, semblantes do que seria o homem e a mulher (Lacan, 1971/2009). A masculinidade, nesses termos, estaria na dimensão de semblante, cujos significantes nele contidos viriam dizer o que é o homem que, não mais tomado pela biologia, só pode ser pensado no discurso.
Também com os vetores do sujeito e da cultura a posição de gozo fálico oferece um modo de participar do que seria o conjunto dos "homens" por meio de signos de virilidade e agressividade e, para manutenção desse grupo, os reitera constantemente, pois, como é próprio ao significante fálico, ele demarca a falta justamente nas tentativas de coesão, fazendo com que o imaginário entorno do que seria a masculinidade mostre sempre seu teor de ficção. Esse caráter de ficção, contudo, não faz com que seus efeitos sejam facilmente destituídos, pois a dimensão da verdade aí se coloca e, uma vez que não se trata de uma mera oposição entre verdade e ficção, mostra a própria estrutura da verdade quando nos referimos à sexuação.
A partir dos dois caminhos de leitura baseados no ensino de Lacan, encontramos pontos de interseção com as teorias de gênero, nas quais o caráter de construção discursiva - tomado fora da dimensão inconsciente - se mostra evidente, retirando a masculinidade de uma posição monolítica. Ao lançar interrogações sobre sua gênese histórico-social, o que autoras como Scott (1989) e Butler (1990/2017) nos indicam é a constituição, inclusive epistemológica, de uma noção de homem que conjuga sujeito do conhecimento e identidade masculina, cuja performance liga masculinidade ao poder e à ordem pública, demandando dos homens a sustentação disso também por meio da virilidade e da violência.
Ainda que haja pontos dissonantes entre a psicanálise e os estudiosos do gênero e identidade sexual, sublinhamos o que ambas contêm de subversivo quando suspeitam, cada uma a sua maneira, de que não existe a masculinidade em si, como essência biológica ou cultural, mas que não podemos ignorar os efeitos dela sobre homens e mulheres cisgêneros e transgêneros. Assim, percebe-se a importância de realizar um diálogo entre a teoria psicanalítica e as teorias de gênero, com o intuito de consolidar a compreensão acerca dessa suposta inevitabilidade da violência viril vinculada ao masculino e, por conseguinte, ao "envenenamento" que a noção de "masculinidade tóxica" traz.
Nota-se, portanto, que lançar luz sobre a dinâmica da "masculinidade tóxica" é retirar a prática do âmbito insidioso, fazendo com que a investigação acerca dos mecanismos que resultam na idealização do modelo viril possa indicar novas maneiras de exercício da masculinidade. Apostamos, assim, em um trabalho que não se faz na individualidade, em uma denúncia de um ou outro homem como tóxico - o que oscila entre uma pedagogia e um diagnóstico a partir de determinadas condutas -, mas na operação que se faz na dobra entre sujeito e cultura, cujas singularidades daí decorrentes abrem sempre novas questões.
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Endereço para correspondência:
Yukimi Mori Mesquita
E-mail: yukimimesquita@ymail.com
Hevellyn Ciely da Silva Corrêa
E-mail: hevellyn@ufpa.br
Recebido em: 04/05/2020
Revisado em: 02/10/2020
Aceito em: 09/11/2020
Publicado online: 24/03/2021