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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.4 São Paulo Sep./Dec. 2014

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Palavras de despedida

Quando convidado a assumir a editoria da Revista Brasileira de Psicanálise, em finais de 2009, pelo então presidente da SBPSP Plínio Montagna, fiquei surpreso e agradeci honrado, mas confesso que intimamente fiquei bastante perturbado pela responsabilidade e magnitude da tarefa; embora houvesse trabalhado em outras revistas psicanalíticas, fosse um assíduo leitor de revistas nacionais e estrangeiras, e tivesse escrito e publicado artigos e teses, questionava-me se estaria à altura do desafio. Recebi estímulo de alguns colegas e também desencorajamento de outros, pela complexidade da tarefa.

Lisonjeado pelo convite e seduzido pela tarefa, aceitei o desafio. Mantive interessantes conversas prévias com editores de diferentes revistas psicanalíticas: queria me informar a respeito de como enxergavam o campo das publicações na nossa área, quais carências e necessidades viam frente ao alto número de publicações. Mantive estimulantes conversas com o editor anterior, Leopold Nosek, de quem recebemos uma revista moderna, com ótima diagramação e muito boa qualidade editorial.

Minha aspiração foi trabalhar conjuntamente com a equipe editorial no campo que hoje, a posteriori, posso definir como o da tensão criativa entre a novidade e a tradição, algo que reflete o estado clínico-teórico atual da psicanálise. Uma revista científica, para se tornar um legítimo fórum de discussão, precisa estimular a reflexão em torno dos fundamentos que sustentam as transformações na clínica, principalmente em contextos nos quais muitas vezes as crenças ou as adesões ideológicas impedem a reflexão e o livre exercício do pensamento. Como modalidade de gestão, criamos subcomissões atentas aos diferentes eixos: administrativo, temático, avaliação de trabalhos, interface, intercâmbio, resenhas e lançamentos. Determinamos também que a equipe deveria mergulhar nos temas abordados, de modo que a concepção temática dos números obedecesse a um processo criativo grupal. Procuramos ainda promover uma transformação qualitativa que só poderia vir a ser conquistada a partir de um projeto editorial que tivesse como garantia a autonomia editorial, um aprimoramento da avaliação anônima de trabalhos a serem publicados (duplo-cego) - ancorada na crítica construtiva aos autores -, uma representatividade da produção brasileira nas suas diferentes expressões, intensificando a troca com os editores regionais, e um diálogo fecundo com a pluralidade do pensamento psicanalítico mundial, assim como um olhar atento ao momento cultural e social em que estamos inseridos.

Uma atividade pela qual desenvolvemos especial interesse foi a promoção de espaços reflexivos sobre a escrita psicanalítica em congressos e jornadas específicas. Espero que este trabalho estimule futuros autores a compartilhar suas experiências e reflexões psicanalíticas através da escrita criativa e livre, o que de modo algum se contrapõe a qualidade. Acreditamos que o rigor do pensamento não se encontra na escrita burocraticamente correta, mas na qualidade do desenvolvimento das ideias, em sua ancoragem na experiência e no diálogo amplo com o campo do pensamento psicanalítico. Também destacamos o aumento e a constância das assinaturas externas à Febrapsi, mais um de nossos objetivos: levar a nossa revista a tantos jovens psicólogos, psiquiatras e analistas de outros espaços e grupos por todo o Brasil.

Hoje, transcorridos cinco anos de trabalho e vinte números editados, percebo a posteriori que me tornei editor no andamento da carruagem e com a colaboração inestimável de uma equipe, que contribuiu de modo admirável para a concepção e execução do nosso projeto. Agradeço a todos pelo carinho e pela dedicação! Deixo aqui meu agradecimento a Alice Paes de Barros Arruda, nossa editora associada e parceira de toda hora na tarefa editorial, a quem convidei para escrever algumas palavras de despedida na sequência deste editorial.

Deixamos a editoria satisfeitos com o trabalho realizado, gratos pelo inestimável apoio e pelo retorno recebidos dos nossos leitores e autores. Agradeço a Plinio Montagna e Nilde Parada Franch, presidentes da SBPSP, pelo apoio e pela confiança sempre renovados, e aos presidentes e delegados de todos os Grupos de Estudo e Sociedades componentes da Febrapsi. Sou grato também pela adesão, pelo estímulo e pelo apoio dos diferentes conselhos diretores da Febrapsi de que participei e dos seus respectivos presidentes: Leonardo Francischelli, Gleda Brandão de Araújo e Aloysio DAbreu. Outro agradecimento especial para nossos revisores e diagramadores, pela dedicação com que sempre nos brindaram, e também a nossa secretária, Nubia Brito, uma verdadeira integrante da equipe editorial, extremamente competente e zelosa.

Nossa sucessora será Silvana Rea, que, com vivo interesse e dedicação, participou da equipe editorial que agora se despede. Estamos confiantes de que seu percurso intelectual e sua capacidade de diálogo e trabalho auspiciam novos avanços e bons momentos para o futuro da RBP.

Seria difícil me despedir de vocês, caros leitores, sem fazer umas mínimas referências ao presente número. Destaco dois pontos:

a. O tema da sexualidade, com os múltiplos interrogantes que suscita na cultura e na clínica, há tempos merecia um número especialmente dedicado a ele - e estamos contentes de conseguir apresentá-lo. Questões de gênero, homoparentalidade, o lugar da sexualidade na constituição narcísica e identificatória, novas formas de prazer e de gozo, críticas à dimensão falocêntrica de certos aspectos da teoria psicanalítica, relação entre neossexualidades e acesso ao simbólico convocam o analista a sérias reflexões clínicas e teóricas. A sexualidade, eixo estrutural do pensamento psicanalítico desde os primórdios, encontra em vários dos trabalhos publicados considerações que, com certeza, irão estimular o leitor e suscitar novos avanços.

b. O tempo que nos toca viver é um tempo em que a violência também assume novas formas, desde a violência de Estado, nas ditaduras do passado e atuais, até o ódio pelo diferente, que, quando estimulado, libera forças destrutivas difíceis de conter e sela destinos de populações em distintas latitudes do planeta. Como nós, analistas, nos posicionamos em face deste montante de destrutividade? A entrevista com Yolanda Gampel, destacada analista argentino-israelense, apresenta sua experiência de mais de trinta anos com analisandos vítimas ou descendentes de vítimas da Shoah, assim como com as vítimas do conflito árabe-israelense - um testemunho comovente. Na seção Interface, publicamos um instigante trabalho sobre os limites do perdão que dialoga com os temas abordados por Gampel.

Por fim, aos leitores e aos autores que nos seguiram nessa trajetória, nosso particular agradecimento. O editor procura ser uma ponte entre vocês, colocá-los em contato, e, assim como o curador de arte, ajuda a tornar visível, através de uma lógica estética e de uma forma expositiva, a matéria criativa que tem a seu dispor. Tomara tenham apreciado nossa curadoria ao longo destes anos, feita com responsabilidade, reflexão e carinho.

Despeço-me de vocês com as palavras de Italo Calvino em As cidades invisíveis, que de certo modo sintetizam o papel que coube a cada um de nós e que tornou esta empreitada possível.

Diálogo imaginário entre Marco Polo e Kublai Khan:

Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.

- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? - pergunta Kublai Khan.

- A ponte não é sustentada por essa ou aquela pedra - responde Marco -, mas pela curva do arco que elas formam.

Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta:

- Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.

Polo responde:

- Sem pedras o arco não existe.

A todos, uma boa leitura!

Bernardo Tanis

Editor


 

Mais algumas (e últimas) palavras

No final de 2014, encerramos com enorme satisfação cinco anos de trabalho na Revista Brasileira de Psicanálise.

Com tantos periódicos à disposição do público leitor, realizar uma revista com identidade própria, dinâmica, ágil, consistente, criativa e moderna foi um grande desafio. Nosso desejo era produzir uma publicação com atrativos que estimulassem o leitor a não se limitar apenas a folheá-la, mas sim a lê-la de ponta a ponta, convertendo-a em importante instrumento de trabalho e de consulta.

Para isso, foi montada uma equipe editorial com grande potencial, pessoas com experiência e formação diversificadas que garantissem a heterogeneidade e a troca necessárias à oxigenação do trabalho, porém unidas pelo mesmo sonho: tornar ainda melhor o que já era bom.

Assim, dúvidas, responsabilidades, receios e apostas foram compartilhados. Com foco no leitor, buscamos reflexões que alargassem o conhecimento e que pudessem encubar novidades na comunidade psicanalítica, geradoras de novas pesquisas e produções em psicanálise. Um projeto ousado que exigiu muito empenho, dedicação e cuidado.

As reuniões da equipe editorial foram marcadas por conversas acaloradas, discussões interessantes e por vezes criativas, acompanhadas pelo prazer das descobertas: novos temas, novos autores (estrangeiros ou não), novos textos. Foi muito bom trabalhar com um grupo altamente qualificado, em que foi possível fazer amigos, encontros para além da psicanálise, aliar trabalho, humor e até mesmo diversão! Uma experiência enriquecedora de aprendizado e também de convívio e maturidade institucional.

Aos presidentes da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Plinio Montagna e Nilde Parada Franch, e especialmente ao editor, Bernardo Tanis, com quem desenvolvi uma interlocução fértil e parceria significativa, o agradecimento pela confiança depositada no convite para o cargo de editora associada.

Meu reconhecimento a cada uma das Comissões da RBP, em especial aos integrantes da Comissão de Avaliação, que tive a honra de coordenar, pelo incansável trabalho junto aos autores e pareceristas que tanto nos ajudaram. Estes, com sua inestimável colaboração, possibilitaram o desenvolvimento de uma respeitosa comunicação com os autores, ancorada nas minuciosas avaliações dos artigos enviados para publicação. A eles, também, minha gratidão.

Lembro ainda o importante apoio da Febrapsi e dos editores regionais, que garantiu a autonomia necessária à execução de nossos projetos.

Com acertos e erros, tenho a convicção de termos escrito uma página na história da RBP; um trabalho conjunto que envolveu uma ampla equipe de profissionais competentes, garimpados com cuidado, a quem agradeço, da secretária Nubia Brito aos revisores, diagramadores e tradutores, que abraçaram nossa causa e se dedicaram para obtermos um sempre maior aprimoramento.

Favoráveis à renovação de ideias e equipes, estamos entregando uma revista dinâmica à nova gestão da RBP, desejando à nova equipe toda sorte e sucesso!

Um grande abraço a todos e um feliz 2015!

Alice Paes de Barros Arruda

Editora associada

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