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Revista Brasileira de Psicanálise
Print version ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.55 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2021
EDITORIAL
Plenárias de Vancouver e reflexões teórico-clínicas
Claudio Castelo Filho
Editor. São Paulo / claudiocasteloeditor@rbp.org.br
Este é o primeiro número sob a égide do novo corpo editorial. É com grande satisfação, e ao mesmo tempo dando-me conta da responsabilidade envolvida, que inicio esta empreitada. Estou assessorado por um corpo editorial de pessoas muito sérias e perspicazes, destacando-se Elsa Vera Kunze Post Susemihl, editora associada, como valiosa companheira de árduo trabalho. Nosso intuito é prosseguir com a evolução deste prestigioso periódico científico, visando aumentar cada vez mais o seu alcance e relevância.
Agradecemos todo o apoio que tivemos de antigos editores com quem conversamos, dos quais obtivemos valiosas informações para iniciarmos nossa jornada: João Baptista Novaes Ferreira França, Elias Mallet da Rocha Barros, Leopold Nosek, Bernardo Tanis, Silvana Rea e Marina Massi.
Consideramos este um número de transição entre a gestão passada e o nosso projeto editorial para esta gestão, que será apresentado em sua forma definitiva a partir do próximo número. Neste primeiro, publicaremos os trabalhos das plenárias do lii Congresso Internacional de Psicanálise da ipa, a ser realizado em Vancouver, e alguns artigos que já haviam sido avaliados para a publicação pela gestão passada, mas que não encontraram espaço nos números anteriores. Foram escolhidos para a publicação, pela atual equipe, por terem pontos em comum com os artigos das plenárias e também entre si.
O número 2 deste ano terá como tema A escrita da experiência clínica e seus dilemas na atualidade e será constituído por trabalhos que levem em conta essa temática e por outros que estamos recebendo e avaliando. Aguardamos que muitos colegas tenham se sentido estimulados a nos enviar suas reflexões, tanto sobre a temática proposta como sobre outros temas provindos dos próprios interesses, e contamos receber a produção de artigos provenientes de todas as partes do país. Vale lembrar que eles precisam sempre levar em conta os padrões exigidos e esperados pela Revista Brasileira de Psicanálise e estar de acordo com as orientações aos colaboradores, que constam no final deste volume, destacando as questões de confidenciabilidade e sigilo do material clínico para que se mantenha nos mais altos parâmetros de avaliação de um periódico científico.
As quatro plenárias de Vancouver têm como tema O infantil, que é desenvolvido pelos autores de forma bastante extensa, considerando vários vértices desse termo: seu histórico e seus diferentes usos na neurociência, na literatura, nas artes e, principalmente, na psicanálise. Nas apresentações de Jorge Canestri, Bernardo Tanis e Bonnie Litowitz, é feita uma retrospectiva aprofundada sobre o termo e sobre como ele é tratado por inúmeros autores de grande relevância. Ressalta-se o lugar do infans como aquele que não tem fala e das dimensões psíquicas que estão no campo do não verbal, discutindo-se de diferentes formas como apreendê-lo através da construção, da imaginação e da experiência intersubjetiva, ressaltando-se também sua existência perene ao longo de distintos reordenamentos e ressignificações. Já Glen Gabbard sublinha a presença do infantil na experiência de término da análise, acentuando sua intensidade ao estudar a defesa contra ele.
O trabalho de Ester Hadassa Sandler articula-se com os precedentes ao tratar do atendimento de uma criança de 3 anos de idade, enfatizando, na questão edípica, algo que costuma ficar como pano de fundo, mas cuja importância estruturante a pandemia lhe possibilitou abordar: a peste.
Marta Úrsula Lambrecht mantém o diálogo ao falar de lembranças e acontecimentos arcaicos da infância que se intrometem e se inscrevem sem serem reprimidos, deixando restos de memória, e ao considerar a peste como elemento significativo.
O artigo de Edival Antonio Lessnau Perrini também tem relação com os primeiros por ressaltar os aspectos não verbais da experiência analítica, assinalando os fatos ocorridos no campo comum entre analista e analisando que não são abarcados pelas associações do último. Propõe o termo criação como uma evolução da elaboração e o desenvolvimento de uma linguagem de emoção, a partir de ideia formulada por Celia Fix Korbivcher.
Stephanie Brum, baseando-se na obra de Ferenczi, Balint e Winnicott, propõe uma modalidade de prazer que não está associada à ideia de economia psíquica ou de descarga. Partindo do conceito de anfimixia de Ferenczi, supõe uma sexualidade infantil que não visa alcançar a genitalidade. Considera a existência de um prazer terno e do orgasmo do ego, que não estaria associado à sensualidade, como algo a ser levado em conta na situação edípica.
Por fim, João A. Frayze-Pereira revisita o famoso artigo de Freud sobre Leonardo da Vinci, que considera de grande relevância para o desenvolvimento do pensamento clínico freudiano, bem como para o campo estético, a despeito das críticas feitas a vários aspectos dele. Elias Mallet da Rocha Barros comenta o artigo de Frayze-Pereira, desenvolvendo uma instigante reflexão em que relaciona o tipo de interpretação proposta sobre a obra de arte com o que se passa durante uma sessão analítica.
Boa leitura.