EDITORIAL

 

Neste ano de 2004, nosso Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia recebeu sua primeira turma de Doutorado, depois de ter sido aprovado pela CAPES. Esse reconhecimento foi o produto de um trabalho árduo e sistemático de professores que, no dia-a-dia, se revelaram como pertencentes a uma equipe com objetivos acadêmicos definidos e assumidos. De certa forma, revela um comprometimento dos professores com o Programa e um desejo de contribuir para o desenvolvimento da área de Avaliação em Psicologia de forma organizada e constante.

Ao lado desse sabor de reconhecimento acadêmico por seus pares, em razão de um trabalho acadêmico desenvolvido com qualidade, há um aumento da responsabilidade por mais essa tarefa. Não apenas por ser o primeiro Mestrado e Doutorado exclusivamente na área de Avaliação em Psicologia no Brasil, mas também pela necessidade de se revigorar uma parte da Psicologia que não tem sido muito valorizada em termos de pesquisa, de formação profissional e de atuação de professores universitários.

Mesmo sendo uma área com profissionais bastante competentes, eles estão espalhados por algumas universidades brasileiras e, muitas vezes, desenvolvendo trabalhos isolados. Nesse sentido, o empenho do IBAP para congregar os profissionais que escolheram dedicar sua carreira acadêmica a esse segmento da psicologia foi e é da mais alta relevância e sua continuidade deve ser pensada e alimentada com carinho. Não se pode esquecer o excelente trabalho e alto nível dos estudos apresentados no último congresso promovido pelo IBAP, indicador de que se trata de uma área com preocupação e pesquisa de alto nível.

Nesse sentido a Universidade São Francisco também procurará contribuir. Estamos organizando para maio de 2004 o 1o Seminário Brasileiro de Teoria de Resposta ao Item, na cidade de Itatiba-SP. A estrutura deste Seminário contará com conferências e cursos ministrados por professores nacionais e estrangeiros, como também oferecerá espaço para uma sessão de painéis.

Neste ano de 2004 tivemos mudanças em nosso Conselho Editorial. Nos sentimos honrados e felizes em passar a contar com o apoio das professoras doutoras Acácia A. Angeli dos Santos e Ana Paula Porto Noronha. Entretanto, é com um sentimento de perda que queremos agradecer a colaboração dos professores doutores Ricardo Primi e Claudette Maria Medeiros Vendramini.

Apesar dessas mudanças, sob a responsabilidade do Programa de Estudos Pós-Graduados de Psicologia da Universidade São Francisco, a revista Psico-USF continuará sendo publicada com a preocupação de atender às várias teorias e enfoques investigativos, pois possui um corpo de revisores nas mais diferentes linhas teóricas e segmentos da psicologia. Entretanto, dos 11 artigos publicados neste número, cinco deles se referem diretamente a contribuições na área de Avaliação em Psicologia.

Assim, preocupadas com o setor elétrico de uma companhia energética, Viviane de Oliveira Baumgartl e Elizabeth do Nascimento relatam os resultados de uma pesquisa para o estabelecimento de normas para uma bateria de avaliação da inteligência, direcionada para essa clientela. Ao lado disso, o texto A Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5) aplicada a um contexto organizacional mostra resultados que revelaram correlações significativas entre as idades dos sujeitos, a escolaridade e o desempenho geral na prova.

Para construir e fornecer evidências de validação para uma escala de satisfação em relacionamento de casal, João Fernando Rech Wachelke, Alexsandro Luiz de Andrade, Roberto Moraes Cruz, Robson Brino Faggiani e Jean Carlos Natividade relataram seu estudo no texto Medida da satisfação em relacionamento de casal. A análise fatorial possibilitou uma estrutura de dois fatores, quais sejam, Atração Física e Sexualidade e Satisfação com Afinidades de Interesses e Comportamentos, com índices de consistência interna considerados satisfatórios.

O interesse de Sandra Cristina Mallar e Cláudio Garcia Capitão por instrumentos para avaliar a qualidade de vida profissional dos professores de alunos portadores de necessidades especiais está retratada no texto Burnout e hardiness: um estudo de evidência de validade. Concluíram pela validade concorrente entre os instrumentos Maslach Burnout Inventory e o Personal Views Survey e que os três participantes que não mostravam hardiness, apresentaram burnout.

Para fechar esse conjunto de contribuições para a Avaliação em Psicologia, Rubén Ledesma aponta um problema bastante comum em relação ao uso do coeficiente alfa de Cronbach, uma das formas mais comumente usadas para estimar a precisão de provas baseadas na Teoria Clássica dos Testes. Trata-se da estimação de intervalos de confiança. Em seu texto, AlphaCI: un programa de cálculo de intervalos de confianza para el coeficiente alfa de Cronbach, apresenta um programa desenvolvido dentro do sistema estatístico ViSta, que permite calcular esses intervalos de confiança por meio da técnica bootstrap.

Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla, Fernando César Capovilla e Joceli Vergínia Toledo Soares fornecem os dados preliminares de validação com crianças de 1a a 4a séries do ensino fundamental para a Prova de Consciência Sintática, no texto Consciência sintática no ensino fundamental: correlações com consciência fonológica, vocabulário, leitura e escrita. As evidências encontradas dizem respeito, principalmente, ao efeito significativo da série escolar para os escores em consciência fonológica, competência de leitura, escrita sob ditado e vocabulário.

Com a preocupação de investigar o crescimento da psicologia do desenvolvimento como campo de pesquisa no Brasil, Luciana Karine de Souza, Gustavo Gauer e Cláudio S. Hutz produziram e relataram os resultados de seu estudo no texto Publicações em psicologia do desenvolvimento em dois periódicos nacionais na década de 1990. Seus resultados indicaram uma concentração da produção no Estado de São Paulo e em universidades públicas, com a prevalência de artigos empíricos, de estudos com crianças e adolescentes, e do uso de técnicas de análise descritivas.

Outra análise da literatura produzida e publicada no Brasil foi realizada por Luiza Cristina Mauad, Maria do Carmo Guedes e Roberta Gurgel Azzi no texto Análise do comportamento e a habilidade de leitura: um levantamento crítico das publicações no JABA. Pela identificação dos delineamentos, das variáveis experimentais, das variáveis de observação, dos tipos de reforçadores empregados e do objetivo de cada intervenção, concluíram que múltiplas possibilidades de atuação podem ser usadas em aulas de leitura, com resultados positivos no aumento da performance do aluno.

O craving, entendido como um desejo de utilizar uma substância, foi pesquisado por Renata Brasil Araújo, Margareth da Silva Oliveira, Maria Lúcia Tiellet Nunes, Luciane Benvegnu Piccoloto e Wilson Vieira Melo. No texto A avaliação do craving em alcoolistas na síndrome de abstinência, estudaram os primeiros três dias de abstinência e relataram correlação positiva com a gravidade da dependência. Discutem a necessidade de se conhecer as características do craving de alcoolistas para ampliar as técnicas de prevenção de recaída.

Com vista a examinar os benefícios de utilizar Análises de Redes Sociais no campo da exploração sociobibliométrica, Jorge Ricardo Vivas apresenta sua análise no texto Análisis de redes sociales de la información sociobibliométrica. A proposta foi ilustrada por um estudo realizado por Peiró y Carpintero (1981) e mostrou a utilidade de se usarem as propriedades reticulares de densidade, centralidade, intermediação, poder e agrupamento como indicadores para obter informações diferentes das extraídas pelos métodos clássicos.

Solange Epelboim examinou a configuração de ser judeu no texto Identidade judaica: formação, manutenção e possível modificação à luz da Psicologia Social. Os resultados de sua pesquisa indicaram presença comum de categorias entre ashkenazim e sefaradim e sugeriram que ser judeu compreendia aspectos religiosos e culturais, como também que nos processos de formação, manutenção e modificação predominaram fatores culturais e educacionais; religiosos, emocionais e sociais.

A perspectiva evolucionária no estudo do comportamento humano, com base na etologia, é tratada no texto Etologia humana: o exemplo do apego, de autoria de Plínio Marco De Toni, Caroline Guisantes De Salvo, Marcos César Marins e Lidia Natalia Dobrianskyj Weber. Defenderam sua contribuição para a compreensão do comportamento humano e discutiram essa possibilidade em relação ao desenvolvimento do apego, relacionando pressões seletivas, cuidados parentais e o surgimento da instituição familiar.

Este volume oferece também três resenhas. Adriana Cristina Boulhoça Suehiro comenta com muita propriedade e experiência o livro Estudante universitário: características e experiências de formação (Cabral Editora e Livraria Universitária). Por sua vez, Alexandre José Raad sugere como interessante leitura o livro Psicologia hospitalar (Guanabara Koogan). E, finalmente, Marina Liberalesso Néri aconselha a visita ao livro Velhice bem-sucedida: aspectos afetivos e cognitivos (Papirus).