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Psychê

Print version ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) vol.10 no.19 São Paulo Dec. 2006

 

EDITORIAL

 

Uma rápida incursão nos títulos de artigos e de livros em português em nossa área, e seus conteúdos, deixa-nos uma forte impressão que o foco de interesse deslocou-se do âmbito clínico para questionamentos de cunho cultural e comunitário. O tom é crítico, demonstrando uma preocupação com os modos de vida contemporâneos. Nota-se, também, que os autores retomam as vozes críticas de filósofos e de críticos da atual cultura ocidental. Surge a pergunta &– se tal quadro reflete uma diminuição da demanda clínica e/ou se na verdade trata-se de um pensamento oriundo dos enquadres psicanalíticos, que não encontra tanta relevância das inteligibilidades clínicas e metapsicológicas para se situar e se posicionar diante das vicissitudes assistidas no tempo contemporâneo.

Uma diminuição da demanda da clínica psicanalítica não condiz, a nosso ver, com a realidade, a despeito da preocupação crescente dos colegas a este respeito. Quanto à segunda questão, acreditamos que há lugar para uma preocupação: embora Freud tenha sido o autor que mais se indagou sobre o sujeito dentro de um contexto cultural &– “a psicologia individual é uma psicologia social”, reafirmava ele &– existe atualmente uma tendência bastante acentuada, que busca referências e embasamentos fora do universo analítico e sua metapsicologia. Lembramos que em quase todos os textos de Freud a partir de 1920 &– notadamente nos livros O eu e o isso (1923), O futuro de uma ilusão (1926) e O mal-estar na cultura (1930) &–, o autor forneceu, em linhas bastante precisas, um arrazoado sobre o essencial daquilo que hoje enxergamos, através dos críticos atuais, como as mazelas da contemporaneidade. Entretanto, as considerações de Freud são frutos do observatório clínico e da metapsicologia a ele associada. Insistimos sobre isso, pois é a partir daí que podemos contribuir. Privilegiamos contribuições que seguem o pensamento psicanalítico.

Vários artigos que integram este novo número da revista lidam com temas de interesse atual, como a antropologia, a arte, a intersubjetividade, a reprodução assistida e as neurociências; porém, todos tomam como referência o trabalho e o pensamento psicanalítico. Outros são voltados para temas da psicopatologia e da metapsicologia, como a depressão materna, os traços de caráter patológicos, o desejo inconsciente em gravidezes não planejadas, a interpretação e a hermenêutica, e por fim, a causa inconsciente.

Daniel Delouya
Editor