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Pensando familias

Print version ISSN 1679-494X

Pensando fam. vol.20 no.2 Porto Alegre Dec. 2016

 

ARTIGOS

 

Casais homoafetivos femininos: demandas do ciclo vital familiar e aceitação social

 

Female homosexual couples: demands of family life cycle and social acceptance

 

 

Daniela Waseda1, I ; Lilian Lofego2, II, III ; Marianne Ramos Feijó3, IV ; Ulisses Herrera Chaves4, V, VI ; Nelson Iguimar Valério5, VI

I Prefeitura de Limeira/CEMA - Centro de Especialização Municipal do Autista. CEMA/Prefeitura de Limeira
II Unimed de Araras
III Clínica Ciclos em Araras, SP
IV Universidade Estadual Paulista, UNESP, Bauru
V Universidade Paulista - UNIP, Bauru
VI Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - SP - FAMERP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho consiste em um estudo qualitativo sobre as demandas relacionais e pertinentes ao ciclo vital familiar de casais homoafetivos femininos, com referencial teórico sistêmico novo-paradigmático. O método adotado foi o estudo de casos múltiplos, com realização de entrevista biográfica, entrevista semiestruturada e utilização de questionário sobre o ciclo vital da família brasileira, adaptado de Cerveny e Berthoud. As entrevistas foram áudio-gravadas, transcritas na íntegra e submetidas à análise de conteúdo temático. O estudo permitiu observar que casais de mulheres que se casam e/ou constroem relacionamentos estáveis na atualidade, vivenciam desafios semelhantes aos casais heterossexuais. Difere a importância da rede social para o acolhimento e pertencimento a um grupo e a vivência do preconceito pelas participantes. Assim, considera-se importante que profissionais compreendam a dinâmica interacional dos casais que os procurem, independentemente da orientação sexual dos cônjuges, para o desenvolvimento das práticas terapêuticas e preventivas adequadas e cientificamente fundamentadas.

Palavras-chave: Casais homoafetivos, Ciclo vital, Família.


ABSTRACT

This work consists in a qualitative study about the relational and relevant demands of family life cycle of female same-sex couples with a new-paradigm systemic theoretical frame. The adopted method was the multiple-case study, which involved biographical interview, semi-structured interview and a questionnaire about cycle life of Brazilian family, adapted from Cerveny and Berthoud. Interviews were audiotaped, fully transcribed and submitted to thematic content analysis. The study showed that women couples who marry and/or build stable relationships today experience challenges similar to heterosexual couples. It is different the importance of social network for the reception and belonging to a group and the experience of prejudice by participants. Thus, it is important that professionals understand the interactional dynamics of couples who search them, regardless of the sexual orientation of the partners, for the development of appropriate and evidence-based therapeutic practices.

Keywords: Homoaffectivecouples, Life cycle, Family.


 

 

Introdução

No Brasil, segundo Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de 60 mil casais homoafetivos vivendo juntos. A maior parte desses casais é formada por mulheres (53%), o que demonstra que mudanças estruturais e comportamentais estão ocorrendo em nossa sociedade e, consequentemente, na família.

O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu em 2011 a união estável para casais do mesmo sexo, considerando-a entidade familiar. A partir de 14 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão de controle externo das atividades do Poder Judiciário, com a publicação da Resolução nº 175, obrigou todos os cartórios do país a cumprir a decisão do STF de maio de 2011. Assim, os cartórios passaram a realizar a união estável entre casais do mesmo sexo. Além disso, o CNJ também obrigou a conversão da união em casamento e a realização direta de casamento civil de pessoas do mesmo sexo, o que gerou concessão de direitos e imposição de deveres aos companheiros nas uniões estáveis.

O STF afirmou que a expressão da sexualidade e do afeto homossexual não pode servir de fundamento a um tratamento discriminatório, que não encontra suporte no texto da Constituição Federal de 1988.

No entanto, a regularização do casamento homossexual resulta em debates e discussões cada vez mais frequentes, que objetivam conscientizar a sociedade sobre a necessidade de reconhecimento desta nova constituição familiar. Além disso, exige que profissionais que trabalham com famílias e casais examinem constantemente seus valores, crenças e conhecimento especializado para manejar junto com os clientes questões psicológicas que envolvem construções e transições conjugais tão diversas e plurais (Defendi, 2010). Dessa forma, é necessário que eles fundamentem o seu trabalho em pesquisas e, consequentemente, promovam um conhecimento dessa realidade emergente, a fim de proporcionar ressignificações nos padrões sociais e nos valores tradicionais, que permitam a compreensão das diferentes formas de ser família nos dias de hoje (Bustamante & Santos, 2015).

A constituição familiar, bem como a legitimidade das diferentes formas de ser família, é influenciada por variáveis históricas, ideológicas, econômicas e sociais. A família formada por cônjuges do mesmo sexo vem sendo, lentamente, mais aceita, o que não significa que não existisse antes. Assim, como outras configurações, vistas por alguns como novas, pode partir de uma ética que leva em conta as demandas afetivas dos sujeitos nelas envolvidos (Osório, 2002; Zambrano, 2006; Passos, 2005a; Horta, 2007; Hintz, 2001).

Independentemente da forma como a família se organiza, cada família cria as suas próprias demandas, produzidas por um complexo entrecruzamento do novo e do velho, o individual e o coletivo, o visível e o invisível, estando longe de um processo linear de relacionamento (Passos, 2005b). Cada ser é único, traz consigo suas próprias expectativas, os legados advindos de sua família de origem, bem como a forma de enfrentar reprovações e imposições sociais. Este ser, em relação com outros, tais como o cônjuge, precisa construir possibilidades relacionais que lhes satisfaçam o que nem sempre vem ao encontro do que é socialmente valorizado. Apesar das complexas lógicas de intolerância social, preconceito e discriminação, a homossexualidade vem deixando de ocupar o local de pecado-doença-crime; as famílias formadas, por dois homens ou duas mulheres, que mantém relacionamentos estáveis não podem mais ser negadas (Sant’Anna; Daspett, 2007).

Atualmente, segundo uma visão sistêmico-cibernética novo-paradigmática procura-se alargar a visão sobre as diferentes formas de se viver a sexualidade (Feijó, 2007). A identidade, de acordo com tal visão, é um processo de construção que abarca diversos aspectos da vida da pessoa: história, relações, visão de si mesma, sendo a orientação sexual um de seus aspectos.

Por orientação sexual, entendem-se a orientação homo, hetero ou bissexual do desejo do indivíduo, que conta, além disso, com seus próprios modos de se expressar e de ser, portanto de uma singularidade. Tais modos, por sua vez, podem corresponder ou não às expectativas socialmente construídas em torno do feminino e do masculino: os papéis de gênero. Diferentemente de tais construções, o sexo biológico (macho ou fêmea) é inato. A identidade sexual, que é parte da identidade pessoal, também é construída socialmente. A identificação da pessoa como mulher ou homem depende de sua história, de suas relações e visão de si mesma. Assim, novas realidades implicam em novas formas de pensar e resultam em novos valores com profundas repercussões sobre as famílias ((Silva, Frutuozo, Feijó, Valerio & Chaves, 2015).

Roudinesco (2003) afirma que as famílias homoafetivas estão se tornando aceitas socialmente, pois os seus membros puseram-se a lutar por seus direitos em vários países. Os casais homoafetivos, nesse momento, redefinem em certos aspectos, os padrões de conjugalidade e parentalidade. Os padrões tradicionalmente conhecidos pela nossa sociedade estão sendo rompidos, as mudanças sociais e jurídicas passam a abrir espaço para a composição da conjugalidade homoafetiva (Melllo, 2005).

Para Defendi (2010), a conjugalidade entre as pessoas do mesmo sexo vem recebendo destaque e, principalmente, trazendo à tona a discussão de que o direito de viver uma relação amorosa extrapola a orientação sexual, colocando em pauta, nas pesquisas e estudos, o surgimento de novos núcleos familiares. Assim, apesar dos integrantes das famílias possuírem diferentes expectativas e formas de se relacionar, pode-se compreender parte de suas possíveis demandas com os estudos sobre o ciclo vital familiar, que se constitui em um conjunto de etapas ou fases definidas sobre critérios (idade dos pais, dos filhos, tempo de união de um casal, entre outros) pelos quais as famílias passam, desde o início da sua constituição, em uma geração, até a morte do, ou dos indivíduos que a iniciaram (Cerveny, 2000).

Cada membro do sistema influencia e é influenciado pelos outros. Assim, o homem só pode ser compreendido dentro do contexto interacional no qual se insere, uma vez que o seu ciclo de vida individual acontece dentro e, concomitantemente, ao seu ciclo vital familiar (Cerveny, 2000).

Segundo Socorro (2006), o ciclo vital familiar é marcado por afetos, percepções dos papéis e funções de cada um, em que a dinâmica das relações e o investimento emocional também estão em constante mudança e reorganização, fazendo com que, a cada etapa, o significado que a família adquire na vida particular de cada indivíduo seja diferenciado.

Na literatura, localizam-se diversos autores que trataram do ciclo de vida familiar com enfoque em diferentes acontecimentos da vida humana.

No entanto, apesar da dificuldade de estudar as famílias no Brasil, Cerveny e Berthoud (1997), conscientes da importância do estudo sobre a família inserida no seu contexto sócio-econômico-cultural, realizaram uma série de pesquisas sobre o ciclo vital da família brasileira. Caracterizaram a família ao longo do seu ciclo vital em quatro etapas, chamando a atenção para a não rigidez dessas fases: Família na fase de Aquisição, que engloba o nascimento da família pela união formal ou informal, Família na Fase Adolescente, que compreende a fase em que os filhos estão vivendo a adolescência; Família na Fase Madura, que tem início quando os filhos atingem a idade adulta e a família passa a vivenciar o período da maturidade e Família na Fase Última, caracterizada pelo envelhecimento dos pais, e por transformações na estrutura familiar.

Inicialmente, esta pesquisa tinha como objetivo estudar as conjugalidades homossexuais femininas na fase de aquisição do ciclo vital familiar. Porém, ao se depararem com casais em diferentes momentos de vida, com narrativas mais amplas e experiências que iam além das questões da fase de aquisição, os pesquisadores optaram por não restringir este estudo a uma única fase dessa complexa vivência humana: a família.

Na intenção de compreender as relações estabelecidas pelos casais e sua experiência ao longo do casamento, ampliou-se o foco da pesquisa para a compreensão das demandas do ciclo vital familiar dessas famílias homoafetivas. Assim, objetivou-se gerar subsídios à compreensão de novas demandas que possam surgir na clínica contemporânea, em relação às novas configurações familiares. Além disso, pretendeu-se conhecer a dinâmica relacional dos casais homoafetivos, com a intenção de contribuir para a promoção da saúde e do bem-estar biopsicossocial.

 

Método

Para que o objetivo proposto fosse alcançado, a pesquisa foi desenvolvida utilizando estudo de casos múltiplos, portanto com descrição da realidade pelos participantes, sem intenção de intervenção por parte dos pesquisadores. Foram contemplados dados qualitativos, com a utilização dos seguintes instrumentos de coleta de dados: entrevista biográfica, questionário adaptado de Cerveny e Berthoud (1997) e entrevista semiestruturada produzida pelos pesquisadores.

Utilizou-se como referencial teórico o pensamento sistêmico novo-paradigmático, segundo o qual, o ser humano deve ser compreendido em relação e em contexto, considerando-se a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade, inerentes às relações e aos seres humanos. Entende-se os indivíduos como autores que influenciam e ao mesmo tempo são influenciados pelo meio que vivem, construindo suas experiências por meio da linguagem, o que também ocorre com o cientista, que influencia e é influenciado pelo que estuda (Vasconcellos, 2002). A pesquisa foi desenvolvida em cidades do interior de São Paulo na região Oeste do estado, com participantes selecionados por conveniência, após indicação de outros pesquisadores e dos próprios participantes (Turato, 2003), utilizado também por Defendi (2010) e Sant’Anna (2011) em suas pesquisas com casais homoafetivos.

Os critérios de inclusão foram mulheres com orientação homossexual que reconheciam sua relação como estável e que moravam há mais de um ano com a parceira (cônjuge). Os critérios de exclusão foram mulheres com orientação heterossexual ou mulheres com orientação homossexual, que não moravam juntas.

Participaram da pesquisa três casais homossexuais femininos, com idades entre 33 a 47 anos, que responderam aos questionários da pesquisa. As participantes foram informadas sobre a pesquisa inicialmente por contato telefônico, no qual as pesquisadoras esclareceram os objetivos, tema e procedimentos e de que forma os casais preenchiam os requisitos para a pesquisa, em seguida, foram marcados os encontros com concordância das participantes.

No momento da entrevista, novamente foi explicado os objetivos do estudo e as questões éticas que envolviam o procedimento, o qual estava subdividido em três etapas:

1) preenchimento individual da ficha biográfica;

2) preenchimento individual do questionário adaptado;

3) preenchimento da entrevista de história de vida do casal.

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido informou claramente a possibilidade de desistência em qualquer momento da pesquisa como preconizado pela Resolução 196/96 do CONEP, do Ministério da Saúde e com o consentimento e aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade na qual a mesma foi realizada.

Foram registrados os dados gerais sobre as participantes e sua família, tais como: idade, escolaridade, profissão, constituição da família atual, renda pessoal e participação na renda familiar. Para a obtenção dos dados específicos sobre a história do casal, utilizou-se o questionário biográfico adaptado conforme supracitado.

A entrevista semiestruturada foi constituída por temas geradores de perguntas e questionamentos, com o intuito de enriquecer a conversação, tais como: tempo de união,

Com o consentimento das participantes, as entrevistas foram gravadas com utilização de mídia digital (sistema MP3) e posteriormente transcritas na íntegra.

O material coletado foi transcrito na íntegra e transformado em texto. A leitura teve o intuito de destacar os sentidos e significados trazidos pelos casais sobre a convivência conjugal no decorrer da relação. Nesse processo, consideraram-se as crenças, valores, atitudes, vivências e emoções, diferenças, rituais e semelhanças referentes ao fenômeno em questão tendo como referencial teórico o pensamento sistêmico novo-paradigmático (Vasconcelos, 2002).

 

Discussão de dados

O estudo de casos múltiplos condensado neste artigo contém nomes fictícios a fim de preservar e garantir a privacidade dos participantes.

Narrativa de muitas vozes

 

 

Adriana e Bruna relatam que se conheceram ainda na adolescência, quando participavam dos grupos de jovens religiosos. Afirma Adriana que naquela época “não tinham despertado nada de sexualidade, era só amizade”, no entanto, ambas acreditam que “desde o primeiro dia sempre teve uma ligação muito forte entre elas”.

Namoraram por dois anos e começaram a falar em morar juntas. Nesse período financiaram uma casa e iniciaram a construção. “Escolhemos tudo da casa juntas, teve todo aquele processo de construir a casa” afirma Adriana.

 

 

Camila e Dora se conhecem desde a infância. A tia de Dora era vizinha dos pais de Camila. As famílias sempre mantiveram contato. Brincavam “juntas na rua, jogavam bola”, como aponta Dora.

No dia da entrevista, se encontravam em processo de adoção de uma criança de três anos de idade.

 

 

Elisa foi casada e tem dois filhos desse relacionamento anterior. Relata que conheceu Fabiana em uma festa de aniversário de um amigo em comum. Na ocasião, fazia dois anos que ela e o marido estavam dormindo separados. Residia em outra cidade e estava “num processo de separação [...] eu nunca tive um relacionamento homossexual, nunca nem tinha pensado nisso”. Passava por um momento difícil de sua vida e “ela (Fabiana) me ofereceu amor, não pediu nada em troca, foi amor mesmo, foi carinho e eu não recusei, aceitei de pronto”.

Elisa alugou uma casa e foi morar sozinha. Estava desempregada, sendo a rede social de extrema importância como auxílio nesse momento. “Nós fomos organizando com a ajuda de alguns amigos” contam elas. Conseguiram adquirir a casa própria e um carro.

Uma leitura compreensiva

Nunca em outra época se observou tanta diversidade na maneira e forma como os casamentos se configuram, na flexibilidade dos seus valores, crenças e características (Defendi, 2010). O casal homossexual ao assumir uma relação estável, passa pelos processos semelhantes aos casais heterossexuais, porém com questões peculiares a serem vivenciadas, como a necessidade de lidar com o preconceito a respeito da homossexualidade ainda presente em nossa sociedade. Pensando nas demandas ao longo do ciclo vital apresentadas nas entrevistas, narrativas sobre os significados atribuídos pelas participantes às suas experiências conjugais foram elencadas, conforme abaixo.

O começo

O relacionamento familiar possui importante papel na vida dos seres humanos, como a garantia de seu pertencimento e ao mesmo tempo de diferenciação (Cancissu, 2007). No caso das participantes da presente pesquisa, falar sobre sua orientação homossexual para a família de origem foi uma das tarefas mais difíceis, no entanto, observou-se que esta dificuldade não apresentou qualquer relação com a satisfação conjugal e na duração da relação.

Segundo Sant’Anna (2011), algumas famílias fazem concessão em nome do filho como uma forma de não perder contato, e isso não significa que aceitaram a relação, mas sim que respeitam a orientação sexual. O confronto da família com a conjugalidade do filho homossexual é um processo que envolve muitas mudanças, tanto para ela quanto para o filho.

Adriana e Bruna relatam que no início do relacionamento, as famílias de origem não mantiveram contato. O casal teve muitos conflitos com as famílias decorrentes do próprio desconhecimento dos pais referente à relação que viviam. “O problema não era a pessoa Adriana. O problema era a pessoa ser do sexo feminino”, relata Bruna.

As famílias eram diferentes e ao mesmo tempo tradicionais. O pai de Bruna “foi o primeiro que aceitou”, como afirma Adriana, pois desde que foram morar juntas, frequenta a casa delas. A mãe de Bruna foi contrária à relação, “não sei se foi a criação ou vergonha mesmo do pai e da mãe”, aponta Bruna, mas “depois que a minha avó soube, parece que tirou um elefante das costas dela.” No entanto, relata que foi difícil deixar de conviver com a família, pois teve que “deixar eles e agora eu ser por si só”. A família não interfere na vida do casal, “cada um colocou o seu limite”.

A mãe de Adriana “nunca falou eu não aceito, só que houve várias conversas”. Relata que deixou acontecer naturalmente, “respeitando o tempo deles”. Atualmente, na casa de Adriana a “mãe colocou cama de casal no quarto. Quando ela dá presente ‘Ah! É presente de casamento’”.

Bruna relata que considera os pais de Adriana “como segundo pai e mãe”. Além disso, observa que a sua família está começando aceitar a relação. “Ela (mãe de Bruna) está se permitindo [...] Até ganhamos um microondas da irmã de Bruna”, afirma Adriana.

O casal Camila e Dora, relata que a mãe de Camila quando soube da orientação sexual da filha disse que “isso ai é uma doença e começaram a odiar Dora”. A mãe de Camila sentiu-se “meio traída, além de não aceitar” devido à amizade com Dora. “Então, às vezes, Dora me procurava em casa e minha mãe batia a porta na cara dela”, conta Camila. Atualmente, os pais de Dora residem com o casal e relatam convivência harmoniosa.

De acordo com os resultados da pesquisa de Lomando (2008), a qualidade conjugal se desenvolve positivamente a partir do momento em que os casais homossexuais percebem-se apoiados e aceitos em suas conjugalidades. Diversos relatos das participantes enfatizaram pontos de satisfação com a relação e esforço para mantê-la, apesar das dificuldades de aceitação social, especialmente por membros da família.

Segundo o relato, a mãe de Camila, “há muito tempo, ela sai da cama para gente dormir” [sic]; contam que a melhora desse relacionamento deu-se quando a irmã caçula de Camila, em uma festa familiar falou para mãe: “ela não vai estar completa nunca vindo sozinha”. Acreditam que a família observou que elas realmente queriam a relação e “isso foi gerando um respeito”.

Para Elisa, sua família de origem, no início, não aceitou o relacionamento, porém, apesar de hoje se entenderem melhor, quase não tem convivência. Relata que contou para os filhos sobre sua companheira, “eu falei exatamente isso: que ela me ofereceu amor e eu não neguei.” Elisa relata que “tava rompendo com aquela vida e não foi uma separação ruim, foi uma separação difícil porque eu sai e ele ficou lá com os filhos. Então, ele fez uma história e eu não tava com estrutura, na época, pra brigar com isso, então passou um tempo [...] eu fui para São Paulo e a gente sentou e conversou.” No entanto, atualmente os filhos mantêm pouco contato com Fabiana.

Fabiana conta que a família de origem no início não aceitou, e que sua mãe pensava no que as pessoas falariam, “acho que eles perceberam que esse relacionamento não ia ser uma coisa assim [...] de causar vexame, ou sei lá”. Com o passar dos anos a convivência melhorou. A família não “acha mais nada absurdo, o meu pai vai ao banco com ela (Elisa) e fala que é a nora dele, assim, agora é tudo normal”.

Quando as famílias percebem que a relação não é passageira e sim estável, começam a rever suas posturas e seguem para um processo além da compreensão da homossexualidade, mas para a conjugalidade. Passam a respeitar o filho e o seu companheiro (Sant’Anna, 2011).

A convivência do filho de Fabiana com Elisa não apresenta conflitos consideráveis “ele era pequenininho, a única coisa que eu expliquei para ele, também quando ele ainda era pequenininho é que amava, era isso, a gente vai viver junto porque a gente se ama foi só essa a explicação o resto foi com o tempo, foi crescendo, as regras da casa, tudo absolutamente normal, o que pode, pode! O que não pode, não pode!”. Acreditam que a convivência desde pequeno ajudou na adaptação e no entendimento sobre a realidade que vive, pois foram respondendo aos questionamentos de acordo com a necessidade da criança.

Nos casos citados, observa-se que para os casais participantes, a família de origem, na maioria das vezes, mostrou-se incapaz de oferecer apoio. E, de acordo com Cancissu (2007), os casais demonstram consciência da dificuldade potencial que a própria família possui para lidar com a homossexualidade, fazendo com que não a procurem na busca por apoio.

No entanto, à medida que a relação conjugal vai se estabelecendo e os parceiros amadurecendo em suas relações, como Defendi (2010) afirma, observa-se que a conjugalidade vai se constituindo nas relações sociais.

Assim, é importante observar nas entrevistas realizadas que devido à dificuldade de apoio por parte dos familiares, muitos casais homossexuais redefinem o seu conceito de família para incluir nela tanto amigos como parentes, os quais acabam desempenhando o mesmo papel que a família de origem ou a família extensa (Cancissu, 2007).

Adriana e Bruna relatam que nos finais de semana reúnem a família. Ao serem questionadas qual era o grau de parentesco dos mesmos, relatam serem seus vizinhos, os quais consideram como pai e mãe, “não querem fazer nada sem a gente, querem fazer tudo junto!”.

Para Camila e Dora quando saíram da casa dos pais moraram com um casal de amigos por cinco meses. “Se ele tinha um ovo, ele dividia com a gente o ovo [...] eu senti pela primeira vez o não preconceito dessa família que nos acolheu”. Além disso, o apoio da rede social para a construção de sua casa foi essencial “nós ganhávamos um móvel, uma tinta, tudo ia compondo a nossa vida.”

Elisa e Fabiana não foram diferentes, “tinha pessoas muito amorosas, pessoas que ajudaram muito a gente, que ajuda até hoje, as mesmas pessoas e ai a gente acabou que, a vida foi dando um jeito de se encaixar”.

A relação

Por meio das entrevistas, observou-se que os casais estavam em diferentes fases do ciclo vital familiar, permeadas pelas demandas da vida conjugal, sendo a dinâmica familiar caracterizada pela maneira como a família se movimenta frente às situações às quais se coloca ou é colocada. (Wagner; Tronco; Armani, 2011)

As participantes vivenciaram as fases do ciclo vital de diferentes formas, de acordo com a história de vida e de relacionamento familiar de cada uma. No entanto, no início, durante a adaptação ao relacionamento, ao assumirem a vida enquanto casal, as participantes tiveram características particulares.

Os sentimentos ambivalentes presentes no início da vida conjugal, como a insegurança, prazer e desafio com a nova vida, trazem incertezas, que segundo as narrativas das participantes parecem acentuadas pela orientação sexual.

A gente mesmo não aceita isso” relata Camila quando questionada sobre seu relacionamento conjugal, no entanto, considera que “hoje é bem mais fácil, mas não é nada que eu recomende”.

Bruna relata “que não estava preparada, não era para ser, mas quando Adriana começou a conversar comigo de novo, reacendeu essa vontade, esse desejo. Então pensei, alguma coisa é diferente”.

Em relação às metas para a constituição da família, os casais apresentaram diferentes aspectos, conforme a fase do ciclo vital familiar. Adriana e Bruna demonstraram como característica principal a construção do patrimônio familiar, pois vivenciavam características semelhantes aos casais heterossexuais da pesquisa de Cerveny e Berthoud (1997), em que há o predomínio da tarefa de adquirir, sendo os bens materiais, emocionais e psicológicos.

Segundo Adriana “deu certo da gente fazer o financiamento, começar a construir. Escolhemos tudo da casa juntas, teve todo aquele processo de construir a casa”.

Adriana relata o fato de a casa ficar pronta como um marco, “a casa ficou pronta, então vamos mudar! [...] eu não queria morar sozinha. Queria que fosse a nossa casa, que a gente entrasse junto”.

Camila e Dora descrevem como meta familiar promover os estudos e profissão do filho, cuidar tanto dos filhos quanto dos avós e outros membros da família extensa, características da fase madura do ciclo vital. No entanto, a chegada da criança fez com que o casal revivesse algumas características da fase de aquisição, observando uma sobreposição da fase madura, por tudo o que já conquistaram e ainda vivenciam a fase de aquisição, por reviver as expectativas iniciais.

Elisa e Fabiana apontaram na entrevista como metas familiares a aquisição material, o balanço da vida e organização do futuro do filho que se encontra na fase adolescente.

A fase adolescente do ciclo vital familiar se dá por um lado quando os filhos experimentam a adolescência como período de transição, transformação e mudança em direção à idade adulta e com mudanças de puberdade como alterações físicas e hormonais. “Na verdade, levamos na escola, a noite ele vai à praça, vamos buscar, ele está namorando [...] só que foi na casa da menina esses dias passou a tarde lá, me deixou os telefones, eu não sabia onde era ainda [...] vem com uma marca no pescoço, eu fiquei louca, fiz muito escândalo! Falei: ‘não precisa disso’, que coisa feia, falei, falei, falei!” relata Fabiana.

Referente às atividades domésticas, observou-se que cada uma desempenha papéis identificados tanto com o padrão feminino como com o masculino, não mantendo uma divisão das tarefas diárias, como observado com os casais heteroafetivos da pesquisa de Cerveny e Berthoud (1997).

De modo geral, as atribuições domésticas são um processo democrático e negociado entre as parceiras, sendo atribuídos de acordo com a aptidão e os gostos de cada uma. Segundo as informações do questionário, não há uma sobreposição de interesses, mas uma tentativa de minimizar as tarefas que são incômodas.

Camila e Dora relatam que “Ela (Camila) fica na parte de finanças, porque ela administra muito bem essa parte. E eu fico na organização, na limpeza. Eu lavo a roupa, não gosto de passar”.

A falta de tempo para a convivência e a falta de dinheiro foram os aspectos negativos relacionados à família, o mesmo observado na pesquisa de Cerveny e Berthoud (1997).

No entanto, as participantes consideram de forma satisfatória a qualidade da relação conjugal, apontando que normalmente as decisões são tomadas em conjunto, sendo o diálogo a qualidade predominante entre os casais.

Nada é decidido sozinha” relata Adriana, “eu prezo muito a questão do respeito uma pela outra, no próprio convívio. Nas decisões estarmos sempre juntas mesmo, tomando as decisões juntas”.

Fabiana também relata “a gente sempre conversa tudo bem conversadinho” quando precisam tomar uma decisão.

Camila relata que é mais “briguenta”, mas “peço desculpas quando eu vejo que ela está magoada, eu espero um tempo para que aquilo cicatrize”.

Condizente com a pesquisa de Cerveny e Berthoud (1997), a estabilidade financeira, junto com o amor e o diálogo, também constituem o ideal de relacionamento.

O novo e o velho: a inter-relação

O velho e o novo estão presentes na contemporaneidade, afirma Cerveny e Berthoud (2002), confirmando o que se observa atualmente há uma reconstrução dos padrões das relações familiares.

No entanto, mesmo diante das novas, atuais e diversas configurações familiares, ainda é possível compreender a família como um processo de passagem entre gerações, independentemente de sua configuração. Cada sujeito organiza a conjugalidade, onde se articulam a história familiar deste, seus ideais de conjugalidade, as imagens e fantasias sobre a conjugalidade, os mitos e rituais familiares, entre outros elementos (Féres-Carneiro, Ponciano & Magalhães, 2007).

Assim, nas narrativas das participantes observam-se valores de suas famílias de origem.

Bruna relata que apesar de assumir a sua relação com Adriana teve dificuldade em lidar com os valores familiares transmitidos. “Por os meus valores serem bem antigo, antiquado, de ter que seguir o que é certo e o que é errado. Então eu ficava em conflito comigo a toda hora [...] Elas (as famílias) preservam o casamento. Tem uma tradição religiosa. A virgindade antes do casamento foi passado sempre!

Bruna relata que “se você perguntar para mim, se eu acho que isso é certo, para eu responder corretamente eu vou falar:- ‘não acho certo’. Mas o que não é certo, é eu gostar dela do jeito que eu gosto. Então não sei se isso é certo!

No caso de Camila e Dora, relatam que são “muito família, a gente costuma se reunir em casa, chama um, chama outro da família. Nós somos de poucos amigos”. Aspectos que apontam como características dos pais de Dora.

Em relação às datas festejadas, também predominaram as tradicionais, como na pesquisa de Cerveny e Berthoud (1997): Natal, Aniversário de Nascimento e Réveillon. No entanto, datas específicas foram apontadas por dois casais como momentos que marcaram: o ritual do casamento.

Fabiana e Elisa relatam que deram o nome do Dia do Amor à data em que começaram a se relacionar e Adriana e Bruna também comemoram o dia em que assumiram o relacionamento.

Assim, pode-se pensar que cada tipo de família cria suas próprias demandas, não inteiramente novas, mas produzidas no complexo entrecruzamento entre o novo e o velho, o individual e o coletivo, o visível e o invisível (Passos, 2005b).

O preconceito

Segundo Defendi (2006), é muito raro ver casais homossexuais trocando afeto em público, mostrando suas intimidades fora do âmbito privado e de locais de frequência eminentemente homossexual.

Adriana narra sobre isso. “Em relação ao preconceito, a gente percebe que em algum lugar que a gente vai, porque a gente anda de mãos dadas, como qualquer casal. Não fica se beijando e se agarrando, até porque um casal heterossexual está num lugar, ninguém faz isso. Mas andamos de mãos dadas na rua, vai aos lugares, às vezes alguns. Você está chegando num restaurante o povo para de comer e faz assim (param para olhar), às vezes não, mas também eu não ligo muito para isso não.”

Para Camila e Dora, “A gente sofre muito preconceito. Às vezes de chegar num lugar e as pessoas acharem que a gente vai incomodar alguém, ou que está de olho. Então a gente sente alguma coisa nesse sentido, mas não é qualquer pessoa que faça”.

Para esses casais, a desconstrução dos padrões e crenças referente à relação afetiva é uma constante, já que sem tantos modelos requerem um lidar com suas homofobias internalizadas6 (Defendi, 2006).

Segundo Camila “a gente mesmo não aceita isso e tinha todo aquele pudor, pecado, o que era errado. Não era convencional”.

Bruna se mostra incoerente em seu relato e revela os próprios preconceitos na ideia de que a relação poderia ser um pecado, “uma coisa errada que aconteceu”.

Além disso, para Passos (2005a), pessoas que se envolvem homoafetivamente são vistas de forma negativa por grande parcela da sociedade, sendo questionadas quanto à sua capacidade de encontrar amor, retribuir esse amor, criar filhos e se relacionar satisfatoriamente.

Segundo Adriana “você não tem que ter um rótulo. Você é lésbica. Você é homossexual. Eu falo, eu não sou nada. Eu sou uma mulher casada com outra mulher, porque simplesmente eu me apaixonei por outra pessoa do mesmo sexo, sem preconceito”.

Camila e Dora relatam que no início “era tudo escondido, nos encontrávamos escondido na rodoviária, era muito sofrido [...] O preconceito que nós enfrentávamos. Não demonstravam, mas tinham”.

Para Fabiana “eles (as pessoas) esperam que toda mulher que vive com outra mulher, ela tem que ser masculinizada. Então eles esperam que se vistam como homens, que usem bonés, cueca, botina e que a gente se veste como qualquer outra mulher. Até porque somos mulheres. Então isso espanta um pouco”.

Adriana comenta que o preconceito está mesmo nas formas mais veladas do comportamento do outro, por exemplo, “o que eu acho mais difícil é na questão dos direitos. Vai fazer plano de saúde, nós vimos vários casos que não entra no plano familiar”.

Camila e Dora ressaltam quando questionadas sobre o preconceito: “eu não sei quantas oportunidades de trabalho eu possa ter perdido. ‘Ah! Você é uma excelente profissional, mas... ’ São muitas dificuldades”.

 

Considerações finais

Ao final do estudo foi retomado o objetivo central do trabalho: compreender como casais homossexuais femininos vivenciam as demandas do ciclo vital familiar, portanto, necessidades, dificuldades e recursos relatados pelos cônjuges. Assim, buscou-se compreender como ocorrem as aquisições de seus bens materiais, estilo de vida e padrões de interação, levando em conta peculiaridades e semelhanças entre os casais entrevistados e os dados de literatura.

Na medida em que se utilizou como referencial teórico o pensamento sistêmico novo-paradigmático, cabe ressaltar que a forma de vivenciar as demandas do ciclo vital familiar é particular de cada casal, independentemente da orientação afetivo-sexual de seus componentes. No entanto, foi possível observar que a aceitação e aproximação da família de origem para os casais homoafetivos ocorreram de forma diferenciada, quando comparadas aos casais heterossexuais. A não aceitação da família pela união resultou em dificuldades vividas pelos casais entrevistados.

Segundo o relato das participantes, foi possível observar que o processo de revelação à família de origem foi fundamental para a construção da identidade do casal e para ampliação de suas relações sociais.

No momento da constituição do casal, a rede social, que geralmente é fonte de apoio e sustentação para as pessoas, casais e famílias, foi importante. Enquanto o processo de aceitação por parte da família não se desenvolveu, outras pessoas serviram de fonte de legitimação e de suporte. Foram os amigos, como mostraram as entrevistadas, que ofereceram apoio e companhia social desde o início da relação.

Outro aspecto observado foi a boa qualidade da interação entre as participantes, onde a interação e a comunicação são importantes para adaptação, a vivência cotidiana e satisfação familiar.

Considera-se que a habilidade social das mulheres as torna menos vulneráveis, mesmo quando o número de componentes de sua rede seja mínimo. A riqueza desses poucos vínculos compensa a redução de pessoas.

Para as entrevistadas, no início da conjugalidade com as famílias de origem esteve presente a não aceitação de parte da família. No entanto, as participantes observaram que com o passar do tempo, as relações tornaram-se menos conflituosas.

À medida que o relacionamento se mostra duradouro, a família tende a aceitar a companheira como membro, permitindo ao casal o sentimento de pertencimento e acolhimento, relação que ocorre em diferentes ritmos e proporções, conferindo aos casais um lugar de visibilidade junto ao grupo social. O tempo pode servir como um indicador positivo para a própria estabilidade do casal, para aceitação na sociedade e especialmente na família.

Quanto maior o tempo de relação, mais recursos o casal apresenta. Os laços emocionais que unem os casais auxiliam a flexibilidade na mudança de papéis, na liderança e as regras tornam a comunicação como o principal facilitador para o bem-estar no relacionamento, o que se pode considerar a qualidade conjugal como satisfatória entre os casais homossexuais femininos entrevistadas.

Observa-se também que os casais de mulheres que se casam e/ou constroem relacionamentos estáveis na atualidade enfrentam desafios muito semelhantes aos encontrados pelos casais heterossexuais, ou seja, ter que equilibrar trabalho, vida amorosa e vida familiar é uma tarefa complexa, diante da competitividade, do elevado custo de vida e das expectativas de consumo socialmente difundidas.

As participantes relatam que o preconceito ainda afeta suas vidas, apesar das mudanças na sociedade, mas não parece paralisá-las. Um exemplo são as oportunidades de trabalho que uma das participantes relata que perdeu por ser homossexual. Acredita-se que o preconceito pode ser um dificultador do desenvolvimento profissional e do incremento da remuneração, sendo necessário que seja compreendido em futuros trabalhos. Sobre tal aspecto, se por um lado as demandas típicas da formação do casal, na fase de aquisição, são parecidas com as demandas de casais heterossexuais, o fato de receberem menos apoio das famílias reduz apoio e fontes de recursos. Fiadores, parentes que emprestam dinheiro à prazo ou locais para moradia, são mais escassos.

Neste sentido, é importante salientar a pertinência do enfoque sistêmico que preconiza o olhar para aspectos de relação, de contexto e de processos, quando se pretende compreender as necessidades humanas. Neste estudo, a relação conjugal, a relação com a rede e com a família de origem das cônjuges e a aceitação social da relação homoafetiva, são aspectos interdependentes, que influenciam e são influenciados pelo processo de desenvolvimento da família (ciclo vital familiar).

De maneira geral, o que se observou no presente estudo foi a qualidade da conjugalidade vivida pelas participantes, o amadurecimento de suas relações com o passar do tempo, possibilitando o fortalecimento das companheiras e de suas identidades, sendo a dinâmica interacional o aspecto importante para compreender o desenvolvimento das práticas clínicas e teóricas contextualizadas e fundamentadas ao profissional que trabalha com intervenções terapêuticas.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Daniela Waseda
E-mail: daniwaseda@gmail.com

Lilian Lofego
E-mail: lilianlofego@hotmail.com

Marianne Ramos Feijó
E-mail: mariannefeijo@fc.unesp.br

Ulisses Herrera Chaves
E-mail: ulissesherrera@hotmail.com

Nelson Iguimar Valério
E-mail: nelsonvalerio@famerp.br

Enviado em: 06/01/2016
1ª revisão em: 13/10/2016
Aceito em: 17/11/2016

 

 

1 Bacharelado, Licenciatura e Formação em Psicologia pelas Faculdades Adamantinenses Integradas – FAI. Aprimoramento Profissional em Psicologia Clinica – IAMSPE. Especialização em Intervenção Familiar Sistêmica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - SP - FAMERP. Psicóloga na Prefeitura de Limeira/CEMA - Centro de Especialização Municipal do Autista. CEMA/Prefeitura de Limeira.
2 Bacharelado, licenciatura e formação em psicologia pela Universidade Paulista - UNIP - SP. Especialização em Intervenção Familiar Sistêmica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - SP - FAMERP Psicóloga da Unimed de Araras; Psicóloga e Terapeuta de Casal na Clínica Ciclos em Araras, SP.
3 Professora Assistente Doutora do Departamento de Psicologia na Universidade Estadual Paulista, UNESP, Bauru. Pós-doutora (UNIFESP/NEPSIS), Mestre e Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP/NUFAC), Especialista em Terapia Familiar e de Casal (PUC-SP/NUFAC).
4 Terapeuta de Família e Casal pela PUC-SP. Mestre e Doutor pela USP. Coordenador Aux. do Curso de Psicologia da UNIP-Bauru. Coordenador Técnico da Especialização em Intervenção Familiar Sistêmica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - SP - FAMERP.
5 Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Psicologia da FAMERP, São José do Rio Preto, SP. Mestre e Doutor em Psicologia (PUCCAMPINAS). Especialista em Psicologia Clínica e em Psicologia Hospitalar (FAMERP E CRP) Docente e Orientador do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Psicologia e Saúde da FAMERP. Coordenador do Curso de Especialização em Intervenção Familiar – FAMERP.
6 Definido como medo à própria homossexualidade, sendo um fenômeno cultural, que não é universal, nem toma as mesmas formas ou o mesmo significado em diferentes grupos sociais (Pereira & Leal, 2002).

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