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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

Print version ISSN 1808-5687On-line version ISSN 1982-3746

Rev. bras.ter. cogn. vol.17 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2021

https://doi.org/10.5935/1808-5687.20210003 

ARTIGOS DE REVISÃO

 

Terapia Cognitivo-Comportamental e promoção da satisfação conjugal: uma revisão integrativa

 

Cognitive Behavioral Therapy and promotion of marital satisfaction: an integrative review

 

 

Maria Henriqueta FigueiredoI,II

IEscola Superior de Enfermagem do Porto, Docente - Porto - Porto - Portugal
IICINTESIS -Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Investigador - Porto - Porto - Portugal

Correspondência

 

 


RESUMO

A satisfação conjugal carateriza-se pela perceção dos membros da díade relativamente à satisfação na relação. Integra o padrão de comunicação, sexualidade, tempo passado juntos, entre outros aspetos específicos do casal, enquanto unidade transformativa. Os conflitos, decorrentes da continuidade relacional, requerem muitas vezes, o desenvolvimento de abordagens terapêuticas de intervenção cognitiva comportamental visando a conservação ou reconquista da satisfação conjugal. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) direcionada para a reestruturação cognitiva e comportamental tem sido utilizada numa ampla diversidade de situações, incluindo alterações do relacionamento conjugal satisfatório. Com o objetivo de mapear o conhecimento existente sobre a utilização da TCC na promoção da satisfação conjugal, realizou-se uma revisão integrativa, utilizando-se as seguintes Bases de Dados da EBSCO: Medline; Cinhal; MedicLatina e Psychology and Behavorial Sciences. Os sete estudos primários publicados nos ultimos 10 anos, que corresponderam aos critérios de inclusão pré-definidos, demonstram que a TCC é utilizada para promover a satisfação conjugal, nas suas várias vertentes. Os resultados da sua aplicação mostram elevados níveis de eficácia, sugerindo a importância da sua ampliação nesta area, com a experimentação clinica das várias técnicas e metodologias usadas, de acordo com as carateristicas dos casais e a natureza dos seus problemas.

Descritores: Terapia Cognitivo-Comportamental; Conflito Familiar; Terapia de Casal.


ABSTRACT

Marital satisfaction is characterized by the perception of members of the dyad relative to satisfaction in the relationship. It integrates the pattern of communication, sexuality, time spent together, among other specific aspects of the couple, as a transformative unit. Conflicts, as a result of relational continuity, often require, the development of therapeutic approaches of cognitive behavioral intervention, conservation or reconquest of marital satisfaction. A Cognitive Behavioral Therapy (CBT) aimed at a cognitive and behavioral relationship has been used in a wide variety of situations, including changes in the satisfactory marital relationship. In order to map the existing knowledge about the use of CBT in the promotion of marital satisfaction, an integrative review was carried out, using the following EBSCO Databases: Medline; Cinhal; MedicLatina and Psychology and Behavioral Sciences. The seven primary studies published in the last 10 years, which met the predefined inclusion criteria, demonstrate that a CBT is used to promote marital satisfaction, in its various aspects. The results of its application show levels of effectiveness, suggesting the importance of its expansion in this area, within the clinical experimentation of the various techniques and methods used.

Headings: Cognitive Behavioral Therapy; Family Conflict; Couples Therapy.


 

 

INTRODUÇÃO

A terapia cognitivo-comportamental (TCC), cujo precursor foi Aaron Beck, nasceu na década de 1960 a partir da utilização da terapia cognitiva no tratamento de pessoas com depressão (Beck, 2013). Os pensamentos, as emoções e os comportamentos são considerados elementos dinâmicos e evolutivos dos indivíduos, sendo a TCC determinada por intervenções cognitivas e comportamentais de curto prazo e focadas no problema (Shayan et al., 2015; Tang, 2017).

A TCC no tratamento de uma série de transtornos mentais e condições clínicas (Bangmin et al., 2021; Butler et al., 2006; Danzi & La Greca, 2020; Ling et al., 2021; Youg et al., 2020). Também há evidências de que a TCC tem influência na função sexual dos casais, melhorando a relação conjugal (Chavooshi et al., 2017) e aumentando a expectativa de vida do casal, além da saúde individual dos seus membros e o nível de satisfação com a vida (Abedi et al., 1970; Bilal e Rasool, 2020).

Em geral, a literatura sugere que a TCC é utilizada em conflitos conjugais relacionados com alterações do ajustamento sexual, comunicação ineficaz e dificuldade em chegar a acordo em áreas fulcrais da relação (Pyrfalak et al., 2014). O propósito mais comum é possibilitar aos casais a adoção de estratégias que alterem padrões de pensamento destrutivos e aumentem interações positivas (Bazkiyaei & Sedaghatfar, 2015).

A satisfação conjugal, segundo Figueiredo (2013), centra-se nos processos de conjugalidade, relacionados com o prosseguimento de uma relação satisfatória, entendida como apoiante nas suas múltiplas vertentes, caraterizada pela interdependência. Os processos de conjugalidade formam-se e transformam-se ao longo da vida do casal, em um processo coevolutivo, na maior parte das vezes associado à gestão diante das pressões internas e externas (Abedi et al., 1970; Figueiredo, 2013). A satisfação conjugal, de acordo com Zolotniuk (2014), constitui-se como um dos índices da vida conjugal, tal como a compreensão recíproca, o vínculo relacional entre a família e os susbsistemas com os quais ela interage, assim como a comunicação entre os membros do casal. Padrões de comunicação ineficaz diminuem a probabilidade de resolução de conflitos de forma satisfastória, que, com o tempo, podem originar diminuição da intimidade e subsequentes alterações do relacionamento sexual (Zaheri et al., 2016). A satisfação conjugal é geralmente correlacionada positivamente com a satisfação sexual (Tadayon et al., 2017), sendo que esta depende da qualidade do relacionamento, associada ao estilo de comunicação (Lavner et al., 2016).

A satisfação conjugal, relacionada com a qualidade da relação, integra ainda outras variáveis: o tipo de atividade realizado pelo casal no tempo livre e a percepção da sua qualidade, a gestão e o rendimento familiar e as estratégias adaptativas mobilizadas perante a eventos de estresse (Cabrera García e Aya Gómez, 2014; Taraban et al., 2017).

Quaisquer situações de conflito conjugal podem ter impacto no funcionamento efetivo de outros subsistemas familiares, nomeadamente no exercício do papel parental e no esenvolvimento infantil (Bernet et al., 2016; Roddy et al., 2018).

Sendo a TCC focada na identificação e na compreensão das relações entre pensamentos, emoções e comportamentos, com um amplo potencial de aplicação no campo da terapia de casal, a sua utilização encontra-se dispersa na literatura, o que dificulta a formulação de questões precisas sobre sua eficácia no domínio da satisfação conjugal. Nesse sentido, decidiu-se realizar uma revisão integrativa da literatura com o objetivo de mapear o conhecimento existente sobre a utilização da TCC na promoção da satisfação conjugal.

 

MÉTODO

A pesquisa foi realizada em três etapas. Inicialmente, em abril de 2021, foi realizada uma busca nas bases de dados MEDLINE (via PubMed) e CINAHL Complete (via EBSCOhost), a fim de identificar as palavras mais utilizadas nos títulos e nos abstracts dos estudos, assim como os termos de indexação. Os resultados encontrados, considerando-se o "cognitive behavior therapy", "therapy, cognitive behavioral"; "Behavior Therapy, Cognitive"; "marital satisfaction", "couple satisfaction", "couple communication", "marital communication", "couple conflict", "marital conflict", "couple interaction", "romantic relationships", "marital satisfaction" e "couple satisfaction". Posteriormente, os termos foram conjugados em uma estratégia de pesquisa única, ajustada de acordo com as especificidades das bases de dados incluídas na revisão integrativa, designadamente MEDLINE, CINAHL, MedicLatina e Psychology and Behavorial Sciences (via EBSCOhost).

Após a busca nas bases de dados, todos os títulos e resumos dos estudos foram extraídos e armazenados utilizando-se o recurso Mendeley® V1.19.4 (Mendeley Ltd., Elsevier, Netherlands). Os estudos duplicados foram eliminados.

Posteriormente, foram lidos e analisados todos os títulos e resumos recuperados, considerando-se os seguintes critérios de inclusão:

• Estudos que incluíram pelo menos um membro do casal, de pessoas heterossexuais ou homossexuais, em que um dos membros manifestava alteração da satisfação conjugal, relacionada ou não com disfunção sexual.

• Estudos sobre terapias utilizadas para melhorar a satisfação conjugal, que incluíram TCC.

• Estudos primários, com metodologia quantitativa ou qualitativa.

• Estudos em língua portuguesa, espanhola ou inglesa.

Os artigos selecionados foram lidos na íntegra, tendo sido pedida colaboração a dois revisores independentes para a extração dos dados: título do estudo; autores, ano e periódico científico; objetivo do estudo; população e tamanho da amostra; medidas avaliativas; técnicas e protocolos; e resultados obtidos.

Os dados são apresentados em formato narrativo, com recurso a tabelas, alinhadas com o objetivo da revisão.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram recuperados 28 estudos após a realização da pesquisa nas bases de dados e a eliminação dos que estavam duplicados.Após a análise dos títulos e resumos, foram excluídos 21 estudos, por não corresponderem aos critérios de inclusão. Assim, 7 trabalhos foram selecionados e lidos na íntegra.

A Tabela 1 especifica o objetivo, a população e os principais resultados de cada estudo selecionado.

Embora o foco seja no casal, no que diz respeito à utilização da TCC em diversos domínios da satisfação conjugal, verifica-se que apenas dois estudos têm o casal como população-alvo (McMahon et al., 2014; Ramke et al., 2016). O primeiro contou com uma amostra de 34 casais, com um dos membros portador de dor, e o segundo com uma amostra de 67 casais, com relação heterossexual ou homossexual, em que pelo menos um dos membros teve diagnóstico de cancro nos últimos seis meses.

O estudo randomizado de Ramke et al. (2016) objetivou determinar a eficácia de uma intervenção por telefone para casais, como complemento de um programa cognitivo- comportamental de gestão da dor. Incluiu um grupo experimental sujeito aos programa de dor (ADPT) e programa de intervenção de casais (ACI), e um grupo de controle sujeito apenas ao ADPT. Além deste programa, os casais integrados no grupo ACI participaram de quatro consultas de 60 minutos, via telefone, uma vez por semana. Essas consultas foram apoiadas por um manual escrito, tendo cada uma delas um tema: mecanismos de dor e dor crônica; estratégias para minimizar a dor; estratégias de comunicação; e prevenção de recaídas. Além dessas ações, ambos os integrantes do casal receberam informações sobre as diferenças entre dor aguda e crônica, os efeitos da inatividade nos estados de dor persistente e o papel que o parceiro pode desempenhar na reabilitação eficaz. Os companheiros treinaram a identificação de comportamentos de dor no parceiro, bem como estratégias para fornecer uma resposta encorajadora a comportamentos saudáveis (Ramkeet al., 2016). No acompanhamento, houve um a satisfação conjugal (F 2,29, 4,64, p = 0,040) a favor da condição, demonstrando melhorias significativas nesse construto em comparação com os casais do grupo sujeito apenas ao ADPT.

O estudo semi-experimental de McMahon et al. (2014) pretendeu examinar a possibilidade de uma estrutura baseada na TCC desenvolvida para casais em que um dos indivíduos tivesse doença oncológica. Todos os casais participaram no programa Partners Empowered (PE), com seis sessões presenciais, individuais, de duas horas cada uma, que ocorreram quinzenalmente. Os temas principais das sessões foram os seguintes: trabalho em equipe; reestruturação de tarefas e papéis familiares; comunicação do casal; comportamentos de apoio; sexualidade e intimidade física; adoção de estratégias de coping. Na última sessão, os casais escolheram os temas, aparecendo tópicos como fertilidade, comunicação com os filhos, mudanças no estilo de vida, gestão da fadiga e da dor, e obtenção de apoio fora da família. Verificou-se uma melhoria no relacionamento dos casais inicialmente insatisfeitos(pacientes de , p < 0,001), enquanto nos casais inicialmente satisfeitos a satisfação diminuiu ao longo do tempo, embora ainda permanecessem satisfeitos no final (pacientes de 52,92 para 52,56 e parceiros de 53,89 para 52,6, p < 0,001).

Nos demais estudos, embora a amostra seja constituída por um dos membros do casal, os objetivos são centrados na relação conjugal, sendo que a condição de serem casados é um dos critérios transversais.

ASPETOS METODOLÓGICOS DOS ESTUDOS E RESULTADOS

Em relação aos outros estudos selecionados, quatro reportam-se à intervenção com mulheres (Alizadeh et al., 2019; Omidi et al., 2016; Shayan et al., 2018) e um com homens (Amirpour et al., 2017). Dos primeiros, dois tiveram como propósito avaliar o efeito da TCC na disfunção sexual feminina.

Em um deles, as participantes apresentavam perturbação da excitação sexual e perturbação do orgasmo (Omidi et al., 2016), totalizando 83 mulheres, divididas em dois grupos, sendo o desenho do estudo um ensaio clínico randomizado. O grupo de controle foi sujeito ao tratamento com sildenafil uma hora antes da relação sexual, enquanto ao grupo experimental foi administrado placebo e desenvolvidas sessões de TCC durante oito semanas. A TCC, em comparação com o tratamento com sildenafil, parece ser mais eficaz nos níveis de satisfação conjugal: o grupo submetido à TCC aumentou de 29,53 no início do estudo para 38,37 no final da semana (p < 0,001), enquanto o grupo de controle aumentou de 29,62 para 36,02 (p < 0,001).

O outro estudo, também randomizado (Alizadeh et al., 2019), incluiu mulheres com alterações na função sexual, predominantemente relacionadas com a comunicação, sendo o seu objetivo avaliar a eficácia da TCC nas habilidades de comunicação das participantes. O grupo experimental foi sujeito à aconselhamento cognitivo-comportamental baseado na terapia de filmes, os quais incluíram temas associados a conflitos conjugais e comunicação. Foram realizadas oito sessões semanais, de duas horas cada. As participantes receberam um caderno e foi-lhes solicitado que escrevessem seus pensamentos e impressões sobre o filme em algumas linhas, compartilhando em cada sessão suas declarações, sentimentos e experiências com o grupo. Cada sessão iniciou com uma revisão das sessões anteriores, abordando a temática das tarefas domésticas. Foram usadas técnicas de identificação de pensamentos automáticos, avaliação de pensamentos automáticos, desafio dos pensamentos automáticos e substituição de pensamentos, com anotação dos aspectos associados com o relacionamento conjugal expressos pelas participantes e encorajamento do grupo para compartilhar sentimentos. O programa de TCC com base na terapia de filmes produziu efeitos na comunicação e no funcionamento sexual dos casais, encontrando-se diferenças significativas na pontuação média das habilidades de comunicação, em que o grupo experimental aumentou de 65,65 para 74,69 no final da intervenção, e o grupo de controle aumentou de 66,18 para 66,06 (p < 0,001).

Os outros dois estudos direcionados a mulheres, randomizados, incluíram participantes casadas há mais de seis meses, com idades entre 15 e 45 anos, sem antecedentes de doenças físicas e psicológicas (Shayan et al., 2018; Shayan et al.; 2020). Em ambos, o grupo experimental foi sujeito a intervenções no âmbito da TCC, enquanto o grupo de controle foi submetido à terapia convencional.

No estudo realizado em 2020, com o objetivo de analisar o efeito da TCC sobre o ajustamento conjugal nas mulheres, a intervenção com o grupo experimental baseou-se na realização de quatro sessões de aconselhamento de duas horas, durante quatro semanas (Shayan et al., 2020). A primeira sessão incidiu na identificação de crenças e pensamentos sobre qualidade e satisfação conjugal; a segunda, na análise da reflexão efetuada no intervalo das sessões, em que foram registrados os pensamentos referentes ao assunto em causa. As sessões finais aludiram aos trabalhos desenvolvidos pelas participantes durante a semana, centrados na identificação das distorções cognitivas, na reconstrução cognitiva e na adoção de comportamentos que visassem aumentar a satisfação conjugal. Os resultados do estudo indicaram uma melhoria no ajustamento conjugal entre as mulheres sujeitas à TCC (pontuação média de ajustamento conjugal foi de 51,87 ± 20,23 e 70,4 ± 19,47, respectivamente antes e depois da intervenção, p = 0,001), comparativamente às que integraram o grupo de controle (57,78 ± 22,63 e 56,57 ± 20,32, respectivamente antes e depois da intervenção, p = 0,033).

Tais resultados confirmaram os obtidos no estudo realizado anteriormente (Shayan et al., 2018), realçando os efeitos da TCC na satisfação conjugal, em especial no aumento da qualidade conjugal total e em todas as suas dimensões (solidariedade, satisfação e concordância), comparativamente com o grupo de controle. Este estudo incluiu oito sessões de aconselhamento cognitivo-comportamental de 90 minutos, durante oito semanas. Cada sessão envolveu perguntas e respostas, debates em grupo e apresentação de temas. Incluiu TCC em grupo, com finalidades semelhantes ao estudo referido anteriormente (Shayan et al., 2020), em que os trabalhos realizados pelas participantes no intervalo das sessões tinham como propósito prevenir a recaída no que se refere à insatisfação conjugal.Após a intervenção no grupo experimental, a qualidade conjugal aumentou significativamente (acordo, 14 antes e 88 depois; satisfação, 20 antes e 91 depois; solidariedade, 22 antes e 97 depois; escore total de 7 para 94 [p < 0,001]) em comparação com o grupo de controle (acordo, 0 antes e depois; satisfação, 1 antes e 2 depois; solidariedade, 16 antes e 15 depois; escore total de 0 antes e depois [p < 0,001]).

No que diz respeito ao estudo cujos participantes identificados foram homens (Amirpour et al., 2017), o critério de inclusão reportou-se a homens casados, veteranos de guerra com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O estudo teve como objetivo comparar a eficácia da terapia do processamento cognitivo (TPC) e da terapia do esquema (TE) na satisfação conjugal e na adoção de estilo de coping de evitamento entre essa população. O grupo de controle e o grupo experimental foram subdivididos em dois: um sujeito à TPC, combinando exposição e reestruturação cognitiva, e outro à TE, centrando-se nas relações objetais, apego, estruturalismo e psicanálise.

Os resultados indicaram que o uso da TPC e da TE reduziram a adoção de estilo de coping de evitamento e aumentaram a satisfação conjugal nos grupos experimentais em comparação com o grupo de controle (pontuações de estilo de evitamento: η 2 = 764,0, P = 555,100 > P, 2, 64, F e satisfação conjugal: η 2 = 672/0, P = 512,63 > P, 2, 64, F).

Assim, verifica-se que a TCC parece ser eficaz no aumento dos níveis de satisfação sexual em casais em que a mulher apresenta disfunções sexuais (Omidi et al., 2016), aumentando a compreensão dos aspectos positivos do comportamento dos membros do casal, levando a um padrão de comunicação mais eficaz no que se refere à função sexual (Alizadeh et al., 2019). Também nas mulheres sem antecedentes de doenças físicas e psicológicas marcantes, a TCC foi eficaz na melhoria da qualidade conjugal em todas as suas dimensões, aumentando as habilidades de comunicação e resolução de conflitos entre casais, assim como o aumento do ajustamento diádico (Shayan et al., 2018; Shayan et al., 2020).

Nos casais em que um dos membros apresentava outras patologias não relacionadas com a disfunção sexual, verificam-se também resultados consistentes com a utilização da TCC. Nos casais em que um dos membros sofria de dor crônica, confirmaram-se melhorias significativas na satisfação conjugal, as quaisse mantiveram ao longo de um mês de acompanhamento (Ramke et al., 2016). No que se refere aos casais em que um dos indivíduos tinha doença oncológica há mais de seis meses, McMahon et al. (2014) mostraram a viabilidade de a TCC prover intervenções sustentadas na comunicação para a gestão dos desafios inerentes à situação de doença, com beneficios na satisfação conjugal. Ainda, o estudo que comparou a TPC e a TE na satisfação conjugal de casais com veteranos de guerra e em situação de estresse pós-traumático (Amirpour et al., 2017) permitiu verificar que ambas as técnicas resultaram no aumento da satisfação conjugal.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as intervenções no âmbito da TCC foram eficazes, considerando-se os objetivos de cada estudo, o que remete para a importância da sua mobilização no contexto da terapia de casal. Como subsistema familiar, no caso de famílias com mais subsistemas, o casal agrega as características sistêmicas que incluem globalidade, equifinalidade, auto-organização, circularidade, entre outras, que o caracterizam em sua unicidade e diversidade de interações ao longo do ciclo vital. Nesse sentido, considerando tanto os resultados desta revisão integrativa quanto os desenvolvimentos atuais da TCC, importa a sua utilização sistemática na promoção da satisfação conjugal, visto que diferentes técnicas acarretaram resultados similares em termos de eficácia.Também a ampliação a novas problemáticas dos casais, cujo novos desafios remetem para novos problemas nas relações conjugais e, inerentemente, maior número de situações de conflito.

A expansão da TCC na clínica com casais permitirá o desenvolvimento de conhecimento mais abrangente sobre o seu efeito na satisfação conjugal, por meio da realização de estudos primários centrados nos resultados das intervenções. O saber específico decorrente da produção de conhecimento na área, por sua vez, poderá contribuir para o seu desenvolvimento teórico, em um paradigma integrativo e globalizante.

 

REFERÊNCIAS

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Correspondência:
Maria Henriqueta Figueiredo
E-mail: henriqueta@esenf.pt

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBTC em 22 de Abril de 2021. cod. 197
Artigo aceito em 01 de Setembro de 2021

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