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Boletim de Psicologia
Print version ISSN 0006-5943
Bol. psicol vol.66 no.144 São Paulo Jan. 2016
ARTIGOS ORIGINAIS
Estrutura circular do Checklist de Relações Interpessoais-II: considerações a partir dos dados de um processo seletivo1
Considerations about Checklist of Interpersonal Transactions structure: A selective process data
Carolina de Fátima GuimarãesI; Gleiber CoutoII,2
IInstituto Federal Goiano, Campus de Urutai - GO e Universidade Federal de Goiás - GO Regional Catalão - GO - Brasi
IIUniversidade Federal de Goiás - Regional Catalão - GO - Brasil
RESUMO
As representações circulares podem ser classificadas como quasi-circumplexas, quando apresentam características de bidimensionalidade, ou seja, as variáveis se reduzem a duas dimensões, e de raio constante. Nessa perspectiva, o presente estudo objetivou investigar o ajuste dos dados coletados por meio do Checklist de Relações Interpessoais-II (CLOIT-II) ao modelo quasi-circumplexo a partir de uma análise confirmatória em uma amostra de candidatos a vagas de emprego. Para realizar o teste da estrutura foi feito o escalonamento multidimensional confirmatório. Usando pares de coordenadas de cada segmento do círculo, as escalas tiveram seus lugares estabelecidos no espaço euclidiano. Com vistas a investigar o ajuste ao critério de raio constante foi aplicado o teste de Fisher. Os resultados apontaram ajuste ao modelo quasi-circumplexo. Com isto, concluiu-se que o CLOIT-II é uma ferramenta com características positivas para o uso no âmbito da seleção de pessoal.
Palavras-chave: Modelo quasi-circumplexo; relações interpessoais; seleção de pessoal.
ABSTRACT
The circular representations can be labeled quasi-circumplex when they show to dimensional characteristics, that is, the variables are reduced to two dimensions and a constant radius. From this perspective, the present study aimed to investigate the suitability of data collected through the Checklist of Interpersonal Transactions-II (CLOIT-II) to quasi-circumplex model through a confirmatory analysis of a sample of candidates to jobs. To perform the test of the structure it was carried out a confirmatory multidimensional scaling. Using pairs of coordinates of each circle segment, the scales had their places set into the euclidean space. The Fisher test was applied in order to investigate the adjustment to constant radius criterion. The results showed adjustment to quasi-circumplex model. Thus, it was concluded that the CLOIT-II is a tool with positive characteristics for use in the context of personal selection.
Keywords: Quasi-circumplex model; interpersonal transactions; personal selection.
INTRODUÇÃO
As interações interpessoais são experiências de singular relevância para todos os indivíduos. Elas diferenciam os seres humanos dos demais membros do universo biológico e consequências negativas ao desenvolvimento da personalidade são esperadas, caso não ocorram de forma satisfatória (Sullivan, 1953). Partindo dessa premissa, o autor desenvolveu sua Teoria Interpessoal na qual postula que o comportamento e a personalidade dos indivíduos se estruturam na medida em que são estabelecidas relações com outras pessoas.
O desenrolar de cada etapa do desenvolvimento humano recebe influências sociais, em uma busca de segurança e satisfação de necessidades que podem ser atendidas por meio das trocas interpessoais. Nesse sentido, a tarefa das ações interpessoais é evocar no outro comportamentos que possam atender essas necessidades num movimento recíproco. Assim, quando esse objetivo é atingido, determinadas interações se repetem e padrões de reciprocidade e complementaridade se formam (Sullivan, 1953).
Em qualquer interação social, as pessoas constantemente avaliam e negociam duas posições elementares: quão hostis ou amigáveis podem ser ou quanto controle conseguem exercer nos relacionamentos. Essas posições interpessoais deram corpo as duas dimensões fundamentais da teoria interpessoal, Poder e Afiliação (Sullivan, 1953). A partir destas concepções Leary (1957) deu forma a um modelo bidimensional representando posições antagônicas nessas dimensões por meio de uma organização circular. A Rosa das Interações Interpessoais foi desenvolvida a partir de diferentes combinações desses dois eixos fundamentais que resultaram em 16 posições interpessoais diferentes, mas relacionadas. Desde então, a Rosa das Interações serviu de modelo para ferramentas utilizadas em investigações sobre as mudanças de personalidade (Southar, Noser, Pollock, Mercer & Zeigler-Hill, 2015).
Kiesler (1983), seguindo os estudos sobre as representações das interações apresentou uma versão própria do círculo interpessoal. A principal diferença entre o modelo proposto por Leary e o de Kiesler é que, para o segundo, os posicionamentos interpessoais são o resultado da junção de comportamentos observáveis, enquanto que, para o primeiro, se tratava da soma das atitudes públicas e intrapsíquicas.
A questão central do modelo de Kiesler é o princípio da complementaridade, que segue a ideia de Sullivan (1953), de que as ações interpessoais são designadas a evocar reações nas pessoas presentes na interação, especialmente em indivíduos significantes. É esse princípio que confirma o processo em que sujeitos tentam influenciar os outros para atender suas necessidades. No Círculo Interpessoal de Kiesler, a complementaridade acontece com base na busca para provocar respostas opostas no eixo poder e respostas similares ou correspondentes no eixo afiliação. Desse modo, similaridade e oposição são as características fundamentais do modelo interpessoal de Kiesler (Van Denburg & Kiesler, 2002; Ravitz, McBride, & Maunder, 2011).
Com o intuito de coletar dados que preencham os diversos domínios de comportamento presentes no círculo interpessoal, Kiesler desenvolveu o Checklist of Interpersonal Transactions - Revised (CLOIT-R; Kiesler, Goldston & Schmidt, 1991), que permite mapear as 16 posições interpessoais que são estabelecidas por diferentes combinações das dimensões Poder, caracterizada pela dualidade Dominância-Submissão e Afiliação com os polos Hostilidade-Amabilidade, definidas a partir da soma de frequências de comportamentos observáveis. Essas categorias são distribuídas ao redor da circunferência em um sentido anti-horário classificadas lado a lado e rotuladas pelas letras de A a P: Dominância (A), Competição (B), Desconfiança (C), Frieza Afetiva (D), Hostilidade (E), Isolamento (F), Inibição (G), Insegurança (H), Submissão (I), Deferência (J), Confiança (K), Calor Afetivo (L), "Amigabilidade" (M), Sociabilidade (N), Exibicionismo (O), Segurança (P) (Horowitz, et al., 2006; Vandenbergue, Couto & Van Hattum, 2013).
Além dessas 16 posições interpessoais, há combinações que avaliam posições mais amplas de interações e resultam escores para octantes, quadrantes e hemisférios. Os octantes são uma redução formada pela combinação de escalas adjacentes, somando pares da direita para a esquerda no círculo. Tradicionalmente são computados a partir da escala Segurança (P) formando o seguinte grupo: segurança-dominância (PA), competição-desconfiança (BC), frieza-hostilidade (DE), isolamento-inibição (FG), insegurança-submissão (HI), deferência-confiança (JK), calor afetivo-amabilidade (LM) e sociabilidade-exibicionismo (NO). Quando a combinação é de cada quarto do círculo são obtidos os escores dos quadrantes. Já os hemisférios advêm da pontuação de cada metade da circunferência (Vandenbergue, et al., 2013).
Na literatura internacional tornou-se frequente o relato de representações circulares semelhantes às usadas por Leary e Kiesler em diversos campos, por exemplo, nos dados sobre traços sociais e relações conjugais (Smith & Williams, 2015; Martínez-Pampliega, Iriarte, Martín-Íñigo & Navarro-Aresti, 2016), comportamentos contraproducentes no trabalho (Gonzalez-Mulé, DeGeest & Mount, 2013), desordem de personalidade (Pukrop, Sass & Steinmeyer, 2000; Wright, et al., 2012), problemas interpessoais (Sodano & Tracey, 2011) e narcisismo (Miller, Price, Gentile, Lynam & Campbell, 2012).
As representações circulares podem ser abordadas a partir de três diferentes concepções. Na primeira, ela pode ser vista como meramente uma representação útil ou elegante de um construto em particular. Na segunda, essa representação pode implicar em uma ordem circular que descreve as variáveis próximas como mais relacionadas, aquelas que ocupam posições opostas expressam correlações negativas, enquanto que aquelas que formam um ângulo reto entre si são independentes. A terceira concepção pressupõe que o conjunto de variáveis, quando plotadas em um plano espacial formam entre si um círculo perfeito. Esse conjunto pode ser definido a partir de um modelo geométrico que segue três propriedades fundamentais: (1ª) bidimensionalidade, em que as diferenças entre as variáveis são redutíveis a diferenças entre duas dimensões; (2ª) raio constante, que consiste na ideia de que cada escala tem espaço igual no círculo, em que o raio do círculo seria a distância da variável até o centro; (3ª) distribuição contínua, que implica espaçamento uniforme das variáveis ao redor do círculo (Wiggins, Phillips & Trapnell, 1989). Com isso, essas três propriedades podem ser entendidas como três critérios para classificação de uma real relação circular, subsidiando estudos que possam investigar e comprovar a circularidade presente nas dimensões medidas (Wiggins, Phillips & Trapnell, 1989; Fabrigar, Visser & Browne, 1997).
Essa estrutura circular perfeita foi primeiramente encontrada por Guttman (1954), que a nomeou de circumplexo. Entendido como um sistema de variáveis que são representadas, respeitando leis da ordem circular. Nesse modelo, as variáveis dispostas são de igual importância e classificação, porém são diferentes entre si em se tratando do conteúdo definidor. Tais variáveis podem ser representadas num circumplexo, quando há duas dimensões que se relacionam ortogonalmente, ou seja, são independentes.
O espaço circular em que as variáveis ficam dispostas tem sua organização determinada pelo grau de correlação. As matrizes de correlações se apresentam de tal modo que, quando um grupo aumenta, o outro diminui sistematicamente. Toda vez que um tema de estudo é capaz de ser descrito respeitando esses critérios, essa descrição pode ser feita dentro de uma organização circumplexa (Cureton & D'Agostino, 2013).
Assim, o modelo circumplexo é aplicável, quando há uma distribuição contínua dos tipos de comportamentos interpessoais ao redor do círculo. O número de graus em torno da circunferência, que separa duas posições interpessoais, é uma medida do tamanho da sua dessemelhança. Além disso, o modelo permite avaliar a intensidade das características, por exemplo, atos interpessoais. Ela é definida considerando a distância das posições em relação ao centro do círculo, sendo que quanto maior a intensidade, maior a distância do centro (Hafkenscheid & Rouckhout, 2009).
Entretanto, os instrumentos, que se dispõem a adotar o modelo circumplexo, nem sempre conseguem adequação exata aos critérios de circumplexidade e podem ser considerados quasi-circumplexos ou não circumplexos. O modelo quasi-circumplexo pode ser usado, quando as variáveis se reduzem a duas dimensões e o valor do raio é constante, mas não estão distribuídas de maneira equidistante em torno da circunferência. Já o modelo não circumplexo é observado, quando pelo menos dois critérios para uma circunferência perfeita não são atingidos, sendo o círculo, portanto, apenas uma representação útil de determinado construto (Gaines Jr, et al., & Wexler, 1997; Gurtman & Picuns, 2000).
Nesse sentido, entender, se os dados de determinados instrumentos apresentam adequação ao modelo circumplexo, quasi-circumplexo ou não circumplexo, se torna relevante, uma vez que pode indicar como as variáveis se distribuem no espaço circular. E tal distribuição revela as relações entre as variáveis, podendo ser semelhantes conceitualmente, caso estejam próximas ou até mesmo serem antagônicas, se estiverem em posições opostas. Assim, a localização de características interpessoais pode indicar empiricamente se a relação entre as variáveis está de acordo ou não com as propostas teóricas. (Hafkenscheid & Rouckhout, 2009; 2013).
Diante das possibilidades da aplicação do modelo circumplexo ao campo interpessoal e a consequente necessidade de avaliar o ajuste dos dados, a literatura também mostra de forma abundante estudos sobre medidas que se propuseram a assim representar o domínio interpessoal e a análise de suas estruturas. Por exemplo, foram encontrados estudos (Gurtman & Pincus, 2000; Acton & Revelle, 2002; Adams & Tracey, 2004) que identificaram estrutura circular satisfatória para o Interpersonal Adjective Scales (IAS; Wiggins, 1979); o qual visa avaliar as características interpessoais com base em adjetivos como, por exemplo, distante, firme e extrovertido. Também houve aproximação da estrutura circumplexa ideal na versão para crianças do IAS, denominada Interpersonal Adjective Scales for Children (IAS-C, Di Blas, 2007) e que, por meio de adjetivos que representam categorias usadas por adultos, avaliam as posições interpessoais das crianças enquanto interagem (Di Blas, 2007) e do Revised Interpersonal Circumplex Inventory of Children's Social Goals (Ojanen, Grönroos & Salmivalli, 2005-, Trucco, Wright & Colder, 2013), que tem o propósito de avaliar as habilidades e metas sociais de crianças.
Seguindo a mesma tendência, foram positivos os resultados das análises da adequação dos dados ao modelo circumplexo do Inventory of Interpersonal Problems (IIP-C,; Acton & Revelle, 2002) e do Inventory of Interpersonal Problems-Short Circumplex (IIP-SC; Hopwood, Pincus, DeMoor, & Koonce, 2008-; Wu, Roche, Dowgwillo, Wang & Pincus, 2015), que avaliam as dificuldades vivenciadas nos relacionamentos que são fontes de sofrimento subjetivo (Alden, Wiggins & Pincus, 1990), em versões com 64 e 32 proposições, respectivamente; do Impact Message Inventory (IMI-C; Kiesler & Schmidt, 1993; Schmidt, Wagner & Kiesler, 1999; Kiesler & Schmidt, 2006; Hafkenscheid & Rouckhout, 2013), que investiga o estilo interpessoal da pessoa-alvo por meio das respostas autorrelatadas por um respondente que tem interagido com ela ou a observado; e também do Interpersonal Behavior Questionnaire for Children (IBQ-C; Di Blas, Grassi, Lucio & Momentè, 2011), que analisa, por meio de autorrelato e/ou da perspectiva do interagente, os estilos comportamentais das crianças durante interações. Por outro lado, o Schwartz's Value System (SVS; Schwartz, 1992), que visa identificar tipos de valores que refletem um contínuo de fatores motivacionais, apresentou estrutura quasi-circumplexa (Lindeman & Verkasalo, 2005).
Entretanto, estudos com diferentes resultados de ajuste para esses instrumentos também foram encontrados. Tais resultados mostraram ajuste à estruturas diferentes em certos momentos, por exemplo, o IIP-C em um estudo feito por Monsen, Hagtvet, Havik e Eilertsen (2006) com sujeitos clínicos e não clínicos apresentou uma estrutura quasi-circumplexa, bem como o IBQ-C na forma de autoavaliação de crianças mais novas e mais velhas (Di Blas, Grassi, Lucio & Momentè, 2011). Já os dados do IMI não apresentaram conformidade com o modelo circumplexo, quando da realização de uma análise fatorial confirmatória, pois houve variações na esperada igualdade dos espaços dos octantes em torno da circunferência e no comprimento dos vetores (Schmidt, Wagner & Kiesler, 1999), e também, quando adaptado para a população holandesa (Hafkenscheid & Rouckhout, 2009). Os dados do SVS também não indicaram adequação ao modelo circular, quando da aplicação de técnicas confirmatórias (Perrinjaquet, Furrer, Usunier, Cestre & Valette-Florence, 2007). Assim, pode-se observar a variação da estrutura circumplexa presente em certos instrumentos, dependendo das técnicas de análise empregadas e também de variações da população estudada.
Com relação aos estudos da estrutura circumplexa do instrumento desenvolvido por Kiesler, o CLOIT-R, Tracey e Schneider (1995), a partir da aplicação de um modelo confirmatório, encontraram resultados que indicaram ajuste satisfatório dos dados ao modelo circular. Os achados apontaram ser adequada a utilização do CLOIT-R em trabalhos que pretendem avaliar empiricamente a teoria interpessoal e o modo como as pessoas interagem.
Tendo em vista as possibilidades do modelo de Kiesler para avaliar as características interpessoais, essa medida foi traduzida e adaptada para a população brasileira por Couto, Van Hattum, Vandenberghe e Benfica (2005) e recebeu o nome de Checklist de Relações Interpessoais. Teve sua estrutura interna avaliada por Couto, Vandenberghe, Van Hattum e Campos (2006), em que, numa amostra de estudantes universitários e usando modelo exploratório para investigar o critério da bidimensionalidade, o teste apresentou melhor ajuste em três dimensões. Já o estudo da consistência interna apontou coeficientes abaixo do esperado para os 16 segmentos principais. Por esse motivo, o instrumento foi sistematicamente revisado e renomeado para CLOIT-II.
Embora tenham sido encontrados resultados satisfatórios do instrumento para diferenciar características psicológicas, por exemplo, a associação entre posições interpessoais de hostilidade e estresse (Couto, Vandenberghe & Brito, 2012); características interpessoais e habilidades sociais (Couto, Vandenberghe, Tavares & Silva, 2012) e posições de desconfiança, frieza e hostilidade com problemas de saúde mental (Couto, Vandenberghe & Tavares, 2015); a questão sobre a estrutura circumplexa, proposta originalmente para o inventário, ficava em aberto. Com o objetivo de responder a essa questão, logo mais, Couto, Tavares e Silva (manuscrito em avaliação) realizaram nova investigação do ajuste da estrutura interna do CLOIT-II ao modelo circumplexo. Foram realizadas análises confirmatórias para verificar o ajuste dos dados aos critérios de bidimensionalidade, raios constantes e igualdade de espaçamento entre as variáveis. Os dados foram coletados também em uma amostra de universitários e os resultados apontaram que o instrumento teve melhor adequação ao modelo quasi-circumplexo, uma vez que o critério de igualdade dos espaços entre as escalas não se confirmou. Seguindo os mesmos objetivos, Tavares (2015) replicou a metodologia do estudo anterior. Tendo em vista as evidências da literatura de que a estrutura circumplexa pode variar também conforme a população estudada, neste caso, foram coletadas informações sobre as interações interpessoais no trabalho em um grupo de 363 trabalhadores. Novamente foi testado o ajuste dos dados à estrutura circumplexa. Seus resultados foram semelhantes ao estudo com universitários no que tange à indicação de ajuste do inventário a um modelo quasi-circumplexo.
Portanto, além da perspectiva apresentada acima, várias pesquisas (Liden, Wayne & Sparrowe, 2000; Silva & Filipini, 2013) apontam para a importância do relacionamento interpessoal também no ambiente de trabalho, uma vez que o modo como os trabalhadores estabelecem contato pode influenciar, por exemplo, no seu desempenho (Silva & Filipini, 2013). Também, de acordo com Godoy e Noronha (2005) e Baumgartl, Pagano e Lacerda (2010) são necessárias pesquisas com instrumentos psicológicos voltados para o ambiente organizacional, pois o que se tem percebido é o uso de testes que não possuem estudos e em alguns casos coerência teórica com a área organizacional.
Assim, considerando a importância do relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho e que, dos estudos que analisaram a estrutura do CLOIT-II, apenas um teve como foco as interações no trabalho, mas fora do contexto de seleção de pessoal, a presente pesquisa pretendeu contribuir para o estudo sobre o uso do teste em de seleção de pessoal. O objetivo foi de investigar o ajuste dos dados coletados pelo CLOIT-II ao modelo quasi-circumplexo a partir de uma análise confirmatória em uma amostra de candidatos a vagas de empregos operacionais. Buscou-se compreender, se o inventário mantém suas características circulares ao ser aplicado em uma amostra de candidatos a vagas de emprego, população esta diferente da qual tem sido avaliada pelos estudos realizados até o momento.
MÉTODO
Participantes
Este estudo contou com 108 participantes, que eram todos candidatos a vagas de emprego operacionais de uma organização particular no sudeste goiano. Dentre os participantes 94,4% eram do sexo masculino com idade entre 173 e 40 anos (M=25,32 e DP=5,23). Na data da coleta de dados, 60,2% dos sujeitos eram solteiros, 38% casados e 1,8% divorciados. Em relação à escolaridade, 75% tinham Ensino Médio Completo, 15,7% Ensino Superior Incompleto, 6,5% Ensino Superior Completo e 2,8% Ensino Fundamental incompleto ou completo. Sobre a ocupação dos respondentes, 54,6% estavam trabalhando ou eram do lar, 40,7% desempregados e 4,7% eram estudantes. Ainda 57,4% pertenciam à classe econômica D, 25% à classe C2, 9,3% à B2, 7,4% à E e 0,9% à classe B1.
Instrumento
Checkist de Relações Interpessoais - II (CLOIT-II, Couto, Vandenberghe & Van Hattum, 2014): inventário desenvolvido para a avaliação e descrição das interações interpessoais do indivíduo, considerado Pessoa Alvo. O CLOIT-II foi traduzido e adaptado para aplicação no Brasil por Couto, Van Hattum, Vandenberghe e Benfica (2005). Diversos estudos como Couto, Vandenberghe, Van Hattum e Campos (2006), Couto, Muniz, Vandenberghe e Van Hattum (2008), Couto, Vandenberghe e Brito (2012) Couto, Vandenberghe, Tavares e Silva (2012) e Couto, Vandenberghe e Tavares (2015) se dedicaram à análise das suas propriedades psicométricas.
Esse instrumento é apresentado em três formas, sendo a Autoclassificação, que é respondida pela Pessoa Alvo; a Interagente, preenchida por alguém que interage com a Pessoa Alvo; e a forma Observador, em que a avaliação é realizada por um sujeito que assiste as interações da Pessoa Alvo. Para este estudo será utilizado o modo de Autoclassificação, que assim como as demais, conta com 96 proposições, que se referem a atitudes que podem descrever a maneira com a Pessoa Alvo age durante as interações sociais. Para preencher o formulário, os sujeitos são solicitados a ler as proposições e indicar aquelas que descrevem os comportamentos que predominam em suas relações.
As proposições são classificadas em 16 escalas bipolares, que podem ser projetadas em torno de um modelo circular em sentido anti-horário, que são: (A, α=0,72), Competição (B, α =0,70), Desconfiança (C, α =0,74), Frieza Afetiva (D, α =0,67), Hostilidade (E, α =0,62), Isolamento (F, α =0,71), Inibição (G, α =0,72), Insegurança (H, α =0,68), Submissão (I, α =0,70), Deferência (J, α =0,66), Confiança (K, α =0,64), Calor Afetivo (L, α =0,69), Amigabilidade (M, α =0,69), Sociabilidade (N, α=0,68), Exibicionismo (O, α =0,74), Segurança (P, α =0,69). Nesse sentido, cada escala é formada pela junção de seis proposições em que três delas têm peso um e as outras três proposições têm peso dois, pois demarcam intensidades moderadas e extremas, respectivamente.
Para a estimativa dos escores brutos é realizada a soma dos pontos das respostas relativas a cada escala, as quais podem receber pontuação variando de zero a nove. Os resultados das 16 escalas podem ser combinados e assim descrever padrões de interações. Essa combinação pode resultar, por exemplo, em quadrantes (Qdt), quando da soma dos escores presentes em cada quarto do círculo. Para os quadrantes, as fórmulas são as seguintes: Hostilidade-Dominância (Qdt-HD, α =0,88) = 0,707 A + 0,924 B + C + 0,924 D + 0,707 E; Hostilidade-Submissão (Qdt-HS, α =0,88) = 0,707 E + 0,924 F + G + 0,924 H + 0,707 I; "Amigabilidade"-Submissão (Qdt-AS, α =0,88) = 0,707 I + 0,924 J + K + 0,924 L + 0,707 M; "Amigabilidade"-Dominância (Qdt-AD, α =0,88) = 0,707 M + 0,924 N + O + 0,924 P + 0,707 A.
É possível também agrupar os escores a partir dos hemisférios do círculo (Hmf), em que as fórmulas são: Dominância (Hmf-DOM, α =0,91) = 0,383 N + 0,707 O + 0,924 P + A + 0,924 B + 0,707 C + 0,383 D; Submissão (Hmf-SUB, α =0,9) = 0,383 F + 0,707 G + 0,924 H + I + 0,924 J + 0,707 K + 0,383 L; "Amigabilidade" (Hmf-AMI, α =0,9) = 0,383 J + 0,707 K + 0,924 L + M + 0,924 N + 0,707 O + 0,383 P; Hostilidade (Hmf-HOS, α =0,91) = 0,383 B + 0,707 C + 0,924 D + E + 0,924 F + 0,707 G + 0,383 H.
Há também a possibilidade de se calcular os escores que situam a pessoa alvo em cada eixo do círculo. O escore no eixo vertical interpretado como Controle pode ser obtido pela fórmula: PODER (Ex-PODER, α =0,9) = A - I + 0,924 (B + P - H - J) + 0,707 (C + O - G - K) + 0,383 (D + N - F - L), enquanto o escore no eixo horizontal interpretado como Afiliação pode ser obtido pela seguinte fórmula: FILIA (Ex-FILIA, α =0,9) = M - E + 0,924 (N + L - D - F) + 0,707 (O + K - C - G) + 0,383 (P + J - B - H).
Procedimento de coleta de dados
O projeto de pesquisa foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, conforme parecer sob protocolo de nº 103349/2014. A coleta de dados ocorreu numa empresa privada do sudeste goiano. Os participantes, que eram candidatos a vagas de emprego da referida empresa, foram convidados a participar do estudo logo após a realização do processo seletivo, de modo que a participação ou não na pesquisa não influenciaria no resultado da seleção.
Ao serem contatados, os sujeitos foram informados sobre os procedimentos que envolviam sua participação na pesquisa de modo a subsidiar a livre participação. Aqueles que concordaram em participar, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e foram iniciados os procedimentos de coleta de dados, respondendo a forma de autoclassificação do CLOIT - II.
Plano de análise dos dados
As respostas dos participantes foram tabuladas em planilha eletrônica e os escores totais e de cada escala do inventário foram estimados. Logo após, foi realizado o escalonamento multidimensional confirmatório (MDS com algoritmo Proxscal), com vistas a testar a estrutura. Para isto, os escores das variáveis foram transformados em pontuação z para em seguida calculadas as distâncias entre as variáveis. Depois, com os valores definidos, estes foram organizados espacialmente de acordo com a teoria do Círculo Interpessoal. Com isto, foram adotados os valores do par de coordenadas calculados para o modelo quasi-circumplexo considerando a matriz de correlações entre as 16 escalas, conforme os achados de Couto, et al. (manuscrito em avaliação) que identificaram que o CLOIT-II atende melhor a este modelo de estrutura. Portanto, as escalas assumiram os seguintes parâmetros para o eixo Afiliação e Controle respectivamente: Dominância [A (0,00; 1,00)], Competição [B (-0,40; 0,90)], Desconfiança [C (-0,60; 0,70)], Frieza Afetiva [D (-0,85; 0,20)], Hostilidade [E (-1,00; -0,00)], Isolamento [F (-0,85; -0,20)], Inibição [G (-0,65; -0,55)], Insegurança [H (-0,40; -0,80)], Submissão [I(0,00; -1,00)], Deferência [J (0,30; -0,80)], Confiança [K (0,60; -0,60)], Calor Afetivo [L (0,80; -0,35)], "Amigabilidade" [M (1,00; 0,00)], Sociabilidade [N (0,85; 0,24)], Exibicionismo [O (0,60; 0,61)], Segurança [P (0,30; 0,89)]. Dados estes valores, as escalas tiveram seus lugares estabelecidos no espaço. Para avaliar o ajuste ao modelo, foram calculados o coeficiente Phi de Tucker, tido com satisfatório um resultado igual ou superior a 0,90, e o normalized raw stress com índices positivos abaixo de 0,20 (He & Van de Vijver, 2012).
Logo mais, com o intuito de avaliar a estrutura do inventário, estimou-se, as posições angulares ordenadas para cada escala e em seguida, os valores dos ângulos de separação para cada par de escalas, que se posicionaram lado a lado ao redor da circunferência. Num círculo ideal, a distância angular entre as 16 escalas é de 22,5º. As escalas que apresentam diferença angular de 90º não se relacionam entre si e as que se distanciam em 180º tem uma relação de oposição conceitual. Por outro lado, quanto menor o ângulo formado entre as escalas, maior a proximidade entre os significados dados às variáveis (Browne, 1992). Depois, as posições angulares foram corrigidas e para a escala "Amigabilidade" foi atribuída posição zero, uma vez que a localização desta variável foi convencionada na posição inicial do círculo.
Para testar um dos critérios de ajuste dos dados do inventário ao modelo circumplexo foi aplicado o teste de Fisher: Fisher Test t = onde XV = . Em um círculo perfeito, as variáveis devem ficar dispostas equidistantes do centro da circunferência. Cabe ao teste de Fisher medir o raio que deve ser constante. Seu resultado remete ao coeficiente de variação, isto é, o desvio padrão dividido por dois e indica o quando os dados analisados se distanciam do círculo ideal. Esse círculo ideal foi oferecido pelos autores, com os valores dos raios iguais para todas as escalas. Ao comparar o círculo ideal com o formado pelos dados da amostra, quanto menor o valor do teste de Fisher, mais próximo de um circumplexo verdadeiro estarão os dados do inventário, sendo 0,20 o limite máximo para a possibilidade de ajuste ao modelo. Já um valor alto sugere raios desiguais e, portanto em desacordo com um círculo perfeito (Acton & Revelle, 2002; 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o intuito de atingir os objetivos indicados, o primeiro passo foi testar a hipótese da estrutura do CLOIT-II, que tem a proposta de descrever as interações interpessoais em duas dimensões - controle e afiliação - que combinadas podem ser representadas num espaço bidimensional. Para testar a estrutura, foram realizadas análises de Escalonamento Multidimensional Confirmatório para as 16 escalas e obteve-se índice ajuste Phi de Tucker = 0,94 e normalized raw stress = 0,11. Esses resultados indicam índices satisfatórios e, portanto, confirmam ajuste ao modelo dimensional, e estão de acordo com os resultados encontrados por Couto et al. (manuscrito em avaliação) e também Tavares (2015). Com isto, pôde-se dizer que dados coletados em contexto de seleção de pessoal utilizando o CLOIT-II, também atendem a um dos critérios da estrutura circular, que é o da bidimensionalidade, ou seja, as diferenças entre as variáveis podem ser reduzidas a diferenças em duas dimensões (Fabrigar, Visser & Browne, 1997).
Os valores das coordenadas para as duas dimensões de cada uma das 16 escalas podem ser visualizados na Tabela 1, enquanto que a estrutura revelada pela realização do MDS está na Figura 1. Ao realizar a análise das projeções das 16 escalas no espaço e as distribuições destas no entorno da circunferência, é possível compreender a dinâmica dos dados coletados pelo inventário. Nesse sentido, as 16 escalas ficaram localizadas lado a lado, mantendo a ordem esperada e também foram plotadas 4 escalas em cada quadrante, aspectos que estão em acordo com as proposições teóricas do círculo interpessoal de Kiesler (1983).
Além dessas características, é possível verificar que as escalas se projetaram de modo a confirmar a relação de oposição entre elas, como por exemplo, as escalas Desconfiança (C) e Confiança (K) que apresentaram um ângulo de 178º o que significa posições opostas no plano de maneira quase perfeita, pois se aproximou bastante do ângulo de 180º. Também se aproximaram de 180º os ângulos formados entre as escalas A e I (187º), B e J (176º), D e L (183º), E e M (189º), F e N (189º), G e O (184º), H e P (177º) e projetaram essas escalas em posições antagônicas no espaço euclidiano. Esses resultados indicam que tais escalas descrevem características interpessoais antagônicas e consequentemente adequação à proposta do círculo interpessoal de Kiesler (Fabrigar, Visser & Browne, 1997; Van Denburg & Kiesler, 2002).
A projeção das escalas no espaço ainda permitiu constatar a relação entre as escalas no que se refere à formação dos octantes, os quais são pares de variáveis que se posicionam lado a lado no entorno do círculo e se aproximam conceitualmente. Com isso, os dados apresentaram formação dos octantes tradicionais - PA, BC, DE, FG, HI, JK, LM, NO - e não tradicionais - AB, CD, EF, GH, IJ, KL, MN, OP - com alguns ângulos de separação, que se distanciaram do valor esperado de 22,5º, e outros que se aproximaram bastante deste valor, conforme a Tabela 1.
Dado os valores dos ângulos de separação, nota-se que dentre os que se distanciaram do valor de 22,5, a escala Submissão (I) apresentou ângulos diferentes com as escalas que lhes são adjacentes, sendo um ângulo menor com Insegurança (H) e maior com Deferência (J). Com essas variações, verifica-se que as características de submissão em que há a recusa por responsabilidades e atitudes são avaliadas pelos sujeitos da pesquisa como sendo mais próximas de posições, em que o indivíduo evita ser pretencioso e parece necessitar da ajuda dos demais, do que com posições de aceitação do outro com satisfação e disponibilidade para atender pedidos e solicitações.
Ainda sobre os valores angulares que se distanciaram do ideal, verificou-se também que as escalas adjacentes à Hostilidade (E) também se posicionaram com distâncias diferentes, sendo que Frieza Afetiva (D) apresentou ângulo menor e Isolamento (F) um ângulo maior. Nesse sentido, também é entendido que os sujeitos da pesquisa avaliam as características de hostilidade, em que as pessoas violam regras e são rudes com os demais, como conceitualmente mais próximas à atitudes de dificuldade em demonstrar cordialidade, com pouca simpatia a comportamentos irregulares do que com posições de distanciamento, em que os indivíduos preferem realizar tarefas sozinhos.
Por outro lado, dentre as diferenças angulares que se aproximaram do valor de 22,5, as escalas que estão imediatamente ao lado direito e esquerdo de Exibicionismo (O), que são Sociabilidade (N) e Segurança (P), apresentaram distância muito parecida com a esperada pela teoria. Desse modo, de acordo com o que pensam os sujeitos da pesquisa, as características de exibicionismo estão próximas tanto de atitudes em que as pessoas buscam interagir com os demais, expressando alegria ao estabelecer contatos, quanto de comportamentos de confiança em seus próprios recursos para resolver conflitos e de menção sobre seus méritos.
Conforme os objetivos, outra análise foi realizada, com vistas a investigar o segundo critério para a circumplexidade dos dados, o qual aponta que os valores dos raios de cada uma das escalas devem ser iguais (Wiggins, Phillips & Trapnell, 1989). Para verificar esse critério, aplicou-se o Teste de Fisher, que avalia a distância entre as posições das escalas até o centro da circunferência, o que permite estimar o tamanho do raio. Nesse sentido, para a análise dos dados foi calculado, primeiramente, o valor do raio (R) de cada escala e em seguida estimaram-se a média (MR) e as diferenças entre os raios de cada escala e a média (R-MR). Os resultados podem ser observados na Tabela 1.
Com os valores estimados, pode-se verificar que sete escalas foram projetadas para dentro do círculo, pois apresentaram diferenças negativas entre o raio e o raio médio. Por outro lado, nove escalas apresentaram diferenças positivas e, portanto foram projetadas para fora do círculo. As escalas mais ajustadas foram Dominância (A) com posição projetada para fora do círculo perfeito e Inibição (G) e Calor Afetivo (L) projetadas para dentro. Sobre a mais desajustada foi identificada a escala Exibicionismo (O) com valor negativo e por isso, posicionado dentro da circunferência hipotética.
Vale destacar que mesmo a posição mais desajustada apresentou índice bem inferior ao limite de dois desvios padrão acima ou abaixo da média, o que sinaliza para um ajuste satisfatório ao modelo circumplexo. Além disso, esses resultados são semelhantes aos encontrados por Couto et al. (manuscrito em avaliação) que também identificaram ajuste a este critério, porém com desvios um pouco menores, como por exemplo, a escala O, a mais desajustada nas duas pesquisas, apresentou diferença de -0,19 no trabalho de Couto et al. (manuscrito em preparação), enquanto na presente pesquisa o desvio foi de -0,24.
Em relação ao teste de Fisher encontrou-se um valor dentro dos limites aceitos o que também indica ajuste ao modelo circumplexo com variação de 19% para cada eixo das duas dimensões (Acton & Revele, 2004). Nesse sentido, os resultados da avaliação dos valores dos raios do círculo indicam que os presentes dados confirmaram ajuste ao critério de circumplexidade que versa sobre raios iguais.
Conforme o objetivo deste trabalho, que foi testar o ajuste ao modelo quasi-circumplexo, os resultados encontrados indicam que os dados atingiram os critérios de bidimensionalidade e de raio constante e não apresentaram espaços intersticiais equivalentes. Com isso, pode-se concluir que os dados confirmam o ajuste ao modelo proposto. Entretanto, como o ajuste perfeito ao modelo circumplexo é um critério bastante rígido (Gurtman & Pincus, 2000), a presença de uma estrutura circular exata não é uma condição imprescindível para o inventário ser relevante no tocante à avaliação das características psíquicas dos sujeitos. Logo, a confirmação do ajuste dos dados do CLOIT-II ao modelo quasi-circumplexo foi reportado anteriormente por Couto et al. (manuscrito em avaliação) em uma amostra de estudantes e por Tavares (2015), em uma amostra de trabalhadores que fornecem evidência psicométrica da estabilidade da estrutura interna. Quando são somados aos resultados encontrados aqui, uma nova evidência da estabilidade estrutural do inventário é adicionada especialmente, quando aplicado no âmbito da seleção de pessoal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo da presente pesquisa foi avaliar a adequação ao modelo quasi-circumplexo do Checklist de Relações Interpessoais - II (CLOIT-II), em candidatos a vagas de empregos operacionais, com vistas a contribuir para o estudo das características psicológicas no ambiente organizacional. A adequação à estrutura circumplexa requer três critérios: (1) as diferenças entre as variáveis podem ser reduzidas a duas dimensões, (2) as variáveis devem apresentar iguais distâncias do centro do círculo, (3) e as distâncias entre as variáveis devem ser iguais.
Com a aplicação do MDS confirmatório foi possível verificar que os dados podem ser representados em um modelo bidimensional. O Teste de Fisher indicou uma variação adequada das distâncias das variáveis em relação ao centro da circunferência. Esses resultados confirmam uma estrutura quasi-circumplexa, pois este modelo é demonstrado quando o critério de projeções com distâncias iguais entre as variáveis é relaxado, mas as outras condições são mantidas.
Com esses resultados, constata-se que o CLOIT-II, ao ser aplicado no âmbito da seleção de pessoal, replica o modelo quasi-circumplexo, o que mostra sua provável utilidade por psicólogos preocupados em avaliar o modo como os candidatos agem em suas interações interpessoais. Uma das limitações mais evidentes desse estudo pode ser apontada pelo número pequeno de participantes e o uso de uma amostra de conveniência. Nesse sentido, espera-se que novos estudos sejam realizados. Uma sugestão para futuros estudos é que sejam considerados outros dados de processos seletivos, ocorridos em ambientes organizacionais diferentes, envolvendo também funções variadas. O que permitiria um maior número de sujeitos e que a escolha dos indivíduos se aproxime do modo aleatório, permitindo assim condições para a generalização dos resultados. Por hora, podemos considerar que as evidências a favor da estabilidade da estrutura interna do inventário vêm se acumulando de modo a apoiar sua utilização.
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Recebido em 4/03/16
Revisto em 23/07/16
Aceito em 25 /07/16
1 Este artigo é parte da dissertação de mestrado da primeira autora defendida em 2015 no programa de Pós-Graduação em Gestão Organizacional (Mestrado Profissional) da Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão, sob a orientação do segundo autor.
2 Endereço para correpondência: Carolina: E-mail: cf.guimaraes@outlook.com. Gleiber: Av. Dr. Lamartine Pinto de Avelar, 1120, Setor Universitário. CEP 75704-900. Catalão-GO, Brasil. E-mail: gleibercouto@yahoo.com.br.
3 Candidato apresentou documento de emancipação de menor.