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Estudos de Psicanálise

Print version ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.39 Belo Horizonte July 2013

 

 

Da problemática sedução da histeria à enigmática sedução do feminino em Freud

 

The problem of hysteria to the enigmatic allure of feminine seduction in Freud

 

 

Maria das Mercês Maia Muribeca

Universidade Autónoma de Madrid
Centro Universitário de João Pessoa
Centro de Ensino da Polícia Militar da Paraíba

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Através de um discurso tanto religioso quanto científico a origem da sexualidade feminina foi respaldada numa leitura negativa da sexualidade masculina. Por milênios, o corpo feminino foi envolto em uma aura de profundo mistério, que deu margens a muitos equívocos. Seu corpo considerado anatomicamente imperfeito se prestava a todo tipo de associações com o mal por parte da religião e com as enfermidades por parte da ciência. Na construção da sexualidade feminina, o feminino perdeu suas origens passando a ser visto como algo desvalorizado ou recalcado em seus primórdios. Durante muito tempo, o discurso leigo e científico considerou a histeria uma doença só possível no corpo de uma mulher. Assim, numa cultura predominantemente patriarcal, a histeria passou a incorporar a própria feminilidade como um enigma, e não como uma construção da cultura. Grande parte dessa confusão se deve a uma generalização de certas categorias, que inserem aquilo que é característico da histeria à teorização da sexualidade feminina. Entretanto, a mulher da contemporaneidade é sujeito de um desejo cuja satisfação está para além do casamento e da maternidade. O desejo da mulher é o desejo da intelectualidade, de poder fazer parte do mundo das ideias, de entrar no universo da palavra, do discurso, da maiêutica, da linguajem, ou seja, de expressar suas ideias, de construir história, de fazer a diferença.

Palavras-chave: Psicanálise, Feminilidade, Sexualidade feminina, Histeria.


ABSTRACT

Both through the scientific as the religious discourse, the source of female sexuality was backed into a negative reading of male sexuality. For millennia the female body was wrapped in an aura of deep mystery, which gave banks the many misconceptions. Her body considered anatomically flawed lent itself to all sorts of associations with evil by religion and illnesses by science. In the construction of female sexuality, the female lost its origins going to be seen as devalued or repressed in its infancy. The scientific and lay discourse considered for a long time, hysteria as a disease only possible in a woman's body. So that in predominantly patriarchal culture hysteria began to incorporate its own femininity as a puzzle rather than as a construct of culture. Much of this confusion is due to a generalization of certain categories, which insert what is characteristic of hysteria will theorization of female sexuality. Nevertheless, the contemporary woman is the subject of a desire whose satisfaction is beyond marriage and motherhood. The woman's desire is the desire of the intellectuality, can make the world of ideas, to enter the universe of the word, speech, the maieutic, the language, that is, to express their ideas, building history, making the difference.

Keywords: Psychoanalysis, Femininity, Female sexuality, Hysteria.


 

A grande questão que ainda não foi respondida,
e a que eu não fui ainda capaz de responder
apesar dos meus trinta anos de investigação da alma feminina, é:
o que quer uma mulher?

SIGMUND FREUD

É importante não parar de fazer perguntas.
ALBERT EINSTEIN

 

Breve retrospectiva da construção do papel da mulher na história da humanidade

Nas sociedades primitivas o culto às deusas-mães, aos mistérios da procriação e o respeito ao corpo feminino era reverenciado como manancial da força divina, fonte doadora da vida. No antigo Egito, Ísis era a deusa da fertilidade, da maternidade, da cura, da feminilidade. Na Índia, Adit era a deusa-mãe de tudo que existia no céu. Na Mesopotâmia, Astarte era a verdadeira soberana do mundo. No Império Babilônico, Ishtar era a luz do mundo. Na Grécia, Gaia era encarregada da origem do mundo, criadora de Urano, o céu estrelado. Na China, Nu Gua criou a humanidade, cavando barro do chão, moldou uma figura que, para sua admiração, ganhou vida e movimento próprio. No Japão, Amaterazu era a deusa do Sol, de quem descendiam os imperadores. Na Irlanda, Brígida encarnou o papel da deusa-mãe. Enfim, o culto à Grande-Mãe (Diana dos Efésios, Hera, Deméter, Atena, Bona Dea, Afrodite) era a prática mais difundida nas sociedades primitivas.

Nesse processo de fertilização e procriação atribuídas ao princípio feminino, dava-se aos homens um papel secundário. Porém, no decorrer do período neolítico (26.000 a.C. até por volta de 5.000 a.C.) o homem começa a dominar sua função biológica procriadora e dessa feita passa a controlar a sexualidade feminina. A partir de então advém o casamento, a mulher é tida como propriedade do homem, e a herança é transmitida através da descendência masculina. Dessa forma, o homem não deveria mais invejar o útero da mulher, mas a mulher é quem deveria começar a invejar o pênis do homem. Assim, a mulher, que antes pensava ser fecundada pela natureza, traduzida no poder das deusas, agora era fecundada pelo homem, que detinha o poder sobre seu desejo. O feminino se torna inferior ao masculino, em detrimento do poder fecundante da mulher. As grandes deusas de outrora são destronadas com o advento das religiões monoteístas, que admitem um só deus, representante do princípio masculino. Desse modo, sai de cena a influência da deusa, do feminino, e se estabelece o culto ao masculino, a Zeus (o deus dos deuses) todo-poderoso, absoluto, dono do raio e do trovão. (NICHOLSON, 1993; REVILLA, 1995; BULFINCH, 2001).

Passado o período das deusas mães, por toda parte houve uma supervalorização do pênis em falo, supervalorização que acabamos pensando como uma reação de defesa do homem, que não é capaz de procriar, diante do formidável poder da mulher (CHILAND, 2005, p. 37).

Essencialmente ligada à natureza, ao sexo e ao prazer, a mulher passou a ser aquela que induz à traição e seduz o homem ao pecado. A partir desse momento o homem foi enaltecido, enquanto a mulher e sua sexualidade foram penalizadas como causa máxima da degradação humana. A concepção da sexualidade feminina passa a ser calcada na égide e no desejo masculino. Sob a hegemonia do macho se edifica a base pela qual a mulher deve se identificar com o imperativo da procriação da espécie. Descarta-se o prazer e o desejo do vocabulário feminino, já que eles desvirtuariam a mulher da sua condição imposta pela natureza, ou seja, do cumprimento da sua função de perpetuadora da espécie através de seu corpo materno, porque, entre o desejo e a maternidade, o corpo feminino perderia o caráter da procriação (RODRÍGUEZ, 1994).

 

Idade Antiga - O corpo feminino: palco da histeria

Na Idade Antiga, por volta do século VI antes de Cristo, Hipócrates (460-375 a.C.) com sua teoria dos humores (o sangue, a fleuma, a bílis negra e a bílis amarela), acreditava que todas as enfermidades das quais as mulheres se queixavam eram causadas pelo útero; assim, ele estabeleceu, uma estreita relação entre o sangue menstrual e a saúde das mulheres. Nesse aspecto a palavra histeria foi associada a uma enfermidade orgânica de origem uterina portanto especificamente feminina.

Platão (427-347 a.C.), um dos pensadores mais originais e influentes em toda a história da filosofia ocidental, decretou que o útero inativo era a causa da histeria, uma enfermidade que provocava nervosismo, desmaios e insônia. Descreveu o útero como uma criatura desejosa de alumbrar e, se ficava estéril por demasiado tempo depois da puberdade, começava a vagar pelo corpo, a cortar a respiração e a provocar na mulher uma extrema angústia, até que a união com o homem propiciasse o fruto desejado. A mulher em Platão foi definida como algo muito próximo da animalidade. E durante séculos o destino da mulher foi condenado a essa concepção, em especial o destino da histérica. O sofrimento histérico foi reduzido a uma insatisfação sexual (TRILLAT, 1991).

Nessa perspectiva o útero deveria estar sempre a serviço da procriação para o próprio bem-estar psíquico da mulher. Toda a problemática das mulheres histéricas estava diretamente relacionada com algo que elas possuíam dentro de seu corpo: o útero. Um animal sem alma que vivia solto dentro dela e que lhe provocava grandes dores, levando-a, por fim, à loucura. A especificidade do corpo feminino repousa na fragilidade e na predestinação para a maternidade, alimentando a crença de que a anatomia designava seu destino e único desejo: ter filhos.

A maternidade é uma construção cultural. É difícil reconhecermos este fenômeno humano, uma vez que há tanto tempo ele é concebido como uma função de caráter instintivo, profundamente arraigada na estrutura biológica feminina... O fato de ser a procriação um processo natural pode induzir-nos a pensar que o fenômeno fisiológico de concepção e gestação deve corresponder o desejo de ter um filho (TURBERT, 1996, p. 73).

No século II d.C., o médico grego Soranos de Efeso (98-138 d.C.) conseguiu desterrar a teoria uterina da liberdade de movimentos, mas manteve a crença de que o útero era o responsável por uma série de problemas mentais. Galeno (130-200 d.C.), oriundo da Ásia, menor segue a tradição aristotélica da mulher como ser imperfeito, e a imperfeição seria uma qualidade intrínseca da natureza feminina. Em sua teoria a mulher é mais fria que o homem, o que é a causa de sua imperfeição, e não por ser um homem deformado ou mutilado, como queria demonstrar Aristóteles. Assim sua frialdade e umidade a faziam inferior ao homem, cuja sequidão e calor lhe outorgavam inteligência e valentia. Porém, continua descrevendo a histeria como uma enfermidade uterina provocada pela privação sexual, recomendando o coito ou a masturbação como solução para esse problema (TRILLAT, 1991).

 

Da Idade Média à Renascença - A histeria e a mulher: no tempo das fogueiras

A Idade Média (476-1453) é o período da história europeia compreendido aproximadamente entre a queda do Império Romano do Ocidente e o período histórico determinado pela afirmação do capitalismo sobre o modo de produção feudal, o florescimento da cultura renascentista e os grandes descobrimentos. Durante os dez séculos que compõem a Idade Média, o útero ainda é considerado um órgão misterioso para os homens, que passaram a considerá-lo o responsável direto pelo comportamento emocional e moral das mulheres (TRILLAT, 1991).

Na Idade Média, os rituais de fertilidade e o conhecimento das ervas, herdados da medicina natural e que propiciavam a cura de muitos, foram proibidos, e as mulheres que insistissem no culto às deusas eram consideradas criaturas demoníacas. Os homens se consideravam os únicos no direito de exercer curas médicas através de um saber adquirido pela leitura dos livros (MOTA; BRAICK, 1997).

O Malleus Maleficarum, conhecido como O martelo das feiticeiras, foi escrito em 1484, no final da Idade Média, pelos monges dominicanos alemães Heinrich Kramer e James Sprenger, inspirados nos escritos de São Tomás de Aquino, de 1953, em sua Suma teológica. Esse livro se tornou a mais importante testemunha da estrutura do patriarcado e de como ela funcionava concretamente sobre a repressão da mulher e do prazer. Nele a mulher é definida como o ser mais apto para pactuar com o diabo e realizar toda sorte de malefícios e conjuros. Um verdadeiro tratado sobre a tortura. Os inquisidores associaram a transgressão sexual, que era comum entre as massas populares, à transgressão da fé e, num regime teocrático, a transgressão da fé era também uma transgressão política. Dessa forma, eles responsabilizaram as mulheres por essa infração. Um dos principais argumentos que possibilitaram o expurgo do feminino e o florescimento da misoginia foi a crença de que o demônio, com a permissão de Deus, queria fazer o máximo de mal aos homens, a fim de se apropriar do maior número possível de almas (TRILLAT, 1991).

Foram quatro séculos de caça às bruxas (do século XIV até meados do século XVIII), quando finalmente chegam ao fim as perseguições aos pagãos e aos hereges. Durante esses quatro séculos, milhares de mulheres, histéricas ou não, chegaram a ser enforcadas ou queimadas vivas nas fogueiras da inquisição. Por isso, no auge do tempo das fogueiras, vamos presenciar a repressão sistemática do erotismo feminino. Nesse sentido, a mulher foi estigmatizada como a representação do mal sobre a Terra. O corpo feminino passou a ser visto como um conjunto de imperfeições quer do ponto de vista moral, quer do ponto de vista fisiológico e se transformou em algo maligno, fonte do pecado e considerado essencialmente impuro (NUNES, 2000).

 

Idade Contemporânea - A sedução: nas origens da histeria

Começa com os grandes movimentos revolucionários europeus que derrubam o absolutismo, implantam a economia liberal e extinguem o antigo sistema colonial. A Revolução Francesa é considerada o marco que separa a Idade Moderna (1453-1789) da Idade Contemporânea, que continua até os dias de hoje.

Em 1859 o psiquiatra francês Pierre Briquet (1796-1881) introduziu na composição da histeria fenômenos sociológicos, por exemplo, o trabalho, advento da sociedade industrial, avivando com isso a existência de uma histeria masculina. Portanto, é no século XIX que ocorrem as primeiras investigações entre traumas e doenças psiquiátricas. Esses estudos foram conduzidos na Salpetrière, pelo neurologista Jean-Martin Charcot (1825-1893), que estava desenvolvendo trabalhos sobre a etiologia traumática da histeria e outros transtornos nervosos. Charcot ensinava que a formação do sintoma histérico era de natureza funcional, revelava a diferença existente entre as pacientes com lesões orgânicas e aquelas cujos sintomas eram de origem psíquica e defendia a tese de que a histeria era uma neurose do cérebro, originada tipicamente por traumas psíquicos em indivíduos hereditariamente predispostos.

Como resultado dos ensinamentos de Charcot, dois de seus discípulos, Giles de la Tourette (1857-1904) e Joseph Babinski (1857-1932), desviaram suas pesquisas para um modelo orgânico-neurológico da histeria, ressaltando a sugestionabilidade e a simulação como seus elementos mais característicos, descartando qualquer origem traumática para esses quadros. Outros dois discípulos, Pierre Janet (1859-1947) e Sigmund Freud (1856-1939), voltaram sua atenção ao aprofundamento da existência dos componentes emocionais das situações traumáticas e de sua relação com a histeria (MURIBECA, 2004).

No final da última década do século XIX, precisamente entre os anos 1895 e 1897, Freud lança à luz a sua teoria da sedução traumática para explicar o papel da sedução na etiologia das enfermidades nervosas, em especial, das neuroses histéricas. Revelou à sociedade médica de Viena, através de suas observações clínicas e estudos teóricos, que a causa da histeria era de etiologia sexual. Nesse sentido, podemos pensar que tudo começou em 1885, quando Freud foi assistir às aulas ministradas pelo professor Charcot na Salpêtrière, em Paris. Seus estudos centrados na histeria conduziriam definitivamente seus interesses em direção à psicopatologia, ou seja, ao estudo científico dos transtornos mentais. Antes de ir a Paris entre os anos 1880 e 1882, Freud teve conhecimento do caso clínico de Anna O. (Bertha Pappenheim), paciente de seu amigo Joseph Breuer (1842-1925). Naquele momento não atribui relevância ao caso. Só quando escuta Charcot é que ele ressignifica a importância dos achados de Breuer, num processo que antecipa a temporalidade em dois tempos do traumatismo histérico.

Ao regressar a Viena, Freud (1987) apresenta na Sociedade de Medicina o trabalho Observação de um caso grave de hemianestesia em um homem histérico (1886), fruto de seu aprendizado em Paris. Em 1889 regressa à França, desta vez a Nancy, na intenção de aperfeiçoar sua técnica hipnótica. Ele conhece Ambroise Liébault (1823-1904) e Hyppolyte Bernheim (1840-1919), chefe da escola de Nancy, os quais rejeitavam as teorias fluídicas e magnéticas e se opunham às teorias da Salpêtrière. O maior interesse do grupo de Nancy era a relação entre o hipnotizador e o hipnotizado, a influência do primeiro sobre o último na sugestão.

De volta a Viena, Freud se une a Breuer na aplicação da hipnose e do método catártico, resultando no artigo Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: comunicação preliminar (1987), que foi incorporado em 1895 aos Estudos sobre a histeria, o qual pretendia explicar o sintoma histérico, considerando esses fenômenos como manifestações de energia emocional não descarregada, associados a traumas psíquicos olvidados. Ao se desvincular de Breuer, Freud não estava propriamente elaborando uma teoria da defesa, mas estava passando do mecanismo psíquico dos sintomas a uma teoria etiológica da histeria, ou seja, por trás de todo sintoma histérico existia sempre um fator de origem sexual. Não demorou a concluir que a razão de tais sintomas era a existência de um abuso sexual sofrido pela criança na tenra infância por parte de um adulto perverso, em particular o próprio pai da vítima. Assim que a sedução e a noção do Trauma em dois tempos já estavam fortemente presentes em 1895 no caso Katharina e Rosalia em Estudos sobre a histeria e no caso Emma em Projeto para uma psicologia científica (1987), onde Freud ilustra sua diferença com Breuer e anuncia sua nova teoria da sedução traumática.

Essa tese foi divulgada no dia 21 de abril de 1896, em uma conferência apresentada na Sociedade de Psiquiatria e Neurologia de Viena. A teoria da etiologia da histeria como sendo de cunho sexual foi publicada durante os seis primeiros meses de 1896 nos artigos A hereditariedade e a etiologia das neuroses e Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa. Todas essas ideias de Freud desembocaram no artigo A etiologia da histeria. Porém, desde o Rascunho A (1892), já era possível averiguar os germes da construção dessa tese, embora sua primeira menção tenha sido em outubro de 1895, precisamente nas cartas a Wilhelm Fliess (1858-1928).

Em pleno período da teoria da sedução, Freud postula na antiga carta 52 a Fliess, de 6 de dezembro de 1896, sua teoria tradutiva do recalque, em termos de conteúdos psíquicos originários que, em cada época da vida e em função de determinadas experiências, vão sendo retraduzidos. O resto, o que permanece intraduzível, corresponderá precisamente ao recalcado. Dessa maneira, a teoria da sedução foi devidamente acoplada à teoria do trauma em dois tempos e a teoria tradutiva do recalque. E embora sua vigência enquanto teoria etiológica das psiconeuroses de defesa tenha sido muito curta, sua passagem na teoria freudiana está muito bem referida a quatro tipos de fontes:

(a) Estão nos artigos publicados até 1896 (acima citados).

(b) O epistolário de Freud a Fliess - 08 de outubro de 1895: que se tenha produzido uma vivência sexual primária com repugnância e espanto; 15 de outubro de 1895: a histeria é a consequência de um espanto sexual/pré-sexual; 26 de abril de 1896: Krafft-Ebing (1840-1902) disse que essa teoria soava como um conto de fadas científico; 06 de dezembro de 1896: a histeria se insinua como consequência de uma sedução perversa por parte do pai; 11 de janeiro de 1897: é possível que tal abuso remonte a uma época tão remota que essas experiências permaneçam ocultas atrás de experiências mais recentes e que a elas se possa voltar de tempos em tempos.

(c) As revisões históricas do próprio Freud: Noticia autobiográfica (1987), A história do movimento psicanalítico (1987) e Um estudo autobiográfico (1987).

(d) Sua autoanálise, em que manifesta suas dúvidas em relação à teoria da sedução, culminando no desenlace explicitado na famosa carta 69 a Fliess, de 21 de setembro de 1897.

Diversos foram os argumentos para o abandono dessa teoria; entre eles podemos citar: as dificuldades que Freud encontra para culminar sua autoanálise; a deserção de seus pacientes; as contínuas desilusões de levar as análises até o fator patogênico primitivo; a problemática de ter que culpar de perversão a cada um dos pais de seus pacientes acabaria num acentuado número de perversos, o que ultrapassaria muito o de histéricos, e isso implicaria admitir que seu próprio pai fosse um deles. Outro argumento seria a descoberta de que no inconsciente não existe nenhum sinal da realidade, não há como diferenciar a verdade da ficção; e a reflexão de que nas psicoses mais profundas a lembrança não vem à tona, por isso não é revelado o segredo das vivências infantis nem mesmo no delírio mais confuso.

A descoberta de Freud da teoria da sedução traumática fazia com que a sexualidade irrompesse na cena, mas ela florescia numa infância em que o infante era completamente destituído de sexualidade; era, pois, uma sexualidade na infância, e não uma sexualidade infantil. Nessa teoria a posição de Freud sobre a etiologia das neuroses estava centrada na teoria do núcleo patogênico, constituído na infância por ocasião de um trauma sexual real resultante da sedução por um adulto. O sintoma era consequência do recalque das representações insuportáveis, que constituíam esse núcleo, e o tratamento consistia em trazê-los de volta à consciência como se extrai um corpo estranho. O desaparecimento do sintoma seria consequência do levantamento do recalque.

Assim, em 1898, para a maioria dos historiadores e estudiosos da psicanálise, começava uma nova fase. Para eles o abandono da teoria da sedução traumática em favor da teoria do fantasma da sedução como expressão espontânea da sexualidade infantil e do complexo de Édipo foi o que propiciou o surgimento do inconsciente e, consequentemente, o nascimento da psicanálise.

O descobrimento do Édipo em 1897 foi fruto não do abandono da teoria da sedução, mas do movimento de autoanálise do próprio Freud e da análise dos sonhos de seus pacientes. Nesse sentido, a renúncia ao conceito de trauma real e da cena de sedução deu lugar a uma sexualidade oriunda de um organismo corporal que se excita endogenamente, de tal maneira que os processos psíquicos se iniciam desde o próprio sujeito. Esse modelo de desenvolvimento psíquico tem uma origem claramente endógena, predeterminada, que parte do próprio sujeito, onde o papel do outro adulto não ocupa um lugar primordial na fundação do inconsciente (LAPLANCHE, 1988; 1992).

Como a sexualidade não procedia mais do outro adulto da sedução, e Freud precisava explicar de onde provinha a sexualidade expressa na fantasia e o desejo das crianças em relação à nudez do corpo materno, só lhe restava pensar que ela era algo de natureza endógena, proveniente do próprio corpo. Então, num primeiro momento, assistimos ao surgimento da teoria da sedução traumática a qual situava a origem da sexualidade infantil na intervenção do outro adulto; num segundo momento, assistimos à queda dessa teoria dando lugar a uma sexualidade essencialmente espontânea e endógena.

Assim, em 1905, em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, presenciamos a saída de cena de uma infância desprovida de sexualidade e o surgimento de uma teoria da sexualidade infantil perversa polimorfa. Trata-se não mais de um acontecimento real, mas de uma fantasia que passou a ser a principal causa das afecções psíquicas, facilitando o surgimento do conceito de realidade psíquica e estabelecendo a diferença entre a realidade e a fantasia.

Em toda a obra de Freud, a teoria da sedução traumática jamais foi totalmente inutilizada por ele, que de certa forma passa de uma sedução paterna altamente perversa e restrita ao patológico a uma sedução universal materna precoce e obrigatória dos cuidados higiênicos das zonas genitais, à qual nenhum ser humano pode escapar. Agora é a mãe que seduz por uma exigência, queira ela ou não, esse é seu destino. Portanto, na obra de Freud, a sedução precoce remonta a Hans (1987) mesmo que nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1987) ele fale de uma mãe que toma o seu filho como objeto sexual. A sedução materna com a implantação do “feminino originário” (ANDRÉ, 2002) já estava presente no caso Hans, mas Freud preferiu simplesmente ver algo inerente ao papel das mães e nada mais que isso. A castração em Hans era uma tentativa de dar conta de um desejo enigmático para ele, e não algo restrito à diferença de sexos, a qual era somente a ponta do grande iceberg, que servia para encobrir a verdadeira questão — a questão do desejo (MURIBECA, 2004).

Antes de entrar na análise do caso Hans (1987), Freud já tinha bem desenvolvida sua primeira tópica dos sistemas: (a) inconsciente, pré-consciente e consciente; (b) a distinção entre psiconeuroses e neuroses atuais; (c) a libido enquanto energia livre (resultante da separação entre afeto e representação original por ação da repressão que só secundariamente se ligava a uma nova representação); (d) a primeira teoria da angústia, em que o recalque provocava a angústia; (e) a teoria tradutiva do recalque, explicitada na carta 52 a Fliess; (f) a teoria do trauma sexual, retomada como fantasia; (g) a primeira teoria das pulsões traduzidas em pulsão de autoconservação ou do Eu versus pulsão sexual, explicando a origem da sexualidade e se apoiando nos cuidados autoconservativos; (h) a sexualidade infantil surgindo através dos cuidados autoconservativos, uma sexualidade autoerótica sem fantasma, que se desenhava nas zonas erógenas; (i) os germes da teoria do Édipo, mas até aqui nem uma só palavra sobre a castração, a não ser aquela referida dentro do mito por um ato de vingança do filho contra o pai, a qual Freud exemplifica através do mito grego de Cronos castrando seu pai Urano (que, aliás, ele cita como sendo Zeus castrando o pai Cronos), tal qual se apresenta já desde A interpretação dos sonhos (1987) na análise do sonho do homem do machado. Todas as demais menções feitas à castração são acrescentadas a partir de 1911 (MURIBECA, 2004).

Depois da publicação do Caso Hans (1987), Freud passou a incorporar o complexo de castração e o complexo de Édipo como instrumentos obrigatórios de leitura na hora de entender as origens da construção da sexualidade e da subjetividade humana. Esses dois complexos foram considerados conceitos nucleares do inconsciente, das heranças filogenéticas, dos códigos essenciais e inquestionáveis para ler a origem e a diferença de sexos. Um complexo de castração que surge através de um movimento de autoteoria do pequeno Hans e que passa diretamente ao estatuto de teoria metapsicológica sem sofrer nenhum processo de destradução. E um complexo de Édipo que brota de um movimento de autoteoria (autoanálise) do pequeno Sigmund não podia chegar a manter o conceito de teoria psicanalítica sem deixar restos, sem produzir vazios, no centro mesmo de sua construção.

 

A castração em Freud: último ponto de toda a organização psíquica

A descoberta por parte das crianças das diferenças genitais, o impacto da castração e a inveja do pênis servem como organizadores da experiência em muitos níveis de diferenciação e integração psíquica. Para Freud, em seu artigo Análise terminável e interminável (1987), a castração passa a ser definitivamente a rocha de base na qual a psicanálise se choca. Por conseguinte, o feminino passou a ser a rocha de base na qual a castração esbarra. A castração passa a ser o último ponto de toda a organização psíquica. A evolução do complexo de castração na obra freudiana desliza cada vez mais a insistir sobre suas consequências narcisistas, a ferida infligida à integridade corporal e a imagem de si. Isso faz com que a sexualidade se estruture ao redor da castração, de um corte que opera a ordem simbólica, da ferida narcisista que supõe para ambos os sexos o descobrimento da diferença anatômica dos sexos.

Na conferência Feminilidade (1987) Freud defende a tese de que masculinidade e feminilidade são “construções teóricas de conteúdo incerto”. Nesse momento ele chega a dizer que a diferença existente entre os sexos é produto de uma construção simbólica que, ao encarnar em corpos anatomicamente diferentes, produz efeitos imaginários. E são justamente esses efeitos imaginários que constituem o feminino e o masculino como os conteúdos incertos de categorias teóricas. Infelizmente Freud nem sempre conserva vivo esse pensamento. Em 1937 as associações são cada vez mais evidentes:

Masculino: pênis = falo = atividade = libido = poder = sadismo = cultura = sujeito;

Feminino: vagina = castrada = passividade = recalque = masoquismo = natureza = objeto.

Vale lembrar que, desde 1896 até o final de sua obra, Freud continuou associando masculino a perversão e obsessão, e feminino a neurose e histeria. Então, como é possível que um pensador tão rigoroso como Freud, preocupado em examinar e corrigir periodicamente todas as contradições de seu construto teórico, não tenha percebido que os impasses, por ele registrados na questão da cura só se sustentam no caso em que tanto o analista quanto o analisando estejam completamente convencidos de que o falo é o pênis?

Jacques André (2002), em seu livro sobre Los orígenes femeninos de la sexualidad, chegou a se perguntar se existiria uma teoria freudiana da sexualidade feminina. Isso porque o único que Freud pôde dizer dessa passagem da menina para a mulher foi que ela tinha que fazer câmbios de objetos e de zonas erógenas até alcançar três possíveis destinos logo após o descobrimento da castração: a inibição da sexualidade, o complexo de masculinidade e a feminilidade normal.

Na realidade, toda a construção da teoria da sexualidade feminina, da feminilidade e do feminino na obra freudiana, segundo o próprio Freud, apresenta muitos pontos ambíguos, contraditórios e enigmáticos. Ao fazer um resumo das principais ideias de Freud sobre a sexualidade feminina e sua feminilidade, podemos ver, inquestionavelmente, como se concebe a mulher desde uma análise comparativa que toma o homem como padrão exclusivo.

O clitóris é um pênis atrofiado, dessa forma a mulher se sente um homem mutilado. Ao dizer isso, Freud retira a feminilidade natural do clitóris; além disso, essa afirmação é incorreta, já que hoje sabemos que o pênis, desde o ponto de vista embriológico, é um clitóris masculinizado.

A menina desconhece a vagina, não existe erogeneidade vaginal precoce. Autores como Ernest Jones, Karen Horney, Melanie Klein e Karl Abraham, desde a época de Freud, já defendiam a presença, na criança pequena, de uma percepção da existência da vagina. Um exame detalhado do caso clínico do pequeno Hans apoia a opinião desses autores quando demonstra que Hans sabia inconsciente ou conscientemente da existência de vaginas, de úteros e da penetração. Infelizmente, Freud mesmo, prestes a admitir essa percepção, a evita com conjeturas e conclusões contraditórias e conflitantes.

A feminilidade é uma formação secundária, a mulher tem que fazer a passagem do clitóris (masculino) à vagina (feminino) para devir mulher. Essa hipótese freudiana da sexualidade da menina ser de caráter masculino é inexata, pois a embriologia já provou cientificamente que só se o hipotálamo for ativado pelos andrógenos é que se desencadeia o processo de masculinização no cérebro. Ademais, se a criança vivencia sensações vaginais e se ela possui — mesmo inconscientemente — percepção de sua vagina, então seu desejo edipiano pelo pênis do pai e por um filho dele seria um desejo primário; consequentemente, sua feminilidade seria primária.

Não se nasce mulher: torna-se mulher. A mulher é um ser inacabado, condenado a viver a incompletude de sua falta, precisando se tornar mulher uma vez que não a acabaram de fazer. Não nascemos mulher ou homem; nos tornamos mulher ou homem. Todos somos seres de falta, seres em eterno devir.

A mulher tem que mudar de objeto: seu desejo deve trasladar da mãe para o pai.

Na etapa fálica do descobrimento da diferença entre os sexos, meninos e meninas só reconhecem um genital: o masculino. Ao dizer isso, entra em cena a predominância da primazia do falo, produzindo uma lógica assimétrica que condena as mulheres a um lugar em que a “falta” substituiu a diferença anatômica sexual.

A bissexualidade somática, como duplo sexo anatômico, é atribuída exclusivamente aos órgãos genitais femininos (clitóris e vagina).

O desejo de ser varão, tanto na enunciação da bissexualidade psíquica quanto nos possíveis destinos da fase fálica (complexo de masculinidade), é próprio das mulheres. Para Freud se as mulheres chegassem a desenvolver alguma atividade intelectual, era devido à existência da bissexualidade psíquica; essas mulheres seriam mais masculinas que femininas.

A natureza da libido é masculina. Não existe uma libido feminina, o que deu margens a certa confusão. A libido, por exercer constantemente o seu impulso, é uma força ativa. Freud, no entanto, estabeleceu uma equação entre atividade e masculinidade; portanto, para ele afirmar que a libido era de essência viril, foi só um passo.

A feminilidade é associada à passividade. É bom ressaltar que essa oposição não é a mais conveniente para descrever as relações sexuais, porque a mulher deve ativamente aceitar ser receptiva.

Na mulher a necessidade de ser amada será sempre mais intensa que a de amar. Essa leitura só encontra respaldo dentro da visão da vida anímica da mulher, desenvolvida por Freud. Amar e ser amado é algo que remonta a história primordial de cada ser humano, pois sua capacidade de amar ou sua maior exigência em ser amado vai depender da tradução que o pequeno ser humano faça do amor recebido pelos seus pais no processo de constituição do seu psiquismo. Daí advém à capacidade de amar a si mesmo, de amar o outro e de se deixar ser amado.

O tipo de eleição de objeto mais civilizado (por apoio) é considerado típico dos homens, enquanto o mais próximo do arcaico e da patologia (narcisista) é típico das mulheres. Quando se refere ao narcisismo, Freud pensa a condição feminina como sendo aquela em que a mulher sentiria uma profunda admiração por si mesma, anulando, assim, o interesse pelo outro sexo. O seu desejo se restringiria apenas ao seu próprio corpo.

Unicamente os meninos possuem acesso a uma boa resolução do complexo de Édipo, por isso eles dispõem de um superego coerente com os requerimentos da lei e da moral.

A mulher nunca sabe quando logrará ou se logrará sair do complexo de Édipo, por isso dispõe de um superego frágil.

O desejo de ter um pênis é definido como o desejo feminino por excelência. Freud atribui ao homem um ‘desprezo natural’ pelas mulheres por elas não terem pênis e como tal não lhes resta outra coisa a fazer, a não ser desejá-lo eternamente.

Devido à inveja do pênis, os ciúmes são mais relevantes na vida anímica das mulheres. A persistência dessa inveja, na teoria freudiana, condicionará sua desvalorização moral.

Uma vez que a mulher aceita sua ferida narcísica, ela desenvolve um sentimento de inferioridade. Freud define a feminilidade em relação à masculinidade, portanto em termos de uma deficiência. Devido a essa deficiência, as mulheres tenderiam a apresentar uma desvantagem intelectual e moral, apresentando-se, assim, invejosas e vãs, sendo descritas como seres mais passivos, de menor autoestima e com os impulsos sexuais mais débeis, se comparadas aos homens.

O efeito da inveja do pênis induz a vaidade corporal, que é uma compensação por sua inferioridade sexual. Resta saber se esse sentimento de inferioridade vem da própria menina como algo inato ou dos adultos que lhes transmitem mensagens carregadas de valor ou não.

A causa da inveja se atribui à mulher um escasso sentido de justiça, interesse social e aptidão sublimatória para o pulsional. Essas considerações derivam da constituição particular do superego feminino, resultantes da combinação de amor e de ódio, intimamente ligadas à inveja do pênis.

A determinação das mulheres como castradas e como objetos que sofrem as regras, o defloramento, o coito e o parto são a base de um masoquismo especificamente feminino, sem contrapartida nos homens. O masoquismo pode ser próprio da posição feminina, mas é um equivoco querer fazer do masoquismo algo inerente à natureza feminina. É pretender que o desejo secreto feminino na relação com o homem seja o de ser violentada, estuprada ou humilhada.

As origens da sociedade e da lei se fundam num pacto entre homens. Freud coloca a mulher sob a ótica do ser não desejante, submissa ao desejo do homem, enquanto o homem é aquele que representa o sujeito da mais significante criação humana: a cultura.

A posição de sujeito é relacionada com o masculino, e a de objeto, com o feminino. Sujeitos porque tinham desejos, logo tinham subjetividade, força, poder e autonomia para ir em busca daquilo que lhes traria prazer e satisfação. Dessa forma, a mulher é resumida à condição de objeto de desejo.

Os homens possuem uma enorme capacidade de sublimar os impulsos sexuais, ao contrário do que ocorre com as mulheres. A maternidade é a única possibilidade sublimatória reservada às mulheres. Isso porque os homens possuíam um enorme poder criativo. Eles eram capazes de criar obras de arte originais, enquanto as mulheres só podiam recriar a si mesmas em seus filhos.

As mulheres, cujos interesses estão ligados à família e a vida sexual, se opõem à cultura e às instituições sociais.

A mulher é caracterizada pela natureza; ela é um “ser de natureza”, é definida a partir do corpo e de sua função procriadora.

A mulher é um mistério; a maternidade é algo místico, e a feminilidade é um enigma.

Depois de tudo isso, vale pensar: ou a mulher não se ajusta à teoria da feminilidade proposta por Freud, ou a teoria de Freud não se ajusta à mulher. Ninguém nasce mulher ou homem, porque essa condição não é fundada na ordem da natureza, mas é produzida pelas demandas de uma história; portanto é da ordem do devir pulsional, assim como o autêntico enigma é o da sexualidade humana em geral. O gênero feminino e o gênero masculino são uma construção da cultura patriarcal, a forma culturalmente elaborada que a diferença sexual toma em cada sociedade e que se manifesta nos papéis e status atribuídos à identidade sexual de cada indivíduo.

O conceito de gênero, ao enfatizar a força do poder modelador exercido pela cultura em relação à própria biologia e ao indicar os sistemas de dominação dentro dos quais a diferença de gênero se constitui, vem lembrar que o destino feminino, o ser mulher e como sê-lo, se ordenaram em função das definições e significações do imaginário social da mulher constituído dentro da lógica de uma hierarquia social dos sexos. Assim, a categoria de gênero vem antes da descoberta do corpo anatômico sexuado (DIO BLEICHMAR, 1997).

A cultura tem um papel extremamente importante no aparecimento e na formação dos sintomas. As concepções psicopatológicas na contemporaneidade são fundamentalmente midiáticas, ocupando um lugar crescente na expressão de conflitos do sujeito em suas relações sociais. Diagnósticos são interpretações sociais que variam de tempos em tempos e de cultura a cultura (SZASZ, 1983).

A histeria foi uma forma de manifestação da submissão à qual o sexo feminino estava exposto e foi desaparecendo a partir da emancipação das mulheres. Nesse aspecto, hoje sabemos para além do enigma que se deseje manter, que o desejo da mulher é o desejo da intelectualidade, o desejo de poder fazer parte do mundo das ideias, de entrar no universo da palavra, do discurso, da linguajem, ou seja, de expressar suas ideias, de ser ouvida, de fazer a diferença.

 

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Endereço para correspondência
Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 370 - Tambaú
58039-110 – João Pessoa/PB
E-mail: m.muribeca@gmail.com

Recebido: 15/03/2013
Aprovado: 09/04/2013

 

 

SOBRE A AUTORA

Maria das Mercês Maia Muribeca
Psicanalista. Doutora em Psicologia (Fundamentos y Desarrollos Psicoanalíticos). Universidade Autónoma de Madrid (UAM) Espanha. Coordenadora do Curso de Especialização em Criminologia e Psicologia Investigativa Criminal - Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). Professora na Faculdade de Psicologia UNIPÊ. Professora no Centro de Ensino da Polícia Militar da Paraíba.