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Tempo psicanalitico
Print version ISSN 0101-4838
Tempo psicanal. vol.45 no.2 Rio de Janeiro Dec. 2013
ARTIGOS
A fascinação pelo resto: o hiper mal-estar na tecnociência
The fascination for the rest: hiper-suffering in technoscience
Rafael PinheiroI; Henrique Figueiredo CarneiroII
IMestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza; Membro do Laboratório Sobre as Novas Formas do Objeto (LABIO); Professor da Faculdade Leão Sampaio-CE. E-mail: rafpinheiro@gmail.com
IIProfessor Adjunto da Universidade de Pernambuco (UPE) e Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR); Coordenador do Laboratório Sobre as Novas Formas do Objeto (LABIO); Doutor em Fundamentos y desarrollos psicoanalíticos pela Universidad Pontificia Comillas (Madri, Espanha). E-mail: henrique.carneiro@upe.br
RESUMO
Este artigo estabelece uma articulação entre a posição que o sujeito ocupa diante da tecnociência e a inexorável presença de resto, em suas várias dimensões subjetivas. A análise teórica sobre a fascinação pelo resto foi estudada pelas dimensões da constituição psíquica, do nervosismo hipermoderno e do hiper mal-estar. Conclui-se que o sujeito da fascinação pelo resto está acuado entre duas crenças: da ciência e da religião. Sem escapatória, ele se perde na desarticulação das palavras, e a fascinação passa a ser o mestre absoluto, atraído pelo brilho da Coisa, seja ela o real, Deus ou a felicidade. Fascinado, sua resposta é a espera de uma colisão resignada e sem sentido diante dos indicativos que os discursos promovem no bojo da ciência e da tecnologia.
Palavras-chave: resto; fascinação; mal-estar; tecnociência; laço social.
ABSTRACT
This article articulates the subject's position in the unquestionable presence of technoscience and the concept of rest, in its various subjective dimensions. The analysis of the fascination for the rest was studied with the dimensions of the psychic constitution, hypermodern nervousness and hyper malaise. We concluded that the subject of fascination for the rest is trapped between two beliefs: science and religion. With no escape, he emerges into the disarticulation of words and fascination becomes his absolute master, attracted by the brightness of the Thing, being it the real, God or happiness. Fascinated, his answer is awaiting for a submissive and meaningless collision in the face of the discourses promoted by science and technology.
Keywords: rest; fascination; malaise; technoscience; social tie.
INTRODUÇÃO
Atualmente se percebe uma intervenção da tecnociência em praticamente todas as atividades da natureza e da vida humana. Vive-se um momento de forte "otimismo tecnológico" e avanço, o que Lipovetsky e Serroy (2011: 42) denominam de "humanismo prometeico", isto é, o anseio do homem de elevar-se sobre sua condição humana e suas tentativas de superar os limites de seu corpo e da natureza através da ciência e da técnica.
Freud (1930/2010: 52) vaticinou que nosso tempo traria inimagináveis avanços na ciência e na técnica possibilitando ao homem tornar-se uma espécie de "deus protético". Entretanto, foi sempre contundente ao afirmar que tais avanços não necessariamente tornariam o homem mais feliz, isto é, a relação do homem com seus progressos civilizatórios produz um embaraço ao qual devemos atentar. Para Freud (1908/1976), a cultura sempre produz como resultado dessa operação um resto não apreendido pela ação humana.
Nosso objetivo não é partir de uma visão catastrófica quanto aos avanços da ciência e tecnologia. A questão que se apresenta é realizar uma análise crítica desta fascinação dos esforços tecnocientíficos em produzir uma resolução técnica para o mal-estar do homem e de sua cultura. Quais seriam os efeitos dessa empreitada sobre o sujeito? Em que ponto a psicanálise situa o sujeito na sua relação com os progressos tecnocientíficos? Se o sofrimento psíquico, tal como tratado pela descoberta freudiana do inconsciente, é marca de que o mundo do humano é o universo da linguagem, é preciso que se situe a relação do homem com a montagem proposta em forma de discurso tecnocientífico e sua relação com a dimensão traumática presente na experiência humana. Desse modo o conceito de resto aparece como uma noção teórica importante para tratarmos da estrutura do sujeito e suas vicissitudes constitutivas.
Nosso pressuposto teórico sobre a atual lógica de funcionamento social é que a tecnociência procura promover a eliminação do resto enquanto índice subjetivo do impossível e, portanto, da causa do desejo mantido pelo sujeito na sua relação com os objetos.
Recorremos a uma análise fundamentada na teoria dos discursos em Lacan, que oferece a possibilidade de compreensão da superestrutura que trama o laço social. Se tomarmos como base a noção estrutural do sujeito e da cultura, não é exagero realizar algumas generalizações concernentes ao funcionamento do sujeito, sua posição relativa à satisfação enquanto tal, e como ele se situa nas diversas modalidades do laço social. Dessa forma, apontaremos algumas perspectivas a serem consideradas atinentes aos conceitos privilegiados por nossa análise, a saber: a noção de resto, a natureza dos progressos tecnológicos e científicos, o conceito de pulsão de morte e a ideia de fascinação.
CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA E RESTO
Inicialmente é preciso definir que a relação do sujeito com seu objeto de desejo é de fascinação e repulsa, pois os objetos que se apresentam a ele portam constantemente uma familiaridade estrangeira fruto da relação do sujeito com o Outro em seu processo de constituição. A relação do sujeito com o Outro que vem em auxílio de seu radical desamparo original nunca é direta, ela se dá pela via do resto que se depreende desse contato. Uma relação direta e sem anteparos subjetivos com o Outro é avassaladora para o sujeito, que pode permanecer fascinado e engolfado no poder siderante de sua presença em sua vertente puramente traumática, sem dialetização com a falta do Outro e, consequentemente, com o desejo.
No que tange à satisfação que o sujeito pode obter relativa à Coisa - das Ding - como meta pulsional por excelência, a via do desejo se estabelece quando o sujeito se depara com seu resto que irá impregnar todos os outros objetos eleitos para sua satisfação. A felicidade como Bem supremo fica interditada ao sujeito dada sua determinação sob os efeitos da fala e da linguagem nessa operação. Lacan (1962-1963/2005) apresenta, portanto, o objeto a como recurso conceitual criado para dar conta do resto que se perde na operação da linguagem para apreensão da Verdade sobre o gozo Outro. Apreender a Verdade é impossível, deixando sempre um resto a ser tomado como causa do desejo nos sentidos que o sujeito pode dar à sua existência. O resto na constituição do sujeito é marca de sua finitude e abolição de qualquer horizonte de plenitude que ele possa almejar no Outro.
O nó que liga o sujeito ao seu sintoma, por outro lado, nos mostra que o sujeito nunca desiste - como fato de estrutura - de guiar-se pelo ímpeto de ter acesso à experiência total. Ímpeto esse presente na tentativa narcísica do Eu de experiência total. Nossa civilização e nossa cultura são fruto desse esforço, absolutamente humano, de suplantar aquilo que o determina como limite. Nesse sentido, desenvolvimento tecnocientífico e progresso cultural não caminham pari passu. Se Freud (1930/2010) estabeleceu que as aquisições culturais, fundadas no recalque das pulsões e na perda de gozo, são o que nos determina como singularmente humanos, a entrada da técnica e da ciência na experiência humana configura um perigo necessário que nos ronda como subproduto de nossa hominização. Necessário porque dele não podemos escapar, perigoso porque a entrada da linguagem e da técnica instala o primado da pulsão de morte como princípio ao mesmo tempo criativo e mortificante para o sujeito.
O objeto a como resto torna-se assim, ao mesmo tempo, aquilo que nos humaniza e aquilo que expõe o sujeito ao risco constante, demasiado humano, de sucumbir ao seu excesso. Ele porta em sua vertente pulsional de morte o furo da vida; morte que mata a Coisa deixando renascer seus restos, que impulsionam o homem à sua dignidade de ser um sujeito para sempre desejante. Lidar com o resto em sua função de causação é a possibilidade de lidarmos com a repetição da pulsão de morte que insiste no movimento da cadeia significante do inconsciente e, ao mesmo tempo, escaparmos de cair no engodo gozozo, fruto do próprio ato de humanização.
FASCINAÇÃO PELO RESTO
Queremos destacar duas facetas da noção de resto. Elas representam dois modos de operação distintos, mas que funcionam dentro da economia psíquica do sujeito, na maior parte das vezes concomitantemente: o resto como causa do desejo, recoberto e articulado à fantasia: sua faceta de objeto causa do desejo; e o resto em sua vertente silenciosa de empuxo ao gozo da experiência total - na qual o sujeito se vê fascinado pela pulsão de morte.
No que concerne ao primeiro ponto temos o objeto a, o resto em sua função de causação. É o que Lacan (1969-1970/1991) chama de evacuação do saber na figura do resto. A relação de causação do objeto a com o sujeito é o que o livra de ser aniquilado pelo fascinante Saber do Outro. Ele mantém o aspecto sedutor da verdade em sua articulação com a fantasia. A fantasia para o sujeito é aquilo que faz tentativa de apaziguar a radical demanda de satisfação da pulsão. A fantasia é, então, uma forma de satisfação privilegiada da pulsão, sua incidência é a sexualização da pulsão que, em última instância, é sempre pulsão de morte. Toda pulsão é pulsão de morte, pois o que toda pulsão almeja obter, mesmo no objeto sexual, é o objeto impossível da pulsão - das Ding. Portanto, das Ding pode ser tomado como o lugar da Verdade a qual o sujeito almeja, e o objeto a como aquele que dará, como resto da Coisa, o brilho de sedução a todo e qualquer objeto eleito para a satisfação. Daí a vocação sedutora do objeto a na fantasia como causa do desejo.
Se tomarmos o Discurso do Mestre vemos que em seu denominador inferior ele traz precisamente a fórmula da fantasia. Carreira (2009: 129) explica que, como no Discurso do Mestre os elementos da fantasia estão na parte inferior da barra, podemos dizer que a fantasia está recalcada, isto é, inacessível ao Eu: "a fantasia, então, atua à revelia do Eu, estabelecendo uma compulsão à repetição que Lacan chama de feroz ignorância: uma escravidão para o Outro (senhor) gozar".
A fantasia mantém o sujeito em sua alienação fundante entre seu significante-mestre e a verdade do gozo. O Eu identificado ao significante-mestre desconhece seu desejo inconsciente entrelaçado à fantasia e segue em sua ilusão de completude e autonomia. A esse respeito, Lacan (1964/1988) define a divisão do sujeito nesse engodo quando ele está onde não pensa e pensa onde não está.
Basta realizar uma rotação de um quarto de volta no discurso do Mestre para termos o Discurso da Histérica revelando claramente a relação do sujeito com o objeto a como causa do desejo. Nesse momento, é bom lembrar que o lugar do agente pode ser também chamado nos discursos de "desejo".
A sedução é própria ao discurso histérico, que questiona o mestre colocando uma questão que diz respeito à verdade do gozo que o Outro (significante) jamais pode responder. O objeto a como Verdade é o fator de causa contínua do movimento da pergunta. Nesse sentido, o significante-mestre (S1) não é a verdade do sujeito, mas seu sintoma. Essa é a dimensão sintomática própria do sujeito em relação ao resto em sua função de causa. Nesse sentido, o objeto a não mantém relação direta com o sujeito e muito menos é a produção almejada pelo discurso. No lugar onde temos o mais-de-gozar no Discurso do Mestre, temos o lugar do Saber (S2) no Discurso da Histérica. O sintoma (S1) para o sujeito histérico é responsável por dar conta de um Saber cuja verdade é o objeto a em seu fator sedutor de causação; assim sendo, o sujeito está estruturado em uma articulação fantasmática na qual o sintoma funciona como sua resposta singular, sob os efeitos da fala e da linguagem.
A relação do Discurso do Mestre e do Discurso da Histérica com a Verdade demonstra o que Lacan (1970/2003) afirma em "Radiofonia", que só existe uma relação do sujeito com a Verdade: a castração. É justamente essa castração que preserva a capacidade própria ao simbólico de dialetização do desejo, mantendo, por meio da fantasia, o significado para o sujeito sempre em duplo sentido (Jorge, 2010). A Verdade pelo polo da fantasia pretende tamponar a falta-a-ser do sujeito sem nunca alcançar êxito. Na fantasia pode-se afirmar que o objeto causa o desejo continuamente.
O sintoma para o sujeito concebe, então, uma forma de êxito por meio da neurose num misto de gozo e sofrimento. É interessante notar que o significante "êxito" tem como sinônimas as palavras sucesso, triunfo, vitória e felicidade. O sintoma é aquilo que livra o sujeito de ter a felicidade como soberano Bem, desejo narcísico primordial que fala do funcionamento do Eu como instância imaginária. Freud (1930/2010) nos mostra que, rigorosamente, os esforços do homem na ciência e na técnica manifestam do Eu seus remotos desejos de onipotência, frutos do seu ímpeto por satisfações vitais e domínio sobre a natureza.
Na hipermodernidade, o sujeito faz da tecnociência seu Mestre para poder se assegurar de sua totalidade e escapar aos efeitos da pulsão de morte. O projeto hipermoderno de homem requer unicidade e referências identificatórias totalitárias, rechaçando a incerteza causada pela linguagem. O sujeito encontra-se numa posição precária com a ilusão centrada na razão e soberania do Eu. Nesse sentido, tudo que representa conflito, estranhamento e diferença deve ser rejeitado, pois é visto como causador de desestabilidade. O discurso tecnocientífico como discurso do Mestre contemporâneo configura-se um reforço eminente do imaginário. Koren (2011) assinala que os avanços tecnocientíficos diluem no imaginário a categoria do impossível, seja por meio das transformações no corpo, seja nas técnicas de reprodução ou até mesmo nas inumeráveis identidades disponíveis tanto no mundo virtual quanto nas cirurgias, que prometem uma sexualidade e uma identidade sexual conscientemente escolhidas. Em suma, divisamos a cumplicidade entre o discurso tecnocientífico e o sujeito, sempre ávido de livrar-se do mal-estar que lhe é estrutural.
Esse movimento expõe o impasse estrutural do sujeito: de um lado o polo do desejo e da fantasia, do outro suas identificações narcísicas, polo de fascinação. O discurso tecnocientífico eleva o objeto a ao zênite do social não mais como objeto causa do desejo, mas como objeto fascinante que acaba deixando o sujeito siderado em sua posição subjetiva. Isso quer dizer que o objeto a torna-se um operador antropológico de uma sociedade fascinada por um Saber que completaria sua experiência subjetiva. O efeito mais marcante da hegemonia do discurso tecnocientífico não é, como já apontou Lacan (1969-1970/1991), ter introduzido um conhecimento melhor e mais amplo do mundo e do homem. O que Lacan (1969-1970/1991) destaca é que tal discurso acaba por nos determinar como sujeitos identificados ao objeto a. Segundo André (1993: 135), como todos objetos da experiência: "experiência que se tornou sinônimo de gozo para o Outro do discurso da ciência".
A tecnociência no Discurso do Capitalista propõe ao sujeito a universalização das formas de gozar deixando o desejo a serviço das produções do mercado e das verdades da ciência. Solimano (2008: 144) argumenta que o excesso de produção próprio desse discurso empurra o sujeito para uma satisfação não pelo objeto em si, mas pela "posição de fascinação que o sujeito tem em face do mesmo". É bom frisar que a fascinação em psicanálise está diretamente ligada à experiência especular e ao narcisismo. O próprio significado da palavra "fascinação" remete ao tema da alienação especular: ato ou efeito de fascinar; encantamento; atração irresistível; alucinação ou ilusão dos sentidos.
A fascinação nos remete à célebre frase de Freud (1917/2010: 181) em "Luto e melancolia": "a sombra do objeto caiu sobre o Eu". Freud (1917/2010) refere-se a uma identificação do Eu com o objeto abandonado numa fixação narcísica, assim a perda do objeto torna-se também a queda do próprio Eu. Nessa montagem melancólica não há espaço para o desejo e o que resta dessa operação é o apagamento do sujeito. No processo comum de identificação, o objeto perdido ou abandonado é erguido dentro do Eu pela introjeção, provocando uma alteração parcial no Eu, mantendo a distância entre sujeito e objeto. No fascínio o objeto é mantido, mesmo às expensas do Eu que submerge sob sua sombra. Segundo Freud (1921/1996: 123) "o objeto foi colocado no lugar do ideal do ego". Desse modo, Freud (1921/1996: 123) procura definir a diferença entre a identificação e esse estado de identificação por ele comparado ao apaixonamento, que pode ser descrito também como um estado de "fascinação ou servidão". No caso da fascinação, Freud (1921/1996: 123) afirma que o Eu empobreceu-se por ter se entregado ao objeto substituindo "o seu constituinte mais importante pelo objeto".
Sabemos das dificuldades epistemológicas em equivaler os conceitos estruturais freudianos de Eu e objeto à compreensão lacaniana de sujeito. Entretanto, parece ficar claro que em alguns momentos Freud se refere ao Eu enquanto instância imaginária (segundo a leitura lacaniana) e em outro se refere àquilo que denominamos de sujeito ("seu constituinte mais importante"). Quando ele se refere ao mecanismo da fascinação parece que traz à baila algo referente à nossa discussão, principalmente a relação que ele estabelece entre fascinação e servidão, que nesse caso refere-se ao apagamento do sujeito na fascinação, próprio do adoecimento melancólico.
A questão logo se apresenta: quanto mais o sujeito é colocado numa posição de soberania e onipotência, mais ele rejeita as evidências do inconsciente. A consequência disso é que quanto mais ele pretende ignorar o inconsciente, mais ele é assombrado pela insistência deste resto que também o constitui. O resto apresenta-se em sua vertente silenciosa de empuxo ao gozo - onde o sujeito se vê fascinado pela pulsão de morte. Segundo Carneiro (2004) essa lógica muda totalmente a posição do sujeito frente ao objeto da pulsão, isto é, frente à Verdade de seu gozo. O sujeito permanece em uma posição de fixidez e fascinação frente ao objeto a. Se originalmente a ciência ocupava-se dessa relação entre saber e verdade, hoje, através da tecnociência, ela produz Verdade impregnada em suas invenções e objetos, transmutando a relação entre saber e verdade na esfera do sujeito. Carneiro (2004: 289) sustenta a tese de que o "sujeito está ferido de morte naquilo que de mais sagrado há, isto é, na sua articulação fantasmática".
Somente nessa articulação fantasmática o sujeito pode conviver com a pulsão de morte sem ser engolfado em seu poder fascinante e siderante. A pulsão de morte, como apresentada por Lacan (19591960/2008), possuiu também efeitos que impulsionam a dimensão própria do sujeito do inconsciente: a singularidade. Diferentemente da tendência ao equilíbrio e estabilidade, a pulsão de morte é vontade de destruição, "vontade de recomeçar com novos custos. Vontade de Outra-coisa, na medida em que tudo pode ser posto em causa a partir da função do significante" (Lacan, 1959-1960/2008: 254). É a partir dela que pode haver vontade de criação a partir de nada, uma repetição que implica novidade, não a fixidez. Seu duplo efeito pode ser deduzido das duas vertentes que podemos atribuir ao objeto a como rebotalho, tanto do sujeito quanto de sua cultura. O objeto a pode ser tomado também em sua face de puro dejeto e coisa desumana. A pulsão de morte pode ser então a morte vivificante do significante, ou a morte emudecida, dependendo da posição do sujeito diante do que constantemente lhe escapa.
NERVOSISMO HIPERMODERNO E HIPER MAL-ESTAR
Muito se fala hoje sobre novas formas de sofrimento psíquico ou de um novo mal-estar na atualidade, ou até mesmo, como propomos neste trabalho, o mal-estar na tecnociência. Será que a moral sexual desde Freud abrandou? Hoje as pessoas têm mais liberdade para lançar mão de sua sexualidade, novas formas de reprodução estão disponíveis, bem como novas identidades sexuais e de gênero, e o saber científico sobre a sexualidade atinge o dia-a-dia do homem em vários aspectos. Certas limitações, antes estabelecidas na cultura, hoje, por meio de tantas inovações tecnológicas, dissolveram-se, e o gozo tornou-se consentido e até recomendado. Entretanto, a ideia de que tudo mudou desde que Freud (1908/1976) escreveu "Moral sexual 'cultural' e o nervosismo moderno" não convence tão facilmente. Weinstock (2011) percebe que os sintomas neuróticos descobertos por Freud, tais como as neuroses de angústia, a hipocondria, a neurastenia e a as histerias de conversão, são tipos de sofrimento psíquico que se manifestam, sobretudo, como doenças corporais. Para ele, essas neuroses são muito semelhantes às depressões, adições e à violência, por ele denominadas de "doenças do silêncio" (Weinstock, 2011: 138).
A tese do autor aceita o vínculo entre as neuroses e as doenças do silêncio afirmando que o "nervosismo moderno" se incrementou nos últimos cem anos, da mesma forma que a moral sexual cultural também se acirrou. Tese certamente bastante controversa, mas que confirma nosso estudo, sobretudo porque autores como ele dão um papel decisivo à tecnociência no vértice destes desdobramentos. Gaos (2011) chega a afirmar que a hipermodernidade é caracterizada pela submissão ao saber da ciência como pretensa substituta da função paterna e acrescenta que a atualidade "erigiu o saber da ciência como limite necessário à preservação da consistência de um eu que havia se sustentado no olhar de uma moral regida por princípios religiosos e como promessa de ressarcimento pela brutal perda desse olhar" (Gaos, 2011: 153).
Uma das frases mais polêmicas de Lacan (1972-1973/1985: 49), "não há relação sexual", serve para explicar que o significante não é apropriado para dar corpo a uma fórmula que dê conta do que a psicanálise revelou sobre a sexualidade: seu irredutível caráter traumático e a impossibilidade de que haja um saber que dê conta desse real. Como escreve Badiou (2007: 126), "O que está em jogo no conflito é saber se o sexo tem sentido ou, para falar como Lacan, se nele existe algo razoavelmente ligado, algo como uma 'relação' sexual; ou se, ao contrário, o destino subjetivo da sexualidade submete o sujeito a uma verdade insensata pelo fato, como diz também Lacan, de não haver relação sexual" (Badiou, 2007: 126).
Portanto, se tomamos a aliança da tecnociência com o capitalismo como novo discurso mestre por excelência, a tecnociência se pretende como sucedâneo da relação sexual, como um discurso que possa enfrentar o real como impossível. O real como aquilo que não cessa de não se escrever. Entretanto, tal maestria não pode mais do que ser um significante siderante que mantém o sujeito aprisionado no gozo dessa crença. Ocorre o que Lacan (1959-1960/2008) diz sobre o discurso da ciência: o que é rejeitado no simbólico reaparece no real.
Nesse sentido, concordamos com Weinstock (2011) quando afirma que o elemento central para a reflexão do mal-estar na atualidade é a pulsão de morte. Ele vai além e denomina nossa cultura como uma cultura sucateada. A pretensa redução das restrições da moral sexual "cultural" - que teoricamente deveria reduzir o nervosismo social - recebe forte oposição proveniente das quantidades maciças de energia que se situam fora do aparelho psíquico, pura pulsão de morte. Tal fenômeno, segundo o autor, é responsável pelas "enfermidades do silêncio" que inundam "o psiquismo como um mar não simbolizado, oceano de obscuridade, de doloroso silêncio" (Weinstock, 2011: 139). Tese certamente ainda discutível, porém absolutamente razoável se supusermos uma passagem do nervosismo moderno para uma melancolização generalizada, ou para o que o citado autor chama de "sexualidade de morte" (Weinstock, 2011: 139). Sexualidade de morte na qual o desejo só aparece como mudo e irrealizável, como é o caso do nome dado ao novo/velho mal-estar da época: a depressão.
Assim, não podemos afirmar que não há mal-estar na era da tecnociência. Ao contrário, podemos falar de um hipermal-estar, para além do nervosismo moderno. Se hoje a tecnociência pode livrar o homem de seus condicionamentos naturais e oferecer promessas de triunfo sobre o real, isto não quer dizer que o sujeito esteja mais feliz. Enquanto o mal-estar na civilização apresentava-se ruidoso e denunciador do descontentamento do homem com sua cultura, o mal-estar na tecnociência aparece como a dor silenciosa de um homem experimentando o ápice de seu contentamento, a possível satisfação do seu desejo, mas refém de um sofrimento mudo. Para além do polo depressivo da melancolia, o hipermal-estar, pela via da fascinação, lança o sujeito para o seu reverso inevitável, a mania. O sujeito acredita, então, que pode acessar a verdade do gozo por meio dos gadgets distribuídos por toda parte em nosso capitalismo científico. O silêncio subjetivo no mal-estar na tecnociência só é rompido pelo clamor incessante por uma posição de gozo numa invariável "psicose de desejo alucinatória", para retomar a referência a Freud (1917/2010: 174) em "Luto em melancolia".
O discurso tecnocientífico não é algo externo ao sujeito, ou uma ameaça civilizatória externa; ao contrário, ele encontra sua lógica no próprio funcionamento do sujeito na forma como ele lida com o objeto causa de seu desejo, sua relação com a verdade e com os discursos que pretendem velá-la ou revelá-la. O discurso tecnocientífico, em certo grau, pode ser considerado a resistência máxima do sujeito contra si mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além das três já conhecidas profissões impossíveis, Lacan (1974/2005) acrescenta uma quarta, a ciência. Por mais que ela se introduza no real, ele persiste. A ciência, diferentemente da religião, não teria condições de "apaziguar os corações". Ora, por que será que Lacan fala tanto de ciência e religião? Talvez porque os encaminhamentos do discurso da ciência e do discurso religioso encontrem-se no modo como tratam o real. Duas promessas distintas, mas ambas fortes e tentadoras para o sujeito. Não por acaso, tanto na religião quanto na ciência, a figura do paranoico delirante é tão conhecida nossa. Ambas aproximam-se do real, por encaminhamentos distintos, mas lutando pelo mesmo objetivo: o coração dos homens. A angústia, excesso de gozo que sempre retorna sobre o sujeito, fala da presença desse resto que o remete constantemente à sua própria castração. Palavra anátema tanto para cientistas quanto para religiosos, pois para aceitar sua própria castração o sujeito precisa reconhecer antes que o Outro é também, antes de tudo, castrado. É aceitar que não há no discurso do Outro nenhum significante que possa dar um sentido último à vida ou à história do sujeito (Quinet, 2012).
Com um Outro não castrado não é possível que o sujeito articule sua pergunta fantasmática, "o que o Outro quer de mim?", já que esse Outro revelado agora como Grande Coisa não responde perguntas, tão somente lança sobre o sujeito sua sombra melancólica.
A ciência transmutada em tecnociência não mais incita no sujeito a dúvida quanto à verdade do real, talvez porque seja conveniente ao discurso tecnocientífico que o sujeito acredite no real sem mediação da construção de sua própria verdade. Se a felicidade não está no plano da criação cabe ao sujeito, com seus restos, inventá-la.
Paradoxalmente, o sujeito que responde ao discurso da ciência é o sujeito da crença. O sujeito da ciência, assim, é também o sujeito da religião (Lacan, 1959-1960/2008; 1966/1998). A ciência acredita no real, e pela explicação tenta domá-lo; a religião também acredita nele, e pelos seus rituais tenta domá-lo ou aplacá-lo. O sujeito da fascinação pelo resto é o sujeito acuado entre duas crenças: da ciência e da religião. Ele não encontra delas escapatória, sua fascinação é seu mestre absoluto, sob ele não há palavras articuláveis.
O sujeito que não trabalha mais com seus restos é atraído pelo brilho da Coisa, seja ela o real, Deus ou a felicidade. Fascinado, sua resposta é a espera de uma colisão resignada e sem sentido. Ora, que um dia todos nos encontraremos com a Coisa por ocasião da morte, isso não impede que a vida possa ser vivida com significado e alegrias possíveis. Não é sobre isso que se assenta nossa vã humanidade? O mal-estar na tecnociência é muito mais lúcido, e a verdade científica ofusca o desejo. A impossibilidade torna-se coisa do passado e o sujeito, assolado por tal lucidez, vive perdido numa lassidão profunda. A realização da vitória científica pode ser, enfim, um triunfo. Mas que triunfo? Estamos prontos a admitir que o desenvolvimento da ciência como assistimos atualmente produziu mais agnósticos ou materialistas do que outrora? A ciência nos tornou menos crentes?
A profusão de religiões e seitas nega isso peremptoriamente. Freud, até certo ponto de seu pensamento, acreditava que um dia a ciência triunfaria sobre a religião. Lacan, muito mais realista, estava convencido do triunfo da religião e que o homem encontraria os sentidos mais truculentos para sua vida. Não temos meios ainda para saber quem estava certo. Entretanto, temos elementos para suspeitar que o triunfo da ciência possa bem ser o mesmo triunfo da religião. O vaticínio cristão finalmente realizado: conhecereis a verdade e ela vos libertará. A psicanálise, porém nos ensinou que a lucidez excessiva é, sobretudo, loucura.
A tecnociência, ao funcionar sob o primado da pulsão de morte, revela o que de não-humano há no seio do humano. O desenvolvimento da técnica e da racionalidade é fruto, em grande parte, da pulsão de morte modificada em sua meta de satisfação plena, isto é, o gozo do encontro com o objeto da pulsão. Modificar e domar a pulsão de morte significa que o sujeito lide com ela por meio da fantasia e não diretamente. Se for verdade que a constituição do sujeito é de base melancólica, pois o sujeito está terminantemente fascinado por seu objeto perdido, a fascinação pelo resto é o perigo da intensificação dessa relação na qual o sujeito é, enfim, eclipsado pelo objeto.
A aposta da psicanálise é na irredutível inapreensibilidade do sujeito que tem seu valor no movimento evanescente que o caracteriza. A relação indissociável entre sujeito e resto revela, de maneira contundente, o ponto real que há na constituição do sujeito; real esse de que nenhum saber pode dar conta. A psicanálise é o único saber que opera com o resto dessa forma não por ela ser um saber superior ou simplesmente alheio aos demais, mas porque ela faz operar esse resto com uma subversão do saber que coloca o lugar da verdade sob os efeitos da fala no dispositivo clínico. Foi nesse sentido que Lacan (1964/1998: 57) definiu o sujeito e sua realidade como sempre en souffrance: tanto o sujeito quanto a realidade estão lá esperando, sofregamente, para se realizar em seus restos.
Miller (2011: 228) faz um elogio à psicanálise ao lhe outorgar o mérito de oferecer um tipo de experiência cuja promessa de cura recaia sobre os "dejetos", e que antes dela o homem só "havia procurado salvação pelos ideais". Se Freud (1930/2010) vaticinou que cabia ao homem decidir por que modo específico ele poderia se salvar, isso quer dizer que os caminhos que o sujeito busca para sua satisfação ou felicidade não precisam passar sempre pela via dos ideais propostos pela cultura. Na realidade, o próprio Miller (2011) insiste em não usar a palavra "cura" ou "tratamento" e sugere substituí-la por "experiência psicanalítica", o que seria mais acertado, já que cura pressupõe um ideal de normalidade e consistência.
Os ideais sustentam a referência à constituição do sujeito, mas é o trabalho de uma análise conduzir o sujeito ao que restou de sua constituição e lá procurar a afirmação de seu desejo mais singular. O próprio analista precisa sustentar a si mesmo como resto e dejeto se não quiser cair na tentação do desejo de curar e cometer o pior erro em sua prática: desejar o bem de seu paciente. "Bem" esse que o sujeito vai constantemente procurar na ideia do que conhecemos sempre como felicidade, mas que sempre encontra seu ponto de finitude nos meandros da cultura.
A tecnociência insiste na autonomia do sujeito e pretende lhe dar as armas para construir um Eu que prefere identificar-se à verdade do significante-mestre do que sofrer a ferida narcísica e perder sua estabilidade sendo afetado no âmbito do desejo. Isso significa "felicidade" para o Eu que não quer saber nada sobre o desejo e suas implicações e determinações inconscientes. Se o objeto a em sua roupagem sedutora representa o desejo sendo convocado, a fascinação é o estado jubiloso do Eu na alienação de sua verdade fundamental na fantasia.
A promessa de felicidade imediata, tão presente no discurso tecnocientífico, é uma tentação para um sujeito que já nasce evitando a dor de ser submetido a um limite de gozo. Assim, podemos dizer que tempos regidos por discursos que pretendem burlar as leis da fala e da linguagem criam uma confusão muito ameaçadora para o sujeito, quando no lugar da descontinuidade instaurada nele pelo simbólico instala-se uma continuidade que o encaminha para o encontro com o real. Sempre uma oferta de completude na ordem do imaginário. Num quadro como esse, o novo homem que pode emergir é alguém visitado constantemente por essa parte residual que, por não se deixar apreender, gera uma verdadeira fascinação. Uma sociedade fascinada em reciclar esse excesso residual não visitado pela palavra corre o risco de permanecer, pois, num silêncio mortífero e sem sentido.
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NOTA
Este trabalho é fruto da dissertação de mestrado: "A fascinação pelo resto: o mal-estar na tecnociência" de autoria de Rafael Lobato Pinheiro que contou com o apoio da FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Recebido em 25 de junho de 2013
Aceito para publicação em 12 de agosto de 2013