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Revista Brasileira de Psicanálise
Print version ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.49 no.4 São Paulo Out./Dec. 2015
OUTRAS PALAVRAS
Algumas considerações sobre a masculinidade⇔feminilidade no interior da vida psíquica
Some considerations about masculinity⇔femininity within the psychic life
Algunas consideraciones acerca de la masculinidad⇔feminidad en el interior de la vida psíquica
Cleuza Mara Lourenço Perrini
Membro efetivo e fundador do Grupo Psicanalítico de Curitiba (GPC). Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)
RESUMO
O presente trabalho procura refletir sobre a questão da masculinidade e da feminilidade, como funções mentais, tanto no homem quanto na mulher, já que ambas convivem no interior de nossa vida psíquica, criando, preservando e negando aspectos de cada experiência particular. Propõe expandir essas reflexões apontando que, quando estas funções não estão integradas no interior de nossa vida psíquica, se expressam em rivalidades dentro de nós mesmos, bem como em nossas relações amorosas, fraternas e profissionais, em detrimento do encontro complementar recíproco que suporta a incompletude humana em busca de relações criativas.
Palavras-chave: feminilidade; masculinidade; rivalidade; incompletude; integração.
ABSTRACT
This paper aims to reflect on the issue of masculinity and femininity as both men's and women's mental functions. We take into account the fact that masculinity and femininity coexist inside our psychic life, creating, preserving, and denying aspects of each particular experience. The author proposes some extended thoughts as she points out that, if these functions are not integrated inside our psychic life, they express themselves in rivalries inside ourselves and in our loving, fraternal, and professional relationships. It harms the reciprocal and complementary encounter that underlies the human incompleteness in its search for creative relationships.
Keywords: femininity; masculinity; rivalry; incompleteness; integration.
RESUMEN
El presente trabajo busca reflexionar sobre el tema de la masculinidad y la feminidad, como funciones mentales, tanto en el hombre como en la mujer, puesto que ambas conviven, en el interior de nuestra vida psíquica, creando, preservando y rechazando a los aspectos de cada experiencia particular. Propone ampliar esta reflexión señalando que, cuando estas funciones no están integradas en el interior de nuestra vida psíquica, se expresan en rivalidades dentro de nosotros mismos, así como en nuestras relaciones amorosas, fraternas y profesionales, en detrimento del encuentro complementario recíproco que soporta la incompletitud humana en la búsqueda de relaciones creativas.
Palabras clave: feminidad; masculinidad; rivalidad; incompletitud; integración.
PENELOPE
E então se sentam
lado a lado
para que ela lhe narre
a odisseia da espera.(Ana Martins Marques)
ULISSES
Escuta:
a odisseia da volta
está escrita
chama de seu olhar.(a autora)
Nossa experiencia humana de convivio torna-se mais complexa pela presença do componente dinâmico da ambivalência, bem como do binômio da completude/incompletude (complementaridade), dentre tantas outras questões. Para abordar o tema proposto, procurarei descrever o interjogo entre as funções masculinas e femininas da personalidade, que passam por experiências sensório-fisiológico-anatômicas, em conjunto com as socioculturais. Estas deixam marcas indeléveis, expressas no exercício da vida, através de uma sofisticada interação com os fenômenos psíquicos inter e intrassubjetivos, presentes nas relações humanas, como nos aponta Freud quando escreve sobre sexualidade: "uma função natural onde realidade material e psíquica estão constantemente conjugadas" (citado por Sandler, 1999, p. 461). Convém igualmente frisar que Freud (1905/1996) considerou ser a bissexualidade um elemento fundante da vida sexual. Como o que aqui proponho não é uma questão de gênero nem de genitalidade, essa colocação pode nos levar ao conceito da existência de uma "bissexualidade psíquica" (Chasseguet-Smirgel, 1975), correspondente a mesclas de elementos ativos e passivos, independentes de caracteres biológicos.
Nesta primeira parte do trabalho, procuro fazer um corte na altura dos fenômenos apreensíveis, contextualizando-os, e, na segunda, procuro integrá-los, no que tange ao convívio das funções masculinas e femininas, analiticamente, no interior da vida psíquica. Para este propósito, alio-me a Bion (1963/2004), que sugere que o embrião da vida psíquica ocorre com a interação do feminino (♀) e do masculino (♂) na mente, ao transformar o até então conteúdo (ocorrido na relação) em continente-contido (♂♀). Os poemas das epígrafes, "Penélope" e "Ulisses", procuram expressar a união desse fenômeno, apreensível através do encontro emocional vivido por ambos.
I
Determo-nos sobre questões anatômicas sem nos esquecermos do vértice psicofísico permite-nos deparar com algumas surpresas. Por exemplo, o paradoxo existente entre a força do pênis, sua potência visual e mecânica, e sua "dependência/carência" de um continente que o abrigue. Percebe-se com naturalidade a necessidade do encontro pênis/vagina para a sua realização/complementação. No entanto, fica habitualmente dicotomizada a "dependência" do pênis pelo abrigo, e supervalorizada a espera "passiva/vazia" da vagina. Chega a parecer uma falácia a mensagem anatômica de ambos: o pênis ereto e potente, sugerindo independência e autossuficiência, e a vagina, no seu ato de espera, sugerindo impotência e vazio. Desse modo, o encontro que os complementa pode ficar desvitalizado.
Ainda sob este mesmo vértice, acrescentando o aspecto emocional, deparamo-nos com a "limitação" masculina de que seu membro precisa de um continente para abrigá-lo e fazer jus à descarga tensional/prazerosa, algo necessário para lhe dar status sexual/físico. Na clínica, como na vida social, isto pode vir deslocado e projetado na forma de poder e dominação, quando há predominância de aspectos mentais primitivos.
Sob o vértice feminino, conter o contêiner que acolhe o membro masculino, sem o qual a eclosão do prazer pode tornar-se difícil para ambos, também pode ficar deslocado e introjetado como submissão e inferioridade, quando há predomínio destes aspectos mentais primitivos.
Sendo o propósito destas considerações fazer uma interligação desses fatores na vida psíquica, esse interjogo, se internalizado em brigas internas de poder, empobrece a vida mental nas suas relações intra e interpsíquicas, quando do exercício das funções masculina e feminina da personalidade. Estas, cindidas, podem se manifestar em relações bizarras (vividas intra e interpsiquicamente).1
A complementaridade atende a fragilidade humana. Na negação desta, muitas vezes ela se apresenta de forma invertida, gerando auto e mútuos ataques. Sapienza e Junqueira Filho (2004) endossam esta dinâmica no seu trabalho Fatores de conjunção e disjunção no relacionamento da parceria fértil e criativa, quando discorrem sobre a
dinâmica dos jogos relacionais humanos dominados por ataques e fugas, que caracterizam o suposto básico de guerra numa dinâmica primária de automatismos protomentais e mentais, onde de modo permanente e mais ou menos latente prevalecem valências do tipo "quem está no comando" e "quem obedece e é controlado".
Como exemplo, podemos pensar que algumas mulheres precisam crer na potência "autossuficiente" masculina a fim de se sentirem protegidas, juntamente com sua prole, resquícios dos tempos da Idade da Pedra, contra as intempéries da natureza e de animais selvagens, e, na contemporaneidade, ao buscarem um abrigo seguro, afetivo e material, para poder conter suas emoções, além de suas próprias necessidades básicas e as do seu bebê. Igualmente, alguns homens, para crer em sua força como provedores, precisam embrutecer, como um analisando que temia ficar "molenga" com a análise e, assim, acabar por não dar conta do sustento da família. Essa memória ancestral de que quem domina protege está no inconsciente feminino e masculino sob a forma de uma relação verticalizada, de cima para baixo, em detrimento da relação horizontal, complementar, de parceria.
Fairbairn aponta que a "libido é essencialmente buscadora de objetos" (1952/1978, p. 159) e que, mais do que busca pelo prazer, seu verdadeiro fim é o de estabelecer relações de objeto. Se abrigamos filogeneticamente uma "incompletude" feminina, bem como uma "potência" masculina, acreditando que esta vem completar a "deficiência" feminina, não nos depararemos com a dor da incompletude humana vivida por ambos. A possibilidade desse encontro "libidinal" complementar, a busca por relações de objeto reais, pode conciliar essa ferida, propiciando relações criativas internas e interrelacionais.
Se considerarmos que a feminilidade e a masculinidade não são uma propriedade da mulher ou do homem, mas que habitam, em maior ou menor grau, dentro da vida psíquica de ambos, poderemos refletir como convivem, preservam e negam aspectos de cada experiência particular.
Sandler, em seu artigo "Uma teoria sobre o exercício de feminilidade ⇔ masculinidade", nos sugere que, "o livre exercício da potência masculina seria aquilo que permite a consecução da feminilidade. Paradoxalmente, não temer a masculinidade parece-me condição necessária para a feminilidade" (1999, p. 465).
Frente a esses dados, seria ingênuo não levar em conta os fatores culturais, fisiológicos, filogenéticos - todos em constante atualização. Portanto, a tarefa é árdua e requer certa humildade em aceitar que tamanha complexidade não cabe em poucas linhas. Escolho alguns pontos que considero mais relevantes, ciente de que essa decisão, por si só, contém a limitação que a restringe.
Apresento alguns momentos de minha trajetória analítica com Otávia, a fim de ilustrar a relação da masculinidade e da feminilidade no interior da vida psíquica quando favorecedora/desfavorecedora de pensamentos.
Otávia, o primeiro encontro
Otávia chega ao nosso primeiro contato trajando roupas sóbrias e escuras, e com uma pasta tipo "executivo" na mão, o que me chama a atenção. Com andar calmo e rosto neutro, apresenta-se como para um compromisso profissional, em que as demandas pessoais não devem estar presentes. Otávia é de estatura mediana, mas tem um porte imponente, mesmo calçando sapatos baixos. Sua voz é grave e cada palavra é pensada antes de ser dita. No entanto, os seus cabelos longos, sempre presos nos primeiros encontros, anunciavam um movimento que lhe escapava desapercebidamente, de leveza. Também seus olhos assustados tinham laivos de ternura contida.
Senta-se, coloca a pasta no chão junto à sua poltrona e começa a falar sobre o motivo da procura. Diz que tinha tido um aborto espontâneo e que isto a tinha desmoronado.
Escuto, e aos poucos Otávia me coloca dentro de um panorama permeado de "constatações de seus paradoxos", como ela definiu esse momento. Diz que nunca quis casar e casou-se duas vezes (no primeiro casamento, também teve um aborto natural, mas "nem ligou"); que não queria filhos, mas que após o aborto intensificou-se o desejo de tê-los; que tinha um bom relacionamento com o atual marido, mas que nesse momento queria separar-se dele também; que era uma profissional bem-sucedida, mas que queria abandonar tudo. Em suma, disse que se sentia uma fracassada em seus intentos, sem saber o que pretendia da vida.
Inicialmente, Otávia apresentou-se como a relatora de fatos, e não a protagonista deles, até descrever-me o seu horror ao ver "sangue vivo" no vaso sanitário, constatação inevitável de um aborto. Nesse momento, apareceu vividamente o seu desmoronamento, já que me permitiu "vê-la" indo junto com o sangue, encanamento abaixo. Quando apontei que ela estava ali comigo, viva e apostando na esperança de recuperar a possibilidade de ter e manter uma gravidez - anunciadora de um filho -, chorou pela primeira vez. Disse que, ao ficar desconsolada, arredia com o marido e enfurnada no quarto escuro, temia repetir a história da mãe, deficiente física ("sempre confinada no quarto com a desculpa de ser cadeirante"), com quem não pôde contar nos momentos em que mais precisou.
Estava presente uma feminilidade frágil, desconfiada de ser capaz de conter o ser mãe dentro dela, e a masculinidade que a permitia buscar ativamente esta condição, apesar da forma como sentia a relação com sua mãe.2
Nossas raízes, na infância, do mesmo modo que no encontro analítico, podem nos deparar com insuportável dor mental. Otávia vivencia comigo seu conflito entre potência e impotência, fragilidade e determinação, considerando "insegurança sua ter emoções tão díspares, como a de nunca querer filhos... e agora... querer muito". Seu choro sentido finaliza esse primeiro contato, mais aliviada e próxima de mim.
Otávia traz, portanto, sua feminilidade e sua masculinidade em conflito, sugerindo-as incompatíveis de interação. Seu modo de trajar e falar, não necessariamente masculino, mas desprovido de graça, sugere haver uma cisão desses elementos, além do desamparo reinante e negado por ela. Chega pedindo-me para resolver seu problema como um negócio, no qual cumpriria as regras do contrato com afinco e determinação... mas sem vivê-lo: viver as emoções seria a prova cabal de sua impotência ⇔ desamparo.
Manutenção da não interação masculinidade ⇔ feminilidade
A psicanálise procura conjugar a função masculina e a função feminina na alma humana, na mente humana que se expande, propiciando a contenção do par (a começar pelas figuras parentais) como fenômeno mental ativo. O enredo proposto do par (unido pela paixão),3 que não comporta adversários, anuncia que nem a função masculina nem a função feminina são o centro da relação intra e interpsíquica. Se dicotomizada, privilegia-se o embate entre antagonistas e protagonistas, corroborando para a manutenção da "guerra de sexos", impeditiva de uma experiência de parceria emocional criativa, diferente do que nos assinala Bion quando enfatiza que "a paixão evidencia que duas mentes estão vinculadas" (1963/2004, p. 28). Os poemas usados como epígrafes, em que Penélope conta sua odisseia vivida na espera, e Ulisses, sua acolhida da narrativa, sugerem essa paixão não carnal, mas de encontro emocional.
Poderíamos então, como hipótese, propor a reflexão de que a "guerra de sexos" começa antes, internamente, num jogo de poder entre o masculino e o feminino,4 no interior de nossa vida psíquica, em busca de uma unicidade fusional idílica, quando as diferenças se apagam impedindo elaborações?
Otávia, segundo momento
Ao investigar, nas primeiras sessões com Otávia, sobre seu nascimento, e ao perceber o clima reinante de que ela preferia ter nascido homem, comunico isso a ela. Surpreende-se e relembra um fato, considerado sem importância. Soube, já "grandinha", que seu nascimento foi comunicado pela sua babá (que a "criou") a toda a família, que aguardava ansiosa no saguão do hospital: "Sinto informar-lhes... mas é... outra menina..." (ela é a quarta e última filha). Contou-me rindo, como se isto nada lhe tivesse causado. Quando lhe sugiro pensar o quanto esta expectativa pode tê-la encaminhado, por exemplo, a se equipar para assumir a empresa da família, ela diz:
Eu não via meu pai... Só minha mãe... Mas larguei as bonecas muito cedo... Parece que... a partir daí [entre surpreendida e reflexiva] eu passei a olhar para o meu pai... Mas ele não me via... [E num crescente, continua] Passei a dizer que não me casaria e que nem teria filhos... E passei a acompanhá-lo no seu trabalho... nas lojas... por tudo! Virei o filho...
II
Intuições sem conceito são cegas; conceitos sem intuições são vazios.
(Immanuel Kant)
Essas reflexões, contextualizadas sob o vértice cultural, físico/anatômico, relacional, entrelaçadas pela clínica psicanalítica, originaram a hipótese de que podem tornar-se um possível exercício e convívio da masculinidade⇔feminilidade, observadas no "inter-jogo entre as funções masculinas e femininas da personalidade" (Sandler, 1999).
Desde que formularam a dualidade sujeito-objeto, os pensadores e os filósofos têm insistido na interação dialética que determina não só a estrutura de cada um destes termos, mas também o seu convívio [grifo meu] (Sapienza & Junqueira Filho, 2004).
A questão que proponho é como abraçar, interagir e conviver, como Kant nos brinda na epígrafe acima, a nossa masculinidade com a nossa feminilidade, dentro de nós, como funções psíquicas, na medida em que considero, como Sandler, "a capacidade de intuir e a capacidade de cuidar, como expressões de feminilidade; e as capacidades de ser potente e de ser pródigo, como expressões de masculinidade" (1999, p. 459), independentemente de questões de gênero. Preconizo assim que, uma sem a outra, ou nos cega, ou nos esvazia. A capacidade, bem como a possibilidade, de ser alimentado e inseminado, em consonância com as funções feminilidade⇔masculinidade, podem ir se alternando em cada um de nós, intrapsiquicamente, e também no encontro criativo com o outro, relacionalmente (interpsiquicamente). Como então conjugar em nossa personalidade o que se conflitua como díspar, nossos elementos psíquicos ativos e passivos, tanto vividos pelos homens quanto pelas mulheres?
O desenvolvimento psíquico, como nos assinala Bion, depende de uma interação equilibrada, no indivíduo, de suas tendências narcis-istas e socialistas. As circunstâncias da configuração socialista, por sua vez, determinam o aparecimento de algumas questões que lhe são intrínsecas: destas, duas em particular nos interessarão, a publicação e o senso-comum. A publicação constitui, por assim dizer, imperativo de convívio grupal e social, pois, levando o indivíduo isolado a compartilhar com seus pares sua formulação ou impressão pessoal, contribui tanto para o estabelecimento de uma "política de boa vontade" quanto para a dissipação de desconfiança persecutória. [...] Bion pondera que a publicação é requisito essencial do método científico, na medida em que expõe a formulação ou abstração ao escrutínio do senso-comum. [...] O senso-comum como elo de intermediação da interação do narcisismo - socialismo é uma contribuição original de Bion que amplia a formulação pulsional freudiana, a qual contrapõe a pulsão do ego à pulsão sexual, incorporando ainda o paradigma relacional como força motriz do desenvolvimento psíquico. [...] No entender de Bion, portanto, o conflito entre os impulsos narcisistas e socialistas da personalidade é um fenômeno permanente que pode gerar um ataque ao vínculo entre estas duas instâncias, ou seja, ao senso-comum.
(Sapienza & Junqueira Filho, 2004)
Esse impasse intrapsíquico, vivido como submissão e dominação, fica caracterizado pelo vértice moral, visto como negativo ou positivo, comprometendo a "dissipação da desconfiança persecutória". Conflituam-se na crença de que a feminilidade não pode ser ativa e que a masculinidade não pode ser receptiva. Penso que ambas contêm, quando podem se relacionar, uma receptividade ativa, bem como uma execução receptiva. Sendo assim, ocorre a seguinte questão: poderiam, a receptividade ativa e a execução receptiva, interagir de forma equilibrada sobre as nossas tendências narcis-istas e social-istas, em prol do desenvolvimento psíquico, intermediado pelo senso-comum?
A receptividade ativa pode ser vivenciada se ambos puderem passar pela elaboração da feminilidade, em que menino e menina, voltados ao primeiro objeto, vão introjetando-o e criando um mundo intrapsíquico (feminilidade) em busca de identificações, através de relações de objeto reais. Essa convergência perceptiva entre sensações internas, suas necessidades, e o mundo externo e suas pressões confirma a passagem da passividade à atividade, através da identificação com a atividade (função masculina da maternagem) da mãe. Assim, a aquisição desse espaço e sua ampliação com o correr do tempo - espaço surgido desse momento da feminilidade (Klein, 1975/1990), com toda a ambivalência que esta contém - podem promover uma parte executiva (masculinidade) desta feminilidade (execução receptiva). Se esta experiência de relação primeira for bem-sucedida, poderá propiciar um meio vivificante inter e extrapsíquico (no indivíduo, no par e no grupo).
Ribas, em seu criativo trabalho Continente ativo, considera ser
este o momento, ao entrar em contato com um continente em que o conteúdo passa a ter caráter de contido, no sentido de passar a fazer parte de uma relação, com o continente, havendo a partir desse momento a criação de algo que o delimita. A partir desse ponto existe a possibilidade de que este conteúdo, ao entrar em contato com um continente, gere uma experiência emocional, que pode ser processada pela função a, e este seria o momento em que há a passagem do físico para o mental. A experiência deixa de ser da ordem do sensorial e adquire uma qualidade psíquica, havendo a passagem para o campo do simbólico. (2013)
Otávia, terceiro momento
Otávia chega contida e ao mesmo tempo com o olhar muito aberto, entre assustada e exultante, e comunica-me que está grávida.
Cheguei a pensar em não lhe dizer já... mas como não dizer? É o medo... E se eu perder de novo? Ao saber, já fui fazer ecografia... Está tudo bem. mas quero fazer toda semana... Não quero estragar tudo de novo. Fiz ontem a eco e não sei se vou aguentar a espera de uma semana para fazer a outra. Já nem dormi direito essa noite.
Otávia e eu entramos no seu mundo assustador e desconhecido. Vimos o quanto, na sua vida, sua ansiedade a fazia precipitar-se em atitudes impensadas, duvidando de sua capacidade de espera, abortando muitas vezes seus propósitos mais trabalhados. Lembrou que, em certa ocasião, seu primo estava fazendo uma pipa e ela o ajudou em cada detalhe. Depois passou, insistentemente, a lhe pedir para irem soltá-la. Guarda com lembrança indelével a imagem de seu primo brigando com ela, ao ter perdido a raia num pé de vento, culpando-a por não ter tido paciência. Disse para ela, muito bravo e irritado: "Tá vendo? Primeiro tinha que esperar secar, depois a gente tem que esperar o melhor vento. Hoje está ventando muito. Agora tenho que fazer outra, não me enche mais!", e saiu batendo a porta. Igualmente sentia que havia "contaminado" seu marido com sua impulsividade, já que agora ele também era assim, em relação a todas as coisas. Pudemos ver que seu pavor de "danificar tudo" e de decepcionar se reapresentava em suas relações, já que sentia que chegou a esse mundo estragando a expectativa dos pais, que queriam um menino para assumir a empresa da família, e que, assumindo-a, decepcionava de novo (seu pai a questionou sobre o tempo de licença, dizendo-lhe para contratar uma babá para voltar de imediato à empresa). Inaugurar-se mulher, gestante de um bebê e tornar-se mãe não era uma experiência bem-vinda.
No encontro seguinte, chega dizendo que precisa falar do incômodo que lhe acompanhou desde a saída da última sessão, e comenta: "Sei que é óbvio... Eu mesma falei... Mas pensar que 'eu danifico'... é demais para mim... Não sei... Acho que não aguento". Digo a ela que aguentou vir conversar comigo para publicar seu desconforto e intrusão sentidos. Penso, naquele momento, que Otávia, crendo na contenção, partilha comigo que se sentiu penetrada por conteúdos não passíveis de digestão para ela. Digo então que ela teve coragem para trazê-los, aliada à esperança (espera) de encontrar em nossa relação espaço para cuidarmos juntas desse seu desconforto; que assim está cultivando, dentro de si, força para levar a gestação adiante; e que as vivências novas desconhecidas, ou conhecidas mas não vividas, estavam sendo suportadas a fim de se transformarem em um "suporte" para si e para seu bebê.
Vir para a análise era uma manifestação ativa de sua masculinidade. Esta atitude a ajudava a acolher a feminilidade que, agora, lhe permitia tornar-se mãe. "O processo psicanalítico tem portanto como matéria-prima a saudável tensão surgida nos interstícios da confrontação inerente à alteridade" (Sapienza & Junqueira Filho, 2004).
Interagir as duas qualidades psíquicas, masculina e feminina, na vida mental pode se converter em ações criativas integradas na realidade. A gravidez parece um bom exemplo. A mulher quando grávida passa a viver as duas funções em ação o tempo todo: a parte masculina, executiva, promovendo o desenvolvimento da criança dentro de si; a feminina, pela contenção e acolhimento desta experiência. O homem "grávido" igualmente interage dentro de si as duas realidades: feminina(acolhimento)⇔masculina(segurança) (Braga, 1996), ao conter suas próprias emoções, bem como ao transmitir essa segurança ao acolher sua mulher e o bebê em formação.
Otávia, quarto momento
Nos três primeiros meses, Otávia e eu vivemos momentos dramáticos. A princípio, o pavor da perda dessa gestação (ainda não era um bebê para ela nos dois primeiros meses). Depois, o sentimento retomado de repúdio e exclusão do marido. Ela o ignorava. Pudemos ver juntas que ela construiu a ideia de que a mãe "de verdade" não era a "mãe suficientemente boa", mas a autossuficiente, que se bastava e que não precisava de um pai para seu filho, como ela não precisava de um parceiro. Poderia dispensá-lo agora. Assustada, disse, porém, que seu bebê não poderia "ficar sem pai", como ela que, por muito tempo, não tinha percebido a existência de seu próprio pai.
Otávia dicotomizava suas emoções entre as permitidas e as proibidas, baseada na crença de que sua fragilidade seria sinônimo de fraqueza. Vimos que seu marido representou, nesse período, sua desaprovação como mulher, porque, afinal, "ele a engravidou". Considerou sua posição receptiva como passiva - portanto, não possuidora de um "continente ativo" (♂⇔♀), que contém um bebê, fruto de uma parceria.
Após a confirmação de que era uma menina, à qual o casal deu o nome de Carina, vimos que sentiu uma esperança de que a intimidade que se iniciava com sua filha, através da intimidade em andamento entre nós duas, e com seu marido, pudesse fortalecer sua feminilidade, apesar de partilhar comigo, assustada, o sentimento de a "barriga estar crescendo e fugindo ao seu controle". Estas emoções, conhecidas e trabalhadas, renovaram seu propósito de sonhar em abrir espaço para a filha poder crescer e se desenvolver.
Otávia, quinto momento
Os meses seguintes foram intensos, e Otávia surpreendia-me, muitas vezes, com suas reflexões, pós-sessões, as quais partilhava comigo. Após um período de intervalo de final de ano, colocou-me que não conseguida ir adiante com a análise, já que se assustou muito, na ausência, pensando que, por "decepcionar sempre os outros", seria demais para ela pensar que poderia "prejudicar a filha no seu próprio ventre". Chegou quase a me deixar uma mensagem, cancelando o trabalho, mas resolveu de última hora falar comigo pessoalmente. Braga aponta que
a integração de novas representações da realidade psíquica, pela elaboração de experiências presentes, vai acontecer sob a égide da pré-concepção edípica que encontra um meio vivificante na relação da dupla psicanalítica. Em áreas não mentalizadas, a pré-concepção edípica e estados protomentais sexualizados dominam a cena analítica. (1996, p. 998)
Conseguimos acolher seu pavor, afastando fantasias terrorríficas que sinalizavam que, quem afasta (separa), abandona e estraga. Pudemos ver, entre outras coisas, que não desconsiderou nossa relação através de uma mensagem eletrônica, fria e distante. Veio sofrida mas viva: seu susto era estar justamente levando adiante a gravidez, fisicamente e afetivamente. Disse-me: "Espero que a Carina seja ela mesma!", apartando fantasias fusionais entre mãe e filha, e entre nós duas.
Dois meses mais tarde, Otávia chega gravidíssima, acariciando amorosamente seu ventre quase pleno, graciosa em um vestido longo, de fino tecido, com os seus cabelos soltos; ao dirigir-se ao bebedouro, evoca-me a canção:
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou... (Veloso, 1978)
Senta e calmamente conversa comigo: não iria continuar a análise por obrigação (estávamos conversando sobre isso nesse período, pois era assim que ela sentia) ou como garantia (já que sabia que esta não existia) de saúde para sua menina. O sentir-se acompanhada tinha-lhe permitido seguir até aquele momento. Sentia-se grávida e não mais estranha ao conversar com sua filha em momentos de intimidade. E sentia, então, "não caber mais nada". Eu, sofridamente impotente, apreendendo "não caber" mais nenhuma colocação minha que pudesse reverter aquele quadro, fui embalada pelo retorno da música:
Por isso uma força me leva a cantar,
Por isso essa força estranha...
A música revelada dentro dessa experiência emocional, nessa sessão, era uma reverie que apontava para a capacidade construída de sofrer o trauma sem ficar detida por uma transferência fantasmagórica. Coloquei então que "estranha" ela não era mais ao perceber seu "limite" e que agora esta lhe era uma experiência familiar, como a chegada de Carina, que iria transformar o até então exclusivo casal em uma família.
Senti na hora, e analisei depois, que era o que Otávia, naquele momento, podia suportar, na medida em que se retomaram temores e negações frente à sua necessidade/dependência de cuidar e de ser cuidada.
III. Considerações finais
A verdade não está nos próprios objetos, mas na relação entre eles.
(W. R. Bion)
Retomo as ideias desenvolvidas neste trabalho, com algumas aproximações dentro do tema proposto.
Ao iniciar essas considerações reflexivas sobre a "relação sexual", avalio que esta pode vir a ser uma experiência emocional, quando o pênis torna-se conteúdo (♀) ao penetrar o "continente ativo" (♂ vagina), transformando-se - vagina e pênis - em conteúdo⇔continente (♂⇔♀). Ao captar o ato criativo do par, estas duas funções se entrelaçam e esta relação sexual poderá tornar-se uma experiência vincular, quando as qualidades psíquicas femininas e masculinas interagirem.
Com Otávia, reporto-me a Bion (1963/2004), que nos convida, através do modelo de relação vincular mãe/bebê, a captar momentos de (im)possibilidade para a alfabetização através do amor e para o amor. Aponta-nos que terrores inimagináveis do bebê - depositados (♂β) na mãe continente (♀), digeridos e filtrados por ela mediante a função a e devolvidos como conteúdos α (♂α) para o bebê - podem ter a possibilidade de transformar-se, nesse momento, em algo verdadeiramente contido, no sentido de passar a fazer parte de uma relação vincular da feminilidade com a masculinidade (♂⇔♀) no interior da vida psíquica.
O analista se insemina. Sem perder a sua própria feminilidade, passa a "digerir" por reverie algo que passa, no trânsito F ⇐ M, a ser um alimento. Seguir-se-ia um exercício de masculinidade do analista F ⇒ M, sob a forma da construção e interpretação parecer-me potente. [...] Do paciente também se demanda uma possibilidade de ser alimentado e inseminado, e as funções feminilidade ⇔ masculinidade vão se alternando em cada integrante do par, intrapsiquicamente, e entre os dois, relacionalmente. (Sandler, 1999, p. 473)
A dualidade, que muitas vezes nos suscita oposição, antagonismos e seus paradoxos, torturantes indagações dos nossos limites, pode sinalizar, como apontam Sapienza e Junqueira Filho, que
as tradições míticas deixam entrever que a função do amor não é meramente de harmonizar antagonismos ou integrá-los numa só unidade, mas sim, primordialmente, de gerar uma cooperação entre os seres permitindo que cada um seja mais e, ao mesmo tempo, amplie sua conciliação consigo mesmo [grifo meu]. (1997, p. 185)
Se pudermos consentir e humildemente aceitar que a incompletude e a aquisição de um espaço mental interno (função feminina dentro do homem e da mulher) podem suscitar a busca e a execução (função masculina em ambos) - inscrição para o criar -, poderemos ter um suporte intrapsíquico para expandir nossas relações (extrapsiquicamente), em um convívio de transformações criativas.5
Quanto tempo se precisa para a construção de um equipamento interno que permita a interação da masculinidade ⇔ feminilidade no interior da vida psíquica, como duas potências em mo(vi) mento vivo?! Quanto tempo é necessário para afastar terrores de indiferenciação, de açambarcamento e/ou de ferida narcísica que emergiram no setting analítico em função da recusa de percepção da necessidade de análise?! De quantos abortos sobrevive uma mente incansavelmente em formação, e quantos nascimentos "a termo", prematuridades, cesuras (interrupção/continuidade) vivemos, renovada e enlutadamente, para conjugar o continente (♀) com o conteúdo (♂), na relação com o outro?! Quanto tempo se necessita para o convívio harmônico, através da função α (internalizada), se possível com os objetos internos vinculados da masculinidade ⇔ feminilidade na vida psíquica?! Quanto tempo?!
A música permaneceu reverberando em mim:
Aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são.
É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão...
Por isso uma força me leva a cantar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Notas
1 Como ilustra uma obra de Salvador Dalí: http://www. gallerinobel.com/wp-content/gallery/salvador-dali/7422-sd-pantagruel.jpg (recuperado em 11 nov. 2015). A figura bizarra choca ao transmitir a autofagia dos possíveis elementos masculinos e femininos, numa relação de poder e não de troca inter-relacional: "quem está no comando" e "quem obedece e é controlado".
2 Ciente estou de que existem outros fatores presentes nessa primeira comunicação. Privilegio aqui o vértice observado, condizente com o que procuro abordar, já que os outros poderiam nos distrair da proposta deste trabalho.
3 Considero o termo paixão sob o vértice de Bion: "o componente derivado dos vínculos L, H e K (amor, ódio e conhecimento), para representar uma emoção experimentada com intensidade e calor, embora sem qualquer insinuação de violência" (1963/2004, p. 28).
4 Masculinidade - Feminilidade: "oposição que a psicanálise retomou e mostrou ser muito mais complexa do que geralmente se crê: a forma como o sujeito humano se situa relativamente ao seu sexo biológico é o termo aleatório de um processo conflitual" (Laplanche & Pontalis, 1967/2004, p. 275). Procuro, com isso, distinguir a questão genital das qualidades masculina e feminina, eivadas de sensorialidade, das funções masculina e feminina, que têm sua contraparte mental. Em uma troca de e-mails com João Carlos Braga, ele assim reitera: "Existem as qualidades do masculino e do feminino, que são diferentes da função masculina e feminina, organizações mentais que estruturam a continência e os contidos."
5 A escultura The ritual column, do californiano Richard MacDonald, expressa essas duas forças distintas em movimento e em harmonia: http://richardmacdon-ald.com/wp-content/uploads/2014/03/The-Ritual-Column.jpg (recuperado em 11 nov. 2015). Nesta escultura, as colunas (que suportam edificações) brotam do chão (húmus-humanidade) distintamente e, em-par-elhadas, apontam-nos o mo(vi)mento singular de duas potências (função masculina e feminina), que em harmonia favorecem o encontro criativo. A experiência emocional que esta obra de arte me propicia pode ser chamada de união, como Teilhard de Chardin assim a denomina: "A união cria; a união diferencia; a união personaliza" (2006, p. 29).
Referências
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Correspondência:
Cleuza Mara Lourenço Perrini
Rua da Paz, 195, conj. 211, Centro
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Tel: 41 3336-0201
cleuzaperrini@gmail.com
Recebido em 26.5.2015
Aceito em 17.8.2015