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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.50 no.2 São Paulo Apr./June 2016

 

EM PAUTA

 

O corpo na psicanálise: sua especificidade do ponto de vista da história das ideias

 

The body in psychoanalysis: its specificity from the point of view of the history of ideas

 

El cuerpo en el psicoanálisis: su especificidad desde el punto de vista de la historia de las ideas

 

 

Luiz Tenório Oliveira Lima

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)

Correspondência

 

 


RESUMO

O presente trabalho procura destacar, segundo o ponto de vista da história das ideias, as relações entre o surgimento do campo psicanalítico e um problema epistemológico, central na primeira metade do século XIX, para a ciência e a filosofia. O problema é identificado, principalmente no que concerne à psicologia, com a relação entre alma, espírito, mente e natureza; em outras palavras, entre corpo e mente. Procurou-se, a partir da contribuição de Franz Brentano, assinalar os percursos de três pensadores que, coincidentemente, estiveram em contato com ele: dois filósofos, Husserl e Heidegger, e Freud. Ressalta-se, por fim, que, talvez não por acaso, nos três autores a problemática das relações corpo-mente foi pensada de uma maneira inteiramente nova, o que contribuiu para a ruptura entre a tradição científica do século XIX e a ciência e a filosofia do século XX.

Palavras-chave: psicanálise; fenomenologia; filosofia; positivismo; mente; corpo.


ABSTRACT

By using the point of view of the history of ideas, this paper attempted to highlight the relationship between the emerging psychoanalytic field and an essential epistemological issue for philosophy and science in the first half of the 19th century. Especially in relation to the psychologic field, that issue has been recognized in the relationship between soul, spirit, mind, and nature; in other words, between body and mind. Starting mainly from Franz Brentano's contribution, the author's purpose was to emphasize the path of three thinkers, who had coincidentally been in touch with Brentano: Husserl and Heidegger (two philosophers) and Freud. Lastly, the author demonstrated Husserl, Heidegger, and Freud - maybe not by coincidence - conceived entirely original thoughts on the issue of the relationship between mind and body. Those thoughts had an important role in the breach between the 19th century scientific tradition and the 20th century science and philosophy.

Keywords: psychoanalysis; phenomenology; philosophy; positivism; mind; body.


RESUMEN

El presente trabajo busca destacar, de acuerdo con el punto de vista de la historia de las ideas, las relaciones entre el surgimiento del campo psicoanalítico y un problema epistemológico, central en la primera mitad del siglo XIX, para la ciencia y la filosofía. El problema se identifica, principalmente en lo que se refiere a la psicología, con la relación entre alma, espíritu, mente y naturaleza; en otras palabras, entre cuerpo y mente. A partir de la contribución de Franz Brentano, se trata de señalar las rutas de tres pensadores que, coincidentemente, estuvieron en contacto con él: dos filósofos, Husserl y Heidegger, y Freud. Se indica finalmente que, tal vez no por casualidad, en los tres autores el problema de las relaciones cuerpo-mente fue pensado de una forma completamente nueva, lo que contribuyó a la ruptura entre la tradición científica del siglo XIX y la ciencia y la filosofía del siglo XX.

Palabras clave: psicoanálisis; fenomenología; filosofía; positivismo; mente; cuerpo.


 

 

A realidade da alma é fundada na matéria corporal, e não esta na alma. De um modo mais geral, o mundo material é, no interior do mundo objetivo total a que chamamos Natureza, um mundo fechado em si e particular, que não necessita do apoio de nenhuma outra realidade. Pelo contrário, a existência de realidades espirituais, de um mundo do espírito real, está vinculada à existência de uma natureza no sentido primário, aquele da natureza material, e isso não por razões contingentes, e sim por razões de princípio. Enquanto a res extensa, quando lhe interrogamos a essência, não contém nada que dependa do espírito, nem nada que exija mediatamente (über sich hinaus) uma conexão com um espírito real, descobrimos ao contrário que um espírito real, por essência, está necessariamente vinculado à materialidade como espírito real de um corpo.

(Ideen III, Edmund Husserl)

 

Introdução

interesse pela questão do corpo em psicanálise está vinculado à evolução do pensamento de Freud, de seu pensamento pré-psicanalítico - médico e clínico - ao, enfim, propriamente psicanalítico. A relação entre corpo e mente é sempre levada em consideração, assim como a diferença entre corpo e imagem corporal, ou seja, entre a questão biológica e o corpo de cada indivíduo.

Na II Bienal de Psicanálise e Cultura, fiz uma exposição sobre esse tema, por ocasião de uma mesa-redonda coordenada pelo já falecido colega Manoel Laureano.1 O título da exposição era "Do modelo psicofísico - tal como apresentado por Freud no Projeto de uma psicologia científica (1895) - a uma teoria encarnada da mente - tal como exposta no capítulo 7, 'Sobre a psicologia dos processos oníricos', de A interpretação dos sonhos (1900)". A apresentação foi gravada e não escrita, e portanto não foi publicada.

No início da década de 1970, sem que eu soubesse, André Green publicara um artigo com o mesmo foco, mas com uma perspectiva ligeiramente diferente, intitulado "Do Projeto à Interpretação dos sonhos: ruptura e fechamento" (1972/2010). A proximidade de seu artigo com a minha apresentação torna evidente a importância desse tema, ou seja, dessa ruptura operada por Freud, entre seu modelo inicial - baseado em uma relação psicofísica com seu fundamento no sistema nervoso central - e uma relação agora de natureza virtual, tal como exposta no modelo do aparelho mental no capítulo 7 de A interpretação dos sonhos (1900/2013). Como se sabe, esse modelo dará origem à primeira tópica e ao campo propriamente psicanalítico.

 

Paul Schilder:2 três níveis do esquema corporal

Para compreender a diferença entre corpo e imagem corporal, vale mencionar o livro clássico A imagem do corpo (1935), de Paul Schilder. Embora médico, ele estudou filosofia sob o impacto da fenomenologia de Husserl e amalgamou esses pressupostos filosóficos ao seu material clínico. Assim, integrou três níveis na noção de imagem ou esquema corporal. O primeiro nível refere-se aos fundamentos fisiológicos da imagem corporal sob a perspectiva médica e biológica, a qual é muito atual; o segundo chama-se estrutura libidinal da imagem do corpo e tem referencial psicanalítico; e o terceiro refere-se à sociologia da imagem do corpo.

A partir da convergência do nível biológico e médico - ligado à ciência pura e positivista - com o nível libidinal - psicanalítico - e com a Gestalt, Schilder faz a ponte para estabelecer uma conexão entre a imagem do corpo de cada um e a imagem do corpo do outro, assim como a interação desse fator na relação social. Todos os desenvolvimentos posteriores sobre isso decorrem, no âmbito da psicanálise, principalmente das ideias propriamente psicanalíticas - como expostas nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Freud, 1905/1972b). É importante atentar a isso, uma vez que tendemos a omitir e esquecer os fundamentos teóricos e clínicos desenvolvidos no âmbito do campo psicanalítico e permeá-los com ideias filosóficas - não de forma favorável ao esclarecimento e desenvolvimento da psicanálise, mas, ao contrário, de forma que o campo psicanalítico se transforme em campo filosófico.

A fronteira entre campo de pesquisa e conhecimento, delimitada por Schilder, é essencial. Ela deve respeitar a especificidade do campo psicanalítico, com o seu vocabulário, na medida em que se desenvolve, e entender de que modo a questão do corpo deve ser introduzida. Do ponto de vista científico, no século XIX, a questão do corpo é entendida pela dicotomia entre matéria e espírito (ciências da natureza e ciências do espírito, na Alemanha, ou ciências naturais e ciências humanas, entre nós). Essa tensão esteve viva durante todo o século XIX, principalmente depois de Darwin e A origem das espécies (1859). Freud, que nascera em 1856, sofreu, durante a juventude e o curso de medicina, o impacto da atmosfera do evolucionismo daqueles anos e das ideias positivistas desenvolvidas nas áreas médica, biológica e filosófica.

 

A correspondência do jovem Freud: das afinidades literárias e filosóficas à investigação científica (1874-1886)

Na correspondência juvenil de Freud, dos 17 aos 30 anos, com seu colega e amigo Silberstein,3 como também com sua noiva Martha, torna-se evidente a tensão entre suas afinidades literárias e filosóficas e a escolha pela orientação para a investigação científica. Por exemplo, em uma carta para Martha, aos 27 anos, ele descreve sua visita ao museu de Dresden e analisa e interpreta de modo crítico e penetrante muitas das obras-primas ali expostas. Com Silberstein, troca cartas inspiradas pela leitura de Dom Quixote, muitas delas em espanhol, nas quais discutem assuntos literários e analisam obras teatrais e filosóficas. Já nessas discussões, além de referências e citações, sobressai a admiração por três grandes autores: Shakespeare, Goethe e Schiller.

Para a geração de Freud, Shakespeare, que havia sido traduzido pelos irmãos Schlegel no início do século XIX, torna-se uma referência fundamental, além de uma marca muito importante na língua alemã. Em uma carta que escreve a Martha, o jovem médico Freud diz, a propósito de Sonho de uma noite de verão: "se você não compreender estes versos joviais, consulte nada menos que a tradução de Noite de Reis; ou O que quiseres, de A. W. Schlegel" (E. L. Freud, 1960/1982, p. 32).

A despeito de seu interesse pelas ciências do espírito e de sua vocação literária, ele se concentrará desde então na investigação científica. A produção de uma teoria que solucionasse a questão da oposição matéria e espírito, corpo e mente, já aparecia como uma de suas preocupações.

 

Brentano4 e o jovem Freud

Durante os anos de 1874 e 1875, Freud se torna aluno do curso de filosofia ministrado por Franz Brentano na Universidade de Viena, quando iniciava seu curso na Faculdade de Medicina desta universidade. Brentano havia acabado de publicar seu livro Psicologia do ponto de vista empírico (1874), que tratava da possibilidade de uma solução para o problema da relação da consciência com o mundo empírico que rompesse com a tradição positivista. Ou seja, atribuía à consciência uma intencionalidade na apreensão de seus objetos. Essa tentativa de solução terá grande importância na formação filosófica do jovem Freud. E, como se sabe, Brentano inaugura uma trajetória que terá grande impacto na obra de Edmund Husserl, seu discípulo entre 1887 e 1895, na última década do século XIX. O conceito de intencionalidade da consciência se tornará central para a fenomenologia husserliana.

Coincidentemente, no momento em que Freud publica A interpretação dos sonhos, Husserl publica seu trabalho inaugural e revolucionário, Investigações lógicas (1900-1901/1980). Freud, como médico, no início do século XX, inaugura uma nova forma de compreender os fenômenos mentais a partir da centralidade do inconsciente, enquanto Husserl expõe uma solução filosófica com a criação da fenomenologia, centrada na intencionalidade da consciência. Busca também encontrar a solução do problema da relação entre a visão positivista e a cientificidade das ciências humanas. Um dos seus aspectos significativos é, no âmbito do objeto das ciências humanas, não considerar as explicações psicológicas. Freud propõe uma solução dos problemas relativos a uma autonomia do psíquico no comportamento humano que estivesse além da psicologia e do mecanicismo materialista. Eles têm dois pontos em comum: além de serem da mesma geração, ambos tiveram contato com Brentano e sofreram diretamente o impacto da presença de seu pensamento - no caso de Freud, como seu professor de filosofia; no caso de Husserl, como seu orientador e mestre. Esta informação pode ser confirmada com a leitura das discussões sobre o pensamento de Brentano no apêndice à sexta investigação lógica (pp. 167-181), em que Husserl aborda a distinção entre percepção externa e percepção interna, e entre fenômenos físicos e fenômenos psíquicos. Algum tempo depois, Husserl publicará as Ideias a propósito de uma fenomenología pura e de uma filosofia fenomenológica (1913), conhecidas como Ideen, em que a ideia de um mundo que não é "dado" de forma objetiva é uma de suas teorias fundamentais, associadas às relações entre corpo, mundo e consciência. A partir deste momento, a interação entre corpo e mundo adquire um novo estatuto na filosofia e terá muitos desdobramentos no pensamento do século XX.

A revolução operada por Husserl, com a fenomenologia como solução filosófica dos problemas relacionados ao estatuto não positivista das ciências humanas, afasta também, como vimos, a psicologia como referência para a solução destes problemas. Essas obras tão importantes no contexto da filosofia de língua alemã daquele período apaixonam um jovem aluno seu, Martin Heidegger, que a ele dedicará, em 1927, sua obra monumental Ser e tempo. Com este livro, Heidegger introduz de um modo novo as ideias husserlianas de mundo e corpo; assim, o corpo faz parte do mundo e é constitutivo dele. Será com o conceito de

Dasein que as noções filosóficas de sujeito e psicológicas de personalidade serão, no contexto dos argumentos dessa obra, ultrapassadas. Em 1963, em "Meu caminho para a fenomenologia", texto autobiográfico sobre as origens do seu pensamento filosófico, Heidegger escreve:

Soube, por diversas indicações em revistas filosóficas, que a maneira de pensar de Husserl era determinada por Franz Brentano. A dissertação deste último Sobre o significado múltiplo do ente segundo Aristóteles (1862) constituía, desde 1907, o principal auxílio nas minhas desajeitadas tentativas para penetrar na filosofia. Bastante indeterminada, movia-me a seguinte ideia: se o ente é expresso em múltiplos significados, qual será então o determinante significado fundamental? (1963/1979, p. 297)

Vê-se, assim, a importância do texto de Franz Brentano como deflagrador do impulso filosófico inicial de Heidegger. De acordo com o próprio autor, foi a partir deste texto que ele se interessou pelas questões ali postas, estas discutidas também por Husserl nas Investigações lógicas. Para as indagações suscitadas em Heidegger por ambos os textos, ele encontrará a resposta, segundo ele próprio afirma, no ano de 1913, com a publicação, no Anuário de Filosofia e Pesquisa Fenomenológica, das Ideias a propósito de uma fenomenologia pura e de uma filosofia fenomenológica.

Em Ser e tempo (1927/2005), quinze anos depois, grande parte do seu esforço consistirá na discussão exaustiva das formulações husserlianas relativas a consciência, intencionalidade, corpo e mundo. Com a introdução da expressão Dasein (ser-aí) como conceito, torna-se desnecessário o uso da psicologia e das noções psicológicas de personalidade para a investigação das questões relacionadas com a existência e o ser, do ponto de vista filosófico. Ser e tempo inicia uma tradição do pensamento europeu que coloca no primeiro plano o corpo, o mundo, a existência, a morte, a angústia e o ser. Pensadores representativos desta tradição podem ser exemplificados pelos existencialistas franceses,5 como Jean-Paul Sartre, Emmanuel Levinas e, para aquilo que nos interessa, Maurice Merleau-Ponty.

 

Manifestação dos sintomas: o corpo que fala

O encontro com Charcot durante seu estágio em Paris (1885-1886) incita em Freud um interesse novo pela clínica neurológica. As pesquisas de Charcot com a histeria chamam a sua atenção para uma nova maneira de considerar manifestações físicas (o ataque histérico conversivo, por exemplo) e suas possíveis motivações psicológicas. A partir deste encontro, se dedicará também à atividade clínica, passando a atender pacientes neuróticos em Viena, junto com Breuer.

Na década seguinte, em função desta atividade clínica, ele procura estabelecer uma relação etiológica entre os sintomas histéricos e o sistema nervoso central. Esta teoria é construída no Projeto. Com a utilização da hipnose, porém, surge um novo fator, que, do ponto de vista clínico, é decisivo: a história do paciente, da sua infância, e portanto a ideia de eventos traumáticos infantis. É a partir deste novo elemento que se configura a famosa teoria da sedução. Emerge, assim, a ideia do corpo infantil erotizado e da associação inevitável entre sintoma conversivo histérico e erotização do corpo. Simplificando, surge a origem do que virá a ser a teoria da libido e sua importância na constituição da mente. Ou seja, uma teoria encarnada da mente. Ao final desta década (1886-1896), Freud escreve o Projeto de uma psicologia científica (1895/1995) e publica, em colaboração com Breuer, os Estudos sobre a histeria (1895/2016).

Um dos resultados de sua autoanálise, a qual atinge seu ponto máximo em 1897, pode ser considerado o insight de que os eventos traumáticos infantis, relacionados à teoria da sedução (tal como descrita nos Estudos e teoricamente explicada no Projeto), não precisariam ter ocorrido ou não ocorriam na vida concreta, mas correspondiam a fantasias eróticas dos pacientes em relação a seus genitores. Isto implica uma crise na evolução do seu pensamento e na sua vida profissional. Essa crise é relatada, em detalhes, na correspondência com Fliess,6 e seu ápice se dá em setembro e outubro de 1897. O livro fundador do campo psicanalítico, A interpretação dos sonhos, será concluído em dezembro de 1899, em grande parte como solução para esse impasse.

A relação de causa e efeito entre trauma infantil e sintoma histérico será substituída por uma nova teoria, que considerará, de modo original, as fantasias implementadas, agenciadas pela mente da criança em relação aos pais. Estas fantasias geram certas narrativas, enredos e intrigas, o que revelará a afinidade originária entre o campo psicanalítico e a narrativa literária. Quer dizer, a solução do impasse se deu através do encontro entre corpo e mente, para além da dicotomia clássica entre matéria e espírito.

A questão fundamental nessa teoria, portanto, é a do corpo entendido como o corpo que fala, e não como o corpo que é falado em cada indivíduo. Assim, Freud formula o que já havia intuído pouco antes: a teoria do complexo de Édipo. A questão do corpo é central aqui, embora Freud talvez ainda não tivesse a noção dessa centralidade.

Será apenas em 1905, com a publicação dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que surgirá, com sua teoria da libido, o suporte material (corporal) para o modelo topográfico do capítulo 7 de A interpretação dos sonhos. Esse suporte, portanto, não será mais baseado no córtex cerebral como no Projeto. O corpo infantil será o suporte do desenvolvimento da personalidade e da mente de uma pessoa.7 A importância, assim, desloca-se para a teoria do desenvolvimento da libido, a fixação dessa libido com as fases corporais do desenvolvimento, a etiologia das neuroses e o caráter da pessoa. Desse modo, a teoria desenvolvida na primeira tópica que inaugura o campo psicanalítico está enraizada tanto na experiência corporal do bebê em sua relação com o corpo materno, desde o nascimento, quanto na questão da sexualidade, das etapas pré-edípicas e edípicas. Isto sem perder de vista as relações mediatizadas através da linguagem com a cultura.

 

O psíquico e o físico

O campo psicanalítico se constitui como resposta e procura ser a solução para o já considerado problema da relação entre corpo e mente, tal como estava posto na psicologia do século XIX. Isto fica muito claro na correspondência juvenil de Freud, o qual, como já vimos, ao ingressar na faculdade de medicina e iniciar o curso de filosofia, depara-se com este tipo de questão científica e filosófica então muito atual. De início, como estudante e mesmo médico, seus estudos se dirigem para a investigação dos problemas da ciência positiva, e é como neuropatologista que recebe sua bolsa de estudos na Salpêtrière (1885), em Paris. Entretanto, sua curiosidade e seu interesse se dirigem às preleções de Charcot sobre os pacientes histéricos, em que pôde observar fascinado que, na histeria de conversão, sintomas corporais desapareciam ou poderiam ser produzidos mediante intervenção psicológica. Vislumbra então a possibilidade de atribuir uma dimensão psíquica à origem desses transtornos mentais.

Ao longo dos anos que se seguiram a seu retorno a Viena, ele parece convencido da possibilidade de encontrar uma solução positivista que desse conta dessa importante questão. Como vimos, essa solução envolverá o nexo causal entre a atividade do sistema nervoso central e as manifestações psíquicas e físicas da histeria. Um tópico importante nesse contexto refere-se à ideia, desenvolvida por Freud, segundo a qual uma experiência traumática sexual vivida na infância só se torna carregada de angústia e, portanto, de sentido quando, muito tempo depois, é ressignificada pela pessoa já adulta. Nachtrãglich é a palavra que Freud utiliza para nomear este fenômeno.8 Essa teoria, assim considerada, articula o nível clínico da experiência à etiologia da histeria. Ela baseia-se nos relatos desses traumas, clinicamente obtidos mediante a hipnose, e, em última instância, nas alterações físicas no sistema nervoso central.

 

A solução do problema e o surgimento da clínica psicanalítica

Pode-se afirmar que, com a redação do Projeto e a publicação dos Estudos, Freud realiza a primeira tentativa de solução do que considerava, segundo meu ponto de vista, o problema epistemológico por excelência. Ao escrever o Projeto, todavia, ele percebe quase imediatamente que a teoria, que implicava uma relação de causa e efeito entre os sintomas psíquicos da histeria e as excitações da fibra nervosa do sistema nervoso central, não se sustentava em bases teóricas epistemologicamente consistentes. É nesse momento que se inicia a crise pessoal e científica que, como já vimos, atingirá o clímax em setembro e outubro de 1897. Ele abandona a teoria do trauma, suas relações orgânicas de causa e efeito, e passa a dar importância às fantasias eróticas como expressão do desejo infantil para com os pais.

A solução do problema, portanto, começa a emergir a partir do uso dos sonhos e sua interpretação como objeto da preocupação principal de Freud. E é justamente o sonho, um fenômeno não patológico e universal nos seres humanos, que será compreendido como forma de expressão e realização dos desejos infantis. Em uma passagem célebre do capítulo 7 de A interpretação dos sonhos, Freud, referindo-se a Fechner,9 escreve:

Entre todas as observações sobre a teoria do sonhar que podem ser encontradas nos diversos autores, gostaria de destacar uma que merece ser desenvolvida. No contexto de algumas discussões dedicadas ao sonho, o grande Fechner expressa em sua Psicofísica (1899, vol. 1, pp. 520-521) a hipótese de que a cena dos sonhos é distinta daquela da vida representacional de vigília. [...] A ideia assim colocada à nossa disposição é a de um lugar psíquico. Queremos deixar inteiramente de lado que o aparelho psíquico de que aqui se trata também nos é conhecido sob a forma de preparado anatômico, e queremos evitar com cuidado a tentação de determinar o lugar psíquico anatomicamente. Permanecemos em terreno psicológico, lembrando-nos apenas de seguir a sugestão de imaginar o instrumento que serve às produções psíquicas mais ou menos como um microscópio composto, uma máquina fotográfica etc. O lugar psíquico corresponde então a um lugar no interior de um aparelho em que se forma um dos estágios prévios da imagem. (1900/2013, pp. 563-564)

Pode-se perceber que Freud propõe um modelo virtual para o aparelho mental. Desse modo, a relação de causa e efeito entre físico e psíquico no modo de compreender o funcionamento da mente, do ponto de vista psicanalítico, é ultrapassada. Com os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, a teoria da libido ali exposta passa a ocupar metapsicologicamente o lugar anteriormente ocupado pelo sistema nervoso central. Torna-se evidente que a sexualidade nas fases oral, anal e fálico-genital passa à posição central. O corpo do indivíduo torna-se progressivamente dotado de significados desde o início, com a oralidade, a analidade, a agressividade para mamar, a retenção e, finalmente, as relações entre prazer e desprazer, os dois princípios de funcionamento mental.

A partir da referência à própria experiência pessoal, através de sua autoanálise, que implica a interpretação de seus próprios sonhos, Freud encontra, do ponto de vista teórico, a solução epistemológica à qual nos referimos e, por consequência, constitui também as bases do que virá a ser a clínica psicanalítica. Pode-se considerar seu primeiro relato propriamente psicanalítico o texto "Lembranças encobridoras" (1899/1976), que trata do esquecimento das palavras. No material clínico exposto neste trabalho, o paciente em questão é o próprio Freud, o que torna evidente que ele decorre do seu processo de autoanálise. Como se sabe, este fato resolve em grande parte o problema de uma visão positivista das relações entre a história do paciente e os fatos, principalmente no que concerne à questão clássica da adequação da representação ao representado, evidenciando as inevitáveis distorções da memória, operadas, em cada indivíduo, pela soberania do desejo. Ou seja, com o campo psicanalítico assim instalado, não só a vinculação entre memória e passado é sempre distorcida e transformada como também qualquer juízo emitido pela consciência está inevitavelmente sujeito a distorções e transformações na apreensão da pessoa, seja em relação a si própria, seja em relação ao mundo.

Por outro lado, fica clara, na teoria da sexualidade infantil, a importância da experiência corporal como fundamento da teoria psicanalítica da libido. Pode-se dizer, portanto, que o corpo libidinal se torna a matriz da teoria psicanalítica do desenvolvimento da personalidade.

 

O corpo como matriz de toda a teoria psicanalítica

O livro de Paul Schilder, no contexto da relação entre corpo libidinal e imagem do corpo, é essencial na reflexão psicanalítica. Isto porque foi o primeiro a destacar, no âmbito científico, em sua época, não só a especificidade de uma teoria psicanalítica do corpo como também uma compreensão do fundamento corporal desta teoria. O que de fato é original nesse livro é a elaboração desta teoria específica do corpo. Este, assim psicanaliticamente considerado, não coincide inteiramente com o corpo biológico da medicina ou com o corpo-organismo da biologia. É claro que esta questão ecoa as crises conversivas histéricas, os transes corporais hipnóticos, além dos transtornos físicos na hipocondria e mesmo nos distúrbios psicossomáticos, em função do que Freud chamava de erotização do órgão. Isto torna muitas vezes difícil para o analista, clinicamente, discernir as fronteiras entre os diferentes níveis da experiência corporal e suas motivações psíquicas.

 

Psicanálise e psicologia

Em seus escritos, Freud não se refere ao termo subjetividade. Mesmo ao construir a teoria da transferência, o termo intersubjetividade não é utilizado. A transferência é uma teoria específica da psicanálise. Na sua primeira forma, o paciente investe o analista de atributos e circunstâncias que têm origem nas suas primeiras experiências com os objetos parentais. Não se trata aí de transpor sua subjetividade para a subjetividade do analista ou de transferir os conteúdos de uma para a outra. A linguagem da psicanálise é especificamente sua, e, para não reduzir a relação transferencial a uma relação intersubjetiva, é imprescindível o uso dessa linguagem para a compreensão de o que é a transferência como conceito estritamente psicanalítico.

Subjetividade e relação intersubjetiva são normalmente noções ou conceitos da psicologia, da fenomenologia husserliana e da filosofia. A psicanálise não é nem uma psicologia nem uma filosofia, e nisso aproxima-se mais das formulações ontológicas de Heidegger. Lacan, não por acaso, faz essa aproximação: percebe a ligação e tira o máximo proveito dela nas teorias que desenvolve, embora mantenha a noção de sujeito -derivada da ideia hegeliana de sujeito, tal como desenvolvida na Fenomenologia do Espírito (1807/2002), principalmente no que diz respeito à dialética do desejo na relação do senhor e do escravo. Neste caso, Lacan lança mão de uma explicação filosófica para resolver problemas criados pelas teorias de Freud e pelos seus usos relativamente a certas exigências epistemológicas e filosóficas contemporâneas de Lacan, e não a exigências da psicanálise em si.

Para compreender essa ideia, faz-se necessária a diferenciação do corpo libidinal, que não é, como vimos, o corpo da medicina nem o corpo da psicologia. Este último é dotado de faculdades e funções como percepção, sensação, capacidade cognitiva, memória e, por isso, a terapia cognitiva, comportamental e mesmo a analítica existencial são, ao contrário da psicanálise, referidas à psicologia como ciência. Freud distanciou a psicanálise da psicologia intencionalmente, o que Lacan percebeu muito bem, principalmente em sua célebre polêmica com a escola psicanalítica americana da psicologia do ego, na segunda metade do século passado.

Freud usa o termo psicologia no sentido comum da palavra, do que é psíquico e emocional, e não no sentido de uma disciplina científica. Ocupa-se, portanto, de matrizes psicológicas, não de situações psicológicas. Para exemplificar: no complexo de Édipo, o corpo infantil é dotado de significados pela relação com o corpo da mãe, com os outros corpos, pela linguagem e pelas características do desenvolvimento da libido ainda não completamente desenvolvida. Há também a questão da relação com os objetos parentais, a ambivalência de sentimentos, impulsos e desejos. Essa configuração não é em si psicológica, embora envolva emoções e sentimentos, ela é uma matriz. Lacan denominou-a corretamente estrutura, pois não é um momento, mas um processo que moldará a personalidade e a psicologia de cada um. O mesmo pode-se dizer da teoria do narcisismo: a ideia de que aquilo que admiro no outro é o ideal projetado do meu eu não é psicológica, e sim algo estruturado na minha relação com o outro. Neste caso, delimitar o campo entre psicologia e psicanálise continua a ser, para o analista, fundamental.

 

O Eu é ancorado no corpo

Em "O homem e a adversidade", conferência proferida em Genebra, em 1951, sobre os progressos da investigação filosófica concernente ao homem nos últimos cinquenta anos, isto é, na primeira metade do século XX, e publicada em 1960 em Signos, Merleau-Ponty diz:

Quaisquer que sejam as formulações filosóficas, não há dúvida de que Freud percebeu cada vez melhor a função espiritual do corpo e a encarnação do espírito. Na maturidade de sua obra, fala da relação "sexual-agressiva" com o outro como dado fundamental de nossa vida. Como a agressão não visa uma coisa e sim uma pessoa, o entrelaçamento do sexual com o agressivo significa que a sexualidade tem, por assim dizer, um interior, que é acompanhada, em toda a sua extensão, por uma relação de pessoa a pessoa, que o sexual é a nossa maneira carnal, já que somos carne, de viver a relação com o outro. Uma vez que a sexualidade é relação com o outro, e não só com um outro corpo, ela vai tecer entre o outro e eu o sistema circular das projeções e das introjeções, desencadear a série indefinida de reflexos refletores e de reflexos refletidos que fazem que eu seja o outro e ele seja eu mesmo. (1960/1991, p. 260)

Como se depreende do texto, o filósofo tem a exata medida da importância da descoberta freudiana para a questão que examinamos, sobre o ultrapassamento da dicotomia mente e corpo, o que corresponde a uma ruptura com a tradição do pensamento psicológico e filosófico do século XIX. É no âmbito dessa ruptura que se pode considerar os desenvolvimentos do pensamento psicanalítico a partir dos anos 20 como uma radicalização da importância do corpo, aqui no sentido estritamente psicanalítico, tal como é constituído nas teorias de Abraham e, principalmente, de Melanie Klein.

O pensamento clínico de Klein, que se desenvolve entre 1923 e 1961, será em grande parte decorrente da grande transformação operada por Freud na primeira tópica. Basta pensar no impacto da publicação, por Freud, de Além do princípio do prazer (1920/2010) e de O Eu e o Id (1923/2011), o qual inaugura uma nova teoria do Eu. Esta teoria configurará, de modo explícito, um Eu que resulta da introjeção e da identificação dos seus primeiros objetos e, portanto, profundamente ancorado no corpo. E, porque ancorado no corpo, constituindo-se como "superfície corporal".

Caso se atente bem à leitura dos textos de Melanie Klein dos anos 20 e 30, percebe-se que, neles, tudo é corporal desde o início. Tudo é puro corpo. Claro que me refiro às suas teorias construídas a partir da clínica psicanalítica aplicada ao tratamento de crianças muito pequenas. Um exemplo eloquente desse comentário é seu célebre ensaio clínico "A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego" (1930/1996). Nas teorias psicanalíticas de Klein, o corpo infantil é como um bólido incandescente que, no contato com a mãe, irá progressivamente esfriando. Esta imagem supõe que, assim como o planeta Terra, o adulto que resulta dos primeiros meses da sua relação de bebê com o corpo da mãe mantém, no seu centro primitivo, uma espécie de centrosfera ígnea. Este fogo é constitutivo do desejo, fogo instintivo, e é este fogo que se expressa sob a forma do desenvolvimento libidinal do indivíduo. Melanie Klein usa com frequência os termos libido e instinto, da segunda tópica de Freud, e acrescenta a eles, na sua teoria das posições, os termos esquizoparanoide e depressão.

A noção kleiniana de fantasia inconsciente é um desdobramento com implicações clínicas extraordinárias da teoria freudiana da equivalência simbólica, em que o entrelaçamento do "sexual-agressivo" (o corpo) com o outro criará a possibilidade, no indivíduo humano, do sentido. Sendo, portanto, uma espécie de vivência concreta, corporal, de algo que poderá, depois, se possível, ser suscetível de simbolização. Aqui há uma questão que escapa ao âmbito deste trabalho, entre a noção de simbolismo em psicanálise, seja em Freud, seja em Melanie Klein, e a noção de simbólico, no sentido linguístico ou semiótico, desenvolvida posteriormente de forma rigorosa por estas disciplinas (linguística e semiótica) e adotada principalmente a partir dos anos 60 com o ensino de Lacan.

 

Conclusão

O que se tentou demonstrar a propósito da importância do corpo no discurso psicanalítico é que, além de a posição do corpo ser, desde a sua origem, central, ela foi também uma resposta aos problemas epistemológicos e clínicos - postos no final do século XIX - entre biologia e psicologia, entre organismo e comportamento, que, na perspectiva das ciências deste século, estabeleciam uma relação irredutível entre matéria e espírito. Pode-se dizer, assim, sem simplificar muito o problema epistemológico de que se trata, que a psicanálise - tal como constituída no início do século passado, a partir da publicação de A interpretação dos sonhos de Freud e do desenvolvimento de seu método clínico no Caso Dora (1905/1972a) - foi uma resposta decisiva a este problema. Em função disto, é possível afirmar que Sigmund Freud tornou-se, para além do âmbito de seu trabalho como médico inovador e inventivo, um pensador original e pioneiro, com ampla influência no pensamento ocidental, principalmente depois da segunda metade do século XX. Como acentuou muito bem Merleau-Ponty na conferência já citada, "seria interessante seguir, na psicanálise, por exemplo, a passagem de uma concepção do corpo que era inicialmente, em Freud, a dos médicos do século XIX, para a noção moderna do corpo vivido" (1960/1991, p. 256).

 

Notas

1 II Bienal de Psicanálise e Cultura, promovida pela Sociedade Brasileira de Psicanálise, em 1994, no Centro de Convenções Rebouças.

2 Paul Schilder (1886-1940), médico neurologista e pesquisador. Em 1923, publicou o artigo "Das Korperschema" [O esquema corporal], cujo título tornou-se uma expressão multidisciplinar, utilizada pelos campos da neuropsicofisiologia, psicologia, psicologia do comportamento, psicanálise, teorias corporais etc. Ele era contemporâneo de Freud e os dois se tornaram amigos e colaboradores. Este o convidou para ser membro da Sociedade de Psicanálise de Viena. Schilder adquiriu o título de psicanalista e - embora não tenha sido analisado - produziu muito nesta área. Depois de 1930, esteve ligado à psicanálise americana e foi amigo de Heinz Hartmann. Morreu atropelado em Nova Iorque, em 1940.

3 Eduard Silberstein (1856-1925), amigo de Sigmund Freud desde a adolescência e seu principal correspondente da juventude.

4 Franz Brentano (1838-1917), filósofo alemão, foi professor em Würzburg e em Viena, onde ministrou o curso de filosofia frequentado por Freud entre 1874 e 1875. Em 1874, publicou sua importante obra Psicologia do ponto de vista empírico. Entre 1887 e 1895, foi professor e mestre de Edmund Husserl. Aposentou-se em 1895 e viveu em Firenze até o início da Primeira Guerra Mundial, quando se transferiu para Zurique, onde faleceu em 1917.

5 Outra vertente, que não está no foco do nosso trabalho, é a hermenêutica heideggeriana, desenvolvida principalmente por seu discípulo Hans-Georg Gadamer e, até no que diz respeito à relação com a obra de Freud, Paul Ricoeur. Ainda uma outra vertente não referida é a da analítica existencial, com Binswanger, por exemplo.

6 Wilhelm Fliess (1858-1928), médico alemão, foi um protagonista importante na história da pré-psicanálise. Ele e Freud eram grandes amigos e correspondentes.

7 Notem que não utilizo o termo sujeito. Freud não utiliza esse termo - cujo uso posterior é aceitável; aqui, porém, me atenho ao vocabulário dele, numa exposição da história das ideias psicanalíticas.

8 Segundo Paulo César de Souza, em As palavras de Freud: "O verbo nachtragen significa literalmente 'levar, carregar (tragen) depois (nach)'. Este o primeiro sentido registrado no Duden. Também significa 'acrescentar (algo) a um escrito, a uma fala'. Mais subjetivamente, usa-se como equivalendo a 'guardar rancor, não esquecer'. Em comum nestas acepções há o depois, seja espacial ou temporal. [...] O adjetivo - ou advérbio - nachtraglich é usado coloquialmente, para indicar o que se faz ou ocorre 'posteriormente, com atraso'" (1998, p. 199).

9 Gustav Fechner (1801-1887) foi um filósofo, matemático e físico alemão que tinha grandes interesses por questões psicológicas e religiosas.

 

Referências

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Luiz Tenório Oliveira Lima
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Recebido em 16.05.2016
Aceito em 30.05.2016

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