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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)
On-line version ISSN 1413-6295
Cad. psicanal. vol.43 no.44 Rio de Jeneiro Jan./June 2021
ARTIGOS
Um tríptico: Quem acredita em pulsão de morte?
Incluímos neste número os trabalhos que fizeram parte da Mesa Redonda Quem acredita em pulsão de morte? Cem anos de investigação psicanalítica, apresentada em 2020 no Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro, onde foram desenvolvidas reflexões críticas sobre a postulação da pulsão de morte e seus desdobramentos na teoria e práticas clínicas contemporâneas.
Pareceu-nos uma contribuição essencial para o tema central desta revista trazer, como um conjunto indissociável, três contribuições teóricas que, reunidas, compõem um quadro desdobrável, como um tríptico e cujo tema central nos faz percorrer a produção psicanalítica, a partir do impacto do Além do princípio do prazer, quando Freud postula o conceito de pulsão de morte e abre caminho para a formulação da segunda tópica do aparelho psíquico. Afinal, a segunda teoria pulsional permitiu à psicanálise trabalhar com inúmeros paradoxos experimentados por nós ao longo de nossa existência.
Os três textos aqui reunidos compõem um necessário aprofundamento da postulação freudiana de pulsão de morte na obra de diferentes pensadores da psicanálise que desenvolveram temas a ela articulados, ou não a consideraram como central na compreensão do fenômeno humano.
Aqui são postos em evidência os impactos das possibilidades de ligação e desligamento das moções pulsionais sobre a escuta do analista, sua inflexão sobre o trabalho psíquico exigido ao acolhermos a complexidade dos sofrimentos anímicos e manifestações da vida e da morte que se apresentam realçadas em nossa cultura no momento presente.
Assim, partimos da apresentação de Cláudia Amorim Garcia sobre o efeito do trabalho do negativo na obra de André Green, e adentramos na contribuição de Octavio Souza. Nela acompanhamos a busca do autor pela ampliação do trabalho clínico desde a visão estrutural lacaniana - que privilegia a pulsão de morte como vetor de articulação entre sujeito e objeto - até as contribuições de Melanie Klein, Winnicott e Bion, entre outros, que enfatizam a relação intersubjetiva como estruturante da dinâmica psíquica. Por fim, trazemos a reflexão de Luís Claudio Figueiredo sobre a ambivalência e o trauma e sua importância na prática clínica. São três apresentações em que os processos de simbolização e seus desdobramentos são problematizados com rigor e delicadeza. Certamente, enriquecem nossa compreensão das teorias que amparam nossa clínica.
Ana Maria Furtado