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Revista Mal Estar e Subjetividade

Print version ISSN 1518-6148

Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.1 Fortaleza Mar. 2011

 

EDITORIAL

 

Mal estar e gerações

 

Discontents and Generations

 

 

O mal estar inerente à condição humana de existir e conviver no âmbito dos laços sociais implica em trabalhos subjetivos que envolvem o corpo, a imagem, a idade, a dimensão do institucional, enfim, uma série de fatores que contribuem para uma reflexão sistemática sobre as formas de produção do sofrimento psíquico do sujeito e sua relação com o próximo.

Abrimos este número com uma leitura sobre os dilemas subjetivos causados pelos encontros intergeracionais. A questão do tempo, do ócio, o processo de envelhecimento, a dinâmica impressa pelos valores entre as gerações, além das consequências trazidas pelas questões adaptativas, traçam uma interessante malha de reflexão sobre o sofrimento psíquico no decorrer da vida.

Em seguida, como uma forma de contraponto subjetivo, tratamos de uma abordagem do sofrimento na adolescência. Desta feita, o sofrimento psíquico aparece tipificado com adolescentes em conflito com a lei. O cerne da discussão é o processo de inscrição da lei e sua relação com a verticalidade e a horizontalidade, pensadas a partir do funcionamento familiar. Em pauta, as vias de atuação dos adolescentes em função da nomeação materna e o predomínio de determinada posição, que desvela o desejo do Outro. As consequências são vistas a partir do conflito que o sujeito utiliza em relação ao laço social e as formas de transgressão advindas de sua posição dentro da triangulação familiar.

Na sequência apresentamos um bloco de artigos sobre o sofrimento psíquico, a dimensão subjetiva do trabalho e a formação do profissional. A ênfase recai sobre o sofrimento psíquico - enquanto uma categoria importante para se discutir o trabalho, seu significado, seu valor e sua função na compreensão da subjetividade - serve também como forma de revisão de como se conformam os laços sociais na conjuntura psicossocial do nosso tempo.

Avançamos com a discussão sobre as possibilidades de deslocamentos do sujeito do sofrimento para o sujeito da ação, bem como do trabalho como fator de adoecimento para o registro da atividade funcional criadora. Os dilemas pessoais vividos por executivos bancários e o sofrimento inerente aos seus familiares em função das mudanças impostas em suas carreiras profissionais, desenham a amplitude do estudo do sofrimento psíquico causado pelo trabalho, a partir de um membro da família. Estas inquietações são apresentadas também como uma forma de pensar o mal estar no trabalho enquanto efeito de uma civilização repressiva e com montagens sublimatórias que envolvem o conflito indivíduo-civilização. Fazemos um contraponto com a análise de uma pesquisa realizada sobre a formação do psicólogo e a ênfase curricular, bem como a habilitação voltada para a psicologia da saúde coletiva e as políticas de saúde, área de grande relevância para a prática profissional do psicólogo no Brasil. Fechamos, assim, com a discussão sobre novas possibilidades de compreensão psicológica para clínica no serviço público de saúde, por meio de pesquisa bibliográfica, reflexão teórica e estudos de casos clínicos.

A terceira vertente tratada neste número gira em torno dos temas do mal estar na clínica e no sujeito. Publicamos trabalhos sobre o mal estar nas doenças degenerativas e uma discussão sobre a fragmentação do eu em sujeitos psicóticos. Apresentamos uma análise sobre a relação Psicanálise e política, o sofrimento e a desinstitucionalização, as incidências do pai pela religião na teoria de Freud e Lacan, a importância do ato de brincar e o desejo na formação da subjetividade na infância, concluindo com o sofrimento psíquico causado no sujeito no contexto da cidade e do trânsito na contemporaneidade.

 

Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e Organizador