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Revista Mal Estar e Subjetividade
Print version ISSN 1518-6148
Rev. Mal-Estar Subj. vol.11 no.4 Fortaleza Dec. 2011
EDITORIAL
O saber, o poder e suas consequências
The knowledge, power and its consequences
A Revista "Mal-Estar e Subjetividade" em seu último número do ano de 2011, vem saudar os autores pela qualidade e variedade do saber que ora produzem. Esta intensidade de saberes coaduna com a política de nossa revista que prima por uma relação democrática entre o saber e a verdade. Entendemos que esta é realmente uma política, no melhor sentido que a política pode se revestir: uma ética. Importante seria que todos os espaços de produção científica no Brasil e no mundo mantivessem e afirmassem essa posição, que não deve se resumir unicamente a uma postura democrática - o que já não é pouco - mas que também estabelecessem uma "exigência de contundência" para suas publicações, no sentido de apostar na radicalidade dos saberes que tem consequências. Seria crucial para o campo da pesquisa e do ensino em psicologia que nossa relação com o saber se desprendesse de uma lógica burocrática e cientificista que hoje parece tentar se estabelecer no cotidiano de nossas criações. Michel Foucault já nos ensinou a peculiar relação política que se estabeleceu em nossa modernidade entre o poder e o saber. Max Weber, por sua vez, anunciou a gênese do processo de burocratização do Estado e da ciência. Pois bem, hoje parece que vivemos o triunfo destes deslocamentos genealógicos, afogados em exigências quantitativas e pouca preocupação com a "radicalidade" dos saberes que construímos. Um movimento político-discursivo que se sustenta numa concepção estreita da ciência, desconsiderando a discussão secular acerca das peculiaridades das ciências humanas e as singularidades das práticas com o sujeito.
A Revista Mal-Estar e Subjetividade renova, então, sua aposta no saber e em sua função política, recusando sua forma meramente apolítica, cientificista e burocrática. Ambicionamos que cada número possa armar nossas consequências, num mundo para o qual a "crítica" tornou-se palavra vulgar e indigna. E por isso mesmo saudamos mais uma vez os autores deste número que se arriscaram em temas e campos tão diversos.
Vários artigos adentram nesta perspectiva analítica da cultura contemporânea, investigando temáticas inquietantes e extremamente atuais como a "alienação parental", a "mobilidade urbana", a "velhice", a "família e a homoparentalidade", a "educação, trabalho e subjetividade", o "consumo e a subjetividade", a "toxicomania", sempre ancorados em pesquisas rigorosas e uma crítica incisiva. Tanto o lugar do psicólogo como o do professor são examinados e perquiridos por uma ótica que insiste em não deixar de articular todos esses temas com a função da subjetividade.
Não faltaram, por isso mesmo, propostas de mudanças para o mundo atual, assim como uma ressignificação das dores e do mal-estar na cultura, seja através do "ócio transformacional", seja por conta de um bom "humor" diante do trágico da vida e da morte anunciada. A morte, tema central e móvel real da vida, não deixa de ser teorizada e situada na prática clínica, no trabalho que a articula com a linguagem, o gozo e a pulsão de morte. Por outro ângulo, os riscos e os efeitos da naturalização do sofrimento psíquico operado pela abordagem das psicopatologias através dos discursos e práticas neurocientíficas, são também abordados tendo como contraponto uma clínica com a pulsão e com o sujeito.
Ampliando ainda mais o campo visitado pelos trabalhos, a interlocução e a relação interdisciplinar também se apresentam num bloco de artigos que pesquisam e teorizam sobre a relação entre a psicologia e a saúde, assim como sobre a especificidade da saúde mental. O lugar do psicólogo nesta práxis institucional, especialmente nos Centros de Atenção Psicossocial, é considerado em sua função produtiva, seja na "reinvenção das práticas", seja na escuta singular das mães em suas representações imaginárias de seus bebês, ou mesmo em seus eventos psicóticos diante da gravidez.
O impressionante leque de campos, temas e saberes que nossa revista percorre, faz com que enalteçamos a competência, a criatividade e a coragem dos autores, que se lançaram neste exercício intelectual de produzir com consequências. Deixamos, então, nossos agradecimentos a todos os nossos colaboradores, autores, pareceristas e comissão científica, que com disposição e honestidade, frequentaram a verdade na pontualidade e no rigor de seus saberes.
Leonardo José Barreira Danziato
Co-editor e organizador