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Psic: revista da Vetor Editora
Print version ISSN 1676-7314
Psic vol.6 no.2 São Paulo Dec. 2005
ARTIGOS
Sintomas de ansiedade mais comuns em adolescentes
Frequent anxiety symptoms of adolescents
Síntomas más comunes de ansiedad en adolescentes
Marcos Antonio Batista1; Sandra Maria da Silva Sales Oliveira2
Universidade de Vale do Sapucaí, Pouso Alegre/MG
RESUMO
O estudo teve por objetivo levantar os sintomas de ansiedade mais comuns em adolescentes. Foram sujeitos da pesquisa 511 alunos de ambos os sexos, com idades compreendidas entre 14 e 18 anos, matriculados em três escolas pública e privada de ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico, situada na cidade de São José dos Campos. Foi usado para coleta dos dados um instrumento piloto, cujos itens teve como base os sintomas de ansiedade definidos pelo CID 10 e DSM IV traduzidos em situações ansiogênicas nas quais o adolescente pontuaram a freqüência de sua ocorrência em uma escala Likert de três pontos assinalando sempre, às vezes ou nunca.
Palavras-chave: Ansiedade, Adolescente, Sintomas.
ABSTRACT
This study aimed at arising the most common symptoms of anxiety in teenagers. 511 male and female students, with age ranging from 14 and 18 years, enrolled in three public and private schools and technical course placed in the city of São José dos Campos were involved as research subjects. Data were collected through a pilot instrument whose items were based on anxiety symptoms defined by CID 10 and DSM IV translated into ansiogenic situations in which the adolescent marked the frequency of its occurrence in a three-point Likert scale, signing always, sometimes or never.
Keywords: Anxiety, Adolescents, Symptoms.
RESUMEN
El estudio ha tenido por objetivo verificar los síntomas más comunes de ansiedad en adolescentes. Han sido sujetos de la investigación 511 alumnos de ambos sexos, con edad entre 14 y 18 años, inscritos en tres escuelas públicas y privadas de enseñanza básica y técnica en la ciudad de São José dos Campos. Ha sido utilizado para cosechar los datos un instrumento piloto cuyos ítems han tenido como base los síntomas de ansiedad definidos por el CID 10 y el DSM IV traducidos en situaciones ansiógenas en las cuales el adolescente ha puntuado la frecuencia de su aparecimiento en una escala Likert de tres puntos, marcando siempre, a veces o nunca.
Palabras clave: Ansiedad, Adolescente, Síntomas.
Introdução
A adolescência é uma fase da vida em que se desenvolve um conjunto de mudanças evolutivas na maturação física e biológica, ajustamento psicológico e social do indivíduo. São grandes as adaptações que os jovens têm que fazer durante o seu desenvolvimento. Nesse processo eles enfrentam realidades diferentes das que já enfrentaram e diante disso, reagem e sentem-se ansiosos achando difícil se adaptar a essa nova fase. No entanto, a ansiedade não ocorre apenas em adolescentes, ela pode ocorrer em qualquer faixa etária e em diversas situações.
A ansiedade, conforme May (1980) conceitua, é um termo que se refere a uma relação de impotência, conflito existente entre a pessoa e o ambiente ameaçador, e os processos neurofisiológicos decorrentes dessa relação. O mesmo autor diz ainda que a ansiedade constitui a experiência subjetiva do organismo numa condição catastrófica, que surge na medida em que o indivíduo, frente a uma situação, não pode fazer face às exigências de seu meio e, sente uma ameaça à sua existência ou aos valores que considera essenciais.
A ansiedade é um sentimento que acompanha um sentido geral de perigo, advertindo as pessoas de que há algo a ser temido. Refere-se a uma inquietação que pode traduzir-se em manifestações de ordem fisiológica e de ordem cognitiva. Como manifestações fisiológicas pode-se citar agitação, hiperatividade e movimentos precipitados; como manifestações cognitivas surgem atenção e vigilância redobrada e determinados aspectos do meio, pensamentos e possíveis desgraças. Essas manifestações podem ser passageiras ou podem constituir uma maneira estável e permanente de reagir e sua intensidade pode variar de níveis imperceptíveis até níveis extremamente elevados.
Pessotti (1978) explica que, até o advento de Freud e de outros psicólogos de importância, o problema da ansiedade situava-se dentro das preocupações da filosofia. May (1980) menciona que os filósofos, como Spinoza, Pascal, Kierkeegard e Niztche, trataram mais explicitamente da ansiedade e do medo sendo que a preocupação primordial não era com a formação de um sistema intelectual abstrato, mas, antes, com os conflitos e crises existenciais dos seres humanos. O autor acima referido ainda relata que é do pensamento deles e, mais ainda, das contradições entre tais abordagens que resultam as tendências culturais do século XX.
Os três tipos principais de inquietude no homem, distinguidos por Pascal, que hoje chamaríamos de conteúdos da ansiedade são: a fuga da reflexão a respeito de si mesmo, a inquietude (ou insatisfação) constante da vida, e a precariedade e a miséria do homem no universo. Em expressão contemporânea, esses três tipos de inquietude poderiam ser formulados como o conflito gerado pela repressão da autoconsciência, a impotência diante do imprevisto (do racional) e a incerteza sobre a própria significação (Pessotti, 1978).
Rosamilha (1971), ao fazer um breve histórico sobre o tema, aborda outros autores que também se ocupam do problema da ansiedade. Assim, Cannon (1932), ao desenvolver o conceito de homeostase, forneceu um significado biológico para o fenômeno. Psicanalistas como Horney (1961) desenvolveram suas teorias, colocando a ansiedade como o centro das neuroses. Outros como Kelman (1959), de certa forma admitiram que a ansiedade é um tipo de atributo normal do ser humano que pode ser observado quando certo nível de tensão ultrapassa um ponto médio. Já numa abordagem orgânica, como a de Goldstein citado por Portnoy (1959), reconhece-se que ansiedade pode ser produzida por vários eventos, porém, apresenta uma característica comum: há sempre uma discrepância entre as capacidades individuais e as exigências que o organismo tem que enfrentar, tornando impossível a auto-realização e levando à ansiedade. Esses nomes não esgotam a lista de estudiosos que trataram dessa questão, mas servem para ilustrar a quantidade de posições, idéias e ângulos sob os quais o problema vem sendo discutido.
Para Rosamilha (1971) foi Freud quem deu à ansiedade uma posição científica de destaque. Até então, a ansiedade era discutida dentro do campo da Filosofia, não sendo alvo de atenção científica. Freud é o explorador proeminente da Psicologia da Ansiedade, e, por isso, sua obra é de importância clássica, mesmo que atualmente se saiba que muitas de suas conclusões devam ser interpretadas (May, 1980).
Esse mesmo autor aponta como contribuição de Freud o fato de ter sido ele o primeiro a chamar atenção para a importância da ansiedade na compreensão dos distúrbios emocionais e psicológicos. O problema da ansiedade (vivência de sofrimento psíquico determinado pela presença de um conflito interno), ocupou a mente de Freud (1976) durante muito tempo e, para ele, todos nós, algumas vezes, experimentamos esta sensação ou este estado afetivo no qual convergem importantes questões.
Ao distinguir três tipos de ansiedade: real ou objetiva, neurótica e moral, Freud (1936), baseia nas fontes de onde provém a ansiedade e não em aspectos qualitativos. Assim, a ansiedade como medo do mundo externo seria a ansiedade objetiva, enquanto que a ansiedade neurótica teria como fonte o medo do id e a moral o medo do superego. A ansiedade tem uma inegável relação com a expectativa, sendo a ansiedade por algo. Se o verdadeiro perigo é um perigo conhecido, tem-se a ansiedade realística, a ansiedade por esse perigo conhecido; e a ansiedade neurótica é a ansiedade por um perigo desconhecido, ainda a ser descoberto. Esclarece também que em alguns casos as características da ansiedade realística e da ansiedade neurótica se acham mescladas, pois o perigo pode ser conhecido, mas se a ansiedade referente a ele for muito grande, maior do que parece apropriado, o excedente caracterizaria a presença de um elemento neurótico.
Esclarecendo um pouco mais essa questão, Freud (1976) diz que a ansiedade é o estado subjetivo de que somos tomados ao perceber o surgimento da ansiedade e a isso se dá o nome de afeto. O afeto inclui, primeiramente, inervações ou descargas motoras e, depois, certos sentimentos (o que seria a ansiedade realística, considerada como a manifestação dos instintos de autopreservação do ego). As pessoas com ansiedade neurótica exploram todas as incertezas num mal sentido, prevendo as mais terríveis de todas as possibilidades. Diz que semelhante tendência a uma expectativa do mal pode ser encontrada na forma de traço de caráter, o que não quer dizer que são doentes, mas que é característica de pessoas superansiosas ou pessimistas.
Kaplan e Sadock (1993) mencionam que se pode falar de ansiedade normal quando se responde com ansiedade a certas situações ameaçadoras. A ansiedade patológica, em comparação, é uma resposta inadequada a determinado estímulo, em virtude de sua intensidade ou duração. De uma forma mais global a ansiedade normal é aquela reação que não é desproporcional à ameaça objetiva, não envolve repressão ou outros mecanismos de conflito intrapsíquico, não requer mecanismos de defesa neurótica, e pode ser enfrentada construtivamente pela percepção consciente ou pode ser aliviada se a situação objetiva for alterada. A ansiedade neurótica seria o reverso da definição de normal.
No entanto, Spielberger (1981) esclarece que é difícil determinar se uma reação de ansiedade é ou não neurótica ou mesmo proporcional ao perigo objetivo. Para tal distinção deve ser feita uma cuidadosa avaliação quanto à proporção do perigo real associado ao tensor específico, e uma precisa medição da intensidade de reação da ansiedade resultante.
Golse (1998) explicita que qualquer que seja a sua origem e suas modalidades, a ansiedade experimentada pelo Ego apresenta certas funções que englobam consciência, conhecimento, memorização e autoconservação. E é contra a ansiedade que o Ego coloca em pauta toda uma série de mecanismos de defesa, os quais serão eficazes se assegurarem um bom controle de ansiedade.
Em meio às teorias de ansiedade, as existenciais mencionam que não existe um estímulo específico que identifique a sensação de ansiedade, sendo que o conceito central da teoria existencial é o de que as pessoas tornam-se conscientes de um profundo vazio em suas vidas, e a ansiedade é uma resposta ao imenso vazio da existência (Kaplan & Sadock, 1993).
Para Skinner (1938) citado por Rosamilha (1971) não existe subjetivismo na psicologia, concebendo a inexistência do comportamento voluntário, entendendo que os conceitos são condicionados, as emoções são produto do controle externo e as idéias são modeladas por controles exercidos pelo ambiente. Assim, a ansiedade é definida a partir desses mesmos princípios, sendo, segundo o condicionamento operante, uma correlação observada entre uma certa operação (experimental) e determinados efeitos resultantes sobre alguma propriedade do comportamento. Skinner também concebe como Freud, que o medo e a ansiedade constituem formas de defesa do organismo contra a ameaça do perigo. Mas, a diferença é que o medo se instala sempre que há uma ameaça concreta e a ansiedade é um estado emocional motivado por um estímulo ameaçador que está antecipado no futuro (Rodrigues, 1976).
Quando o indivíduo adquire a capacidade de prever eventos provocadores de ansiedade e os evita, tem-se a ansiedade sinal, que tem grande valor para a sobrevivência individual, sendo uma característica importante e nova na concepção de ansiedade. É a idéia de "antecipação", ou seja, de "respostas antecipadas" a eventos aprendidos como "traumáticos", confirmando a significação etimológica de "pré-ocupar-se" com alguma coisa (Rosamilha, 1971).
O que se observa nessas posições teóricas é o fato da ansiedade ser um termo adequado para caracterizar situações e reações desagradáveis para o sujeito, é com esse sentido que o termo está usado nesse trabalho. Assim sendo, para diagnosticar a ansiedade recomenda-se a observância de seis dos seguintes sintomas, quando frequentemente presentes, quais sejam: tremores ou sensação de fraqueza; tensão ou dor muscular; inquietação; fadiga fácil; falta de ar ou sensação de fôlego curto; palpitações; sudorese, mãos frias e úmidas; boca seca; vertigens e tonturas; náuseas e diarréias; rubor ou calafrios; polaciúria (aumento do numero de urinadas); bolo na garganta; impaciência; resposta exagerada a surpresa; dificuldade de concentração ou memória prejudicada; dificuldade de conciliar e manter o sono e irritabilidade (Associação Psiquiátrica Americana 1995; Organização Mundial da Saúde, 1993).
Os estudos em que se associam a ansiedade com outras variáveis são múltiplos e diversificados no que se refere aos realizados com crianças, no entanto, poucos estudos são específicos da adolescência. Analisam tensão emocional ao fazerem provas (Heettner & Wallace, 1967), estilo do professor (Nickel & Schluter, 1970), complexidade de tarefas Weiner e Schneider (1971) citados por Eysenck e Eysenck (1987), desempenho escolar insatisfatório (Cierkonski, 1975; Proeger & Myrick 1980), dificuldade de atenção (Madeira et al., 1976), situação de teste (Sarason, 1972), ordem de nascimento, imaturidade e desenvolvimento de psicose (Touliatos & Lindholm, 1980) e a relação com desenvolvimento moral (Biaggio, 1984), relacionou ansiedade na adolescência com separação de pais (Silva 1984).
Serra e cols. (1980) realizaram uma pesquisa de opinião sobre medo e ansiedade na adolescência. Constataram que na adolescência o medo é direcionado a ameaças ou perigos subjetivos o que atribuíram à chamada crise de identidade. Em relação à ansiedade, as categorias mais freqüentes no estudo foram às ligadas à solidão, ao desconhecido, à rejeição e ao futuro.
Os estudos de Sheldon e Palmer (1970); Child (1964); Guida e Ludlow (1989); Inderbitzen e Hope (1995); Sogunro, (1998); Wigfiel e Eccles, (1989); Nascimento (1998); Bronisch e Carter (2001); Crawford, Brook e Midlarsky (2001) e Hay e Ashman (2003) relacionaram ansiedade com gênero mostrando diferenças em seus resultados. Estas diferenças emergiram para os adolescentes e se associam a internalização de sintomas de ansiedade e depressão.
Alguns trabalhos apontaram que as meninas são mais ansiosas que os meninos, principalmente, pelo fato de discordar dos pais. Também se mostram com resultados altos do que o sexo masculino em ansiedade geral, ansiedade escolar e ansiedade em situações de avaliações e que na adolescência, a alta taxa de ansiedade faz com que fiquem mais vulneráveis a tentativas de suicídio.
Outros estudos observaram que os adolescentes, quando comparados com pares masculinos, manifestam maiores índices de ansiedade e, os meninos são mais preocupados em estabelecer a independência de seus pais e, cada vez mais, transferem o apego emocional dos mesmos para o processo de individuação.
Essas diferenças podem ser explicadas pela maior necessidade de aprovação social que as meninas enfrentam e pela maior resistência dos meninos em admitir sentimentos de ansiedade, quando comparados com as meninas.
A literatura também indica que a ansiedade pode afetar a qualidade de vida dos adolescentes nas áreas: cognitiva, social, afetiva e relacionada à saúde. Porém, nenhum estudo foi realizado com o objetivo investigar os sintomas de ansiedade mais comuns em adolescentes. Com base nisso o objetivo deste trabalho, é a investigação dos principais sintomas de ansiedade em adolescente, partindo-se da hipótese de que nesta etapa do desenvolvimento o adolescente pode ser acometido por sintomas específicos de ansiedade. Utilizou-se nesta pesquisa um estudo correlacional entre gênero por meio da técnica de t de student.
Método
Participantes
Foram participantes dessa pesquisa 511 alunos de ambos os sexos, com idades compreendidas entre 14 e 18 anos, matriculados em três escolas: 2 públicas e 1 particular, sendo uma escola municipal de ensino fundamental, uma escola estadual de ensino médio, e uma escola técnica, todas situadas na cidade de São José dos Campos.
Instrumento
Utilizou-se para coleta de dados um instrumento composto de 75 itens, cuja base para elaboração foi o CID 10 e o DSM IV, nos quais os alunos foram instruídos a escolher uma das respostas "sempre", "as vezes" ou "nunca" de acordo com a freqüência de sua ocorrência. Em estudo posterior, este instrumento deu origem a Escala de Ansiedade para Adolescentes, Batista (2001).
Procedimentos
Após a aprovação dos pais por meio do termo de consentimento informado autorizando seus filhos a participarem da pesquisa e a concordância dos diretores das escolas referidas, foi agendada data e horário para a aplicação coletiva nas salas de aula.
Após breve explicação aos alunos, deixando claro que se tratava de uma pesquisa para medir a intensidade da ansiedade em adolescente e que era de cunho facultativo, o instrumento piloto foi distribuído aos alunos. Em seguida, o aplicador leu com os alunos cada frase em voz alta enquanto o aluno já instruído assinalou apenas uma resposta para cada frase, indicando a freqüência em que a situação lhe ocorria, sempre, às vezes, ou nunca. As frases foram pontuadas, atribuindo-se dois pontos à resposta "sempre", um ponto à resposta "às vezes" e zero a resposta "nunca".
Resultados
Para realizar o objetivo proposto inicialmente e levantar os sintomas de ansiedade mais comuns em adolescentes, trabalhou-se com um Instrumento Piloto com 75 itens que culminou mais tarde na Escala de Ansiedade para Adolescentes de Batista (2001), com boa qualidade psicométrica, composta de 26 itens, nos quais o respondente deve escolher uma das respostas "sempre", "as vezes" ou "nunca" apontando a freqüência da ocorrência do sintoma de ansiedade.
Foram realizadas análise de correlação "t-teste" para fins de verificação entre as médias. Encontrou-se diferenças significativas entre os gêneros masculino e feminino, observando o nível de significância entre 0,01 e 0,05 (2-tailed). Os resultados são apresentados separadamente, em duas tabelas.
Na tabela 1, são apresentados os 20 sintomas mais comuns em adolescentes do sexo masculino, as médias e o nível de significância, após análise correlacional.
Com base nos estudos do t teste e nos itens apresentados na tabela acima, observou-se que os sintomas mais comuns manifestados em adolescentes do sexo masculino ao nível de significância variando entre 0,000 e 0,007 agruparam-se sintomas físicos e emocionais, quais sejam, tremor, agitação, irritabilidade, taquicardia (2 vezes), dor de estômago e insônia representando sintomas físicos e, medo, preocupação, nervosismo, pavor, aborrecimento e susto representando os sintomas emocionais. Aos níveis de significância entre 0,019 e 0,027 têm-se os sintomas susto e sentir-se controlado pelos outros como sintomas emocionais. Isoladamente, mas significativo a 0,016, observou-s a presença de um sintoma que se relaciona ao aspecto de enfretamento nas situações de ansiedade se referindo a uma expectativa positiva com relação ao futuro.
Na tabela 2 são apresentados os oito sintomas mais comuns em adolescentes do sexo feminino, as médias e o nível de significância, após análise correlacional.
Para os sintomas mais comuns em adolescentes do sexo feminino, pode-se observar que com nível de significância 0,000 agruparam-se os sintomas físicos, impaciência e os sintomas emocionais, medo e sentimento de incapacidade, e aos níveis de 0,018 e 0,021 o sintoma físico, sudorese e o sintoma emocional insegurança. Três sintomas relacionados a aspecto positivos ou de enfrentamento nas situações de ansiedade agruparam-se, a saber: com nível de significância a 0,003 e 0,004 os sintomas físicos, enfrento meus medos e falar de sexo normalmente e, com nível de significância a 0,043 o sintoma emocional, acordo tranqüilo.
Os sintomas de ansiedade que não apresentaram um nível de significância, revelando não haver distinção entre o sexo, agruparam-se em comer demais, dificuldade para se lembrar, ficar doente, irritação, ficar sem saber o que fazer, tensão (2 vezes), sentir muito sono, falta de ar, garganta seca, dificuldade para namorar, cansaço, tontura, nervosismo, incapacidade de resolução e pensamentos repetitivos. Os sintomas emocionais agruparam-se como, preocupação, sensação ruim, medo (2 vezes), tristeza, sensação de incapacidade (3 vezes), mania de perseguição, timidez, sentir-se isolado, ficar nervoso (2 vezes), raiva, sentir culpa, preocupação (2 vezes) e sentir abandonado. Observou-se a presença de sintomas que se relacionam ao aspecto de enfretamento nas situações de ansiedade que se agruparam tais como, sentir-se aceito, preocupar-se com a segurança de familiares, sair-se bem em situações difíceis, sentir-se cada vez melhor, mostrar-se calmo, superação de medos, sentir-se seguro, planejar as ações, confiar nas pessoas e concentrar-se diante a cobranças.
Considerações finais
O adolescente vive em constantes desafios, com relação a problemas reais ou a situações imaginárias frente ao mundo, que espera dele respostas adequadas em várias situações. Nesse contexto, torna-se de grande valia o conhecimento e o monitoramento da manifestação da ansiedade no adolescente que aponte em quais situações essa característica tende a ocorrer com mais freqüência, pois este indivíduo fica mais vulnerável a ser acometido pela ansiedade em razão da situação do momento, podendo transformar-se em quadros graves. Sabe-se também que a ansiedade, por conter aspectos psicológicos e físicos, pode tanto auxiliar os seres humanos em seu desenvolvimento como também pode contribuir para um quadro patológico.
Com os estudos dos autores revisitados no presente trabalho, fica clara a presença de vários sintomas de ansiedade nos adolescentes. Suas pesquisas relacionaram ansiedade a inúmeras variáveis e entre elas podem-se citar algumas. Na adolescência o medo é direcionado a ameaças ou perigos subjetivos o que atribuíram à chamada crise de identidade (Serra et al., 1980). Ansiedade e nível de desempenho (Cierkonski, 1975; Proeger e Myrick, 1980). Ansiedade e realização de tarefas (Spielberger, 1972; Eysenck, 1987). Ansiedade e gênero (Sheldon & Palmer 1970; Child 1964; Guida & Ludlow 1989; Inderbitzen & Hope 1995; Sogunro, 1998; Wigfiel & Eccles, 1989; Nascimento 1998; Bronisch & Carter, 2001; Crawford, Brook & Midlarsky 2001 e Hay & Ashman, 2003).
As diferenças que mais aparecem na literatura a respeito das diferenças quanto ao gênero em saúde mental, foi o alto grau de ansiedade e depressão nas mulheres. A explicação geral relativas a essas diferenças, acontece por meio da aprendizagem social, em que as normas sociais permitem ao gênero feminino mais que ao masculino, exibir suas manifestações. Pôde-se observar, na literatura pesquisada, que existem alguns desencadeadores de maior ansiedade nas mulheres como: casar, ter filhos, dupla jornada de trabalho e devido a sua maior dedicação a família.
Embora as pesquisas mencionadas neste artigo não relatem diferenças dos sintomas de ansiedade em adolescentes, com referência ao gênero, observou-se que ora apontam que os adolescentes do gênero feminino são mais ansiosos, ora apontam que os adolescentes do gênero masculino são mais ansiosos, de acordo com o objetivo de cada pesquisa. No entanto, esses estudos não deixam claro quais são esses sintomas de ansiedade mais prevalentes para cada gênero.
Neste trabalho, demonstrou-se por meio da análise do t teste, nítida diferença entre o gênero referente a sintomas de ansiedade. Observou-se ainda a separação dos grupos em sintomas físicos e emocionais, ao mesmo tempo em que classificaram um grupo específico de sintomas para ambos os gêneros, agrupando 20 sintomas específicos para gênero masculino e 8 sintomas específicos para o gênero feminino.
Desses sintomas, cinco eram de origem ansiogênica e três indicaram enfrentamento destas situações. Assim, pode-se inferir que apesar de ter havido um grupo de sintomas específicos para este gênero o mesmo não pode ser entendido como pura manifestação da ansiedade, mas também como uma atitude de atuação frente ao traço ansiedade, uma vez que aponta a existência de uma força contrária aos sintomas causadores da ansiedade.
Por fim, conhecer os sintomas de ansiedade mais comuns nos adolescentes fomenta ou leva a reflexão por parte de pais, professores e psicólogos que podem intervir sistematicamente para prevenir ou minimizar o desenvolvimento da mesma.
Referências
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Endereço para correspondência:
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Tel.: +55-035 3449-2164
E-mail: marcosantoniobatista@yahoo.com.br
Recebido: setembro/2005
Reformulado: novembro/2005
Aprovado: dezembro/2005
Sobre os autores:
1 Marcos Antonio Batista é psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia, docente da Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre/MG e coordenador do Laboratório de Avaliação Psicológica (LAP).
2 Sandra Maria da Silva Sales Oliveira é psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia, docente da Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre/MG.