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Psic: revista da Vetor Editora
Print version ISSN 1676-7314
Psic vol.9 no.2 São Paulo Dec. 2008
ARTIGOS
Estudo bibliométrico da produção brasileira na interface da psicologia com espiritualidade-religiosidade
Bibliometric study about de Brazilian production in the interface between psychology and spirituality-religiosity
Estudio bibliométrico de la producción brasileña en la inter-fase de la psicología con la espiritualidad-religiosidad
Rafaela Behs Jarros *; Hericka Zogbi J. Dias **; Marisa Campio Müller ***; Paulo Luis Rosa Sousa ****
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma revisão bibliométrica da produção brasileira na interface psicologia espiritualidade-religiosidade, no período de 1998 a 2006. Para isso definimos temas (psicologia e espiritualidade/religiosidade) e termos de buscas ("religiosidade" e "psicologia", "espiritualidade" e "psicologia", e "espiritualidade" e "religiosidade") realizadas em bases de dados de artigos e periódicos científicos on-line, de acesso gratuito e privado, além da busca manual, realizada nas bibliotecas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC-RS e da Universidade Católica de Pelotas, UCPel. Foram priorizados periódicos classificados como QUALIS Nacional A, B e C, e os Locais. Os resultados apontam que até 2006 os dados da produção brasileira na interface psicologia espiritualidade/religiosidade menores em relação ao total da produção. No entanto, esse número cresce a partir do referido período. Assim, consideramos o panorama da produção como crescente, uma informação bastante relevante, em função do importante papel da dimensão espiritual-religiosa no desenvolvimento pessoal.
Palavras-chave: Estudo bibliométrico, Religiosidade, Espirutialidade.
ABSTRACT
A bibliometric revision of the Brazilian production about the interface between spirituality and psychology were analyzed, from 1998 to 2006. To achieve that were defined the themes (psychology and spirituality-religiosity) and search terms ("religiosity and psychology", "spirituality and psychology", and "spirituality" and "religiosity ") and searches were done in article and scientifical periodic online databases, of free and private access. Beyond that, manual searches were made at the libraries of the Pontifícia Universidade Católica of Rio Grande do Sul and Universidade Católica de Pelotas,. Were prioritized the periodic classified as National QUALIS A, B and C, and the Local ones. The results point out in the direction that until 2006, data on Brazilian production about the interface between spirituality and psychology are very few related to production totals. However, this number grows larger after the referred period. Thus, the production scenario were consider as growing, a very relevant information, in face of the important role of the spiritual-religious dimension in the personal development.
Keywords: Bibliometric study, Religiosity, Spirituality.
RESUMEN
Este trabajo presenta una revisión bibliométrica de la producción brasileña en la inter-fase de la psicología con la espiritualidad/religiosidad en el período de 1998 a 2006. Para eso definimos los temas y los términos de búsqueda, realizadas en bancos de datos de artículos y revistas científicas online, de acceso gratuito y privado, además de una búsqueda manual realizada en las bibliotecas de la PUCRS y de la UCPel. Fueron priorizados revistas clasificadas como QUALIS Nacional A, B y C, y los Locales. Los resultados apuntan que hasta 2006 los datos de la producción brasileña en la inter-fase psicología espiritualidad/religiosidad son muy pocos en relación al total de la producción. Pese a eso, ese número aumenta a partir de ese período. Así, consideramos el panorama de la producción como creciente, una información bastante relevante, en función del importante papel de la dimensión espiritual/religiosa en el desarrollo personal.
Palabras clave: Estudio bibliométrico, Religiosidad, Espiritualidad.
Introdução
A bibliometria é uma disciplina recente que permite a pesquisadores e bibliotecários acompanhar o desenvolvimento vertiginoso de determinado campo do conhecimento, visando qualificar os produtos científicos correspondentes (Campos, 2003; Adam, 2002; Moed, 2002). Ainda, consiste em avaliar numérica e qualitativamente os documentos científicos publicados. Nesses termos, dentro de nossa área de interesse podemos indagar: qual a capacidade de produção científica psicológica de nosso país, no que se refere a estudos de interface com espiritualidade-religiosidade?
Hoje pouco se põe em dúvida a relevância da dimensão espiritual-religiosa, tanto no comportamento, quanto nas condições de saúde do ser humano (Sousa, Tillmann, Horta & Oliveira, 2001). Desde que a Organização Mundial da Saúde, em 1998 (WHO, 1998), incorporou a espiritualidade às outras clássicas condições de bem-estar (físico, mental, social) como indicadores centrais de saúde, o tema ganhou em expansão e profundidade (Grzymala & Beit-Hallahmi, 1996).
Essa questão é pertinente, já que a expansão das pesquisas nessa área apresenta, em países do hemisfério norte, um crescimento exponencial. E a importância do tema, com suas repercussões sobre a saúde, é contundente, ultrapassando o mero sentido de revelar tal dimensão no comportamento humano. Uma série ampla de estudos empíricos e teóricos atesta essa afirmativa (Schumaker, 1992; Sloan, Bagiella & Vandecreek, 2000; Richards & Bergin, 1997, 2000; Rizzuto, 1979, 1998; Koenig, 1997, 1998; Beit-Hallahmi, 1996; Belzen, 1996; Harris e cols., 1999; Lans, 1996). Conhecer o estado-da-arte brasileiro dentro do contexto internacional sobre o tema revela-se, nesses termos, uma necessidade atual e significativa.
Depois de séculos de interdição de um diálogo possível entre ciência e espiritualidade, a partir da metade do século XX começa-se a notar uma aproximação entre esses dois campos, criando-se necessariamente zonas de interface. É provável que as manifestações religiosas de Einstein, primeiramente expressas nos anos 1950, sejam, de parte do mundo científico da modernidade, um dos primeiros passos facilitadores desta aproximação. Sendo assim, Einstein referiu que um cientista podia, efetivamente, ser um homem religioso. Ele, por exemplo, acreditava em uma perspectiva "cósmica, não antropomórfica", de Deus (Jammer, 1999, p. 78-80). Apontava aí que o antropomorfismo era uma necessidade do homem comum para compreender a divindade. O cientista iria por outro caminho, mais abstrato, menos sincrético. Mas, ambos, sujeito da multidão e sujeito de ciência, podiam ver-se irmanados ante a circunstância divina.
Parece que essa posição de abertura de Einstein (Jammer, 1999) funcionou como um ponto de ruptura do estereótipo que incompatibilizava ciência e esíritualidade-religiosidade no mundo moderno, embora, vale frisar, é bem defensável a idéia de que a ciência, para nascer, teve de afastar-se daquilo que o pensamento religioso guardava de dogmatismo, para poder constituir-se como domínio disciplinar, dentro de um outro paradigma.
A partir de Einstein reduziram-se, um a um, os impedimentos de cercania para ciência e religião, a ponto de que a própria Igreja tenha recentemente afirmado que religião sem ciência não é boa religião, bem como ciência sem religião não é boa ciência. É a construção de um novo conhecimento, dentro de um novo paradigma (Santos, 2000).
Uma das interfaces surgiu a partir do campo médico. Já não nos causam, hoje, maior estranheza afirmativas do tipo: estados de meditação profunda, de experiências de dimensão religiosa associam-se com alterações eletroencefalográficas; técnicas de imagens cerebrais, tipo SPECT (Single Photon Emission Computed Tomography) ou PET (Positron Emission Tomography) ou ressonância magnética mostram aumento de atividade em algumas áreas cerebrais e diminuição em outras, durante os estados mentais-corporais antes referidos (Koenig, 2001); o bem-estar espiritual é uma das dimensões de avaliação do estado de saúde, nas dimensões corporais, psíquicas e sociais. Note-se o aumento de instrumentos com intuito de mensurar bem-estar espiritual (Gastaud, 2006; Fleck & Skevington, 2007) programas terapêuticos que se utilizem de questões espirituais como variáveis a serem avaliadas (Elias, Giglio, Pimenta & El-Dash, 2007; Strang, Strang & Ternestedt, 2001) podem ser um fator positivo coadjuvante no tratamento de pacientes cardíacos ou outros doentes crônicos, entre outras afirmações bastante exploradas na atualidade, tanto pela academia, quanto pelos demais meios de comunicação.
O exame mais detalhado das relações entre religiosidade e condições físicas, psíquicas e sociais do indivíduo só pôde ocorrer depois que a cultura conseguiu desatrelar-se do pensamento positivista estrito, dominante até bem adiantado o século XX. Nas últimas décadas, o processo de emergência de um novo paradigma, fato ainda por ocorrer (Santos, 2000), deu sustentação a que, em lugar de distanciamento e desconfiança, surgisse proximidade e interesse recíproco para religiosos e cientistas. Ciência e religião eram campos historicamente opostos, pelo menos em nossa cultura. O apego da cultura ocidental por um pensamento linear, causalista e simplificador, seu encantamento pelos avanços tecnológicos e sua crença numa filosofia empirista - em síntese, a adição ocidental ao positivismo estrito - configuram um conjunto de condições que, provavelmente, proporcionaram o isolamento e estimularam os conflitos entre religiosidade e pensamento científico.
Ainda que publicações de impacto elevado, como Lancet, New England Journal of Medicine, Archives of Internal Medicine, JAMA, venham gradativamente ampliando seus espaços para temas religiosos, é, hoje em dia, prematuro e "inapropriado ligar atividades religiosas a resultados médicos, por causa da carência de evidências sólidas e por causa de substanciais assuntos éticos ainda não examinados" (Sloan e cols., 2000, p. 143). Assim, ao considerarem a complexidade e o tempo médico que seria requerido para poder tratar desses assuntos em profundidade com os pacientes, vários autores (Sloan & cols., 2000) mostram-se reticentes em, diretamente, prescrever um envolvimento médico amplo sobre temas religiosos durante as consultas. Autores nacionais, do campo médico têm tratado do tema com interesse crescente, embora nossa produção seja ainda modesta, como mostra revisão recente (Moreira-Almeida, 2007; Samano, 2004; Sousa e cols., 2001). De forma análoga, a produção brasileira na interface correspondente com a psicologia deve ser considerada incipiente, mas em condições de crescimento (Paiva, 2001, 2002, 2003, 2000; Sousa e cols., 2001, 2002, 2003, 2004). São, agora, numerosas as investigações que promovem a interface religião e psicologia. Nas últimas décadas surgiu uma volumosa bibliografia que tem explorado desde a análise teórica do tema até sua exploração por meio da pesquisa empírica (Schumaker, 1992; Richards & Bergin, 1997, 2000; Rizzuto, 1998; Martins, 2000; Oliveira e Sousa, 1999, 2001) e em diferentes partes do mundo, inclusive, no Brasil. Até os começos dos anos 1960 os estudos eram dispersos, sendo nessa mesma época que irão surgir as primeiras publicações especializadas, entre elas o Journal of Religion and Health, que apareceu em 1961. De qualquer modo, apenas mais recentemente foram surgindo estudos cuja metodologia pode trazer maior clareza às tentativas anteriores de sumarizar os achados das pesquisas prévias. É um exemplo disso a monografia de Batson, Schoenrade e Ventis (1993), em que, mediante um método metateórico de análise, que permitia criar categorias conceituais para os termos "religião" e "saúde mental", os autores puderam catalogar os trabalhos revisados, segundo as definições explícitas ou implícitas que traziam desses conceitos. O estudo revelou um padrão bastante coerente de que as correlações entre religião e as variáveis de saúde mental dependem, mais que de uma associação de fatores separados, de uma ação conjunta de fatores. Essas correlações teóricas de que os fatores religiosidade e saúde mental devem ser examinados de forma conjunta e não isoladamente trouxeram mais luz sobre a complexidade do assunto e têm servido como um balizador metodológico para investigações na área. Não é difícil presumir que, em função da presença de fatores variados e atuantes simultaneamente, inadequações metodológicas tendam a ser freqüentes.
Entre os problemas metodológicos mais comuns, sob este ponto de vista, os autores têm encontrado (Belzen, 1996; Harris & cols., 1999): (a) utilização de amostras com o viés da conveniência; (b) falta de controle das variáveis demográficas comuns; (c) um viés do caráter correlacional dos procedimentos de pesquisa e, em conseqüência, um desvio com (d) superinterpretação dos resultados, por exemplo, o achado extemporâneo, fictício, de relações de causa e efeito.
Pesquisadores brasileiros da área psicológica ainda se dedicam discretamente a estudos sobre religiosidade empiricamente fundamentados (Sousa e cols., 2001; Oliveira & Sousa, 1999a, 1999b). Tendo em vista que este é um campo mundialmente em expansão e que o Brasil não se furtará a seguir essa tendência, faz-se adequado que os investigadores contemporâneos possam dispor de uma avaliação de nossa literatura, de forma bibliometricamente informada (Richards & Bergin, 2000).
Analisar a produção nacional desde sua quantidade e qualidade metodológica, tarefa ainda não empreendida de forma sistemática, mostra-se uma necessidade, como se pode inferir da contextualização que vimos fazendo até aqui.
Então, foram levados em conta estes parâmetros: 1) a relevância do tema espiritualidade-religiosidade e saúde; 2) a indagação epistemológica de como se produz o conhecimento nessa nova interface; 3) o estado-da-arte da produção brasileira respectiva, como fato ainda a descoberto, perfila-se pertinente apresentar resultados de um estudo bibliométrico como o tema, com o adendo da união de esforços para que se criem áreas de associações interinstitucionais - no caso, UCPel e PUCRS - poupando tempo e recursos para pesquisa, que participaram em conjunto com este trabalho. Assim, os objetivos centrais de estudos foram: 1) revisar de forma sistemática a literatura psicológica brasileira (via bases de dados online de acesso gratuito ou não e por via manual) sobre o tema espiritualidade-religiosidade num período de 1998 a 2006; 2) construir material empiricamente informado sobre o estado atual da produção do país sobre o tema. No presente estudo, associar essa visão, com consistência empírica, a uma perspectiva psicológica que aponta a conhecer a forma como as representações mentais espirituais-religiosas se constroem, operando inconscientemente no indivíduo, é o que fundamenta teoricamente a interface assim criada (Rizzuto, 1998; Sousa e cols., 2001). Para a busca e análise dos artigos encontrados fez-se necessária a revisão dos conceitos de espiritualidade e religiosidade.
Ao nos referirmos à espiritualidade, estamos falando do conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material, com a suposição de que há mais no viver do que pode ser percebido ou compreendido. Remetendo a questões como o significado e sentido de vida, não nos limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa. É uma maneira de experimentar o mundo, de viver, de interagir com outras pessoas (Volcan, Sousa, Mari, Horta, 2003). Já a religiosidade é a extensão na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião. Estando relacionada a um sistema de adoração e doutrina específica que é partilhada por um grupo (Fleck, Borges, Bolognesi, Rocha, 2003).
Metodologia
Trata-se de uma revisão bibliométrica de literatura a partir de 1998 até 2006. Constaram duas modalidades de coleta de dados: 1) Revisão eletrônica: via bases de dados on-line de acesso gratuito e de acesso privado, sendo as de acesso gratuito pesquisadas via Bireme e Portal da CAPES, e as de acesso privado vinculadas ao acesso fornecido pelas bibliotecas da PUCRS (Proquest, Ebsco) e da UCPel (Psyclit), nas quais e foram buscados artigos publicados em periódicos de classificação QUALIS Internacional, Nacional A, B, ou C e Locais A, B, ou C. Os termos de busca foram definidos partindo dos Descritores em Saúde (http://decs.bvs.br). Na prática foram buscados os termos "religiosidade e psicologia", "espiritualidade e psicologia", além de buscas mais abrangentes com os temas "espiritualidade" e "religiosidade", que derivavam artigos de psicólogos.
Em seguida, realizamos: 2) Revisão manual: por meio das revistas presentes nas bibliotecas das universidades e de instituições locais, com os mesmos critérios para a seleção de revistas de acordo com a classificação QUALIS.
O levantamento dos dados foi feito através de tabelas descritivas, com informações quantitativas e qualitativas a respeito do material encontrado.
Apresentação dos resultados
1) Indexação Nacional e Internacional na interface espiritualidade/religiosidade e psicologia
Foram selecionados os descritores Espiritualidade, Religiosidade, cruzados depois com Espiritualidade e Psicologia, Religiosidade e Psicologia e assim foi realizada a busca. Cada artigo e resumo encontrados sobre os temas foram registrados. Os artigos foram divididos conforme a sua origem, se internacional ou nacional uma informação bastante relevante para o objetivo deste estudo que foi identificar a quantidade e qualidade das publicações brasileiras sobre os temas. No período de 1998 a 2006, foi encontrado o seguinte panorama para a produção de artigos indexados com os termos espiritualidade/religiosidade e psicologia.
Com a criação das tabelas foi possível analisar e comparar quantitativamente os artigos referentes aos temas. Pode-se perceber que a produção internacional referente ao descritor Spirituality and Psychology, aparece com quantidade muito maior na base de dados Proquest. Já no que diz respeito a produção brasileira, não foram encontrados resultados para o descritor Espiritualidade e Psicologia, tanto no Proquest quanto no Medline.
Para o descritor Espiritualidade foram encontrados mais artigos referentes a produção internacional, no Proquest a diferença da produção nacional para a internacional foi mais significativa. Já no Medline a diferença entre as produções é pequena.
Na base de dados BVS (Psicologia), em que são encontrados periódicos referentes à área da Psicologia, o número de artigos encontrados para Espiritualidade na produção nacional foi um número relativamente bom, porém não alto comparando com a produção internacional. Em termos totais foram encontrados 39 artigos para religiosidade e 51 para espiritualidade. Na psicologia a quantidade de artigos encontrados para religiosidade é então menor do que para espiritualidade. O tema religiosidade acaba sendo mais comumente tratado, em detrimento da espiritualidade, que abarca o tema religiosidade.
Notamos que as tabelas a seguir aparentemente têm um grande número de trabalhos indexados na interface psicologia espiritualidade/religiosidade. Até 2006, esse foi o panorama vigente e facilmente corroborado por buscas de artigos online. No entanto, a partir de 2007, a discussão em torno do assunto dentro da área da psicologia, tomou muito maior vulto: somente em busca na base SCIELO Brasil, em dezembro de 2007, foram encontrados 21 produções nacionais sobre o assunto espiritualidade e 15 produções nacionais sobre religiosidade, e algumas destas se interseccionam, em função da associação comumente vista entre os dois termos, porém não indicada.
2) Nacionais em busca manual
Além da busca em bases de dados on-line foi também realizada a busca manual. Essa etapa consistiu no levantamento de revistas nacionais, segundo a classificação QUALIS-CAPES disponíveis na biblioteca central da PUCRS. Após selecionarmos as revistas de classificação Nacional A, verificamos quais dessas teríamos disponíveis na biblioteca da PUCRS para realizar a coleta: de 19 revistas classificadas, 11 estavam disponíveis e foram pesquisadas.
Na busca manual foram pesquisadas 11 revistas Nacionais A, tendo um total geral de 1201 artigos no período de 1998 a 2006. Destes, 3 artigos falavam sobre espiritualidade e 10 sobre religiosidade. Na busca foi levantada a quantidade de artigos total em cada volume das revistas, obtendo-se uma média de 10 artigos por revista, dado que diante do número de artigos encontrados sobre espiritualidade-religiosidade, é bastante maior.
Os artigos sobre espiritualidade/religiosidade foram encontrados em revistas que abarcam temas diversos em psicologia. Percebeu-se que dos dez artigos que falavam sobre religiosidade quatro deles foram escritos pelo mesmo autor e publicados na mesma revista, em épocas diferentes.
Percebe-se que diferente da espiritualidade, a religiosidade é discutida em revistas de cunho psicanalítico; já a espiritualidade não foi encontrada em nenhuma publicação desse tipo.
Os artigos que versavam sobre o tema Espiritualidade eram todos relacionados à área da saúde, nas quais há publicações sobre assuntos que envolvem esse tema, bem como hospitalização e terceira idade.
Essa tabela apresenta mais detalhes sobre as características dos artigos da busca manual.
3) Locais em busca manual
Foram pesquisadas 3 revistas Local A, 1 revista Local B e 3 revistas Local C, e de muitas dessas não havia disponível a coleção completa. Um total de 1.563 artigos, desses 2 versavam sobre espiritualidade e 10 sobre religiosidade.
Mesmo tendo dificuldade em encontrar a coleção completa de cada revista, foi possível confirmar que a quantidade de artigos científicos que falam sobre espiritualidade ainda é bastante restrita. Os temas das locais não foram muito diferentes das nacionais, porém havia 2 estudos de casos discutindo questões religiosas.
Discussão dos resultados
Com esta pesquisa foi possível perceber a variedade de temas que são discutidos na área da Psicologia nacional e internacionalmente, e mais uma vez comprovar a versatilidade e a abrangências das intervenções e estudos psicológicos. Com relação aos temas espiritualidade-religiosidade propostos por esta pesquisa, as publicações nacionais ainda são restritas a alguns tipos de revistas e linhas de pensamento. Na busca on-line foi possível fazer comparações entre as publicações nacionais com as internacionais, pois assim tivemos uma idéia do quanto seria pouco ou muito com relação as publicações brasileiras. Apesar de ainda serem poucas as publicações nacionais sobre esses temas, principalmente sobre espiritualidade, os artigos possuem um conteúdo relevante para pessoas da área da psicologia que estudam sobre os temas. Apesar da pouca quantidade, ante os demais assuntos, temos de considerar a importância da religiosidade, que apesar de possuir um número maior de publicações, ainda é um tema pouco discutido na área da saúde, sendo mais aprofundado por autores psicanalistas, seguidores da teoria freudiana, que fala muito deste assunto.
A pesquisa científica se orienta na direção de produção de conhecimento, e especialmente a pesquisa nas áreas de ciências humanas e da saúde, visa aplicar tais conhecimentos na melhor compreensão e na melhoria da qualidade de vida e da saúde das pessoas. Assim, com base na literatura pesquisada, verificamos que os temas espiritualidade e religiosidade ainda são escassos em publicações pesquisadas até o ano de 2006. Novas buscas poderão ser empreendidas, posto que a cada ano vem se modificando e se ampliando o universo dos temas de pesquisa dos psicólogos.
O ponto que queremos enfatizar se refere à indagação se religiosidade pode ter um efeito preventivo para os padecimentos mentais. Que a religião pode funcionar como um fator positivo para o manejo (coping) de situações de estresse é algo bastante encontrado na literatura estrangeira e nacional (Panzini & Bandeira, 2007; Malony & Spilka, 1991; Martins, 2000).
O fato de que a religiosidade possa ser uma fonte rica para encontrar propósitos de vida, assim como para formular orientações cognitivas e avaliações de situações vitais, evidencia seu potencial como função mental de buscar sentidos para o viver e, em conseqüência, teria, por esse caminho, uma capacidade preventiva nos transtornos mentais (Lans, 1996). Apontando nesta última direção, o ensaio de Myers (2000) indaga pela associação entre religiosidade e felicidade. Um comentário interessante é o de que ao reexaminar a afirmativa de Freud, de 1928, de que a religião tende a estimular a culpabilidade, a reprimir a sexualidade e a suprimir as emoções - criando condições para engendrar uma neurose obsessiva. Há hoje crescente evidência científica de que a atividade religiosa, geralmente, associa-se a variados critérios de saúde mental e de bem-estar subjetivo. Assim, é possível identificar que norte-americanos ativamente religiosos são muito menos propensos que os não-religiosos para se tornarem delinqüentes, abusar de álcool e drogas, chegarem ao divórcio e a cometer suicídio (Batson, 1993; Myers, 2000). Os mais religiosos tendem a fumar e a beber menos, o que, pelo menos em parte, explica porque sujeitos ativamente religiosos têm propensão a melhor saúde física e a alcançarem a longevidade. Aliás, entre longevos, um estudo meta-analítico de Okun & Stock (1987), aponta como os dois melhores preditores de satisfação com a vida: a saúde e a religiosidade.
Assim, esperamos que a divulgação a respeito da produção brasileira na interface espiritualidade-religiosidade-psicologia possa servir como um disparador para a produção do conhecimento na área, considerando a dimensão espiritual como parte inerente do ser humano em qualquer tipo de tratamento.
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Endereço para correspondência
Rua Carlos Trein Filho, 1065/201 CEP 90450120, Bela Vista, Porto Alegre, RS.
E-mail: rafaelabehs@hotmail.com
Recebido em outubro de 2008
Revisado em novembro de 2008
Aprovado em dezembro de 2008
Sobre os autores:
* Rafaela Behs Jarros é psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Psicóloga Clínica.
** Hericka Zogbi J. Dias é mestre e doutorada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS).
*** Marisa Campio Müller é psicóloga, mestre em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. e doutora em psicologia clinica pela Universidade Católica São Paulo. Docente da Universidade do Vale dos Rio dos Sinos.
**** Paulo Luis Rosa Sousa é médico, doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de Belgrano Buenos Aires. É Presidente da Sociedade Científica Sigmund Freud, Presidente da Society For Psychotherapy Research, professor titular da Universidade Católica de Pelotas.