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Avaliação Psicológica
Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431
Aval. psicol. vol.14 no.2 Itatiba Aug. 2015
Escala da Eficácia Adaptativa (EDAO-AR): evidências de validade com universitários1
Adaptive Efficacy Scale (EDAO-AR): Validity evidence with university students
Escala de Eficacia de Adaptación (EDAO-AR): evidencias de validez con estudiantes universitarios
Elisa Medici Pizão Yoshida; Marucia Patta Bardagi2; Giovanna Corte Honda
IPontifícia Universidade Católica de Campinas
RESUMO
A Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato (EDAO-AR) foi desenvolvida para avaliar a eficácia adaptativa de dois setores da personalidade: Afetivo-Relacional e Produtividade. Para tanto, conta com duas escalas independentes, cada uma com três fatores: foco na situação problema, foco na relação interpessoal e foco no eu. Este estudo teve como objetivo avaliar a validade interna e precisão da EDAO-AR aplicada a universitários e comparar os resultados com os obtidos em estudos anteriores com amostras de pacientes e acompanhantes em hospital geral. A amostra foi composta por 257 universitários com idade entre 17 e 46 anos (M=22,07; DP=5,24; 89,5% mulheres). Análises Fatoriais Confirmatórias demostraram adequação dos modelos com três fatores. Coeficientes alfas de Cronbach indicaram índices aceitáveis de precisão das escalas e seus respectivos fatores. Observou-se que estudantes apresentavam maiores níveis de eficácia adaptativa em comparação com pacientes e acompanhantes. Novas pesquisas deverão envolver amostras mais heterogêneas e representativas.
Palavras-chave: adaptação; avaliação psicológica; ajustamento escolar.
ABSTRACT
The Adaptive Operational Diagnostic Scale Self-Reported (EDAO-AR) was developed to evaluate the adaptive efficacy according to two areas of personality: Affective-Relational and Productivity. The EDAO-AR has two independent scales, each with three factors: focus on a problem situation, focus on interpersonal relationships, and focus on self. This study aimed to evaluate the internal validity and reliability of the EDAO-AR when applied to university students, and compare the results with those obtained in a previous study, applied to patients and caregivers in a hospital. The sample consisted of 257 students between 17 and 46 years of age (M=22.07, SD=5.24; 89.5% female). Confirmatory Factor Analyses demonstrated suitability of the three-factor models. Cronbach's alpha indicated acceptable reliability levels for the scales and their respective factors. Compared to the patients and caregivers, the students were found to have higher levels of adaptive efficacy. Further research should involve more heterogeneous and representative samples.
Keywords: adaptation; psychological assessment; school adjustment
RESUMEN
La Escala de Adaptación (EDAO-AR) fue desarrollada para evaluar la eficacia adaptativa de dos áreas de la personalidad: Afectivo- Relacional y Productividad. Esta constituida de dos escalas independientes, cada una con tres factores: foco en situación problemática, foco en la relación interpersonal y foco en el self. Objetivo: evaluar la validez interna y la precisión de EDAO-AR con universitarios, y comparar los resultados con los obtenidos en estudio previo con muestras de pacientes y cuidadores en hospital general. La muestra de 257 estudiantes de edades comprendidas entre 17 y 46 años (M=22.07, SD=5,24; 89,5% mujeres). Los análisis factoriales confirmatorias demostraron adequación de los modelos con tres factores. Coeficientes alfa de Cronbach indicaron niveles aceptables para las escalas y sus factores. Los estudiantes tenían niveles más altos de eficacia en comparación con la qualidad adaptativa de pacientes y cuidadores. Nuevas investigaciones deben incluir muestras más heterogéneas y representativas.
Palabras-clave: adaptación; evaluación psicológica; adaptación escolar.
A Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato (EDAO-AR) (Yoshida, 2011) é um instrumento destinado à avaliação da eficácia adaptativa. Para tanto, baseia-se na teoria da adaptação de Ryad Simon (Simon, 1989, 1997, 2005), que define adaptação como sendo o conjunto de respostas de um organismo vivo, em vários momentos, a situações que o modificam, permitindo manutenção de sua organização (por mínima que seja) compatível com a vida (Simon, 1989, p. 14). Quanto à eficácia adaptativa, refere-se ao modo como a adaptação se dá, podendo ser classificada como eficaz ou ineficaz (Simon, 2005).
A EDAO-AR pretende ser uma alternativa à Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida (EDAO) (Simon, 1997), um instrumento clínico que depende da realização de uma entrevista para a coleta de dados. Da mesma forma que a EDAO, espera-se que a EDAO-AR permita avaliar a qualidade da adaptação de dois setores da personalidade: o Afetivo-Relacional (AR) e o da Produtividade (Pr). O setor A-R compreende as respostas emocionais do indivíduo na relação inter e intrapessoal, enquanto o da Pr envolve as respostas relacionadas à qualquer ocupação principal na vida da pessoa, como estudo, trabalho ou atividades de cunho artístico, filosófico ou religioso (Simon, 1989).
Cada item da EDAO-AR apresenta uma situação que demanda uma solução. E, para cada uma, há respostas com soluções que variam quanto aos níveis de qualidade adaptativa definidos por Simon (1989): adequado, pouco adequado ou pouquíssimo adequado. As respostas consideradas adequadas trazem satisfação ao indivíduo, e o problema é solucionado sem que haja conflito intrapsíquico ou sociocultural. Respostas pouco adequadas podem trazer satisfação à pessoa, no entanto, implicam algum tipo de conflito (para si mesma ou para a sociedade), ou ainda, é possível que não gerem conflito, porém não trazem satisfação. Em respostas pouquíssimas adequadas, a solução não gera prazer, além de causar conflito interno ou externo. A adaptação é considerada mais eficaz conforme o conjunto de respostas seja mais adequado (Simon, 1989).
Visto que a EDAO-AR foi originalmente desenvolvida com o propósito de avaliar a eficácia adaptativa de pacientes atendidos em clínicas comunitárias e de ambulatórios de hospital geral (Yoshida, 2011; 2013), cabe perguntar se ela demonstraria qualidades psicométricas satisfatórias se utilizada com população não clínica. Faz parte desse grupo, a população universitária, usualmente integrada por adultos jovens, produtivos e socialmente ativos. Por outro lado, do ponto de vista da qualidade da adaptação, estudantes universitários são constantemente confrontados com situações que demandam respostas de natureza relacional e produtiva (Bardagi & Hutz, 2012; Gomes & Soares, 2013; Sarriera, Paradiso, Schütz, & Howes, 2012), o que torna relevante a exploração das qualidades psicométricas da EDAO-AR junto a essa população.
O meio acadêmico universitário tem características específicas que demandam do estudante habilidades específicas. O ingresso na universidade envolve uma série de mudanças e de novas experiências que requerem do indivíduo novas formas de se comportar e de se relacionar (Santos, Oliveira & Dias, 2015; Teixeira, Dias, Wottrichm, & Oliveira, 2008). Há, por exemplo, a necessidade de se adaptar a novos padrões de relacionamento com professores, em que se supõe maior autonomia e iniciativa por parte do aluno, em contraposição aos padrões usualmente encontrados no nível médio; matérias com conteúdos totalmente novos; necessidade de administração do tempo disponível; capacidade de concentração e disciplina, além de métodos adequados de estudo. Em relação aos colegas, o aluno deve estabelecer novos vínculos afetivos, lidar com diferenças e responder a novas exigências sociais (Couto, Vandenberghe, Tavares, & Silva, 2012).
A qualidade da adaptação com que o aluno enfrenta essas demandas depende dos recursos de personalidade de que dispõe, além de sua habilidade para responder às dificuldades e frustrações advindas desse contexto (Teixeira et al., 2008). Seu grau de sucesso ao responder aos desafios dessa nova etapa em sua vida dependerá ainda de vários fatores, tais como, a existência de rede de apoio social; qualidade da relação com pais ou outros familiares (Santos et al., 2015); valorização conferida ao estudo universitário por pais, familiares e amigos; grau de independência emocional em relação aos demais; e expectativas prévias em relação ao curso e à carreira. Além disso, há questões referentes às características intrínsecas à estrutura da instituição em que ingressou, como o clima institucional, regras e pautas de condutas esperadas ou impostas, limites de atuação, entre outras (Teixeira et al., 2008).
Apesar das inúmeras variáveis envolvidas na adaptação de jovens à universidade, as pesquisas têm indicado baixos índices de depressão e sintomas psicopatológicos nessa população (Igue, Bariani, & Milanesi, 2008; Teixeira et al., 2008), o que justifica a afirmação já referida de que universitários fazem parte da população não clínica. Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo obter evidências de validade com base na estrutura interna da EDAO-AR quando aplicada a estudantes universitários e compará-las às de estudo anterior, que contou com amostra de pacientes de clínica-escola, pacientes ambulatoriais de hospital geral e seus acompanhantes (Yoshida, 2013). Foram avaliadas as estruturas fatoriais das respectivas escalas (A-R e Pr), assim como a consistência interna de cada um dos fatores que as compõem. Além disso, comparou-se a distribuição da amostra de estudantes à de pacientes e acompanhantes quanto às medidas de tendência central (média, desvio padrão, moda e mediana); níveis de qualidade da adaptação em cada uma das escalas e a configuração adaptativa geral.
Método
Participantes
A amostra, por conveniência, foi composta por 257 estudantes universitários, com idades entre 17 e 46 anos (M=22,07; DP=5,24; 89,5% mulheres), de quatro diferentes cursos de graduação (Educação Física, Enfermagem, Engenharia Elétrica e Medicina), de uma instituição privada do interior do estado de São Paulo. Quanto ao estado civil, 88,7% eram solteiros; 9,7% , casados ou amasiados; e 1,6% , divorciados ou desquitados.
Instrumento
A Escala Diagnóstica Adaptativa de Autorrelato EDAO-AR (Yoshida, 2011) tem como objetivo medir a qualidade da eficácia adaptativa dos indivíduos em situações- problemas enfrentadas no seu cotidiano. É constituída por 39 itens divididos em duas subescalas: 21 itens para a avaliação da qualidade da eficácia adaptativa do setor A-R, e 18 para a avaliação do setor da Pr. Para cada item, as alternativas de respostas são ponderadas de acordo com os critérios propostos por Simon (1997). No setor A-R: 3 (adequada), 2 (pouco adequada), 1 (pouquíssimo adequada). No setor da Pr: 2 (adequada), 1 (pouco adequada) e 0,5 (pouquíssimo adequada). O respondente é orientado a assinalar apenas uma das alternativas. Na eventualidade de responder a mais de uma resposta, ela é desconsiderada.
Os resultados do estudo com a amostra de pacientes e acompanhantes de hospital geral (Yoshida, 2013) apontaram que ambas as escalas avaliam a eficácia adaptativa de acordo com três fatores: foco na situação problema, foco na relação interpessoal e foco no eu. Na escala A-R, o fator foco na situação problema avalia respostas adaptativas às necessidades de afeto e a relevância do outro para a solução da situação problema. O fator foco na relação interpessoal avalia as respostas adaptativas a situações adversas e que demandem tolerância à frustração e reconhecimento dos próprios limites. Por fim, o fator foco no avalia as respostas adaptativas ao enfrentamento de situações sociais e de necessidades afetivas, envolvendo o controle dos próprios impulsos às relações pessoais.
Para a escala Pr, o primeiro fator, foco na relação interpessoal, avalia respostas adaptativas a situações adversas no contexto profissional e que demandam tolerância a frustração. Implica reconhecimento do outro colegas de trabalho ou de estudo e superiores (chefe ou professor) para a solução da situação problema (Yoshida, 2013, p 90). O fator foco na situação problema propõe a avaliação cognitiva dos sentimentos e necessidades do sujeito no contexto profissional. Por fim, o fator foco no eu avalia a satisfação e confiança dos participantes em suas capacidades profissionais. Em relação à precisão do instrumento, foram observados índices desejáveis para ambas as escalas (A-R, α =0,81; Pr, α =0,80) e índices aceitáveis para os fatores, que variaram entre 0,53 e 0,72 (Yoshida, 2013).
A avaliação geral da escala é alcançada a partir da somatória dos escores médios obtidos nas subescalas A-R e Pr. Contudo, deve-se arredondar os valores médios dos escores das escalas A-R e Pr antes de somá-los. Para os arredondamentos, seguem-se os seguintes critérios: entre 2,61 e 3,00 da escala A-R, arredonda-se para 3 (adequado); entre 2,00 e 2,60, para 2 (pouco adequado); e entre 0 e 1,99, para 1(pouquíssimo adequado). E, para a escala Pr, os valores devem ser arredondados, respectivamente, para 2 (adequado), quando entre 1,61 e 2,00; para 1 (pouco adequado), quando entre 1,00 e 1,60; e para 0,5 (pouquíssimo adequado), quando entre 0,00 e 0,99. Dessa forma, a avaliação da eficácia adaptativa segue os mesmos critérios de classificação por grupos da EDAO (Simon, 1997, 1998, 2005). Grupo 1, Adaptação eficaz (soma das duas subescalas igual a 5,0); Grupo 2, Adaptação ineficaz leve (soma 4,0); Grupo 3, Adaptação ineficaz moderada (soma 3,5 ou 3,0); Grupo 4, Adaptação ineficaz severa (soma 2,0 ou 2,5); Grupo 5, Adaptação ineficaz grave (soma 1,5).
Procedimentos
Procedeu-se inicialmente à análise da estrutura interna da EDAO-AR. Para tanto, empregou-se a Análise Fatorial Confirmatória (AFC) pelo método de estimação Weighted Least Squares Mean and Variance Adjusted (WLSMV) com o uso do software estatístico MPlus, versão 7 (Muthén % Muthén, 2012), a partir de matrizes de correlações policóricas, haja vista a adequação desses procedimentos no tratamento de dados categóricos (Holgado-Tello, Chacón-Moscoso, Barbero-García, Vila-Abad, 2010; Lara % Alexis, 2014). Dessa forma, o modelo de avaliação proposto por Yoshida (2013) foi testado a partir dos seguintes índices de ajustes: WLSMV χ2, gl, χ2/gl, CFI, TLI e RMSEA, para os quais foram adotados os seguintes valores de referência: χ2/gl inferiores a 5 como aceitáveis e inferiores a 3, desejáveis; CFI e TLI superiores a 0,90 como aceitáveis e superiores a 0,95, desejáveis; RMSEA inferiores a 0,10 como aceitáveis e inferiores a 0,6, desejáveis.
A consistência interna do instrumento foi avaliada pela estimação de coeficientes alfa de Cronbach para os fatores e para escala total, análises que também se basearam em matrizes de correlações policóricas (Lara & Alexis, 2014) realizadas com apoio do software estatístico Factor 9.2 (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2006). Valor de referência comumente empregado na literatura como indicador de precisão, foi adotado a igual ou superior a 0,70 (Tabachnick & Fidell, 2012). Por fim, as estatísticas descritivas (média, desvio padrão, moda e mediana) dos escores obtidos pelos participantes nas diferentes escalas foram verificadas, o que possibilitou a comparação da qualidade da adaptação em cada uma das escalas (A-R e Pr) e da configuração adaptativa geral dos participantes desta pesquisa àqueles avaliados na pesquisa de Yoshida (2013). Para tanto, utilizou-se o software SPSS, versão 22.
A realização da pesquisa foi antecedida de aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade (Protocolo 720/09 data: 10/09/09), de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Com a autorização dos dirigentes e professores de diferentes cursos da instituição, os pesquisadores abordaram os alunos em suas respectivas salas de aulas. Na ocasião, eram informados sobre os objetivos da pesquisa, condições de participação e sobre seu caráter voluntário. Os que concordaram em participar permaneceram na sala de aula e assinaram previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O tempo médio de resposta ao instrumento foi de vinte minutos.
Resultados
Em relação às evidências de validade da estrutura interna e precisão da EDAO-AR, serão apresentados primeiro os resultados das análises realizadas com a escala A-R, e, posteriormente, os da escala da Pr. O modelo estimado a partir do método WLSMV apresentou bons índices de ajuste aos dados empíricos para a escala A-R: WLSMV χ2=257,272, gl=186; χ2/gl=1,38; CFI=0,93, TLI=0,91e RMSEA=0,04 (I. C 90% =0,0260,050). O modelo com cargas fatoriais padronizadas, proporção da variância explicada, erro padrão associado a cada item e correlação entre fatores são apresentados na Tabela 1.
Quanto a escala A-R (Tabela 1), verifica-se que todos os itens apresentaram cargas fatorias superiores a 0,30, assim como baixo erro padrão associado, o que sugere adequação dos indicadores para a avaliação dos construtos pretendidos. Também se observam correlações de alta magnitude entre os fatores (entre 0,743 e 0,850). Em relação à precisão da escala A-R, verificou-se índice alfa de Cronbach igual a 0,77 para a escala total, e 0,76, 0,75 e 0,57 para os respectivos fatores da escala.
Para a escala Pr, o modelo estimado a partir do método WLSMV também apresentou bons índices de ajuste aos dados disponíveis: WLSMV χ2 =209,352, gl=132, χ2 /gl=1,58; CFI= 0,92, TLI= 0,90 e RMSEA=0,05 I.C 90% =0,0350,060). O modelo resumido é apresentado na Tabela 1. Verifica-se que, com exceção do item 44, todos os outros apresentam cargas fatoriais superiores a 0,30 e baixo errão padrão associado aos itens. Em relação às correlações entre os fatores, verifica-se magnitude moderada e alta entre 0,504 e 0,77. Quanto à precisão da escala Pr, verificou-se índice alfa de Cronbach igual a 0,75 para a escala total, e 0,66, 0,62 e 0,71 para os respectivos fatores da escala.
Em concordância ao segundo objetivo desta pesquisa, procedeu-se à análise da distribuição dos níveis de adequação da adaptação em cada escala A-R e Pr e configuração da eficácia adaptativa da amostra, o que possibilitou a comparação dos escores obtidos aos apresentados por pacientes e acompanhantes de hospital geral apresentados no estudo de (Yoshida 2013). Os resultados são apresentados na Tabela 2.
Uma análise mais refinada das distribuições em função dos níveis de qualidade da adaptação apontou que 97,2% dos participantes apresentaram adaptação adequada; 2% , adaptação pouco adequada; e apenas um 0,8% , pouquíssimo adequada no setor A-R. Quanto à amostra de pacientes e acompanhantes, 48,5% atingiram o escore de adaptação adequada; 46,8% , pouco adequada; e 4,6% , pouquíssimo adequada.
Em relação à escala Pr, 60,7% dos universitários apresentaram adaptação adequada, e 39,3% , pouco adequada. Quanto aos pacientes e acompanhantes, 49,8% atingiram escores de adaptação adequada; 47,3% , pouco adequada; e 3% , pouquissímo adequada. Ou seja, a proporção de participantes em cada um dos níveis de adequação foi mais equilibrada entre as duas amostras, com a maior parte distribuída entre adaptação adequada e pouco adequada e um pequeno percentual, apenas no caso da amostra composta por pacientes e acompanhantes, de adaptação pouquíssimo adequada.
A configuração adaptativa geral é apresentada na Tabela 3. Verifica-se que os universitários apresentam frequências relativas mais elevadas quanto à distribuição no nível de Adaptação Eficaz. Observa-se também relativo equilibrio na destribuição quanto ao nível de Adaptação Ineficaz Leve, Adaptação Ineficaz Moderada e Adaptação Ineficaz Grave. Na amostra de pacientes e acompanhantes em hospital geral, todas as categorias diagnósticas são representadas, diferentemente da amostra de estudantes universitários, que não apresentou participantes com nível de Adaptação Ineficaz Severa. Tais resultados corroboram as hipóteses teóricas que identificam universtários como amostra não clínica, e, portanto, com maior nível de eficácia adaptativa.
Discussão
Esta pesquisa teve como objetivo avaliar algumas propriedades psicométricas da primeira versão da EDAO-AR junto à amostra de universitários e compará- -las às evidências obtidas de pacientes e acompanhantes de ambulatório de hospital geral. No que concerne ao estudo da estrutura fatorial do instrumento, a AFC apontou a pertinência do modelo de avaliação da eficácia adaptativa proposta por Yoshida (2013). Resultados que respondem satisfatoriamente ao primeiro objetivo desta pesquisa, a obtenção de novas evidências de validade da estrutura interna das escalas que compõem a EDAO-AR com população universitária. Contudo, pode-se observar a necessidade de refinamento de alguns itens para que representem de forma mais apurada as características desse estrato, a saber: itens 16, 30 e 36, que apresentaram cargas fatoriais aceitáveis, porém marginais, e, portanto, porcentagens de variância explicada inferiores a 10% (ver Tabela 1).
A consistência interna da escala total e dos fatores, avaliada pelos coeficientes alfas de Cronbach, mostrou- se satisfatória para ambas as escalas. Para A-R, verificou-se α =0,77, índice ligeiramente inferior ao observado na amostra de pacientes e acompanhantes α =0,82 (Yoshida, 2013). Contudo, para que a precisão da escala A-R junto a universitários seja incrementada, sugere-se o desenvolvimento de novos itens, especialmente referentes ao fator foco no eu, para atingir valores iguais ou superiores a 0,70. Destaca-se que tal fragilidade da escala já havia sido identificada no estudo de Yoshida (2013), e que envolve um conjunto de itens que avaliam a capacidade do indivíduo em controlar seus impulsos e maneira como se posiciona em relação aos outros.
Em relação à consistência interna da escala Pr (α =0,75), também se observa índice ligeiramente abaixo do encontrado na amostra de pacientes e acompanhantes (α =0,80). Da mesma maneira, verificou-se a necessidade de refinamento dos itens, haja vista que os alfas ficaram abaixo do mínimo considerado satisfatório para instrumentos de autorrelato (0,70). Para os fatores foco na relação interpessoal e foco na situação-problema: 0,66 e 0,62, respectivamente, demostrando assim a necessidade de construção de novos itens para avaliação da população universitária. Contudo, pode-se observar que o fator foco no eu apresentou bom índice de consistência interna (α =0,71). Tal resultado diverge do obtido por Yoshida (2013) com a população de pacientes e acompanhantes, em que o índice obtido foi igual a 0,53. Isto é, aparentemente, os resultados sugerem melhor adequação do fator para avaliação de população não clínica. Vale ressaltar que esse fator congrega itens que avaliam a satisfação e confiança dos universitários em suas capacidades profissionais e estudantis.
Compreende-se que esta pesquisa demonstrou evidências de precisão da EDAO-AR na amostra universitária. Seus resultados, de forma geral, corroboraram aqueles obtidos junto à amostra composta por pacientes e acompanhantes de hospital geral. Além disso, permitiu que se identificasse a necessidade de refinamento de alguns itens para que se obtenham versões mais precisas do instrumento para avaliação dessa população. Dessa forma, entende-se que a pesquisa em questão contribuiu para o acúmulo de evidências de validade e precisão do instrumento, fornecendo, assim, novas bases científicas para a interpretação dos escores obtidos com sua aplicação (AERA, APA & NCME, 2014).
O estudo descritivo dos dados apontou que na escala A-R os universitários tenderam a apresentar escores superiores aos de pacientes e acompanhantes (Tabela 2), sugerindo que o instrumento permitiria discriminar os dois estratos da população. Enquanto a qualidade da adaptação de universitários tendeu a ser adequada, entre pacientes e acompanhantes teria sido pouco adequada. A análise da distribuição dos participantes nos três grupos da eficácia adaptativa revelou, todavia, que os universitários se distribuem no nível adequado e pouco adequado, com apenas dois participantes (0,8% ) classificados como pouquíssimo adequados. Nesse sentido, pode-se considerar a capacidade de o instrumento garantir diversidade de situações relacionais vivenciadas por estudantes universitários (Bardagi & Hutz, 2012; Couto et al. 2012; Santos et al., 2015; Sarriera et al., 2012; Teixeira et al., 2008).
Quanto à escala Pr, a amostra de universitários apresentou valores médio e mediano equivalentes à adaptação adequada, e o valor modal revela adaptação pouco adequada (Tabela 2). Já na amostra de pacientes e acompanhantes, os valores médio e mediano indicam níveis de adaptação pouco adequado, enquanto valor modal revela adaptação adequada. Resultados que convergem com as expectativas teóricas de melhor adaptação da população não clínica (neste caso, estudantes universitários), e, ao mesmo tempo, capacidade de o instrumento avaliar diferentes níveis de adaptação de amostras em particular, o que é ratificado pela estatística mínimo e máximo.
No que respeita à distribuição das amostras em função dos níveis de adequação, na escala Pr verificou- -se que 60,7% dos universitários apresentaram nível de adaptação adequada, em contraste a 39,3% com nível de adaptação pouco adequada. Da mesma maneira, a amostra de pacientes apresentou distribuição equilibrada entre adaptação adequada e pouco adequada, com pequena representação de adaptação pouquíssimo adequada. A diferença no desempenho de ambas as amostras vai em direção às expectativas teóricas, e indica a capacidade de o instrumento captar efetivamente as características qualitativas de adaptação às situações do setor da produtividade desses dois estratos da população. É preciso considerar ainda, conforme apontado por Yoshida (2013), que a presença de acompanhantes de pacientes na amostra pode ter imprimido um viés nos resultados, com um maior percentual de pessoas com adaptação adequada, conforme sugerido pelo valor modal apresentado por essa amostra (ver Tabela 2).
A distribuição de universitários nos diferentes níveis de adaptação nas duas escalas refletiu-se na classificação da configuração adaptativa: grupos 1, 2, 3 e 5. Respectivamente, Adaptação Eficaz, Ineficaz Leve, Ineficaz Moderada e Ineficaz Grave. Apesar de se tratar de amostra não clínica, e, portanto, apresentar maior concentração nos dois primeiros níveis de adaptação, pode-se verificar a capacidade de o instrumento identificar pessoas com níveis de adaptação mais comprometidos, demonstrando o potencial do instrumento na avaliação da população.
A título de considerações finais, é preciso considerar os limites deste estudo, baseado em amostra de uma única universidade, particular e de uma região específica do país. Nesse sentido, em pesquisas com as futuras versões reformuladas da escala, esforços devem ser realizados para envolver amostras mais heterogêneas e representativas de universidades, públicas e privadas, de diferentes regiões do país.
Referências
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recebido em setembro de 2014
reformulado em maio de 2015
aprovado em junho de 2015
Sobre os autores
Elisa Medici Pizão Yoshida: é Psicóloga, possui estágio pós-doutoral pela Université de Montréal, Canadá. Atualmente é professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Evandro Morais Peixoto: é Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Giovanna Corte Honda: é Psicóloga, possui Doutorado em Psicologia como Profissão e Ciência, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
1Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro concedido ao segundo autor, Proc. nº 99999.007298/2014-05, e terceiro autor, Proc. nº. 19190-12-3.
2Endereço para correspondência: Av. John Boyd Dunlop s/n, 13060-904, Campinas-SP. Tel.: (11) 96711-4421. E-mail: epeixoto_6@hotmail.com