Services on Demand
article
Indicators
Share
Revista da SPAGESP
Print version ISSN 1677-2970
Rev. SPAGESP vol.23 no.2 Ribeirão Preto Jul./Dec. 2022
https://doi.org/https://doi.org/10.32467/issn.2175-3628v23n2a3
https://doi.org/10.32467/issn.2175-3628v23n2a3
ARTIGOS
Adaptação cultural do Family Foundations: Programa de intervenção em coparentalidade para casais em transição para a parentalidade
Cultural adaptation of Family Foundations: a coparenting intervention program for couples during the transition to parenthood
Adaptación cultural de lo Family Foundations: programa de intervención de coparentalidad para parejas en transición a la paternidad
Lívia Lira de Lima Guerra1; Thaís Ramos de Carvalho2; Anik Giovanna Barham Setti3; Raquel Salvadori Sarmento4; Elizabeth Joan Barham5
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP, Brasil
RESUMO
A relação coparental envolve interações entre os pais, ou outras figuras parentais, para educar uma criança. Essa relação emerge na transição para a parentalidade, uma janela crítica para o desenvolvimento humano por afetar tanto o bem-estar dos pais quanto o desenvolvimento socioemocional do bebê. O objetivo do presente estudo foi reportar e avaliar o processo sistemático de escolha e adaptação (cultural e de formato) do programa Family Foundations, que tem como foco aprimorar a qualidade da relação coparental de casais durante a transição para a parentalidade. As avaliações positivas dos pais evidenciam alta aceitabilidade do programa. Em estudos futuros, será importante aumentar o número de participantes e analisar a eficácia e efetividade do programa.
Palavras-chave: Prevenção; Terapia cognitivo-comportamental; Psicologia do desenvolvimento.
ABSTRACT
The coparenting relationship involves interactions between parents, or other parental figures, to raise a child. This relationship emerges during the transition to parenthood, a critical period in human development that affects parents’ well-being and the child’s social-emotional development. The objective of this paper was to report and evaluate the systematic process of selecting and adapting (considering culture and format) the Family Foundations program, which focuses on improving the quality of the coparental relationship of couples during the transition to parenthood. Positive parent evaluations indicate high acceptability of the program. In future studies, the efficacy and effectiveness of the program should be evaluated.
Keywords: Prevention; Cognitive-behavioral therapy; Developmental psychology.
RESUMEN
La relación coparental envuelve interacciones entre los padres u otras figuras parentales, para la crianza de un niño. Esta relación surge en la transición para la parentalidad, etapa crítica para el desarrollo humano por afectar el bienestar de los padres y el desarrollo socioemocional del bebé. El objetivo de este artículo fue relatar e evaluar el proceso sistemático de elección y adaptación (cultural y del formato) del programa Family Foundations, que tiene como objetivo mejorar la calidad de la relación coparental de las parejas en transición a la paternidad. Los resultados positivos muestran la alta aceptabilidad del programa. En estudios futuros, será importante analizar la eficacia y efectividad del programa.
Palabras clave: Prevención; Terapia cognitivo conductual; Psicología del desarrollo.
O desenvolvimento humano ocorre ao longo da vida, envolvendo a forma como as pessoas aprendem sobre e se adaptam ao ambiente em que vivem, por meio de um processo interacional, dinâmico e contextualizado (Neri, 2013; Papalia et al., 2006). No que se refere especificamente ao desenvolvimento adulto, a transição para a parentalidade é um período que se destaca por envolver grandes mudanças de responsabilidades e relacionamentos. Dessa maneira, as demandas intensas e as tensões interpessoais que surgem representam riscos para o desenvolvimento adulto, que podem resultar em desfechos negativos que também afetam o bebê e os membros da família extensa. Alguns dos fatores de risco desse período, apontados por Saxbe et al. (2018), incluem: (a) privação do sono, (b) risco para obesidade, (c) depressão pré ou pós-parto, (d) redução dos níveis de autoestima e felicidade, e (e) maior frequência de conflitos e menor satisfação conjugal.
Durante a transição para a parentalidade, além da construção da relação parental, emerge uma nova função no relacionamento do próprio casal, de caráter executiva, a fim de tomar decisões a respeito do(a) filho(a) (Minuchin, 1974). Nesse sentido, a relação coparental envolve interações entre as figuras parentais (casadas ou não) independentemente da sua orientação sexual, para lidar com as demandas da criação e educação dos(as) filhos(as), biológicos ou adotivos (Feinberg, 2003). A qualidade da relação coparental é preditora de desfechos importantes no desenvolvimento infantil (Metz et al., 2018; Takeishi et al., 2019), existindo uma associação significativa com indicadores de melhor desenvolvimento cognitivo (Shai, 2019), menores níveis de problemas de comportamento internalizantes (Jones et al., 2018), bem como, de problemas nas interações com os pares (Favez et al., 2018).
Dado o elevado estresse e maior vulnerabilidade dos pais nesse período (Saxbe et al., 2018), considera-se relevante o investimento em programas para a promoção da qualidade da relação coparental durante a transição para a parentalidade. Nessa direção, pesquisadores avaliaram os principais programas e encontraram efeitos positivos sobre variáveis que refletem o funcionamento familiar, tais como: (a) saúde mental dos pais (por ex., depressão, ansiedade, autoeficácia) (b) práticas parentais (mais responsivas e menos autoritárias) e (c) desenvolvimento infantil (por ex., apego seguro, boa higiene do sono) (Guerra et al., 2020). No entanto, apesar da relevância e do reconhecimento emergente da relação coparental, junto com as demais relações do sistema familiar (por ex., conjugal, parental), ainda não havia programas de intervenção para desenvolvimento e fortalecimento da relação coparental, no contexto brasileiro.
Diante disso, tornou-se importante examinar a literatura internacional para verificar a qualidade das evidências para programas oferecidos no exterior e, que apresentem características que apontam a possibilidade de serem adaptados para uso no Brasil. A adaptação cultural de um programa pode ser definida como um processo de modificação sistemática do programa para atender às necessidades culturais da nova população (Escoffery, Lebow-Skelley, Haardoerfer et al., 2018; Menezes & Murta, 2018). Além de adaptações culturais, o formato de entrega da intervenção também pode ser modificado, por exemplo, de presencial para on-line (Escoffery, Lebow-Skelley, Haardoerfer et al., 2018). Considerando a importância de investimentos no desenvolvimento da relação coparental e a existência de evidências no cenário internacional, que apontam para os efeitos positivos de programas oferecidos, o objetivo do presente artigo foi reportar e avaliar o processo sistemático de escolha e da adaptação cultural e de formato do programa Family Foundations, que tem como foco aprimorar a qualidade da relação coparental de casais em transição para a parentalidade.
MÉTODO
O processo sistemático de escolha, adaptação cultural e de formato de programas envolve 12 etapas (Escoffery, Lebow-Skelley, Udelson et al., 2018). A seguir, serão apresentadas as etapas e suas funções:
(1) consulta à literatura: compreender os fenômenos de interesse para embasar a análise dos programas de intervenção;
(2) escolha da intervenção: examinar evidências a respeito da validade, aceitabilidade e efeitos de diferentes programas a fim de decidir qual programa adaptar;
(3) consulta ao desenvolvedor da intervenção: obter autorização do criador da intervenção para realizar a adaptação do programa;
(4) consulta às partes interessadas: identificar necessidades da população local para o programa e questões culturais que geram demandas para adaptações;
(5) compreender a intervenção: realizar diferentes atividades de observação e treino, para entender como usar o programa;
(6) adaptação da estrutura superficial: modificar os materiais de forma que o programa possa ser compreendido no novo contexto (por exemplo, traduzir materiais, substituir imagens para que representam a realidade da população local, etc.);
(7) adaptação da estrutura profunda: modificar, se necessário, o conteúdo do programa para contemplar diferenças culturais que afetam o papel do facilitador perante os participantes, ou a relação entre os participantes do grupo, por exemplo;
(8) treino da equipe: capacitar os facilitadores que irão oferecer o programa no novo contexto;
(9) piloto: oferecer o programa em caráter de teste a fim de identificar problemas na condução do programa ou de entendimento do material;~
(10) adaptação do formato: verificar a necessidade de mudar o formato de oferecimento do programa, para alcançar a população alvo;
(11) implementação: efetivar a adaptação;
(12) avaliação inicial da versão adaptada do programa: avaliar a aceitabilidade do programa.
RESULTADOS
ETAPA 1. CONSULTA À LITERATURA
A consulta à literatura foi realizada por meio de uma cadeia de atividades que contribuíram para a compreensão do fenômeno da coparentalidade, dos programas de intervenção existentes e do processo de adaptação, descritos a seguir: (a) leitura de artigos teóricos (por ex., Frizzo et al., 2005); (b) leitura de artigos sobre os modelos teóricos da coparentalidade (por ex., Feinberg, 2003; Lamela et al., 2010; Margolin et al., 2001); (c) adoção do modelo teórico de Feinberg (2003), mas consideração de premissas de outro modelo (Margolin et al., 2001); (d) realização de uma revisão sistemática, sobre programas de intervenção em coparentalidade, analisando a estrutura das intervenções e indicadores de eficácia (Carvalho et al., no prelo); (e) identificação das técnicas cognitivo-comportamentais utilizadas nos programas encontrados (Guerra et al., 2020); (f) realização de uma revisão sistemática, sobre o envolvimento paterno (Santis et al., 2020), construto fortemente relacionado com a coparentalidade; (g) revisão sistemática de métodos observacionais, para entender os principais comportamentos que precisam ser estabelecidos (ou minimizados) na relação coparental (Guerra et al., 2022) e (h) leitura de revisões sistemáticas e de escopo sobre a adaptação cultural de programas de intervenção (Movsisyan et al., 2019; Escoffery, Lebow-Skelley, Haardoerfer et al., 2018; Escoffery, Lebow-Skelley, Udelson et al., 2018).
ETAPA 2. ESCOLHA DA INTERVENÇÃO
Com base em uma revisão de literatura sobre 17 programas de intervenção nos quais a relação coparental foi trabalhada (Carvalho et al., no prelo), encontrou-se que o Family Foundations é um programa bem fundamentado, teórica e empiricamente. Nos artigos publicados, há indicadores de eficácia do programa com base em estudos de excelente qualidade metodológica (ensaio clínico randomizado, N = 399). As evidências de eficácia demonstram resultados em diversos relacionamentos do sistema familiar, incluindo: (a) maior nível de suporte e proximidade na relação coparental, (b) melhorias na autoeficácia parental e redução do estresse parental, (c) maior satisfação conjugal, (d) outros efeitos, tais como a redução da depressão e ansiedade nas mães, melhor regulação do sono e da competência social por parte dos filhos(as) (Feinberg & Kan, 2008; Feinberg et al., 2016). Adicionalmente, uma medida de autorrelato para avaliar a qualidade da relação coparental, utilizado para avaliar os efeitos do programa Family Foundations, já havia sido adaptado para o contexto brasileiro (Carvalho et al., 2018). Diante destas evidências, o programa Family Foundations foi escolhido para ser adaptado para uso no Brasil.
ETAPA 3. CONSULTA AO DESENVOLVEDOR DA INTERVENÇÃO
O responsável pelo programa de intervenção Family Foundations, Dr. Mark Ethan Feinberg da Pennsylvania State University, foi consultado via e-mail e recebeu duas pesquisadoras de nosso grupo no seu laboratório de pesquisa para um período de doutorado sanduíche. Após esse período de qualificação, a equipe brasileira recebeu autorização para a adaptação do programa para fins de pesquisa, no Brasil.
ETAPA 4. CONSULTA ÀS PARTES INTERESSADAS
Para conhecer as estratégias utilizadas e dificuldades enfrentadas por pessoas exercendo a relação coparental, foi realizado um estudo qualitativo (Guerra & Barham, no prelo), entrevistando diferentes tipos de parceiros(as) coparentais - casados, separados ou aqueles que nunca tiveram relacionamento conjugal. As principais dificuldades observadas foram: (a) o papel parental sobrepõem-se aos demais durante a transição para a parentalidade; (b) a invisibilidade da coparentalidade; (c) dificuldades na divisão de tarefas; (d) dificuldades na proximidade coparental: a dimensão afetiva da relação esteve prejudicada nas díades separadas, que precisaram estabelecer a coparentalidade paralela, contando com a ajuda de uma terceira pessoa para intermediar a relação e (e) sabotagem entre os pais: desconsideração do ponto de vista do(a) outro(a), altos níveis de desacordo e tentativas de mostrar que um é melhor para cuidar do(a) filho(a) que o(a) outro(a). Além das dificuldades, as estratégias eficazes utilizadas pelos pais foram também analisadas, enquanto habilidades coparentais (Guerra & Barham, no prelo).
ETAPA 5. COMPREENDER A INTERVENÇÃO
A compreensão teórica da intervenção emergiu ao longo das etapas descritas anteriormente, durante a leitura dos artigos e produção de revisões sistemáticas. O aprofundamento dessa compreensão, tanto teórica quanto prática, ocorreu durante um estágio de pesquisa na Pennsylvania State University, quando a primeira autora acompanhou a oferta da intervenção Family Foundations.
O principal objetivo desse programa é fortalecer a relação entre os pais, visando o trabalho em equipe (cooperativo) e o apoio mútuo para criar o filho. No entanto, além de focar especificamente na coparentalidade, também é composto por conteúdos relacionados ao sistema familiar, como o envolvimento paterno, a relação conjugal e a aceitação de suporte social de outras pessoas. O programa Family Foundations pode ser caracterizado como um grupo de treinamento fechado (Neufeld et al., 2018). Os grupos de treinamento são semelhantes aos psicoeducativos, mas diferenciam-se destes pela utilização mais sistemática de técnicas da terapia cognitivo-comportamental para treinar habilidades de regulação emocional e a mudança de pensamentos e comportamentos.
A fim de alcançar o objetivo geral do programa, são trabalhadas habilidades específicas com os pais, as quais são gradativamente integradas para contribuir para comportamentos coparentais de maior qualidade: autorregulação emocional, suporte mútuo, divisão de trabalho, reavaliação cognitiva, resolução de conflitos, comunicação, resolução de problemas, e estratégias para adaptar a relação conjugal ao contexto do período pós-natal. Já sobre a questão de parentalidade, o programa aborda: estratégias para promover a qualidade do sono infantil, a segurança emocional na relação pai-filho e a estimulação do desenvolvimento da criança.
Em relação à duração do programa Family Foundations, a versão americana é constituída por nove encontros presenciais, de duas horas de duração cada, sendo cinco encontros no período pré-natal e quatro no período pós-natal. Os condutores do grupo usam o manual do facilitador, trabalhando sempre em dupla, um homem e uma mulher. Os participantes também recebem um manual, o dos pais, com alguns tópicos-chave do programa e atividades para realizar durante os encontros e outras para realizar no intervalo entre os encontros.
ETAPA 6. ADAPTAÇÃO DA ESTRUTURA SUPERFICIAL
Como parte do processo sistemático de adaptação cultural e do seu posterior relato, serão apresentadas no decorrer das Etapas 6 e 7 informações sobre as modificações realizadas utilizando um esquema chamado de FRAME (Stirman et al., 2019). O FRAME auxilia os pesquisadores na padronização da descrição das adaptações, identificando oito questões: (a) quando e como a modificação foi feita; (b) se a modificação foi planejada (proativa) ou não planejada (reativa); (c) quem determinou que a modificação deveria ser feita; (d) o que foi modificado; (e) em que nível da aplicação da intervenção a modificação foi feita; (f) tipo ou natureza das modificações (de contexto ou do conteúdo); (g) a extensão em que a modificação foi fiel ao original e (h) as razões para a modificação, incluindo os objetivos para a modificação e os fatores contextuais que influenciaram a decisão.
A tradução e adaptação sociocultural dos manuais e dos vídeos do programa Family Foundations foram realizadas pela equipe de pesquisa, que envolveu: uma docente (falante nativa do inglês com excelente domínio da língua portuguesa), duas alunas de doutorado e oito alunos de graduação (que falam português como primeira língua e que têm excelente domínio de leitura em inglês) e uma revisora bilíngue. Nesse processo, a versão brasileira do programa passou a chamar-se Famílias Fortalecidas.
Alguns dos aspectos da logística de condução da intervenção Family Foundations precisaram também ser modificados, por terem base cultural ou organizacional, como: (a) nos EUA, os casais recebem uma ajuda de custo para participar da intervenção, no entanto, no Brasil, o nosso Código de Ética em Pesquisa não permite esse pagamento; (b) os encontros no Brasil iniciaram uma hora mais tarde em comparação com os encontros nos EUA, devido ao horário de saída do trabalho no Brasil; (c) os facilitadores do programa, nos EUA, são psicólogos contratados pela equipe de pesquisa da universidade, sempre trabalhando em duplas formadas por um homem e uma mulher que já tenham filho(a)/s, no Brasil, os grupos foram conduzidos por uma psicóloga e uma estagiária de psicologia (ambas do sexo feminino, sem filhos), contando com o envolvimento de uma segunda psicóloga, com filhos, todas sem remuneração para essa atividade; (d) em nosso contexto, houve a criação de um grupo no aplicativo WhatsApp para contato com os pais e entre os participantes, possibilitando uma maior vinculação fora do contexto dos encontros, nos EUA o aplicativo não é usado pela equipe e também é pouco usado pela população em geral e (e) os vídeos do programa foram legendados em português brasileiro. Além disso, como será descrito na Etapa 12, foi necessário adaptar o formato do programa para ser um grupo on-line, uma vez que a programa foi oferecido pela primeira vez, no Brasil, começando em 2020, durante a pandemia de COVID-19 e antes do desenvolvimento e a aplicação de vacinas.
As mudanças logísticas listadas acima podem ser consideradas como adaptações "superficiais", ou seja, alterações necessárias para que o programa possa ser oferecido no Brasil, com foco na replicação do programa. Além destas, foram realizadas mais algumas modificações no conteúdo e na duração do programa que, aparentemente, foram logísticas (superficiais), mas que tiveram implicações mais profundas no processo de adaptação. Todas estas modificações foram planejadas anteriormente à fase de execução e decididas em conjunto pela equipe. São elas:
Tradução não literal da palavra "class". A equipe optou por não traduzir literalmente a palavra class (aula), substituindo essa palavra por "encontro". A palavra "aula" sugere uma relação professor-aluno, enquanto "encontro" é o termo mais adequado para as reuniões grupais, entre participantes e facilitadores, além de valorizar o aspecto de aprimoramento de habilidades interpessoais do programa.
Adição de dois encontros. A fase pré-natal do programa Family Foundations é organizada em cinco encontros. Durante a adaptação do programa, foram adicionados mais dois encontros. Um encontro inicial ("Encontro 0") foi elaborado para apresentação dos participantes e facilitadores, explicações sobre o programa e a tecnologia (microfones, câmera) e exibição do vídeo institucional. Nesse encontro, foi pedido aos casais que mantivessem, durante todos os encontros, as câmeras abertas, o máximo possível. A atividade de apresentação dos facilitadores e dos pais, uns aos outros, que teria ocorrido no Encontro 1, foi realizada no Encontro 0. Assim, os casais falavam livremente sobre eles e respondiam a uma pergunta específica (O que eu acho que farei bem enquanto pai/mãe?). As razões para essa adaptação foram: (a) preparo tecnológico dos participantes para o programa, devido à adaptação de formato; (b) engajamento entre os pais e com a equipe; (c) fornecer mais tempo para eles se apresentarem; (d) fornecer mais informações sobre algumas das estratégias interativas usadas no programa, visando aumentar seu conforto e motivação para participar (para contribuir para a retenção e adesão dos pais) e (e) explicar bem o conceito de coparentalidade e distingui-lo de parentalidade e conjugalidade.
Além da adição do Encontro 0, o Encontro 2 foi dividido em duas partes. Essa modificação foi realizada durante a fase de treino dos facilitadores. A equipe percebeu que o conteúdo do Encontro 2 seria muito extenso para ser administrado em apenas duas horas. Essa decisão foi tomada em conjunto e reflete um fator cultural de fornecer mais tempo para a participação dos casais e para discussões sobre os temas abordados. Portanto, foram adicionados mais cenários para as atividades de role-play, para que todos os casais pudessem participar. Além disso, houve a expansão de explicações dadas pelas facilitadoras, com a utilização de novas metáforas, que serão descritos na Etapa 7.
Vídeo de encerramento. A equipe produziu um vídeo para exibir no final do último encontro de cada grupo de pais, tanto no final dos encontros da fase pré-natal, quanto ao final da parte pós-natal, composto por falas dos participantes a respeito de suas expectativas e suas habilidades coparentais ou parentais. O objetivo foi celebrar a conclusão bem-sucedida do programa (etapas pré e pós-natal) e reforçar a autoeficácia parental e unidade de equipe coparental.
ETAPA 7. ADAPTAÇÃO DA ESTRUTURA PROFUNDA
Adição de exemplos oriundos da consulta às partes interessadas
Tanto para treino de resolução de conflitos em potencial quanto de habilidades coparentais, foram adicionados novos exemplos para as atividades de role-play, como: (a) Os pais do meu(a) parceiro(a) (meus sogros) querem dar doce fora de hora para nosso(a) filho(a) e meu(minha) parceiro(a) não diz "não", (b) O(a) bebê está doente e vocês tem um dia cheio no trabalho. A equipe prezou pela fidedignidade ao conteúdo do programa Family Foundations e não removeu nenhum dos elementos do manual dos facilitadores. No entanto, adicionou novos exemplos de contextos da relação coparental, oriundos do estudo qualitativo de consulta às partes interessadas (entrevistas). A razão da modificação recai na recomendação metodológica para grupos de treinamento, de que todos precisavam participar (Neufeld et al., 2018). No entanto, os exemplos não foram ‘mais do mesmo’; as adições foram funcionais, principalmente para trabalhar a coparentalidade positiva e a união da equipe coparental, um dos subsistemas da família. Além disso, focaram na interação dos pais com outros membros da família (influência intergeracional na relação coparental) e do equilíbrio entre trabalho e família.
O lema principal do programa: First The Child
O lema do programa significa "primeiro a criança", porque os facilitadores promovem a reflexão dos casais para pensarem sempre na criança ao tomarem decisões e para motivar a evitação de conflitos hostis. Além disso, a primeira letra de cada uma das três palavras desse lema (em inglês) também ajuda os pais a se lembraram de informações e estratégias que devem usar para lidar com diferenças de opinião e tensões com seu parceiro coparental: First (f de feelings – emoções e sentimentos) The (thoughts - pensamentos) Child (communication - comunicação).
A equipe contactou o desenvolvedor, que informou que a ordem de apresentação dos três conceitos não deveria ser alterada. Portanto, o lema do Famílias Fortalecidas, em português, foi Somar Para Criar: sentimentos e emoções, pensamentos e comunicação. Esse lema reforça, ainda, a ideia da relação coparental enquanto uma equipe, à medida em que enfatiza a importância desta relação. A frase poderia ter sido "Sempre Pense na Criança", um lema até mais parecido com a tradução literal. No entanto, o lema adotado ressalta a ideia de colaboração, que é um ingrediente necessário para uma relação coparental cooperativa, ou seja, de somar esforços em prol da criança.
Troca da palavra "controlling"
Para substituir a palavra "controlling" e descrever o comportamento parental direcionado ao(a) filho(a), perguntamos ao desenvolvedor a respeito de uma palavra alternativa. Ele sugeriu a palavra "leading". No entanto, ainda não estávamos completamente satisfeitas com a tradução "liderar" e utilizamos a palavra "guiar", que representa estilos parentais mais democráticos.
Uso do termo "parceiros coparentais"
A equipe utilizou o termo parceiros coparentais com o objetivo de enfatizar a relação coparental, como também para diferenciar essa relação da relação conjugal (de casal) e parental (pais-filhos). Além disso, ressalta a necessidade de parceria e trabalho em equipe.
Grupo de treinamento
O programa Famílias Fortalecidas pode ser denominado enquanto um grupo de treinamento fechado (Neufeld et al., 2018). As técnicas utilizadas foram: (a) técnicas de respiração diafragmática, (b) psicoeducação usando metáforas, (c) role-play, (d) feedback, (e) ensino de habilidades de comunicação, (f) flexibilização cognitiva, (g) modelagem e modelação e (h) tarefas de casa (que envolvem treino das habilidades novas, questionários sobre conhecimento de si e do(a) parceiro(a), dentre outros). Outra modificação foi a adição de mais explicações sobre os tópicos da coparentalidade, como a sabotagem (conflito sutil ou até silencioso) e a dimensão de afeto coparental, presente na dimensão interativa da coparentalidade. Ademais, utilizamos expansões das explicações e novas metáforas, como: (a) o exemplo da crônica de Rubem Alves, que diz que o casamento pode ser tanto um jogo de tênis (relação competitiva) quanto um jogo de frescobol (relação cooperativa); (b) o exemplo da cobra, para referir-se aos estímulos que podem ser vistos como neutros ou negativos, a depender da pessoa; (c) o exemplo da onda das emoções, presente na literatura cognitiva e (d) o exemplo dos homens das cavernas, que ilustra os mecanismos de enfrentamento ainda existentes, luta ou fuga.
Modificação do lema do sono
O segundo lema do Family Foundations é "parents who sleep better become better parents, and better partners" e foi utilizado em todos os grupos. Nos últimos dois grupos dos encontros pós-natais, realizamos uma modificação não planejada para "Pais e mães que se ajudam a dormir melhor se tornam melhores pais e mães e melhores parceiros", para salientar a importância do suporte mútuo entre os pais para lidarem com a questão do sono.
Adição de componentes de humor
Um dos facilitadores americanos do grupo do Family Foundations, que a primeira autora observou, era muito bem-humorado. O humor é um componente que também pode ser adicionado aos programas de treinamento, como componente importante na relação terapêutica (Beck, 2020). Um exemplo de adição de humor não planejado foi fazer referências aos outros sentidos da sigla SPC (Somar para criar) na cultura brasileira (banda de música e agência de regulamentação do crédito). Já uma adição planejada foi a utilização de tirinhas de humor sobre a parentalidade, no Encontro 0.
ETAPA 8. TREINO DA EQUIPE
Para a realização do treino da equipe de adaptação e, posteriormente, de condução da intervenção, foram organizadas estratégias de aquisição de conhecimento teórico e prático sobre o tema da coparentalidade e de programas interventivos, como: (a) reuniões para discussão da teoria: leitura e fichamento de textos; (b) apresentação dos achados de revisões sistemáticas; (c) reuniões para a adaptação do material; (d) com o material pronto, foram realizadas simulações comentadas, discutidas e com exemplos e (e) observação de um grupo de pais, antes de facilitar um grupo. A equipe de pesquisa que conduziu o programa foi composta por uma doutoranda, sua orientadora e sete estagiárias do curso de psicologia. Durante os encontros, a formação da equipe era organizada da seguinte maneira: (a) duas facilitadoras conduziam os grupos, sendo uma delas a doutoranda e a outra, uma das estagiárias; (b) uma ou duas observadoras e (c) a orientadora. A primeira autora possui especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental e mestrado em Habilidades Sociais, o que facilitou o treino da equipe e a condução dos grupos. As habilidades de coordenação de grupo foram: (a) organizar atividades, (b) distribuir tarefas, (c) incentivar participação de todos, (d) controlar o tempo e o foco na tarefa, (e) dar feedback a todos, (f) fazer perguntas, (g) mediar interações, (h) expor metas, (i) elogiar, (j) parafrasear e resumir, (k) explicar e (l) verificar compreensão (Del Prette & Del Prette, 2017).
ETAPA 9. PILOTO
A aplicação teste da parte pré-natal do programa foi realizada com dois casais, no segundo semestre de 2019, presencialmente, a fim de verificar a compreensão do material e a aceitação dos conceitos e das atividades propostas. A participação e o aproveitamento dos casais foram excelentes e, como feedback, foi sugerido, apenas, mais tempo de discussão entre os casais em alguns pontos do programa. A parte pós-natal não foi pilotada pois não existiram novidades estruturais do programa.
ETAPA 10. ADAPTAÇÃO PARA O FORMATO ON-LINE
A adaptação para o formato on-line, motivado pelo contexto da pandemia do COVID-19, seguiu os mesmos protocolos utilizados pela equipe que desenvolveu o programa Family Foundations. Por exemplo, em uma das atividades, os pais precisam caminhar pela sala para se juntar ao grupo "sim" ou "não". No formato on-line, eles responderam às perguntas feitas pela facilitadora mostrando sua resposta levantando de um a cinco dedos de sua mão.
Para a implementação do programa neste novo formato, foi necessária a utilização de recursos para: (a) o recrutamento dos participantes por meio de redes sociais, como Facebook e Instagram; (b) a avaliação e aplicação do programa utilizando o Google Forms, Vimeo e Google Meet e (c) a comunicação entre a equipe e os participantes por meio do aplicativo WhatsApp. Os manuais dos pais foram enviados pelos correios, antecipadamente. Os membros da equipe de pesquisa participaram dos encontros on-line dos grupos em suas respectivas casas ou, quando necessário, em salas isoladas na universidade, garantindo o distanciamento social devido à pandemia do COVID-19. Os encontros foram gravados (com o devido consentimento dos participantes). Esse recurso foi extremamente útil, pois as gravações puderam ser repassadas aos pais que faltavam, com boa aceitação. Além disso, serão utilizadas para o treino de futuros estagiários.
Em termos de benefícios e dificuldades encontradas, na aplicação on-line do programa Famílias Fortalecidas, os benefícios foram: (a) ultrapassar barreiras geográficas, possibilitando alcançar uma abrangência nacional, das cinco regiões do país; (b) níveis altos de autorrevelação por parte dos participantes a respeito das dificuldades inerentes à transição para a parentalidade; (c) oportunidades para o casal trocar opiniões, além das conversas programadas, quando estavam com o microfone fechado; (d) a possibilidade de gravar os encontros e disponibilizar para quem faltou; (e) participação nos encontros, mesmo quando os membros do casal estavam em locais diferentes; (f) inclusão de participantes que tinham compromissos até o horário de início do programa e que, por não precisarem se deslocar, conseguiam participar; (g) a possibilidade de fazer duas coisas ao mesmo tempo, como participar e amamentar o bebê e (h) maior conforto, por estarem em casa.
Por sua vez, as dificuldades foram: (a) inconvenientes do formato on-line em si, como internet oscilante, áudio travado ou interrupções de barulhos externos; (b) ausência de suporte social ou prático entre os diferentes casais participando de cada grupo, por não morarem na mesma cidade e (c) necessidade de envio de materiais para os participantes com muita antecedência. Considera-se que ambos os formatos de entrega dessa intervenção psicológica (presencial e on-line) podem coexistir, para a inclusão de um maior número de pessoas e maior compatibilidade com as necessidades individuais.
ETAPA 11. IMPLEMENTAÇÃO
Os casais participaram dos encontros remotos do espaço de sua casa ou de uma sala individual no seu local de trabalho, através do uso de um celular ou computador com acesso à internet. A privacidade do grupo foi garantida por todos, equipe e participantes, estarem em um ambiente reservado. Os facilitadores se reuniam na sala virtual 15 minutos antes do início de cada encontro. Além disso, permaneciam na sala após o término, para que os observadores pudessem avaliar o engajamento dos participantes e a equipe pudesse discutir seu próprio desempenho.
ETAPA 12. AVALIAÇÃO DA ADAPTAÇÃO
A avaliação da adaptação foi realizada por meio da análise de três indicadores (Durgante & Dell’Aglio, 2018), tanto na fase pré-natal, quanto na pós-natal: (a) taxa de retenção: porcentagem que representa o número de casais que concluíram a intervenção; (b) taxa de adesão: porcentagem que representa o total de vezes em que os participantes estiveram presentes nos encontros comparados ao número total de encontros e (c) a avaliação dos participantes sobre os encontros.
Taxa de Retenção e Adesão ao Programa
Na fase pré-natal, o número total de casais participantes que iniciaram a intervenção foi 31. Os encontros foram realizados em grupos menores, de até seis casais. Após ter participado dos Encontros 0 e 1, apenas um casal desistiu. Dessa maneira, a taxa de retenção foi calculada em relação à porcentagem que 1 casal representa em 31 casais, da amostra total (sendo eles recrutados, em posse dos manuais, com os questionários on-line respondidos e pelo menos participação no Encontro 1). A porcentagem que esse único casal desistente representa é 3,2%; logo, a taxa de retenção do programa, na fase pré-natal, foi de 96,8%. Em relação à taxa de adesão ao programa, a frequência dos participantes foi registrada para cada encontro, o que resultou no número de 350 presenças e 70 ausências ao longo do programa; logo, a taxa de adesão ao programa foi de 83,3%.
Avaliação dos participantes sobre o programa
O Questionário de Avaliação do Encontro foi adaptado do programa Family Foundations e é constituído de seis itens e uma pergunta final, solicitando uma avaliação subjetiva ou comentário adicional sobre o programa. O objetivo é obter a percepção dos participantes sobre aspectos de clareza, ritmo e utilidade do conteúdo do programa. Foi aplicado uma vez para cada grupo. Alguns exemplos de perguntas são: (1) Quão esclarecedor você achou o último encontro?, (2) Quão útil você achou o último encontro? -- que foram respondidas em uma escala de pontuação tipo Likert de cinco pontos, variando entre 1 (nem um pouco) e 5 (extremamente). Todas as médias para as perguntas do Questionário de Avaliação do Encontro estiveram muito próximas ao escore máximo possível de avaliação pelos participantes, assim como os valores dos desvios-padrão foram baixos. A maior média foi 4,93 (DP=0,25) e a menor 4,76 (DP=0,53). Esse resultado indica que os participantes (N=60) avaliaram muito positivamente os aspectos estruturais do programa, com pouca variação entre as respostas.
Em relação à autoavaliação sobre as tarefas de casa, os dados sugerem que os participantes aderiram a um dos componentes fundamentais do programa, contando com uma porcentagem de 91,6% realizando ao menos metade das tarefas de casa que constavam no manual dos pais. Por fim, no que diz respeito ao ritmo dos encontros, 52 participantes indicaram que foi ideal, revelando satisfação em relação a essa variável: a apresentação de todo o conteúdo do programa, realização das atividades e discussões no decorrer do encontro (duas horas). Apenas oito participantes relataram uma percepção menos positiva, com respostas como: (a) um pouco mais lento do que o ideal ou (b) um pouco mais rápido do que o ideal.
DISCUSSÃO
O objetivo do presente trabalho foi reportar e avaliar o processo sistemático de escolha e adaptação (cultural e de formato) de um programa para aprimorar a qualidade da relação coparental de casais em transição para a parentalidade. Após a etapa de consulta à literatura, ao invés de elaborar um novo programa, decidimos adaptar culturalmente o Family Foundations.
A adaptação cultural, por ser um processo sistemático de ajuste de um programa a um novo contexto cultural, precisa respeitar os padrões, sentidos e valores da nova população (Stirman et al., 2019). Nessa direção, os pesquisadores da área conferem aos programas sistematicamente adaptados um status de único, devido à cultura que influencia tanto os facilitadores quanto os participantes (Escoffery, Lebow-Skelley, Haardoerfer et al., 2018; Escoffery, Lebow-Skelley, Udelson et al., 2018; Movsisyan et al., 2019).
Resumidamente, as principais mudanças realizadas no programa, para uso no Brasil, foram: (a) os cinco encontros do pré-natal foram expandidos para sete; (b) palavra class traduzida como "encontro"; (c) palavra controlling traduzida como "guiando"; (d) adição de vídeos de encerramento; (e) ampliação das atividades de role-play; (f) lema do programa "first the child" substituído por "somar para criar"; (g) uso do termo "parceiros coparentais" e (h) lema do sono: "parents who sleep better become better parents, and better partners" modificada para "pais que se ajudam a dormir melhor, se tornam melhores pais e melhores parceiros".
Sobre a avaliação da adaptação cultural e de formato, foram encontradas evidências de que o programa Famílias Fortalecidas teve uma aceitabilidade alta, considerando as taxas de adesão e retenção (Durgante & Dell’Aglio, 2018). Considera-se que os esforços para investir ainda mais na relação terapêutica entre facilitador-participante, conforme recomendado por Beck (2020), contribuiu com a alta aceitabilidade do programa no Brasil. Esse resultado tem importantes implicações para futuros estudos de implementação do Famílias Fortalecidas, especialmente por reduzir custos, pois a participação foi voluntária. Ademais, os comportamentos de autorrevelação, instilação de esperança e oferecimento de ajuda entre os participantes foram muito frequentes, como sugere a literatura da área de grupos de treinamento para pais (Neufeld et al., 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A adaptação cultural e de formato do programa ainda apresenta algumas limitações logísticas. O principal deles é que os vídeos do programa e as capas dos manuais dos pais não foram plenamente adaptados culturalmente, devido à falta de recursos financeiros. Pretende-se adaptá-los futuramente. Outras limitações são: (a) o programa adaptado (materiais) não foi formalmente avaliado por profissionais ou por um grupo focal; no entanto, houve excelente aceitabilidade e comentários positivos feitos pelas participantes psicólogas, seis ao total.
Além de completar 12 etapas do método de Escoffery, Lebow-Skelley, Udelson et al. (2018), descritas no presente artigo, existem mais duas, a análise de eficácia (Etapa 13, em andamento) e a análise de efetividade (Etapa 14). Caso os resultados da Etapa 13 sejam positivos e com tamanho de efeito de médio a grande, ainda será necessário realizar um estudo de viabilidade sobre quais as melhores condições para a implementação do programa Famílias Fortalecidas e posterior análise de efetividade (Etapa 14). Além disso, em estudos futuros, seria interessante investigar se as habilidades sociais dos facilitadores enquanto díades – endosso, suporte - são relevantes para a vinculação com os participantes e para a retenção e eficácia do programa. O processo de adaptação ainda está em andamento, mas as evidências iniciais de aceitabilidade apontam o potencial do programa em promover coparentalidade positiva durante a transição para a parentalidade, em casais brasileiros.
REFERÊNCIAS
Beck, J. (2020). Cognitive Behavior Therapy: Basics and Beyond. 3rd ed. Guilford Press. [ Links ]
Carvalho, T. R., Guerra, L. L. L., Santis, L., & Barham, E. J. (no prelo). Helping families via intervention programs that address coparenting: A systematic literature review. Avances en Psicología Latinoamericana. [ Links ]
Carvalho, T. R., Barham, E. J., Souza, C. Z., Boeing, E., Crepaldi, M. C., & Vieira, M. L. (2018). Adaptação transcultural de um instrumento para avaliar a coparentalidade: Coparenting Relationship Scale. PsicoUSF, 23(2). https://doi.org/10.1590/1413-82712018230203 [ Links ]
Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. P. (2017). Competência Social e Habilidades Sociais: Manual Teórico-prático. Vozes. [ Links ]
Durgante, H., & Dell’Aglio, D. D. (2018). Critérios metodológicos para a avaliação de programas de intervenção em Psicologia. Avaliação Psicológica, 17(1). https://doi.org/10.15689/ap.2017.1701.15.13986
Escoffery, C., Lebow-Skelley, E., Haardoerfer, R., Boing, E., Udelson, H., Wood, R., Hartman, M., Fernandez, M. E., Mullen, P. D. (2018). A systematic review of adaptations of evidence-based public health interventions globally. Implementation Science, 13(1), 125. http://doi.org/ 10.1186/s13012-018-0815-9 [ Links ]
Escoffery, C., Lebow-Skelly, E., Udelson, H., Boeing, E. A., Wood, R., Fernandez, M. E., & Mullen, P. D. (2018). A scoping study of frameworks for adapting public health evidence-based interventions. Translational Behavioral Medicine, 9(1), 1-10. https://doi.org/10.1093/tbm/ibx067 [ Links ]
Favez, N., Frascarolo, F. & Grimard, N. (2016). The picnic game: Presentation of a situation of observation to assess family interactions. Infant Mental Health Journal, 37(3), 235-246. https://doi.org/10.1002/imhj.21561 [ Links ]
Feinberg, M. E. (2003). The internal structure and ecological context of coparenting: A framework for research and intervention. Parenting: Science and Practice, 3(2), 95-131. https://doi.org/10.1207/S15327922PAR0302_01 [ Links ]
Feinberg, M. E., & Kan, M. L. (2008). Establishing family foundations: Intervention effects on coparenting, parent/infant well-being, and parent-child relations. Journal of Family Psychology, 22(2), 253-263. https://doi.org/10.1037/0893-3200.22.2.253 [ Links ]
Feinberg, M. E., Jones, D. E., Roettger, M. E., Hostetler, M., Sakuma, K., Paul, I. M., & Ethrenthal, D. (2016). Preventive effects on birth outcomes: Buffering impact of maternal stress, depression, & anxiety. Maternal and Child Health Journal, 20(1), 56-65. https://doi.org/10.1007/s10995-015-1801-3. [ Links ]
Frizzo, G. B., Kreutz, C. M., Schmidt, C., Piccinini, C. A., & Bosa, C. (2005). O conceito de coparentalidade e suas implicações para a pesquisa e para a clínica. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 15(3), 84-94. https://doi.org/10.7322/jhgd.19774 [ Links ]
Guerra, L. L. L., Carvalho, T. R., de Santis, L., & Barham, E. J. (2020). Programas de intervenção em coparentalidade: Tópicos abordados e técnicas cognitivo-comportamentais utilizadas. In B. L. A. Cardoso, & K. Paim (Eds.), Terapias cognitivo-comportamentais para casais e famílias: Bases teóricas, pesquisas e intervenções (pp. 397-420). Sinopsys. [ Links ]
Guerra, L. L. L., & Barham, E. J. (no prelo). O papel das habilidades coparentais nas interações entre pais e mães. Psicologia em Estudo. [ Links ]
Guerra, L. L. L., Setti, A. G. B., Sarmento, R. S., Trombetta, G., Barham, E. J. (2022). Observational procedures for evaluating coparenting: A systematic review of the literature. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Manuscrito submetido. [ Links ]
Jones, D. E., Feinberg, M. E., Hostetler, M. L., Roettger, M. E., Paul, I. A., & Ehrenthal, D. B. (2018). Family and child outcomes 2 years after a transition to parenthood intervention. Interdisciplinary Journal of Applied Family Science, 67(2), 270-286. https://doi.org/10.1111/fare.12309 [ Links ]
Lamela, D., Nunes-Costa, R., & Figueiredo, B. (2010). Modelos teóricos das relações coparentais: Revisão crítica. Psicologia em Estudo, 15(1), 205-216. https://doi.org/10.1590/S1413-73722010000100022 [ Links ]
Margolin, G., Gordis, E. B., & John, R. S. (2001). Coparenting: A link between marital conflict and parenting in two-parent families. Journal of Family Psychology, 15(1), 3-21. https://doi.org/10.1037/0893-3200.15.1.3 [ Links ]
Menezes, J. C. L., & Murta, S. G. (2018). Adaptação cultural de intervenções preventivas em saúde mental baseadas em evidências. Psico-USF, 23(4), 681-691. https://doi.org/10.1590/1413-82712018230408 [ Links ]
Metz, M., Majdandžić, M., & Bögels, S. (2018). Concurrent and Predictive Associations Between Infants' and Toddlers' Fearful Temperament, Coparenting, and Parental Anxiety Disorders. Journal of Clinical Child & Adolescent Psychology, 47(4), 569-580. http://doi.org/10.1080/15374416.2015.1121823 [ Links ]
Minuchin, S. (1974). Families & Family Therapy. Harvard University Press. [ Links ]
Movsisyan, A., Arnold, L., Evans, R., Hallingberg, B., Moore, G., O’Cathain, A., Pfadenhauer, L. M., Segrott, J., Rehfuess, E. (2019). Adapting evidence-informed complex population health interventions for new contexts: a systematic review of guidance. Implementation Science, 14(1), 105. https://doi.org/10.1186/s13012-019-0956-5
Neri, A. L. (2013). Conceitos e teorias sobre o envelhecimento. In L. F. Malloy-Diniz, D. Fuentes, & R. M. Consenza, (Orgs). Neuropsicologia do envelhecimento: uma abordagem multidimensional (pp. 17-42). Artmed. [ Links ]
Neufeld, C. B., Maltoni, J., Ivatiuk, A. L., & Rangé, B. P. (2018). Aspectos éticos e o processo em TCCG. In C. B. Neufeld & B. P. Rangé (Eds.) Terapia Cognitivo-Comportamental em Grupos: das Evidências à Prática. Artmed. [ Links ]
Papalia, D., Olds, S., & Feldman, R. (2006). Desenvolvimento Humano. Artmed. [ Links ]
Santis, L., Carvalho, T. R., Guerra, L. L. L., & Barham, E. J. (2020). Supporting fathering: A systematic review of parenting programs that promote father involvement. Trends in Psychology, 28, 302-320. https://doi.org/10.9788/s43076-019-00008-z [ Links ]
Saxbe, D., Rossin-Slater, M., & Goldenberg, D. (2018). The transition to parenthood as a critical window for adult health. American Psychologist, 73(9), 1190-1200. https://doi.org/10.31234/osf.io/64f37 [ Links ]
Shai, D. (2019). The inconsolable doll task: Prenatal coparenting behavioral dynamics under stress predicting child cognitive development at 18 months. Infant Behavior and Development, 56, 101254. https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2018.04.003 [ Links ]
Stirman, S. W., Baumann, A. A., & Miller, C. J. (2019). The FRAME: An expanded framework for reporting adaptations and modifications to evidence-based interventions. Implementation Science, 14(1), 1-10. https://doi.org/10.1186/s13012-019-0898-y [ Links ]
Takeishi, Y., Nakamura, Y., Kawajiri, M., Atogami, F., & Yoshizawa, T. (2019). Developing a prenatal couple education program focusing on coparenting for Japanese couples: A quasi-experimental study. The Tohoku Journal of Experimental Medicine, 249(1), 9-17. https://doi.org/10.1620/tjem.249.9 [ Links ]
Endereço para correspondência
Lívia Lira de Lima Guerra
E-mail: livialiralima28@gmail.com
Submetido: 18/11/2021
Revisado: 09/02/2022
Aprovado: 03/03/2022
1 Lívia Lira de Lima Guerra é doutora pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.
2 Thaís Ramos de Carvalho é doutora pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.
3 Anik Giovanna Barham Setti é psicóloga pela Universidade Federal de São Carlos.
4 Raquel Salvadori Sarmento é psicóloga pela Universidade Federal de São Carlos.
5 Elizabeth Joan Barham é docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.