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Revista Brasileira de Orientação Profissional
On-line version ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof vol.4 no.1-2 São Paulo Dec. 2003
ARTIGOS
A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho
Vocational guidance and the changes in the work world
La orientación profesional y las transformaciones en el mundo del trabajo
Maria Célia Lassance* 1; Mônica Sparta** 2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
RESUMO
Os objetivos deste artigo são fazer uma análise crítica das relações existentes entre as práticas de Orientação Profissional e a evolução das relações de trabalho na sociedade capitalista, bem como refletir sobre as repercussões na Orientação Profissional brasileira da atualidade. Inicialmente, é feita uma breve exposição sobre o conceito de trabalho ao longo da história humana. Em seguida, alguns comentários são feitos sobre a evolução do capitalismo e da sociedade industrial, com ênfase nas características do mundo do trabalho da sociedade contemporânea. Por fim, é discutido o papel do orientador profissional dentro na nova ordem social e econômica mundial.
Palavras-chave: Orientação profissional, Trabalho, Globalização.
ABSTRACT
This article aims at making a critical review of the correlation between vocational guidance practices and the evolution of the work relationships in the capitalist society, reflecting about its consequences in the contemporary Brazilian vocational guidance. First of all, it makes brief comments about the concept of work along the human history. Then, the article makes some considerations about the evolution of capitalism and the industrial society with emphasis in the characteristics of the work world in the contemporary society. Finally, it discusses the role of vocational counselors in this new social and economic world order.
Keywords: Vocational guidance, Work, Globalization.
RESUMEN
Los objetivos de este artículo son hacer un análisis crítico de las relaciones existentes entre las prácticas de Orientación Profesional y la evolución de las relaciones de trabajo en la sociedad capitalista, así como reflexionar sobre sus repercusiones en la Orientación Profesional brasileña de la actualidad. Inicialmente, se hace una breve exposición sobre el concepto de trabajo a lo largo de la historia humana. A continuación, se hacen algunos comentarios sobre la evolución del capitalismo y de la sociedad industrial, con énfasis en las características del mundo del trabajo de la sociedad contemporánea. Por último, se discute el papel del orientador profesional en el nuevo orden social y económico mundial.
Palabras clave: Orientación profesional, Trabajo, Globalización.
As práticas de Orientação Profissional precederam historicamente os modelos teóricos. Seu nascimento foi demarcado pela criação dos Centros de Orientação Profissional na Europa e nos Estados Unidos, na primeira década do século XX3, que tinham como principal objetivo identificar trabalhadores inaptos para determinadas tarefas industriais a fim de evitar acidentes de trabalho e garantir a produtividade (Carvalho, 1995). A Orientação Profissional nasceu para resolver problemas práticos da próspera sociedade industrial da época e a sua história está intimamente ligada à história das relações de trabalho do mundo ocidental. A partir desta perspectiva, este ensaio tem como objetivos identificar as características da sociedade capitalista ocidental contemporânea e refletir à cerca de seus reflexos sobre a Orientação Profissional brasileira da atualidade.
Referências ao papel do trabalho na vida do ser humano já apareciam na Bíblia (De Masi, 1999b; Whitaker, 1997). O trabalho era definido como castigo divino imposto aos homens por sua desobediência a Deus. Na Antigüidade Clássica, o trabalho era função desprezada que cabia aos escravos; o que garantia aos cidadãos o direito ao ócio, às atividades políticas e contemplativas. Durante a Idade Média, o trabalho cabia aos servos, que sustentavam os senhores feudais, donos da terra e do poder. Até este momento histórico, a vida laboral confundia-se com a vida doméstica; o trabalho era realizado em casa, em família e os filhos aprendiam seus futuros ofícios com seus pais ou, no máximo, com vizinhos que conhecessem ofícios diferentes. Até o fim da Idade Média, o trabalho era visto como castigo e sofrimento e a profissionalização era determinada por nascimento ou por conveniência.
Esta noção do trabalho perdurou nas sociedades ocidentais até o início do século XV, sofrendo significativas alterações com o advento da Idade Moderna e das profundas transformações sociais, culturais, científicas e econômicas a ela atreladas (Albornoz, 1992; De Masi, 1999b; Whitaker, 1997). Estas transformações trouxeram um novo conceito de trabalho e influenciaram enormemente as novas formas de relação de trabalho da sociedade capitalista nascente. Em primeiro lugar, a Reforma Religiosa trouxe consigo a idéia de que o trabalho é salvação, é virtude; o ócio passou a ser condenado em seu lugar. O Renascimento Cultural promoveu o desenvolvimento das artes e da ciência e contribuiu com a idéia do trabalho como libertação, como possibilidade de domínio do homem sobre a natureza. As Grandes Navegações e o Mercantilismo trouxeram o desenvolvimento do comércio e promoveram a ascensão da burguesia enquanto classe social. Com o Iluminismo vieram avanços científicos e tecnológicos inovadores. Todos estes movimentos históricos trouxeram consigo o germe da futura sociedade industrial, contribuíram para a idéia de trabalho como um valor positivo e permitiram a possibilidade de ascensão social através do exercício laboral.
De acordo com De Masi (1999b), o desenvolvimento da sociedade industrial passou por três momentos distintos. O primeiro deles corresponde à chamada Primeira Revolução Industrial, que foi impulsionada pela invenção da máquina a vapor e teve Adam Smith, idealizador do Liberalismo Econômico, como seu maior teórico. A sociedade capitalista industrial nasceu na Europa do final do século XVIII, centrada na produção manufatureira em larga escala (Albornoz, 1992; De Masi, 1999a, 1999b). A partir deste momento, a vida laboral separou-se da vida doméstica e o trabalho foi mecanizado e segmentado em tarefas especializadas. Um grande contingente de agricultores e artesãos passou a vender sua força de trabalho para a indústria em troca de salários. Duas classes sociais emergiram neste novo cenário: a burguesia, detentora dos meios de produção industrial, rica e ávida de consumo, e o proletariado, mão-de-obra necessária para a produção de bens e serviços. Esta foi uma época de supervalorização da produção industrial, em que os trabalhadores assalariados enfrentavam jornadas de trabalho extensas e não possuíam qualquer direito ou garantia social.
No final do século XIX, ocorreu a Segunda Revolução Industrial, na esteira da descoberta da eletricidade (De Masi, 1999b). Carl Marx e Friedrich Engels foram seus contemporâneos e apontaram as perversidades das relações de trabalho engendradas pela sociedade industrial do seu tempo, marcada pela exploração do trabalho assalariado e pela alienação do trabalhador. Marx e Engels (1848/2001) defenderam a idéia da luta de classes como motor do desenvolvimento social, demonstraram como a burguesia foi revolucionária ao diluir o poder feudal e como o proletariado deveria ocupar o seu papel revolucionário e destituir o poder burguês. O saldo mais positivo do pensamento destes autores foi a fundação das lutas por direitos e garantias sociais do trabalhador industrial assalariado.4
A Terceira Revolução Industrial ocorreu nas primeiras décadas do século XX, com o desenvolvimento da automação (De Masi, 1999b). Teve sua maior expressão nos Estados Unidos, através das idéias da organização científica do trabalho de Taylor, que visavam ao aumento da produção com a diminuição do trabalho, e da criação das linhas de montagem na indústria automobilística por Henry Ford (De Masi, 1999b; Harvey, 1989/ 1996). O movimento taylorista-fordista deu origem à sociedade capitalista de produção e consumo em massa, que atingiu seu auge na década de 1920, começou a mostrar sinais de decadência com a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929 e chegou ao seu fim, de acordo com De Masi (1999a, 1999b), na década de 1960. Foi nesta fase que a sociedade industrial atingiu seu auge de desenvolvimento. A produção industrial, ou setor secundário da economia, ocupou lugar de destaque no desenvolvimento de riquezas e na geração de postos de trabalho dentro da sociedade capitalista.
A Orientação Profissional nasceu como prática neste contexto sócio-econômico da Terceira Revolução Industrial, caracterizada pela produção e pelo consumo em massa, em que as indústrias eram instituições gigantescas que empregavam um grande contingente de trabalhadores assalariados para a execução de tarefas específicas, segmentadas e repetitivas. A Orientação Profissional caracteriza-se, neste momento, como atividade diretamente vinculada à indústria e à ordem sócio-econômica vigente, com o objetivo de garantir o aumento da produtividade industrial. Os primeiros processos de intervenção desenvolvidos foram influenciados pelos mesmos princípios de cientificidade e pela bandeira da eficiência que balizavam a produção industrial.
Neste momento, enquanto o teylorismo-fordismo prosperava na indústria norte-americana, a Orientação Profissional, que nasceu como uma prática cujo objetivo era garantir a eficiência industrial, foi influenciada pela Psicologia Diferencial e pela Psicometria nascentes (Brown & Brooks, 1996; Carvalho, 1995; Super & Bohn Jr., 1970/1976). Esta influência culminou com o desenvolvimento da Teoria do Traço e Fator, que passou a servir como paradigma para a realização de processos de Orientação Profissional baseados na utilização de testes de aptidões, habilidades e interesses e cujo baluarte era o ajustamento do homem à ocupação, com vistas na excelência da eficiência industrial.
A Orientação Profissional, em sua origem, foi largamente influenciada por um comprometimento ideológico com a sociedade industrial. A formação dos orientadores profissionais residia na aprendizagem de técnicas para a avaliação de características do indivíduo e no acesso a descrições das diversas ocupações do mundo laboral da época. A ética da atividade realizada por estes orientadores profissionais era a ética da produção. O foco desta atividade era a busca da eficiência através do ajustamento da pessoa à função, a partir da avaliação das habilidades e competências, independentemente da autopercepção do sujeito quanto aos seus interesses e perspectivas de satisfação e auto-realização.
De acordo com De Masi (1999a), a sociedade industrial foi uma fase breve na história da humanidade, que teve início no final do século XVIII e chegou ao fim na metade do século XX. A segunda metade deste século foi um momento de transição entre a sociedade industrial e uma nova ordem sócio-econômica da sociedade capitalista, que vem despontando na atualidade, no início do século XXI. De Masi (1999a, 1999b) denomina esta nova ordem de sociedade pós-industrial, enquanto Harvey (1989/1996) a chama de acumulação flexível.
Para De Masi (1999b), o embrião da sociedade pós-industrial surgiu na Europa, ainda na primeira metade do século XX, durante o ápice da produção industrial norte-americana baseada nos princípios da organização do trabalho do modelo taylorista-fordista. Na Europa, inovações nos campos das artes e das ciências trouxeram a revalorização da criatividade e da emoção. Inovações na literatura e na música surgiram com Joyce e Stravinsky; nas artes plásticas, Picasso revolucionou com o Cubismo; Freud com a criação da Psicanálise propôs uma nova forma de compreensão do homem; Einstein com a Teoria da Relatividade inaugurou a física moderna. Novas idéias sobre a organização e as relações de trabalho, baseadas na criatividade e na busca de qualidade de vida, começaram a despontar neste ambiente.
Durante a segunda metade do século XX, com a decadência da sociedade industrial e a revalorização da criatividade, a Orientação Profissional tomou novos rumos. Em primeiro lugar, a influência da Terapia Centrada no Cliente de Carl Rogers, que pregava a não-diretividade dos processos psicoterápicos e do aconselhamento psicológico, influenciou sobremaneira a visão sobre os papéis dos sujeitos da Orientação Profissional, pelo deslocamento do lugar do saber e da decisão do orientador para o orientando. Em segundo lugar, o surgimento da idéia de que a escolha profissional é um processo integrado ao desenvolvimento vital do sujeito, através das Teorias Evolutivas, cujo representante mais importante foi Donald Super (Brown & Brooks, 1996; Super & Bohn Jr., 1970/1976). O foco da Orientação Profissional transferiu-se da produção resultante para o sujeito de escolha, sendo a eficiência e a produtividade tomadas como conseqüências naturais de uma escolha adequada, centrada na satisfação e nos sentimentos de realização do indivíduo.
Além da revalorização da criatividade e da emoção, o crescimento da classe média, não previsto por Marx e Engels, e o desenvolvimento tecnológico, principalmente da micro-eletrônica e da informática, foram fundamentais para a transição da sociedade industrial para a pós-industrial (De Masi, 1999a, 1999b). O capitalismo pósindustrial contemporâneo apresenta novas características, que são apontadas por diversos autores (De Masi, 1999a, 1999b; Harvey, 1989/ 1996; Jenschke, 2001; Lassance, 1997; Lisboa, 2000, 2002; Pochmann, 2001; Sarriera, 1998; Silva & Magalhães, 1996). A sociedade capitalista atual é pautada pelo aumento do setor terciário ou de serviços; pela globalização da economia; pelo modelo enxuto de empresa; pelo uso de tecnologias de ponta, como eletrônica, telecomunicações, informática, biotecnologia; pela alta produção de bens não-materiais, como serviços, informação, educação, estética. Em conseqüência destas mudanças, postos de trabalho na indústria vêm diminuindo e o decréscimo do emprego estrutural vem gerando desemprego e dando lugar ao trabalho autônomo e à economia informal; ocupações antigas vêm desaparecendo e novas vêm surgindo a cada dia. Estas mudanças no mundo do trabalho geram instabilidade e exigem do trabalhador uma série de novas habilidades para a empregabilidade, como flexibilidade, polivalência, capacitação tecnológica, adaptabilidade. A organização, a estabilidade, a certeza, a previsibilidade, ícones da sociedade industrial, foram substituídas pela flexibilidade da produção e das relações de trabalho, que passaram a ser guiados pelas flutuações do mercado de consumo.
Esta nova ordem econômica mundial trouxe consigo uma onda de individualismo, que vêm enfraquecendo as organizações sindicais na luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores e vêm provocando um retrocesso em termos dos direitos sociais anteriormente conquistados. Espera-se cada vez mais do trabalhador e se oferece a ele cada vez menos. Ao mesmo tempo em que a sociedade pós-industrial seduz com seu discurso de que o trabalho deve estar vinculado à busca por qualidade de vida, mantém um contingente cada vez maior de indivíduos à margem do processo produtivo.
Estas mudanças no mundo do trabalho afetam diretamente a Orientação Profissional, não só no que diz respeito à formação do orientador profissional e ao seu cabedal teórico e técnico, mas também com relação à sua postura ética frente a esta nova configuração da sociedade capitalista contemporânea. Cabe aqui discutir qual o papel do orientador profissional dentro deste novo panorama: reprodutor social ou agente de mudança.
Da mesma forma que a Orientação Profissional nasceu com o objetivo de responder à demanda da sociedade industrial, atualmente, ela deve responder às necessidades da nova sociedade pósindustrial que está sendo construída. No entanto, caso a Orientação Profissional não queira ser apenas um agente de reprodução social, estas necessidades devem ser discutidas em consonância com questões éticas, que transcendam as preocupações com o crescimento econômico ou a satisfação individual e se vinculem a um comprometimento com o desenvolvimento social. Uma dimensão ideológica sempre está presente no processo de Orientação Profissional, mesmo que de forma inconsciente e mesmo que o orientador profissional tente colocar-se em uma posição de neutralidade. A própria neutralidade é uma postura ideológica que, na maioria das vezes, apenas esconde passividade e falta de crítica.
O Brasil vem sofrendo conseqüências específicas desta nova ordem econômica mundial. De acordo com Pochmann (2001), nas décadas de 1980 e 1990 houve um grande aumento do desemprego no setor industrial, enquanto o setor de serviços evoluiu notavelmente. No entanto, o incremento do setor terciário não foi suficiente para arrefecer o fenômeno do desemprego estrutural que vem assolando o país. Paralelamente, alguns autores têm analisado as características do jovem brasileiro que vai aos serviços de Orientação Profissional em busca de auxílio para a escolha de uma profissão. Este jovem é conservador, individualista, não se preocupa com mudanças sociais, deseja realização pessoal, prazer no trabalho, estabilidade profissional e conforto material (Lisboa, 1997; Silva & Magalhães, 1996). Este jovem busca a escolha de um curso superior que lhe garanta acesso ao mercado de trabalho através da conquista de um emprego estável e bem remunerado, no qual permaneça por toda a vida (Lassance, 1997). Este jovem busca uma permanência e rigidez que já não existem na nova sociedade pósindustrial.
A partir deste panorama, pode-se pensar qual o papel que o orientador profissional brasileiro tem de assumir. É ratificar estas crenças do jovem de classe média e unicamente orientá-lo para a escolha de um curso superior, assumindo o papel de reprodutor social? Ou é orientar este jovem para que possa avaliar criticamente a sociedade contemporânea e assumir uma postura ética de comprometimento social, tornando-se um agente de mudança? A Orientação Profissional tem um importante papel na construção da sociedade pós-industrial e, neste sentido, a postura ideológica por ela assumida terá conseqüências no desenvolvimento social futuro.
Para que as práticas da Orientação Profissional brasileira possam tornar-se agentes de mudança social é preciso que a formação do orientador profissional siga determinados passos. Em primeiro lugar, é importante apontar a necessidade de que o orientador profissional possua uma fundamentação teórica sólida, que embase seu trabalho prático (Lassance, 1999). Em segundo lugar, é necessário que o orientador profissional conheça as mudanças atuais no mundo do trabalho e oriente o jovem para as incertezas e instabilidades que dela advêm (Jenschke, 2001; Lisboa, 2000, 2002). Por fim, é imprescindível que o orientador profissional aceite o caráter político e ideológico do seu trabalho e o compromisso social a ele inerente (Lassance, 1997; Lisboa, 2000, 2002; Luna, 1997; Sarriera, 1998).
Na prática, a Orientação Profissional brasileira ainda não é capaz de responder a estas necessidades. Lisboa (1998) denuncia a alienação não só dos jovens, mas dos próprios orientadores profissionais, que, na maioria das vezes, continuam a fazer seu trabalho sem reflexões sobre as mudanças no mundo do trabalho e sem a assunção de qualquer compromisso social. No Brasil, muitos esforços ainda têm que ser feitos para que os orientadores profissionais sejam mais bem preparados, não só teórica e tecnicamente, mas também criticamente, para a execução do seu trabalho.
A Orientação Profissional nasceu como produto da sociedade industrial e suas práticas, inicialmente, estavam voltadas para o incremento da produção industrial. O compromisso ideológico da Orientação Profissional, neste momento, era com a produção. O declínio da sociedade industrial trouxe consigo um novo paradigma de Orientação Profissional, cujo foco deixou de ser a produção e passou a ser o indivíduo, sujeito de escolha. O novo compromisso ideológico assumido pelas práticas de Orientação Profissional foi com o sujeito de escolha. Atualmente, na sociedade pós-industrial, a Orientação Profissional tem dois caminhos a seguir: contribuir para a supervalorização do individualismo, assumindo a postura ideológica de reprodutora social das perversidades da nova ordem econômica mundial, ou promover uma reflexão crítica e ética sobre o compromisso social implicado nas escolhas profissionais dos indivíduos, assumindo um papel de agente de mudança social. Acreditamos que a segunda opção é o melhor caminho a ser seguido pela Orientação Profissional, defendendo a necessidade urgente de reflexão acerca da formação de orientadores profissionais no Brasil, de forma a alinhar nossos procedimentos com as especificidades de nossas necessidades de produção e inserção no trabalho.
REFERÊNCIAS
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Recebido: 20/04/2003
Revisado: 02/07/2003
Aceite final: 04/07/2003
1 Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia, Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 212, 90035-003, Porto Alegre, RS. Fone: (51) 33165454. E-mail: mcpl@terra.com.br.
2 Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia, Rua Ramiro Barcelos, 2600, secretaria do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento, 90035-003, Porto Alegre, RS. Fone: (51) 33165246. E-mail: msparta@uol.com.br.
3 De acordo com Carvalho (1995), o primeiro Centro de Orientação Profissional surgiu na Europa, em Munique, no ano de 1902. No entanto, a criação por Frank Parsons do primeiro Centro de Orientação Profissional norte-americano, na cidade Boston, em 1907, é considerado o marco oficial de nascimento da Orientação Profissional.
4 É interessante salientar que De Masi (1999a; 1999b) descreve o capitalismo e o socialismo como duas faces da mesma sociedade industrial, já que o trabalho industrial é predominante em ambos os modos de produção.
Sobre os autores
* Maria Célia Lassance é Psicóloga formada pela PUC/SP, Mestre em Aconselhamento Psicopedagógico pelo Programa de Pós Graduação em Educação da PUC/RS, Professora do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da UFRGS, Coordenadora do Serviço de Orientação Profissional da UFRGS e Presidente da Associação Brasileira de Orientadores Profissionais Gestão 2001-2003.
** Mônica Sparta é Psicóloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento da UFRGS e com formação em Orientação Profissional pelo Instituto do Ser de São Paulo/SP.