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Revista Brasileira de Orientação Profissional

On-line version ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.4 no.1-2 São Paulo Dec. 2003

 

ARTIGOS

 

 

Um estudo preliminar sobre práticas em orientação profissional*

 

A preliminary study on practices in vocational guidance

 

Un estudio preliminar sobre prácticas en orientación profesional

 

 

Lucy Leal Melo-SilvaI * 1; Talma Alzira BonfimII **; Marystella Carvalho EsbrogeoI ***; Dulce Helena Penna SoaresIII ****

I Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
II Universidade Federal de São Carlos
III Universidade Federal de Santa Catarina

 

 


RESUMO

Considerando as velozes transformações no mundo do trabalho, esta pesquisa objetiva descrever algumas práticas em Orientação Profissional no Brasil. Os sujeitos foram 84 participantes do IV Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional & Ocupacional. A amostra foi composta por 66 psicólogos e 18 pedagogos. Foi aplicado um questionário contendo quatro categorias de informações: (1) dados profissionais, (2) natureza da prática desenvolvida, (3) caracterização da clientela, e (4) necessidade e perspectivas neste campo de atividades. Os dados foram organizados em dois grupos: pedagogos e psicólogos; e tratados quantitativa e qualitativamente. Os resultados mostram que os psicólogos atuam mais; algumas abordagens teóricas predominam e os orientandos são do sexo feminino e do ensino médio. Concluiu-se que são necessárias políticas públicas que viabilizem a capacitação do profissional, assim como, a implementação, manutenção e avaliação de projetos de orientação profissional em escolas, centros e instituições, ampliando o alcance das ações com grupos específicos da população.

Palavras-chave: Orientação profissional, Orientador brasileiro, Práticas em orientação profissional.


ABSTRACT

Considering the rapid changes in the current world of work, this study aims at describing some Vocational Guidance practices in Brazil. The subjects were 84 members of the IV Brazilian Symposium on Vocational & Occupational Guidance. The sample consisted of 66 psychologists and 18 pedagogues. A questionnaire was applied containing four categories of questions: (1) professional data, (2) kinds of practices, (3) characterization of the clientele, and (4) needs and perspectives in this field of activity. The data were categorized into two groups: pedagogues and psychologists; and treated quantitatively and qualitatively. The results showed chiefly three aspects: the psychologists acted more; some theoretical approaches prevail in the interventions; and the clients were females and attending high school. It was concluded that public policies are necessary to provide greater capability of the professionals as well as to implement Vocational Guidance projects in schools, centers, firms and institutions, widening the range of the actions carried out with specific groups of the population.

Keywords: Vocational guidance, Brazilian counselors, Vocational guidance practice.


RESUMEN

Considerando las veloces transformaciones en el mundo del trabajo, esta encuesta intenta describir algunas prácticas en Orientación Profesional en Brasil. Los sujetos fueron 84 participantes del IV Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional & Ocupacional. La muestra se compuso de 66 psicólogos y 18 pedagogos. Se aplicó un cuestionario conteniendo cuatro categorías de informaciones: (1) datos profesionales, (2) naturaleza de la práctica desarrollada, (3) caracterización de la clientela, y (4) necesidad y perspectivas en este campo de actividades. Los datos se organizaron en dos grupos: pedagogos y psicólogos, y se trataron cuantitativa y cualitativamente. Los resultados muestran que los psicólogos actúan más; algunos abordajes teóricos predominan y los orientados son del sexo femenino y de la enseñanza media. Se concluyó que son necesarias políticas públicas que posibiliten la capacitación del profesional, así como la implementación, el mantenimiento y la evaluación de proyectos de orientación profesional en escuelas, centros e instituciones, ampliando el alcance de las acciones con grupos específicos de la población.

Palabras clave: Orientación profesional, Orientador brasileño, Prácticas en orientación profesional.


 

 

A revisão da literatura internacional sobre escolha vocacional, tomada de decisão, avaliação vocacional e intervenções no campo da Orientação Profissional aponta um número expressivo de publicações, principalmente, em revistas norte americanas (Fouad, 1994; Walsh & Srsic 1994), como apontou Melo-Silva (2000) e Silva & Jacquemin (2001).

Os estudos sobre escolha vocacional examinam, predominantemente, fatores que afetam a escolha de uma ocupação por adolescentes e adultos, investigando a influência de gênero, raça e etnia, orientação sexual, valores no trabalho, interesses ou família (Fouad, 1994). Os trabalhos sobre investigação de teorias da escolha mostraram que vários modelos teóricos foram testados empiricamente. A teoria do desenvolvimento de Super e a teoria dos tipos vocacionais de Holland foram dominantes nas últimas duas décadas nos Estados Unidos (Fouad, 1994; Niles, 1997).

A intervenção, neste campo do conhecimento, foi analisada com base em três grupos de pesquisas: computadores e aconselhamento; aconselhamento - pessoal versus carreira; e aconselhamento de carreira: processos e resultados, como apontou Fouad (1994). Walsh & Srsic (1994) destacaram que a pesquisa em avaliação vocacional (61 estudos) foi a mais produtiva, notadamente nos tópicos tomada de decisão na carreira, desenvolvimento e validação dos instrumentos e estresse no trabalho. Observou-se que naquele ano (1994) o número de estudos relativos à intervenção (10), mesmo na América do Norte, foi pouco expressivo, se comparado aos estudos dedicados à avaliação vocacional (61), demonstrando assim a necessidade de mais estudos relativos à prática no aconselhamento profissional. Entre as necessidades de estudos, apontadas por Fouad (1994) e Niles (1997), destacou- se a questão da avaliação das práticas instituídas como uma das prioridades.

Avaliando a efetividade do aconselhamento de carreira no Canadá, Flynn (1994) aponta a literatura da área como escassa. Ele concluiu que os dados de pesquisa mostram o aconselhamento de carreira como efetivo e comparável à eficácia obtida em outras intervenções psicológicas, educacionais e comportamentais. Os pesquisadores, sobretudo no Canadá, corretamente insistem na “necessidade de continuar a expandir e aprofundar nosso conhecimento do porquê o aconselhamento para a carreira é eficaz, com quem, sob que condições e com que resultados” (Flynn, 1994, p. 272).

Avaliar procedimentos de intervenção em Orientação Vocacional / Profissional configurase em uma questão complexa, considerando a existência de poucos estudos sobre o tema. Freqüentemente os conselheiros / orientadores “lamentam que são vulneráveis em face de preocupações crescentes com a responsabilidade, mas não parecem ver a avaliação como solução potencial” (Hiebert, 1994, p. 334).

E no Brasil como está a Orientação Profissional? Quem a realiza? Com é desenvolvida? Quais as abordagens teóricas e as estratégias de intervenção? Qual é a população atendida?

Um diagnóstico da situação da Orientação Profissional (OP) e da Informação Profissional (IP) Foi realizado por Pimenta & Kawashita (1986). Os dados obtidos mostraram a situação em 34 instituições de dez unidades regionais do país: Distrito Federal e os seguintes Estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. O levantamento foi feito por 10 coordenadores regionais e 150 técnicos através da metodologia participativa, denominada diagnóstico emancipador.

As instituições foram classificadas nas modalidades: assistencial; formação escolar; formação profissional; e intermediação de emprego. Observou-se que os objetivos dos programas são imprecisos, difusos e pouco operacionalizados. Em geral eles “representam uma situação idealizada, nem sempre correspondendo à realidade” (Pimenta & Kawashita, 1986, p. 29). A clientela é diversificada em relação às condições socioeconômicas, nível de escolaridade e interesses, evidenciando-se a necessidade de programas diversificados e flexíveis tendo em vista atender às necessidades dos usuários dos serviços. Quanto ao conteúdo dos programas, as autoras destacaram a concepção fragmentada da relação homem e trabalho. Em geral, ao lidarem com as questões da opção, os determinantes socioeconômicos e políticos são abordados de forma genérica e distorcida.

Atuam nestes programas diversos profissionais como: pedagogos com habilitação em orientação educacional, pedagogos, professores, instrutores, monitores, psicólogos, assistentes sociais, sociólogos, administradores de empresa, economistas, comunicólogos e estagiários. Entretanto, na prática a atuação não se dá em complementaridade, como seria desejável. Eles adotam modelos tradicionais de intervenção advindos da concepção psicologizante que valoriza as características individuais e das profissões. Concluindo, as autoras fazem recomendações de natureza política e organizacional, no âmbito ministerial e regional. Além disso, elas fazem recomendações de natureza teórica e técnica, como: estimular as experiências iniciadas, implementar grupos de estudos, promover a avaliação de programas e ampliação da intervenção, no sentido de atingir o maior número possível de pessoas.

Objetivando compreender como as práticas em Orientação Profissional estão sendo realizadas no Brasil, 13 serviços foram selecionados por Melo-Silva (2000) e Silva & Jacquemin (2001) com base em publicações, que constituem algumas referências importantes para profissionais e pesquisadores da área da orientação em grupo, na perspectiva dos pesquisadores. As fontes foram: Zaslavsky, Pinheiro, Pereira & Fontes (1979), Carvalho (1995), Bock, Amaral & Silva (1995), Levenfus, (1997), Zimerman & Osório (1997), Anais do III Simpósio Brasileiro de Orientadores Profissionais (1997), Lassance (1999) e a Revista da Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (1999).

Observou-se que, entre as práticas analisadas, oito delas atuam conforme referencial teórico psicanalítico, duas no sócio-histórico, uma no referencial psicopedagógico e outra no psicodramático. As teorias psicológicas, portanto, sustentam ainda a prática da orientação profissional no Brasil, como mostrou o estudo de Pimenta & Kawashita (1986). O referencial teórico de Bohoslavsky apontado em sete serviços evidencia a influência da Psicanálise Argentina em nossa realidade, reforçada por Müller e Pichon-Rivière e ampliada pela referência a Levenfus, psicóloga de orientação psicanalistica do Rio Grande do Sul, cujas idéias fundamentam outras práticas. Soares-Lucchiari, psicodramatista é referência básica na aplicação de técnicas.

As teorias desenvolvimentistas, através do referencial de Pelletier e Super, exercem muita influência em nossa realidade. A abordagem psicopedagógica, de Zaslavsky e col. (1979), constitui base de apoio para algumas práticas.

Difere da maioria o referencial sócio-histórico (Bock e colaboradores, 1995), com maior ênfase na construção de Projeto Social de Trabalho, contribuição significativa dos autores para a área, constituindo-se em proposta inovadora no campo teórico e prático, no Brasil.

Embora em alguns casos o referencial teórico mude, os eixos temáticos predominantes são similares, entre eles: o autoconhecimento ou percepção de si mesmo, a escolha, a informação sobre as profissões ou percepção da realidade e o mundo do trabalho. Como cada tema é trabalhado? Em quê precisamente as práticas instituídas diferem ou se assemelham? Este é um aspecto que requer análise mais detalhada sobre como a intervenção é desenvolvida. É necessário aprofundar como cada tema é trabalhado e em que medida as práticas se assemelham ou diferem umas das outras. A fim de sistematizar as informações sobre as práticas, decidiu-se iniciar um levantamento preliminar objetivando conhecer quem está realizando Orientação Profissional em nosso país, com base em quais referenciais teóricos, quais métodos e instrumentos são utilizados e qual a população beneficiada.

A despeito das experiências mencionadas, a implementação de serviços de Orientação Profissional no Brasil ainda não foi suficientemente introduzida. Frente à demanda existente as iniciativas são modestas. Não há em nosso país política pública de Orientação Profissional como em diversos países, por exemplo, França, Alemanha e Canadá. A formação de profissionais competentes e credenciados é limitada. Nem todos os cursos de psicologia oferecem a disciplina Orientação Profissional (obrigatória, optativa e/ou estágio profissionalizante) em sua grade curricular. Entretanto, a Lei Federal 4.119 de 27/08/1962 dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de Psicólogo, estabelecendo em seu artigo 4º que uma das funções do Psicólogo consiste em “utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo de (b) orientação e seleção profissional” (Brasil, 1962).

A organização dos orientadores profissionais no Brasil teve início recentemente, em 1993, com a criação da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP), visando criar um espaço de encontro entre práticos e pesquisadores na área e, ainda formar, produzir e divulgar o conhecimento em âmbito local, regional e nacional. Pelo exposto torna-se necessário atuar coletivamente tanto na produção do conhecimento como na definição e elaboração de políticas públicas.

Quando os serviços em funcionamento são avaliados, diversos problemas metodológicos surgem evidenciando cada vez mais a necessidade de sistematização das informações sobre as práticas existentes, assim como a avaliação das mesmas.

É no contexto de investigação sobre as práticas instituídas em Orientação Profissional, no Brasil, que se insere o presente estudo. Trata-se de um estudo mais ilustrativo do que representativo da realidade brasileira, os dados constituem achados preliminares.

Esta pesquisa objetiva, portanto, a realização de um levantamento da situação da Orientação Profissional no Brasil, objetivando a sistematização de alguns dados que possam subsidiar futuras pesquisas para a elaboração de um diagnóstico mais preciso neste campo de atividades.

 

MÉTODO

Fizeram parte deste estudo 84 (oitenta e quatro) participantes inscritos no IV Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional & Ocupacional e no I Encontro de Orientadores Profissionais do Mercosul, organizado pela Associação Brasileira de Orientadores Profissionais e realizado em Florianópolis, estado de Santa Catarina, em 1999. Esta pesquisa foi aprovada pela Diretoria da ABOP, tendo sido divulgada em seus boletins e solicitada a participação dos associados. Os participantes que concordaram responderam ao questionário e o devolveram aos pesquisadores.

Definiu-se como objeto de estudo o profissional e a prática da orientação profissional. Indagou- se primeiro quem é o orientador profissional participante do evento no qual os dados foram coletados. E segundo lugar, procurou-se investigar a natureza das intervenções realizadas, depois sobre a clientela atendida. E, por último, sobre as necessidades e perspectivas na área, objetivando fornecer indicadores para propostas de políticas públicas em orientação profissional.

A fim de procurar responder a tais indagações foi aplicado um questionário contendo quatro categorias de informações, descritas a seguir.

(1) Dados profissionais: formação, ano de conclusão da graduação, natureza da instituição, se cursou a disciplina Orientação Vocacional/Profissional, se cursou pós-graduação, se atuou ou trabalha na área. (2) Natureza da prática desenvolvida no campo da Orientação Profissional: atuação com profissionais de outras áreas, modalidades de atendimento (individual ou em grupo), referencial teórico que fundamenta a prática, instrumentos utilizados, temas abordados na intervenção, processo (número de sessões, duração da sessão, do processo na íntegra), área na qual enquadraria a orientação profissional e, se realiza pesquisa. (3) Caracterização da clientela: sexo, faixa etária, nível socioeconômico, escolaridade e natureza da escola de origem, se pública ou privada. (4) Necessidades e perspectivas neste campo de atividades.

O questionário foi distribuído a todos os participantes no início do referido evento e solicitada a devolução ao término do mesmo ou que fosse enviado pelo correio para os pesquisadores.

A amostra foi constituída de 84 profissionais oriundos de nove estados da federação brasileira, como: Paraná (24), São Paulo (23), Santa Catarina (12), Rio Grande do Sul (oito), Minas Gerais e Rio de Janeiro (seis cada), Pernambuco (dois) e Mato Grosso e Distrito Federal com um de cada. Embora a amostra seja constituída por participantes de diversos estados, este estudo é ilustrativo de parte da realidade brasileira. Constitui-se em uma estratégia econômica e rápida de aproximação do objeto de estudo. Pelas limitações, reconhecidas pelos autores, os resultados não podem ser generalizados. Considera-se importante o delineamento de estudos representativos, com alcance institucional e regional mais abrangentes e, ainda, a realização de estudos longitudinais.

As informações obtidas nas respostas dos participantes foram organizadas em um programa de computador previamente elaborado para este fim, desenvolvido em linguagem Delphi 4,0, no qual as respostas foram digitadas. Para a análise das informações efetuou-se, em primeiro lugar, uma leitura flutuante dos registros e, posteriormente eles foram organizados a partir de dois grupos de participantes: pedagogos e psicólogos. Os dados foram tratados quantitativamente, através da estatística descritiva e qualitativamente através das quatro categorias de informações solicitadas no questionário e descritas anteriormente.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dados profissionais

A pergunta inicial consistiu na investigação sobre quem é o orientador profissional representado no Simpósio. Dentre os 300 participantes do Simpósio, 84 responderam ao questionário, constituindo- se assim a amostra estudada. Foram 78 participantes do sexo feminino e seis do sexo masculino; 66 são psicólogos e 18 pedagogos. Como houve predomínio de duas carreiras tidas como femininas, a maioria de mulheres na amostra já era esperada. Entre os respondentes 35 são associados à ABOP. Entre os 49 não filiados, que constituem a maioria, 35 manifestaram interesse em tornarem-se associados, o que sinaliza desejo de organização com os pares, mas não garante a associação e a participação real.

Observou-se que duas categorias predominaram, razão pela qual os dados foram organizados em dois grupos: o de psicólogos e o de pedagogos. Através da questão sobre o ano de formação dos participantes deste estudo, verificou-se que a atuação do psicólogo, na área da orientação profissional, vem aumentando progressivamente nas últimas três décadas, enquanto que a atuação dos pedagogos apresenta oscilações, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1

Participantes que atuam em Orientação Profissional, conforme ano de conclusão do curso universitário.

 

 

No período de 1961-70 observa-se que os pedagogos (17%) atuavam mais do que os psicólogos (1,5%) na área da orientação profissional. No período seguinte, eram (33%) de pedagogos e (24%) de psicólogos; no período de 1981-90, o número de psicólogos aumenta (32%) em comparação aos pedagogos (22%). No período de 1991-99, constata-se que a diferença aumenta, sendo (28%) da amostra constituída por pedagogos e (42%) por psicólogos.

O aumento de psicólogos realizando Orientação Profissional e, participando do evento no qual os dados do presente estudo foram coletados, pode ser decorrente de algumas situações como as apontadas a seguir. A grade curricular de diversos cursos de Psicologia oferece disciplinas na área da Orientação Vocacional / Profissional (obrigatórias ou optativas) e estágios profissionalizantes, o que leva à oferta de serviços de extensão à comunidade. Além disso, cursos de extensão e de especialização têm sido oferecidos por instituições, principalmente como cursos livres. Outro aspecto que merece destaque é o fato de que as teorias psicológicas, predominantemente, influenciam os atendimentos oferecidos, o que é esperado porque muitos serviços são em clínicas–escola de cursos de Psicologia. Além disso, há procura de Orientação Profissional em consultórios psicológicos. Entretanto, o aspecto mais relevante desta situação consiste na ausência de serviços em escolas públicas de ensino médio, onde existe demanda e há expectativa de orientação para a escolha da carreira universitária ou técnica. E principalmente em programas comunitários e serviços de colocação e re-colocação no emprego, espaços nos quais ainda não há tradição de atendimento em Orientação Profissional.

Embora a legislação, no passado, tenha estabelecido a Orientação Profissional em leis federais como atividades de psicólogos (4119 / 62) e pedagogos (5692 / 71), na prática as escolas públicas de ensino médio, principalmente, não contaram e, contam menos ainda com esses serviços de maneira sistemática e contínua. E, mesmo nas particulares o atendimento à demanda tem sido insuficiente.

Observa-se em diversas escolas particulares a necessidade de o psicólogo atuar em funções tanto de Orientação Profissional, como do psicólogo escolar e até clínico. Com tantas demandas educacionais a Orientação Profissional tornou-se uma área, que embora seja reconhecida sua importância, não é tida como premente e, no momento de corte de despesas este profissional é o primeiro a ser dispensado.

Em nosso país existem problemas graves relativos às atividades fins do sistema educacional o que torna a Orientação Profissional uma atividade secundária na escola, seja pública ou privada. Assim, a área estabeleceu-se mais em consultórios psicológicos e em algumas escolas privadas de ensino médio que objetivam o acesso às carreiras e universidade de prestígio, garantindo o marketing da escola de ensino médio e de curso pré-vestibular.

E qual é a natureza da faculdade na qual os participantes deste estudo concluíram a graduação? Verificou-se que tanto em instituições privadas (58%) como em instituição pública (36%). Os cursos de graduação em Psicologia e Pedagogia ofereceram a disciplina Orientação Profissional em suas grades curriculares nos cursos realizados por esta amostra, na época das suas formações universitárias. A maioria dos profissionais cursou a referida disciplina na graduação, tanto os psicólogos (75%) como os pedagogos (66%).

A qualidade da disciplina oferecida é que merece atenção neste estudo. Para 41% dos pedagogos a disciplina foi considerada excelente, por outro lado, 33% a avaliaram como fraca e 25% deixaram de registrar sua opinião. Entre os psicólogos, 30% a consideraram excelente, 28% a avaliaram como fraca, 24% deixaram de avaliar e 18% a consideraram boa. As avaliações que consideraram a disciplina como fraca, juntamente com as ausências de registros de avaliação, sinalizam eventuais problemas nessas disciplinas, o que requer maior aprofundamento dos docentes da área, na avaliação da formação profissional, em termos de conteúdos, métodos e perspectivas de atuação. A questão da formação do orientador profissional tem sido tema de debate em encontros da ABOP e os achados deste estudo reforçam a necessidade de investimentos na capacitação do orientador.

Sobre a formação continuada observou-se que entre os pedagogos (39%) são orientadores educacionais e (11%) são psicopedagogos. Os demais possuem formação ou especialização em outras áreas do conhecimento, na maioria das vezes sem o reconhecimento do Ministério da Educação (MEC). Trata-se de cursos de extensão, formação ou especialização denominados cursos livres.

Entre os psicólogos, 77% (52 sujeitos) realizaram ou realizam algum tipo de curso de formação, especialização ou mestrado. Destes, (n=52) apenas 15% realizaram formação ou especialização específica nesta área em questão, através de cursos oferecidos por instituições privadas. Os demais profissionais registraram uma ampla gama de especializações, como em: recursos humanos e administração (12%), psicopedagogia (10%), psicologia clínica e da educação (6% em cada), psicodrama, psicologia, psicologia organizacional, terapia familiar sistêmica, educação-clínica (4% em cada). Estão distribuídos em diferentes especialidades 31% dos profissionais, um em cada especialidade.

Por outro lado, 22% (14 sujeitos) dos psicólogos não realizaram cursos de formação ou especialização. Portanto, estão atuando com o conhecimento sobre Orientação Profissional adquirido na graduação, o que pode explicar parte dos problemas de credibilidade na Orientação como estratégia eficaz de intervenção.

Estes dados mostram a heterogeneidade na qualificação dos orientadores, evidenciando necessidade de reflexões sobre o perfil do profissional necessário para intervir na área e sobre as competências necessárias para a atuação, além da oferta de disciplinas de Orientação Profissional em cursos de graduação e/ou de cursos regulamentados de pós-graduação em Orientação Profissional, a fim de complementar a formação básica dos profissionais que atuam na área, independente de sua formação universitária. Em uma equipe interdisciplinar é preciso ficar clara qual é a competência de cada um e quais são os saberes compartilhados por toda a equipe. Se apenas um profissional oferece o atendimento é uma questão de direito do cliente conhecer as diferenças de enfoques dos serviços para fazer sua opção. Em qualquer das possibilidades torna-se evidente a necessidade de estabelecimento de competências, de credenciamento dos profissionais. É preciso clareza quanto às possibilidades e limites das intervenções dos profissionais e dos serviços. É evidente que a intervenção de um psicólogo difere da do pedagogo, do administrador, do médico, do assistente social e do professor, apenas para citar alguns exemplos. Embora todas as intervenções enfoquem a questão da “escolha” da carreira, a ênfase vai ser dada aos temas e teorias que fundamentam a formação básica universitária do profissional. Como nenhuma área consegue resolver na totalidade os problemas humanos, reforça-se aqui a necessidade da interdisciplinaridade. E se o profissional atua só, é preciso ampliar sua visão para apropriar os conhecimentos de outras áreas sem, contudo infringir a ética profissional e os limites da formação.

Natureza da Intervenção

Os profissionais de psicologia e pedagogia predominantemente atuam isoladamente. Quando trabalham em equipe, essas são formadas pelas duas categorias: psicólogos e pedagogos mostrando o domínio destas duas categorias profissionais no exercício da Orientação Profissional no Brasil.

Foram citados em menor freqüência, os engenheiros, administradores, médicos e filósofos nas equipes de orientação profissional. Esses dados evidenciam a necessidade de uma cultura de interdisciplinaridade na área no Brasil, como apontado anteriormente. Embora os profissionais defendam tal necessidade, na prática, os serviços normalmente dispõem apenas do psicólogo e/ou pedagogo. O que difere de outros países, sobretudo os europeus, nos quais o atendimento em Orientação Profissional não é realizado apenas por estas duas categorias profissionais.

Segundo Dyankov (1996) em 55 dos países membros da ONU que responderam a um estudo que subsidiou o Projeto UNEVOC (UNESCO’s International project in technical and Vocational Education) os dados corroboram o presente estudo. Segundo o referido estudo,”os interventores variam de país para país, podem ser professores de ensino médio, técnico ou vocacional. Outras vezes são profissionais treinados em psicologia educacional, em orientação de carreira, em metodologia para testar e avaliar, em aconselhamento, em desenvolvimento sócio econômico e em administração. Em alguns países, o pessoal da orientação é recrutado com qualificação em Psicologia” (Silva & Jacquemin, 2001, p. 34).

O referencial teórico que fundamenta as práticas dos participantes deste estudo é diverso e variado. A maioria dos respondentes utiliza-se de mais de um referencial. Os pedagogos citaram, em primeiro lugar (44%), os referenciais denominados “sociais” de Lisboa, Carvalho e Ferretti e a “abordagem psicodramática” de Moreno e Soares-Luchiari, em relação às técnicas, seguido do “referencial psicodinâmico” (39%). Para os psicólogos a abordagem psicodinâmica predomina subsidiando as intervenções de (87%) dos respondentes nessa categoria. Foram citados autores argentinos como Bohoslavsky, Aberastury, Müller e Knobel, e brasileiros como Rappaport e Levenfus. O referencial psiocodramático para os psicólogos ocupa a segunda posição (26%), enquanto “as abordagens social e desenvolvimentista” de Super e Pelletier ocupam o terceiro lugar na preferência com (21%) de respostas. Foi citada ainda, em menor proporção, as seguintes abordagens: traço e fator, comportamental, gestalt e filosófica, além de autores específicos.

Os participantes deste estudo utilizam-se tanto da estratégia de intervenção em grupo quanto individual (83% dos pedagogos e 61% dos psicólogos). Apenas atividades grupais foram referidas por 15% dos psicólogos e 6% dos pedagogos. Tratando-se da modalidade individual, como exclusiva, apenas os psicólogos atendem (15%). Tal dado é o esperado, uma vez que os psicólogos atuam predominantemente em consultórios. Os pedagogos atuam principalmente em escolas, o que pressupõe tipos de intervenções com maiores possibilidades de atendimento à demanda institucional, tanto em grupo como individual. Entretanto, cumpre ressaltar que os cursos de Psicologia, em geral, oferecem a Disciplina Dinâmica de Grupo em sua grade curricular, o que tornaria o psicólogo mais familiarizado com técnicas de intervenção em grupo. Por outro lado o pedagogo é formado para atuar cm classes de alunos, para ministrar aulas, o que o habilita a lidar com grupos pedagogicamente.

No desenvolvimento do processo são utilizados diferentes tipos de instrumentos e estratégias de intervenção, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2

Tipos de instrumentos utilizados nas estratégias de intervenção.

 

 

Recursos como: jogos, atividades plásticas, psicodramáticas, vivências e dramatizações; e entrevistas e testes são utilizados por ambos os grupos em grande freqüência. Entretanto, são mais utilizados pelos psicólogos. Os testes mencionados pelos pedagogos foram de interesses, visual, de personalidade e o Levantamento de Interesses Profissionais (LIP). Os psicólogos citaram testes como o Teste Projetivo Ômega, o Teste de Fotos de Profissões (BBT), Wartegg, de Aptidão, de Nível Mental, de Personalidade (16 PF: Questionário de 16 Fatores de Personalidade), de Fotolinguagem, testes projetivos, situacionais e investigativos; e inventários como: Angelini e LIP.

Os pedagogos utilizam-se de relatos de profissionais e informações sobre o mercado de trabalho. Os psicólogos mencionaram materiais impressos, visitas às universidades, entrevistas com profissionais, debates, pesquisas e palestras. Em menor freqüência recursos como textos, revistas, filmes estão sendo utilizados por ambos os grupos de profissionais, se comparados às vivências grupais.

Os psicólogos realizam em menor proporção atividades de autoconhecimento, programa computacional e acompanhamento psicoterápico. Essa última atividade referida seria esperada, uma vez que é exclusiva dos psicólogos.

Para Dayankov (1996) as experiências de 55 países membros da ONU apontam a utilização de diversos tipos de recursos materiais e estratégias, como filmes, exibições, viagens, dramatizações e vários jogos, tal qual observado neste estudo. O que sinaliza certa coerência entre as atividades desenvolvidas pela amostra do presente estudo com a de outros países.

Os temas mais abordados (Tabela 3) segundo os pedagogos são: autoconhecimento (72%), seguido de informação profissional (44%) e escolha profissional (44%). Enquanto que os psicólogos apontaram o tema informação profissional (83%) em primeiro lugar, em segundo lugar mencionaram- se o tema autoconhecimento (48%), seguido de influências familiares (38%) e escolha profissional (30%). O dado de que o pedagogo trabalha predominantemente com o tema autoconhecimento e o psicólogo com informação profissional não era esperado, pois o que tradicionalmente se espera da atuação de ambos é o oposto.

Tabela 3

Temas mais abordados

 

 

Os temas abordados nos dois grupos sinalizam também as dificuldades na delimitação do exercício das atividades dos pedagogos e dos psicólogos no processo de Orientação Profissional, uma vez que o psicólogo dispõe de maior capacitação acadêmica, para intervir em aspectos pessoais e afetivos, do que os pedagogos, que são mais preparados para lidar com questões de natureza educacional e das informações sobre as carreiras e o mercado de trabalho. Por outro lado, as demandas trazidas pelos clientes de serviços ou programas de orientação profissional, indubitavelmente levam as equipes de diversas áreas a intervirem, considerando os temas acima interligados, independentemente de sua formação/ graduação, o que sinaliza a necessidade de pósgraduação neste campo de atividades, assim como, de pesquisas que avaliem as práticas e a formação acadêmica dos profissionais de diferentes formações.

Cumpre observar que nenhum dos dois grupos destacou a questão das mudanças no mundo do trabalho decorrentes da globalização, o que reforça o domínio de concepções intra-individuais no processo de intervenção, o que limita a intervenção tendo em vista as velozes mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho. Observa-se uma supervalorização de aspectos psicológicos independentemente de fatores socioeconômicos, de mercado de trabalho, da necessidade de qualificação e das mudanças na relação homem-trabalho. Questão esta suficientemente criticada por profissionais e pesquisadores na década de 1980, principalmente da área da Pedagogia (Pimenta, 1981; Boch, 1986; Ferretti, 1988), e que parece ainda não ter encontrado ressonância nas práticas aqui investigadas – nem nas dos pedagogos – embora existam diversas publicações e debates nos eventos da área indicando consenso a respeito das preocupações sobre as profundas e velozes mudanças no mundo.

O tempo de duração do processo de Orientação Profissional em número de encontros, em ambos os grupos, é de 10 sessões em média. O tempo de duração de cada sessão, tanto para psicólogos quanto para pedagogos, varia de 45 minutos a três horas. A carga horária total do processo para os pedagogos varia de cinco a 30 horas, enquanto que para os psicólogos varia de seis a 50 horas. Verificou-se variedade no tempo de duração das práticas instituídas e no referencial teórico. Cumpre questionar qual a resolutividade dos modelos de intervenção praticados em nossa realidade com maior ou menor duração e sobre essa questão, em específico, a tese de Melo-Silva (2000), que resultou no livro (Silva & Jacquemin, 2001) contribui com alguns achados. Por exemplo, de que com nove sessões em grupo operativo, de duas horas cada, os integrantes avançam na maturidade para a escolha da carreira. Entretanto, os participantes dos grupos, com menor tempo de duração, avaliam que necessitam de mais tempo para o autoconhecimento. Ainda é necessário que os práticos avaliem suas intervenções, incluindo, demanda, método de intervenção o tempo de duração e método de avaliação dos processos e resultados.

Os participantes dos dois grupos, deste estudo, consideram que a Orientação Profissional está inserida na área da Educação. Os pedagogos (67%) apontaram predominantemente a área da Educação como o lugar apropriado para a Orientação Profissional, como mostra a literatura. Para Dayankov (1996) na maioria dos países as atividades de Orientação Vocacional são desenvolvidas em escolas ou centros como parte do Sistema de Educação Nacional, sendo, portanto, subordinadas ao Ministério da Educação. Em alguns países além do Ministério da Educação os do Trabalho e da Indústria também estão envolvidos.

Os Psicólogos (58%) também registraram a área da Educação como o espaço privilegiado para a Orientação Profissional, entretanto, eles mostraram a importância da área clínica (53%), o que se explica em decorrência da influência do referencial psicanalítico e da própria formação profissional. Os dados referentes à área clínica, juntamente com os da saúde, totalizam (71%), sinalizando a predominância desta grande área. Analisado desta forma a área clínica predomina a da Educação, na percepção dos psicólogos. O que, também, não é incoerente com a perspectiva internacional que aponta como crescente o Aconselhamento Vocacional e Educacional (Dayankov, 1996). Aconselhamento, seja pessoal ou profissional, é uma disciplina do currículo de cursos de Psicologia. A Orientação Profissional consiste de fato em uma área de interseção entre a Psicologia Vocacional, a Educação e o Trabalho.

Caracterização da clientela

A clientela atendida nos programas desenvolvidos pelos pedagogos é predominantemente do sexo feminino (61%). Entre os psicólogos o atendimento ao sexo feminino predomina (45%) seguido do atendimento a ambos os sexos (35%). É relevante considerar a necessidade da discussão sobre as práticas em Orientação Profissional no contexto da procura de serviços de saúde, de um modo geral, nos quais também predominam os clientes do sexo feminino. Indubitavelmente trata- se de uma questão de gênero, na expectativa de papéis sexuais femininos, da mulher como a que cuida de si e da família.

A classe média é atendida predominantemente pelos dois grupos de profissionais. A clientela atendida pelos pedagogos é, em sua maioria, oriunda de escola pública (67%), enquanto que a clientela atendida por psicólogos procede da escola pública e particular do ensino médio em relativo equilíbrio. Tais dados confirmam observações empíricas na área. São as classes média e alta que aspiram a carreira universitária e para muitas pessoas a Orientação Profissional ainda representa atendimento a vestibulandos, a despeito dos serviços que atendem a populações específicas e adultos.

Necessidades e perspectivas neste campo de atividades

Os pedagogos apontaram como principal necessidade a formação profissional, mencionando a atualização, a troca de experiência e o acesso a eventos, neste campo de atividades. A seguir destacou- se a necessidade de valorização da Orientação Profissional através da implantação de políticas públicas e sociais, visando projetos extensivos às classes socioeconomicamente desfavorecidas.

Os psicólogos também apontaram a necessidade de formação profissional objetivando melhor capacitação dos orientadores. Em seguida destacaram a necessidade de realização de pesquisas, sobretudo longitudinais, e da divulgação dos resultados tanto quanto das experiências desenvolvidas. A conscientização, tanto da equipe de profissionais como do aluno, foi um ponto de destaque. A elaboração de políticas públicas que viabilizem um maior acesso de populações específicas a programas e serviços foi outro ponto de destaque. No âmbito da intervenção sugeriu-se, além da atenção aos estudantes do ensino médio, a re-orientação em empresas, o atendimento a estudantes universitários e populações desempregadas, visando tanto a perspectiva preventiva de atuação como da intervenção eficaz.

Perspectivas de atuação

Os pedagogos vislumbram ótimas perspectivas de atuação profissional devido a mudanças que estão ocorrendo no mercado de trabalho, decorrente do processo de globalização, gerando novas demandas de intervenção. Além disso, registra- se o aumento na perspectiva de vida da população, como um dado relevante. Entretanto eles apontam que, tais perspectivas exigem a capacitação dos profissionais, visando a melhoria nas condições de atendimento e na ampliação de ações voltadas para as populações desfavorecidas economicamente.

Cumpre ressaltar que Dyankov (1996) apontou que em muitos países o pessoal da pedagogia inseriu-se na área com qualificação apropriada, mas sem experiência prática. E que nos países em desenvolvimento há escassez tanto do profissional qualificado como do prático, sobretudo por causa dos baixos salários no setor da educação, no qual os programas de outros países estão vinculados.

Os psicólogos acreditam que a Orientação Profissional será cada vez mais necessária tendo em vista as mudanças no mundo do trabalho, como apontaram os pedagogos, constituindo-se em um campo vasto, muito importante, com tendência a crescimento e boas perspectivas de atuação profissional e de reconhecimento pela comunidade. Tal qual os pedagogos, os psicólogos apontaram a necessidade de conscientização da importância da orientação nas escolas. Outrossim, são necessários: o aperfeiçoamento na qualificação do profissional; a valorização da Orientação Profissional pela comunidade; pelos Governos e Instituições em geral. Ou seja, políticas públicas articulando os sistemas: educacional, social e do trabalho para implementação, manutenção e avaliação de Serviços de Orientação Profissional, acessíveis à comunidade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa possibilitou a realização de um estudo preliminar sobre a situação da Orientação Profissional no Brasil, que embora não seja representativo fornece indicadores para estudos posteriores. Os dados mostraram que duas categorias profissionais dedicam-se, predominantemente, a este campo de atividades: a de psicólogos e a de pedagogos. Dificuldades foram apontadas quanto à formação acadêmica na graduação e na pós-graduação.

Diversas necessidades foram apontadas pelos participantes e elas podem ser organizadas em dois âmbitos de intervenção: a capacitação do profissional e a inserção na comunidade. O primeiro deles refere-se à qualificação do profissional, tendo em vista o desenvolvimento de sua competência teórica e técnica e da realização de pesquisas. No segundo âmbito registraram- se, como necessidades dos participantes, a valorização e o reconhecimento da comunidade sobre a importância da intervenção em Orientação Profissional, no estabelecimento de políticas públicas que viabilizem a institucionalização das práticas em escolas, centros, empresas e organizações comunitárias, ampliando o alcance das ações com grupos específicos da população. Papel de competência de cada orientador e da ABOP.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido: 17/04/03
1ª Revisão: 26/05/03
Última revisão: 30/05/03
Aceite final: 02/06/03

 

 

* Este estudo foi originalmente apresentado no Congreso Mundial de Orientación e Asesoramiento, realizado em 2000 na Venezuela e, posteriormente no V Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional & Ocupacional, promovido pela Associação Brasileira Orientação Profissional (ABOP), em 2001 em Valinhos, São Paulo. As autoras agradecem a colaboração de Patrícia Pasqua Andrade na coleta de dados.

 

1 Endereço para correspondência: Av. Bandeirantes, 3900, Departamento de Psicologia e Educação / Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto /Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP. Fone (16) 602-3789. E-mail: lucileal@ffclrp.usp.br.

 

 

Sobre os autores
* Lucy Leal Melo-Silva é psicóloga, Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP). Responsável pelas disciplinas e estágios da área da Orientação Profissional. Coordenadora do Programa Vita, do Serviço de Orientação Profissional (SOP), integrante do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CPP), Presidente do Conselho Diretor do Centro de Psicologia Aplicada (CPA), programas e órgãos da FFCLRP - USP. Membro da Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP), da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), da International Association Educational Vocacional Guidance (IAEVG). Editora da Revista Brasileira de Orientação Profissional. Doutora em Psicologia pela USP. Mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Especialista em Reabilitação Profissional pela Fundação Educacional de Bauru (atual UNESP). Especialista em Grupo Operativo pelo Instituto Pichon-Rivière de Ribeirão Preto. E-mail: lucileal@ffclrp.usp.br.
** Talma Alzira Bonfim é psicóloga, mestranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP- USP); e professora do Departamento de Educação do Centro de Educação e Ciências Humanas, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), e membro do Programa Vita do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP- USP). E-mail: talma@netside.com.br.
*** Marystella Carvalho Esbrogeo é psicóloga clínica, membro do Instituto Pichon-Rivière de Ribeirão Preto e do Programa Vita do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP- USP). E-mail: marystella@terra.combr.
**** Dulce Helena Penna Soares é psicóloga, docente e supervisora de estágio em Orientação Profissional do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC. E-mail: dulce@cfh.ufsc.br

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