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Revista Brasileira de Orientação Profissional

On-line version ISSN 1984-7270

Rev. bras. orientac. prof vol.4 no.1-2 São Paulo Dec. 2003

 

ARTIGOS

 

 

 

A adaptação do BBT – Teste de Fotos de Profissões – para o contexto sociocultural brasileiro1

 

Adaptation of the BBT – The Profession Photos Test – to the brazilian socio-cultural context

 

La adaptación del BBT – Test de Fotos de Profesiones – para el contexto sociocultural brasileño

 

 

Erika Tiemi Kato Okino* 2; Mariana Araujo Noce**; Renata de Fátima Assoni***; Camila de Toledo Corlatti****; Sonia Regina Pasian*****; André Jacquemin******

Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

 

 


RESUMO

O presente trabalho apresenta o processo de adaptação, para o contexto sociocultural brasileiro, do BBT – Teste de Fotos de Profissões, instrumento projetivo utilizado em Orientação Profissional. A forma masculina foi aplicada em 91 alunos do ensino médio e a forma feminina, em 100 alunas. A partir da análise das associações foi verificado que em 42 fotos (43%) da versão masculina e 47 fotos (49%) da versão feminina não foi confirmado o fator primário proposto por Achtnich. O processo de reelaboração dessas fotos incluiu: entrevistas com profissionais das diferentes atividades representadas, ensaios fotográficos, escolha das fotos mais adequadas e testagem em adolescentes. O material adaptado ao contexto sociocultural brasileiro, composto pelas fotos originais e reelaboradas, foi denominado BBT-Br.

Palavras-chave: BBT, Orientação vocacional / profissional, Padronização, Teste projetivo.


ABSTRACT

We present here the process of adaptation to the Brazilian socio-cultural context of the BBT (Berufsbilder Test) – the Photos of Professions Test, a projective instrument used in Professional Counseling. The male form was applied to 91 high school students and the female form to 100 students. Based on association analysis, we observed that the primary factor proposed by Achtnich was not confirmed in 42 photos (43%) of the male version and in 47 photos (49%) of the female version. The process of re-elaboration of these photos included interviews with professionals engaged in the different activities presented, photographic essays, choice of the most adequate photos, and tests in adolescents. The material adapted to the Brazilian socio-cultural context, consisting of the original and the re-elaborated photos, was denoted BBT-Br.

Keywords: BBT, Vocational/professional counseling, Standardization, Projective test.


RESUMEN

El presente trabajo presenta el proceso de adaptación para el contexto sociocultural brasileño del BBT – Test de Fotos de Profesiones, instrumento de proyección utilizado en Orientación Profesional. La forma masculina fue aplicada a 91 alumnos de la enseñanza media y la forma femenina a 100 alumnas. A partir del análisis de las asociaciones se verificó que en 42 fotos (43%) de la versión masculina y 47 fotos (49%) de la versión femenina no se confirmó el factor primario propuesto por Achtnich. El proceso de reelaboración de esas fotos incluye: entrevistas con profesionales de las diferentes actividades representadas, ensayos fotográficos, elección de las fotos más adecuadas y pruebas en adolescentes. El material adaptado al contexto sociocultural brasileño, compuesto por las fotos originales y reelaboradas, se denominó BBT-Br.

Palabras clave: BBT, Orientación vocacional / profesional, Estandarización, Test de proyección.


 

 

A prática profissional do psicólogo, seja na clínica, em escolas ou em outras instituições, exige diferentes técnicas e formas de abordagem, dependendo do objetivo estabelecido e do resultado que se pretende alcançar. Deste modo, quando se pretende realizar, por exemplo, um processo de Orientação Profissional com adolescentes ou adultos, os profissionais geralmente utilizam técnicas que visam auxiliar este trabalho e tornar mais claros e conscientes os interesses e a inclinação profissional do orientando. Assim, durante as sessões, são trabalhados temas referentes aos elementos externos e internos que influenciam a escolha, bem como o auto conhecimento, as informações sobre as profissões e o mundo do trabalho.

Dentre os vários métodos para a atuação em Orientação Profissional destacam-se entrevistas, dinâmicas de grupo, testes de inteligência e aptidão, inventários de interesse e técnicas projetivas. Todas essas técnicas complementam-se para que o processo seja realizado de maneira a auxiliar o orientando a compreender melhor suas necessidades, motivações e inclinações profissionais.

Para auxiliar esta compreensão, alguns profissionais utilizam as técnicas projetivas. Segundo Anzieu (1986), entende-se por técnica projetiva um instrumento de investigação da personalidade no qual o sujeito encontra-se livre para realizar diversas possibilidades de interpretações do material que lhe é apresentado, permitindo-se alcançar conteúdos conscientes e inconscientes, que são trazidos ao exterior por meio da projeção. Desta forma, o resultado obtido com a utilização do teste projetivo possibilitaria uma leitura desses conteúdos, de modo que o protocolo de respostas seria representativo da estrutura e/ou do funcionamento da personalidade do sujeito.

No trabalho com testes de avaliação, é de fundamental importância a consideração de aspectos referentes à adaptação dos instrumentos ao contexto sociocultural no qual serão utilizados. Isso implica numa postura profissional criteriosa quanto à padronização na aplicação do instrumento e à normatização na interpretação dos dados obtidos, para que os resultados sejam confiáveis.

No caso das técnicas projetivas, esses critérios devem ser mantidos, porém existem algumas peculiaridades que as distinguem quanto ao manejo em relação aos testes psicométricos. Segundo Anzieu (1986) e Cunha e Nunes (1996), o método de enfoque projetivo se diferencia do método que fundamenta os testes psicométricos pela ambigüidade do material apresentado, pela liberdade que o sujeito tem para responder, por não haver respostas certas e erradas e nem limitação de tempo para a aplicação. Além disso, de acordo com Pasquali (2001), a diferença fundamental entre os testes psicométricos e os testes projetivos é que os primeiros baseiam-se na teoria da medida (psicometria), propondo-se a medir os atributos dos indivíduos, enquanto que os testes projetivos baseiam-se na descrição lingüística, propondo-se a caracterizar os traços dos indivíduos.

Dentre as técnicas projetivas possíveis de serem utilizadas dentro do processo de Orientação Profissional/ Vocacional, encontra-se o BBT (Berufsbilder-Test - Teste de Fotos de Profissões). Elaborado por Martin Achtnich, na Suíça, em 1971 (versão masculina) e 1972 (versão feminina), o BBT é um método projetivo para clarificação dos interesses profissi-onais (Achtnich, 1991). O material é composto por 96 cartões/fotos onde estão representadas pessoas exercendo atividades profissionais, sendo apresentado em duas versões: masculina e feminina.

A tarefa inicial do orientando consiste em classificar as 96 fotos em três grupos: aquelas que o agradam (escolhas positivas), aquelas que o desagradam (escolhas negativas) e aquelas que o deixam indiferente ou indeciso (escolhas neutras). Posteriormente, o orientando deve agrupar imagens que tenham algo em comum, sendo solicitado, ainda, que ele fale sobre suas preferências por cada grupo formado e suas respectivas fotos. Esse processo constitui o que Achtnich (1991) denominou de associações sobre as fotos, o que é fundamental na clarificação da inclinação motivacional.

Achtnich (1991) baseou a estrutura teórica do BBT na Teoria Pulsional de Szondi, propondo oito fatores de inclina-ção que caracterizam as atividades profissionais. Tais fatores constituem tendências fundamentais, elementos de base (Achtnich, 1991, p. 72) e estão relacionados a necessidades que podem ser satisfeitas no exercício profissional, as quais são derivadas não apenas de motivações internas do indivíduo, mas também da influência exercida pelo contexto social em que vive. A combinação entre esses fatores reflete a estrutura de interesses do indivíduo.

Os oito fatores são:

W– necessidade de tocar, ternura, sensibilidade;
K – força física, agressividade, obstinação;
S – subdividido em: Sh (necessidade de ajudar, cuidar, interesse pelo outro) e Se (dinamismo, ousadia, energia psíquica, capacidade para se impor)
Z – necessidade de mostrar, estética;
V – razão, conhecimento, objetividade;
G – intuição, idéia, imaginação, criatividade;
M – necessidade de reter e lidar com: fatos passados, matéria (substâncias, dinheiro, terra), possessividade (material e afetiva);
O – subdividido em Or (necessidade de falar, comunicar) e On (necessidade de nutrir, alimentar).

Na composição de cada foto do material, Achtnich atribuiu um fator primário à atividade principal exercida e um fator secundário às demais características da atividade profissional (instrumento utilizado, local de trabalho e objeto profissional). Desta forma, a atividade apresentada em cada foto/cartão representa um pareamento fatorial, ou seja, uma combinação diferente de dois entre os oito fatores de inclinação propostos (Achtnich, 1991). Estudos sobre a validade de construto foram realizados por Achtnich (1986).

Desde sua introdução no Brasil por André Jacquemin, em 1982 (Jacquemin, 1982), várias pesquisas foram realizadas com o propósito de avaliar se as imagens representadas no BBT estavam adequadas ou não à realidade sociocultural brasileira. Jacquemin e colaboradores (1985), Nunes & Jacquemin (1985) e Nunes (1989) realizaram estudos com o intuito de analisar a validade interna das fotos, ou seja, verificar a “(...) concordância entre as atividades representadas nas fotos e os fatores de inclinações básicas teoricamente nelas implícitas.” (Jacquemin e colaboradores, 1985, p.11). Os fatores de inclinações básicas são os fatores primários e secundários propostos para cada foto.

A partir desses estudos, concluiu-se que diversas fotos não despertaram associações suficientes para confir-mar o fator primário proposto por Achtnich, por tratarem-se de atividades não representativas da realidade brasileira. Desta forma, foi proposta a adaptação do BBT para o con-texto sociocultural brasileiro, sendo que a adaptação da forma masculina foi concluída em 1998 (Jacquemin, 2000), e a da forma feminina, em 2003 (Jacquemin e colaboradores, 2003). Os materiais obtidos foram denominados BBT-Br forma masculina e forma feminina, respectivamente. O BBT-Br forma masculina já está disponível para comercialização, enquanto que o BBT-Br forma feminina será publicado e comercializado brevemente.

Segundo levantamento feito por Noce (2002), além dessas investigações, várias pesquisas foram realizadas com o intuito de avaliar a utilização prática do BBT em diferentes contextos, com resultados positivos relatados. Destacam-se as seguintes contribuições: verificação de seus resultados em processos de intervenção em Orientação Profissional (Ribeiro, 1998; Melo-Silva, 2000); estudos de casos de reopção de curso universitário (Sbardelini, 1997); investigação da estabilidade da estrutura de interesses (Bernardes, 2000; Welter, 2000a); análise do perfil de adolescentes dentro de processos de Orientação Profissional (Melo-Silva, Noce e Andrade, 1999) e das possibilidades de utilização e análise da história das cinco fotos preferidas (Melo-Silva & Jacquemin, 1997; Melo-Silva, Bonfim & Assoni, 2001; Melo-Silva & Jacquemin, 2001). Há ainda, estudos sobre as possibilidades de aplicação do BBT em Recursos Humanos (Welter, 2000b).

 

OBJETIVO

O presente estudo tem por objetivo apresentar o método utilizado no processo de adaptação do BBT – Teste de Fotos de Profissões (formas masculina e feminina) para o contexto sociocultural brasileiro, bem como a composição final do novo instrumento adaptado à realidade brasileira, denominado de BBT-Br.

 

MÉTODO

O processo de adaptação do BBT para o contexto brasileiro foi realizado em duas fases distintas, as quais serão apresentadas separadamente:

a) Etapa 1: verificação da validade interna das fotos originais, identificando aquelas nas quais o fator primário proposto por Achtnich não se confirmava.
b) Etapa 2: reelaboração dessas fotos, de modo a representar os fatores originalmente propostos.

a) Etapa 1: verificação da validade interna das fotos originais

Amostra

Para verificar as fotos que não representavam os fatores propostos por Achtnich, a forma masculina original do BBT (Achtnich, 1991) foi aplicada em 91 estudantes masculinos (Jacquemin e cols., 1996), e a forma feminina original (Achtnich, 1979) foi aplicada em 100 estudantes do sexo feminino (Jacquemin e cols., 2001). A idade dos participantes variou de 14 a 19 anos, sendo que todos cursavam o ensino médio de escolas públicas e particulares da cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.

Procedimento

A aplicação do BBT foi realizada individualmente e incluiu as fases de classificação dos cartões em: fotos que agradam ao adolescente (+), fotos que lhes desagradam (-) ou fotos que o deixam indiferente ou indeciso (0) e associação para todas as fotos do teste. Na fase das associações, foi pedido aos sujeitos que falassem sobre as fotos, investigando-se os seguintes aspectos propostos por Achtnich em sua formulação teórica e prática sobre o BBT:

- o profissional representado na foto (denominação da atividade profissional);
- a atividade (função) exercida pelo profissional (o que ele está fazendo);
- o instrumento utilizado para desempenho de suas atividades;
- o local de trabalho do profissional;
- o objeto profissional (com o quê o profissional trabalha); e
- o objetivo da atividade (o que o profissional busca alcançar com seu desempenho profissional).

Os protocolos coletados foram integralmente digitados em programa computacional especialmente elaborado para armazenar as associações frente a cada foto do BBT e os fatores primários correspondentes, além de calcular a porcentagem de ocorrência de cada fator. A partir dos dados digitados e armazenados foi possível obter listagens com as associações de todos os sujeitos frente a cada foto.

Foi priorizado neste trabalho o fator primário que, segundo o autor do teste, é determinado pela atividade (função) exercida pelo profissional. Todas as verbalizações relatadas pelos sujeitos foram analisadas e classificadas de acordo com as “Tabelas: Funções dos Fatores” de Achtnich (1991). Neste processo, surgiram muitas atividades (funções) inéditas ao material já existente, sendo necessária a inclusão e classificação das mesmas dentro dos critérios estabelecidos para cada fator, segundo Achtnich (1991). Desta forma, a partir dessas novas funções foi elaborado um dicionário com base em estudos anteriores com o BBT na realidade brasileira (Jacquemin e colaboradores, 1996) e em outras publicações específicas que tratam da relação estabelecida entre as funções profissionais e os fatores de Achtnich (Achtnich, 1991; Foulon, 1981).

Considerando-se que o BBT é um teste projetivo, seus dados obtidos foram analisados em termos de conteúdo das respostas, ou seja, qualitativamente, por três juízes independentes, estabelecendo-se um acordo entre as avaliações. A partir de listagens contendo as verbalizações sobre os fatores primários correspondentes a cada uma das fotos utilizadas nesta pesquisa, foi possível visualizar quais as fotos que se mostravam “problemáticas”, ou seja, não tinham seu fator primário adequadamente compreendido por 2/3 (66%) da amostra estudada (Achtnich, 1979; 1991).

Além disso, foram considerados os casos de tendência à confirmação do fator primário. Essa tendência – calculada estatisticamente utilizando-se a técnica do X2, com um nível de significância de 0,05 – estabelece-se no intervalo maior ou igual a 58% e menor que 66%. Assim, para a confirmação do fator primário pre-sente na foto, adotou-se como critério mínimo 58% de associações relativas ao fator proposto. Quando a freqüência de associações era inferior, considerou-se necessária a reelaboração da foto.

Resultados da etapa 1

Na forma masculina do BBT, 42 fotos (43%) não suscitaram nos adolescentes brasileiros a verbalização de associações relativas ao fator primário proposto por Achtnich e necessitaram de reelaboração, sobretudo as fotos referentes aos fatores W, G, G’ e Z’.

Na forma feminina, 47 fotos (49%) não tiveram seus fatores primários confirmados e foram reelaboradas, especialmente as referentes aos fatores: G’, W, G, O e V’.

A necessidade de reelaborar a maioria das fotos referentes ao fator G/G’ foi identificada tanto na forma masculina como na forma feminina do BBT, o que pode estar relacionado à dificuldade de representar, através de fotos, componentes subjetivos e abstratos como o pensamento, a imaginação e a intuição, característicos de tal fator.

Ressalta-se também a necessidade de reelaboração de muitas fotos referentes ao fator W, relacionado ao toque e à sensibilidade. Estas características não foram bem percebidas, pela população brasileira, nas imagens originais, provavelmente em decorrência de diferenças culturais e da dificuldade de representação da sensibilidade e de atitude devotada para com o objeto profissional.

b) Etapa 2: reelaboração das fotos

Amostra

Nesta etapa foi necessária a participação dos seguintes colaboradores:

- 193 profissionais entrevistados, que exerciam atividades referentes às fotos que necessitaram de reelaboração;
- 92 profissionais fotografados;
- 71 indivíduos fotografados representando clientes;
- 48 adolescentes cursando o ensino médio que responderam à testagem piloto das fotos reelaboradas (sexo masculino – 15 a 20 anos; sexo feminino – 15 a 18 anos).

Procedimento

Para obter uma compreensão mais abrangente das profissões cujas fotos seriam reelaboradas e de outras profissões que pudessem ser incluídas no teste, foram realizadas entrevistas com profissio-nais de diferentes áreas.

As informações obtidas foram discutidas pelo grupo de pesquisadores chegando-se a um acordo sobre as possíveis situações que melhor representassem o profissional na nova foto e correspondessem ao fator primário proposto por Achtnich. Para isso, vários profissionais foram entrevistados, e a partir deste contato foi possível selecionar e fotografar aquele que melhor representasse a respectiva atividade profissional.

Procurando minimizar possíveis interferências na identificação dos adolescentes com a foto, selecionou-se profissionais que não apresentassem características físicas muito marcantes ou que demonstrassem desinteresse pela atividade profissional desempenhada. Além disso, não foram fotografadas pessoas muito jovens, que pudessem suscitar nos adolescentes a idéia de se tratarem de profissionais pouco experientes. Por outro lado, evitou-se fotografar pessoas com idade superior a 55 anos em exercício profissional, que pudessem levar a uma não identificação do adolescente com pessoas idosas ou que estivessem próximas da aposentadoria.

Para cada profissão foram tiradas, em média, 15 fotos das situações de trabalho. Dentre estas, selecionou-se de duas a cinco fotos que foram submetidas a uma “testagem piloto”. Cada foto selecionada foi apresentada a dez adolescentes, de forma a investigar o que estava sendo percebido em cada uma delas (denominação profissional, atividade, local, objeto, instrumento e objetivo), e a adequação ou não das fotos aos fatores representados. Também foi pedido aos sujeitos que elegessem uma única foto que melhor representasse cada uma das profissões investigadas, justificando a escolha. Para a seleção da foto que substituiu a original, optou-se por privilegiar aquela que mais suscitou, nos sujeitos, associações de funções relativas ao fator primário proposto por Achtnich.

 

RESULTADOS

O material adaptado ao contexto sociocultural brasileiro, composto pelas fotos originais e reelaboradas, foi denominado BBT-Br. A figura 1 permite a visualização da composição desse material para a versão masculina.

 

 

Figura 1. Apresentação das fotos originais e reelaboradas da forma masculina do BBT-Br .

Para ilustrar o processo de reelaboração das fotos da forma masculina do BBT-Br, selecionouse, como exemplo, a foto 25, que retrata o profissional Cabeleireiro (Wz). Esta imagem representa o fator primário W, relacionado ao toque, presente no ato de pentear e lavar cabelos. Na foto original (Figura 2A), apesar de não haver tesoura, o profissional era percebido pelos adolescentes como se estivesse cortando o cabelo do cliente (Fator K). Na reelaboração (Figura 2B), procurou-se enfatizar o fator W através do toque das mãos do profissional nos cabelos do cliente, eliminando-se instrumentos que intermediassem esse contato. Os dados da testagem piloto mostraram associações dos adolescentes referentes ao fator W: pentear, fazer penteado, arrumar cabelo. Em relação ao fator secundário z, procurou-se enfatizar elementos relacionados à estética, como espelhos, pentes e secador de cabelos, disponíveis no ambiente fotografado.

 

 

Figura 2. Foto 25 (Cabeleireiro – Wz) da versão masculina original do BBT (2A) e sua correspondente na versão reelaborada – BBT-Br (2B).

A figura 3 apresenta a composição da forma feminina do BBT-Br, permitindo a visualização das fotos originais e reelaboradas.

 

 

Figura 3. Apresentação das fotos originais e reelaboradas da forma feminina do BBT-Br.

O exemplo selecionado para ilustrar o processo de reelaboração das fotos da forma feminina do BBT-Br foi a foto 80 que, na forma original (Figura 4A), retratava a profissional Redatora de Modas (G’z). Esta foto representa o fator primário G, relacionado à imaginação e à criatividade. Porém, este trabalho de elaboração mental não era facilmente percebido pelas adolescentes, que freqüentemente associavam a foto a atividades mais práticas e objetivas, ligadas à datilografia (Fator V). A partir de entrevistas com profissionais da área de moda, decidiu-se representar, neste pareamento fatorial (G’z), a profissional Estilista de Moda (Figura 4B). Na testagem piloto foram verbalizadas pelas adolescentes funções referentes ao fator G, tais como: pensar, desenvolver modelo, criar modelo, ter idéias.

 

 

Figura 4. Foto 80 (Redatora de Moda – G’z) da versão feminina original do BBT (4A) e Foto 80 (Estilista de Moda- G’z) da versão reelaborada – BBT-Br (4B).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesquisas desta natureza têm contribuído para o aprimoramento dos instrumentos utilizados no Brasil em Orientação Profissional, podendo oferecer diretrizes e servir de modelo para adaptação em outros contextos.

A presente pesquisa possibilitou, ainda, a obtenção de dados normativos para a população brasileira do ensino médio e universitária, o que resultou no BBT-Br, versões masculina (Jacquemin, 2000), já disponível no CETEPP e feminina (Jacquemin e colaboradores, 2003), com edição e comercialização previstas para o final de 2003. Todo esse trabalho é resultante de mais de dez anos de pesquisa, conduzida com seriedade e dentro de todos os padrões científicos, contando com o apoio financeiro de duas instituições de fomento à pesquisa – CNPq e FAPESP.

A adaptação e normatização de testes psicológicos ao contexto sócio-cultural em que são utilizados mostra-se uma tarefa complexa e árdua, mas indispensável para tornar a Avaliação Psicológica mais válida e confiável. Além disso, instrumentos adaptados e com nor-mas próprias na área da Orientação Profissional podem proporcionar um trabalho mais efetivo para os profissionais que atuam na área.

 

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Recebido: 17/04/2003
1ª revisão: 16/06/2003
2ª Revisão: 07/07/2003
Aceite Final: 11/07/2003

 

 

1 Apoio CNPq e FAPESP. Departamento de Psicologia e Educação / Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras / Universidade de São Paulo.
2 Endereço para correspondência: Av. Bandeirantes, 3900 / Ribeirão Preto – Brasil / CEP.: 14040-901 – Telefones: (16) 602-3831 / Fax: (16) 633-5668 – E-mail: erikatko@ffclrp.usp.br.

 

Sobre os autores
* Erika Tiemi Kato Okino, mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRPUSP), psicóloga do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CPP), do Departamento de Psicologia e Educação, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).
** Mariana Araujo Noce, psicóloga, pós-graduanda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da do Departamento de Psicologia e Educação, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), docente da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) e pesquisadora do Programa Vita e do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CPP) do Departamento de Psicologia e Educação da FFCLRP-USP.
*** Renata de Fátima Assoni, psicóloga clínica e pesquisadora do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CPP) e do Programa Vita do Departamento de Psicologia e Educação, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Especialização em Logoterapia pela Sociedade Brasileira de Logoterapia.
**** Camila de Toledo Corlatti, psicóloga pesquisadora do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CPP), do Departamento de Psicologia e Educação, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).
***** Sonia Regina Pasian, professora doutora do Departamento de Psicologia e Educação, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Doutora em Saúde Mental pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Mestre em Filosofia e Metodologia das Ciências pela UFSCar. Docente e pesquisadora responsável pela disciplina e estágio na área de psicodiagnóstico (FFCLRP-USP). Coordenadora e pesquisadora do Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CPP), do Departamento de Psicologia e Educação, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).
****** André Jacquemin, professor titular (aposentado) do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP). Presidente-fundador da Sociedade Brasileira de Rorschach e outros Métodos Projetivos, de 1993 a 2000. Membro do Conselho Editorial da Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, de 1995 a 1997. Foi coordenador do curso de Psicologia da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), de 1998 a 2001. Autor de diversos livros publicados.

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